sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

Eles não foram felizes para sempre

 Pouco menos de dois séculos. Esse foi o tempo necessário para que a Ordem do Templo se transformasse em uma das maiores redes de influência da Europa. Perto do ano 1300, a organização funcionava como uma espécie de multinacional medieval, que envolvia bancos, transportadoras e uma série de outros serviços ligados à administração, às finanças e ao comércio.

Tal sucesso devia-se a dois fatores principais: ao mesmo tempo em que tornavam suas vitórias e seu idealismo conhecidos, passaram a receber um grande número de doações em dinheiro, terras ou propriedades. Em sua maior parte, as ofertas vinham de nobres e soberanos que, guiados pelo misticismo da época, acreditavam que com esse ato expiariam seus pecados e ganhariam a salvação no Reino dos Céus.

Logo, castelos, terrenos, moinhos, aldeias e outros bens faziam parte da Ordem. Com isenção de impostos, os Templários sabiam como fazê-los render: as terras e as propriedades eram arrendadas e geravam ainda mais dinheiro. Dessa forma, o sucesso dos empreendimentos parecia ir de vento em popa, ainda que os princípios originais, que proibiam os cavaleiros de ostentar qualquer tipo de riqueza, há muito já tivesse sido distorcido.


O Começo do Fim


Enquanto o sucesso financeiro dos cavaleiros aumentava dia a dia, o mesmo não se podia dizer a respeito de suas ações militares, já que cada vez mais amargavam derrotas contra o exército dos muçulmanos. À época, já eram tidos por toda sociedade como ricos, arrogantes e egoístas, pois, aparentemente, serviam apenas aos próprios interesses, e não aos dos cristãos no Oriente Médio.

Com a reputação abalada, os Templários lutavam para se reerguer quando caíram nas garras do poderoso Rei Filipe, o Belo, da França, que decidiu se apoderar da fortuna da Ordem. Determinado a impor sua autoridade sobre todo o país, o rei via nos Templários um verdadeiro entrave ao seu objetivo, afinal, por pertencerem a uma ordem religiosa, respondiam somente ao papa, e não ao monarca. Além disso, a aquisição de todas as posses da Ordem iria ao encontro das necessidades da Coroa francesa, que passava por maus bocados financeiros. Aliado ao papa Clemente V, o soberano tramou uma conspiração para acusar os cavaleiros de hereges, assassinos e adoradores do Diabo.

Em 1307, todos os cavaleiros que estavam em território francês foram investigados e presos por ordem do papa que, embora não aprovasse integralmente as ações de Filipe, temia perder o apoio do Rei. Em pouco menos de cinco anos, a publicação da bula papal Vox in Excelso viria a decretar o fim da Ordem dos Templários em definitivo. Ao final de um processo cheio de irregularidades, os cavaleiros do Templo foram queimados vivos em praça pública e seus bens confiscados pelo rei francês. Jacques De Molay, o último grão-mestre dos Templários, foi um dos quase 500 guerreiros levados à fogueira em Paris. Acabava, com ele, todo o esplendor e a glória da linhagem original desses Cavaleiros.

Transcorridos alguns séculos, atualmente, muitos especialistas acreditam que a perseguição implacável do rei sobre a Ordem nada teve a ver com questões religiosas. Para confirmar essa teoria, recentemente, um documento de 700 anos revelado pela Igreja Católica aponta que, ao fim do inquérito realizado para investigar as ações e a vida dos Templários, o papa Clemente V julgou e absolveu-os da acusação de heresia, embora tenha os condenado pela imoralidade - situação a qual pretendia reverter a partir de uma reforma na organização. Entretanto, subjugado às vontades do monarca, não teria conseguido evitar o fim trágico.


Retirado da revista Especial Templários, Ano I, Editora Selo Qualidade de Vida, São Paulo.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

Seguidores de uma Ordem

 Os Templários: quem eram afinal? Homens santos ou apenas guerreiros corrompidos por uma religião?


Levar uma vida inteiramente regida por valores cristãos e, ao mesmo, dispor-se a guerrear até a morte para eliminar os inimigos desses valores pode parecer contraditório. Um conflito como esse já evidencia que, definitivamente, viver como um templário não deveria mesmo ser uma tarefa fácil. Para seguirem a vida monástica associada à missão militar, os integrantes da Ordem submetiam-se a um conjunto de regras bastante rígido. Além do voto de castidade e de pobreza, renunciavam a qualquer material ou objeto que pudesse representar ostentação, bem como abriam mão por completo dos prazeres físicos e materiais. No livro Sociedades Secretas: Templários (Universo dos Livros), o autor Sérgio Pereira Couto revela toda a trajetória da Ordem, desde o início até os dias de hoje, e relata também como era a vida de um templário. A seguir, você confere um trecho dessa obra.


O Dia


O relógio bate 4 horas da manhã. Começam as matinas, o primeiro serviço religioso do dia. Os cavaleiros levantam-se e vão para a capela da igreja, a fim de realizar seu primeiro compromisso: rezar 28 Pai-Nosso, 14 representando as horas do dia e outros 14 para a Virgem Maria. Sempre que possível, repetiam essa rotina, pelo menos mais quatro vezes durante o dia. Depois, às 06 horas da manhã, é hora da Prima, e, às 11h30, da missa.

As refeições do dia variam de duas a três. Quando a primeira refeição do dia fica pronta, cada templário deverá ter rezado 60 Pai-Nosso, 30 para os vivos e 30 para os mortos poderem sair do purgatório. Começa, então, a refeição, em absoluto silêncio, quebrado apenas pelas palavras do prior, responsável por abençoar a refeição, e as do clérigo, que lê a Bíblia em voz alta. Há três grupos distintos em mesas separadas: cavaleiros, empregados e padres. Não há nenhuma forma de comunicação verbal e vários sinais são usados para evitar a conversa. Quem transgredir a Regra tem como punição comer sozinho.

O cardápio apresentava carne (de carneiro, vaca, cabra, vitela ou peixe) três vezes por semana e verduras, leite, queijo e pão nos outros dias da semana.

Após a refeição da tarde, os templários se encontram na capela para dar graças. Na sequência, vem a Nona (14h30) e as Vésperas (18h). A refeição noturna é uma repetição da anterior, em completo silêncio. Vêm, então, as Completas e, depois, um "momento de descontração", no qual o mestre da casa liberava certas doses de água ou vinho diluído para os irmãos. O silêncio, atributo levado ao pé da letra, deveria ser absoluto, principalmente no período entre as Completas e as Matinas.

Por não poderem ficar ociosos, os irmãos ocupavam-se, quando não estavam comendo, rezando ou em batalhas, de trabalhos externos nos campos ou outros tipos de tarefas simples (como cuidar de seus cavalos - cada templário tinha direito a três - ou, em tempos de expedições, preparar seu equipamento de batalha).

A parte dedicada à aparência pessoal era um capítulo à parte. Cada membro deveria seguir a Regra, que estabelecia cabelos curtos e barba crescida. E nada de banho, pois, além de a aparência desleixada dar um ar selvagem que contribuía para assustar o inimigo, um templário não deveria nunca ver seu corpo despido. Numa sociedade masculina, temiam-se práticas homossexuais, por isso os irmãos deveriam dormir sempre com as luzes acesas, a fim de impedir pensamentos libidinosos e afugentar a escuridão.

Também era rígida a conduta para as mulheres. Nenhum deles podia se tornar padrinho de ninguém, nem entrar num recinto onde houvesse uma mulher, pois a Regra considerava perigoso olhar constantemente para mulheres. Beijar também era proibido, fosse mulher viúva, virgem, mãe, irmã, tia ou qualquer outra. As freiras não faziam da Ordem, e ter empregadas só era permitido em casos de extrema necessidade, com nenhuma outra alternativa disponível. Uma observação da Regra foi a causa primordial de uma das acusações de Filipe, o Belo, contra a Ordem: era absolutamente proibido beijar uma mulher na boca, o que geraria as acusações de prática de homossexualidade.

Todos os cavaleiros deveriam, também, fazer jejum antes do Natal e da Páscoa por 40 dias, outra resolução da Regra, com exceção para casos em que o alimento fosse necessário antes da batalha ou se o grão-mestre decidisse que não deveria ser realizada a abstinência.

Os casos de expulsão da Ordem aconteciam se um cavaleiro era pego abusando de seus privilégios, roubando, cometendo heresias, matando um cristão ou revelando detalhes de seu capítulo.


Retirado da revista Templários Especial, Ano 1, nº 1; Editora Selo Qualidade de Vida, São Paulo.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

Os Templários (Os fatos por trás dos mitos)

 Sociedade secretas, tesouros sagrados, grandes conspirações... A saga dos templários têm os elementos de uma boa história de aventura e mistério. Mas, afinal, é possível separar a realidade da ficção?


Muitos são os enigmas que envolvem a Ordem dos Pobres de Cristo e do Templo de Salomão. Ainda hoje em dia, quase tudo o que se sabe sobre esses guerreiros monásticos se perde em um confuso emaranhado de lendas e suposições.

Mais conhecidos como cavaleiros templários, durante muito tempo eles foram vistos como homens de fé e coragem, que arriscavam a vida para proteger os cristãos na Terra Santa. Mas essa não foi a única  imagem que deixaram: em sua trajetória, chegaram a ser apontados como negociantes oportunistas que negavam a moral cristã e estavam interessados apenas em consolidar seu poderio na Europa Medieval e, ainda, como sábios do ocultismo, iniciados nos princípios da alquimia e em milenares conhecimentos esotéricos.

Enquanto os estudiosos não encontram respostas definitivas, o acirrado debate sobre o verdadeiro propósito da Ordem do Templo desafia os séculos, ao lado de outras questões intrigantes, como a hipótese de que a reunião dos antigos cavaleiros teria se transformado em uma sociedade secreta e suspeita de que ela guardaria tesouros de valor incalculável - como o Santo Graal (o cálice que recolheu o sangue de Jesus) ou a Arca Perdida (com os mandamentos ditados por Deus a Moisés). Nenhuma dessas teorias, no entanto, possui sustentação histórica. A seguir, descubra os fatos por trás de tantos mitos, na história desses guerreiros tão singulares.


Homens de fé e coragem, negociantes oportunistas ou sábios do ocultismo? ainda hoje, historiadores tentam desvendar a verdadeiro face dos templários.


E assim tudo começou...


A Ordem dos Templários, que se tornou uma das mais poderosas e controversas organizações da história, foi fundada em 1119, quando nove cavaleiros franceses, entre eles Hugo de Payns e André de Montbard, anunciaram ao Rei Balduíno I de Jerusalém a intenção de criar uma ordem de monges guerreiros para escoltar e defender os peregrinos cristãos que viajavam à Terra Santa.

Estávamos no tempo das Cruzadas, em que os cristãos tinham não apenas conquistado importantes cidades sagradas, como Jerusalém, Trípoli e Antioquia, mas também promovido uma verdadeira carnificina, matando milhares de seguidores de Maomé (chamados também de sarracenos, islâmicos, mouros ou muçulmanos), sem poupar nem mesmo mulheres e crianças.

Em busca de vingança, agora era z vez de os sarracenos atacarem os cristãos, assaltando ou matando os peregrinos que se propunham a se aventurar nas estradas que levavam aos lugares santos. Nascia, assim, a justificativa ideal para a criação de uma ordem militar da Igreja Católica, que prometia entregar-se de corpo e alma à luta contra os infiéis.


Sinais de uma irmandade


Entre os muitos símbolos dos cavaleiros templários, a cruz vermelha aplicada sobre um esvoaçante manto branco se tornou o mais conhecido. Concedida à Ordem em 1148, pelo papa Eugênio III, a cruz devia ser colocada sempre acima do coração e, segundo alguns historiadores, seus quatro lados iguais representavam o equilíbrio perfeito entre a realidade material e espiritual.

O manto branco, por sua vez, simbolizava pureza e castidade, assim como uma pesada pele de carneiro que os cavaleiros eram obrigados a usar sob as roupas. Se um templário perdesse uma dessas vestes sagradas, imediatamente recebia uma rígida punição, que poderia chegar até à autoflagelação.

Além da cruz e do manto, um dos mais famosos símbolos dos monges guerreiros era o emblema da Ordem, que trazia o desenho de um cavalo com dois cavaleiros, representando a irmandade e a humanidade.


Sangue e Fé


Tão logo a Ordem do Templo foi criada, instaurou-se a polêmica a seu respeito. Sendo a primeira organização militar da história da Igreja Católica, esbarrava em uma complicada contradição: como conciliar o derramamento de sangue com os ensinamentos de amor e não-violência de Jesus Cristo?

A resposta estava na devoção religiosa. Ao entrar para a ordem, os cavaleiros faziam votos de castidade, obediência e pobreza, jurando abandonar as tentações do mundo em nome de uma verdade espiritual. Movidos pelo idealismo cristão, eles não tinham outro motivo para lutar senão combater as forças do mal.

Em uma época carente de heróis e imersa em conflitos políticos e religiosos, não demorou muito para que esses monges guerreiros passassem a ser vistos como cavaleiros honrados e destemidos, dispostos a tudo para proteger sua fé.


Templários do ano 2000?


Segundo o Vaticano, existem cerca de 400 segmentos neotemplários na atualidade. Não há qualquer rivalidade entre eles, apenas diferenças de opiniões, símbolos e rituais, ou seja, são segmentos independentes que simpatizam com o mesmo estudo. Porém, é importante deixar claro que nenhum desses segmentos pode afirmar que é a continuidade da Ordem de origem, mas apenas que simpatizam com seus ideais.


Retirado da revista Templários Especial, Ano 1; Selo Qualidade de Vida, São Paulo.

sábado, 8 de janeiro de 2022

Oxóssi

 Oxóssi é um orixá muito popular no Brasil e em Cuba, embora seu culto esteja praticamente extinto na África. É o deus responsável pela caça e pela manutenção da tribo.


Muitos africanos do Ketu que cultuavam Oxóssi chegaram ao Novo Mundo como escravos, após a região ter sido invadida pela tropas do rei Daomé. No Candomblé, ele se tornou o rei da nação Ketu e é muito popular na Bahia. Na Umbanda ele é o patrono da linha dos caboclos.

Oxóssi é o orixá responsável pela caça e protetor dos caçadores. Em muitas expedições, ele  descobria regiões que eram favoráveis à plantação. Nesses locais ele fundava vilarejos onde mantinha uma grande autoridade sobre as pessoas que se estabeleciam no local.

Conta-se que nas antigas tribos da África cabia ao caçador, além de penetrar o mundo além da aldeia e descobrir locais novos para o grupo, trazer tanto a caça como também folhas medicinais. Dessa forma, Oxóssi também passou a simbolizar a transmissão de conhecimento devido às suas descobertas.

O combate cotidiano de Oxóssi está nas matas, onde caça animais com o intuito de abastecer as tribos. Embora seja um caçador, ele não aprova a matança pura e simples, a caça predatória, pois considera que a morte de animais deve ter como objetivo a alimentação dos humanos ou os rituais aos orixás. Dessa forma, uma de suas responsabilidades é garantir a vida dos animais para que eles possam ser caçados no momento oportuno.

Oxóssi é conhecido como o "caçador de uma flecha só", pois consegue atingir o seu alvo com grande precisão. Conta a lenda que, certa vez, um pássaro maligno ameaçava a tribo e Oxóssi era o único caçador que ainda tinha uma flecha para abatê-lo. Todos os outros caçadores haviam errado o alvo e perdido todas as suas flechas. Conta-se que Oxóssi atirou contra o pássaro e salvou toda a aldeia.

Oxóssi é calmo, tranquilo e paciente, enquanto seus irmãos Exú e Ogum têm temperamentos opostos. Ele representa a firmeza de propósito, a determinação, a objetividade e a concentração. Em seus devotos, ele age espiritualmente, eliminando seus defeitos e despertando suas qualidades.

Na Bahia ele é sincretizado com São Jorge e no Rio de Janeiro com São Sebastião. Quinta-feira é o dia da semana que lhe é consagrado. Seus iniciados usam colares de contas azul-esverdeadas. Suas danças imitam os gestos da caça, da perseguição do animal e do atirar da flecha. Seu símbolo é, como na África, um arco e flecha em ferro forjado.


Arquétipo


O arquétipo de Oxóssi é o de pessoas observadoras, ágeis, espertas, rápidas, alertas e em movimento. O forte sentido de responsabilidade faz com que se preocupem com o bem-estar da família e com o sustento da tribo. Inovadoras, não temem mudanças de qualquer tipo, mesmo aquelas que envolvem a casa ou o trabalho. Gostam de realizar trabalhos que possam ser feitos de forma independente, sem a participação de muitas pessoas. Em suas atividades profissionais necessitam de silêncio e concentração. Além de respeitarem o espaço de cada um, não têm o hábito de prejulgar qualquer situação ou pessoa.


Retirado da revista Sexto Sentido Especial - Orixás, Mythos Editora, São Paulo, 2010.

Arte e ciência de ajudar

 A indiferença ante a dor do próximo é congelamento da emoção, que merece combate.

À medida que que o homem cresce espiritualmente, mais se lhe desenvolvem no íntimo os sentimentos nobres.

Certamente não se deve confundi-los com os desregramentos da emotividade; igualmente não se pode controlá-los a ponto de tornar-se insensível.

No bruto, a indiferença é o primeiro passo para a crueldade, porta que se abre na emoção para inúmeros outros estados de primitivismo.

A indiferença coagula as expressões da fraternidade e da solidariedade, ensejando a morte do serviço beneficente.

O antídoto para esse mal, que reflete o egoísmo exacerbado, é o amor.

Se não pretendes partilhar do sofrimento alheio, ao menos minora-o com migalhas do que te excede.

Se não queres conviver com a dor do teu irmão, ajuda-o a tê-la diminuída com aquilo que te esteja ao alcance.

Se defrontas multidões de necessitados e não sabes como resolver o problema, auxilia o primeiro que te apareça, fazendo a tua parte.

Se te irrita a lamentação dos que choram, silencia-a com o teu contributo de amizade.

Imagina-te no lugar de algum deles e saberás o que fazer, como efeito natural do que gostarias que alguém fizesse por ti.

Ninguém está seguro de nada, enquanto se encontra na Terra.

A roda das ocorrências não para.

Quem hoje está no alto, amanhã terá mudado de lugar e vice-versa.

E não só por isso.

Quem aprende a abrir a mão em solidariedade, termina por abrir o coração em amor.

Dá o primeiro passo, o mais difícil. Repete-o, treina os sentimentos e te adaptarás à arte e ciência de ajudar.

Há quem diga que os infelizes de hoje estão expiando os erros de ontem, na injunção de carmas dolorosos. Ajudá-los, seria impedir que os resgatassem.

É correto que a dor de agora procede de equívocos anteriores, porém, a indiferença dos enregelados, por sua vez, lhes está criando situações penosas para mais tarde.

Quem deve, paga, é da Lei. Mas quem ama dispõe dos tesouros que, quanto mais se repartem, mais se multiplicam. É semelhante à chama que acende outros pavios e sempre faz arder, repartindo-se, sem nunca diminuir de intensidade.

Faze, pois, a tua opção de ajudar, e o mais a Deus pertence.


Texto retirado do livro Momentos de Meditação; Divaldo Franco pelo espírito Joanna de Ângelis; Livraria Espírita Alvorada Editora, Salvador,  3ª Edição, 2014.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

Ogum

 Ogum é um orixá muito popular no Brasil. É considerado o deus dos guerreiros e de todos aqueles que trabalham com instrumentos de metal, pois ele é também o orixá do ferro.


No Brasil, Ogum é conhecido como o deus dos guerreiros, perdendo a posição de protetor dos agricultores que tinha na África. Segundo a tradição, Ogum era caçador e costumava descer de orum por meio de uma teia de aranha para caçar. Dizem também que, quando as divindades chegaram ao mundo, competiu a ele abrir clareiras na selva com o seu facão considerado mágico. Devido a isso ele foi aclamado como chefe entre as divindades, Osin Imale.

Filho de Iemanjá e Odudua, o fundador do Ifé, foi regente do reino de Ifé quando seu pai ficou temporariamente cedo. No entanto, não se preocupava muito com a administração do reino, pois não gostava de ficar quieto e trancado dentro do palácio. Com uma vida amorosa agitada, foi o primeiro marido de Oiá-Iansã, que se tornaria mais tarde mulher de Xangô, e teve também relações com Oxum e Obá.

Ogum é muito mais emoção do que razão, perdoando facilmente seus amigos e destruindo seus inimigos. Ataca pela frente, de peito aberto, como o clássico guerreiro. Ele simboliza o trabalho, a atividade criadora do homem sobre a natureza, a produção e a expansão, a busca de novas fronteiras, aquele que desbrava as matas e derrota os inimigos. Qualquer contrato ou juramento feito em seu nome deves er cumprido. Conta-se que se por um acaso o compromisso não for honrado, o faltoso sofrerá sérias consequências.

Considerado o deus de ferro, é o padroeiro daqueles que manejam ferramentas: ferreiros, barbeiros, açougueiros, marceneiros, caçadores, mecânicos, maquinistas de trem. O seu culto é bastante difundido nos territórios de língua iorubá e em certos países vizinhos, sendo provavelmente um dos deuses mais respeitados e temidos.

Ele tem como símbolos mais importantes o ferro, a rocha e fragmentos de metal. O seu nome é sempre mencionado por ocasião de sacrifícios dedicados aos deuses, no momento em que a cabeça do animal é cortada com uma faca da qual ele é o senhor absoluto.

No sincretismo é associado a Santo Antônio de Pádua, na Bahia, e a São Jorge, no Rio de Janeiro. Os lugares consagrados a Ogum ficam ao ar livre, na entrada dos palácios dos reis, nos mercados e nos templos de outros orixás.

O dia da semana que lhe é consagrado é a terça-feira, e os seus adeptos usam colares de contas de vidro azul-escuro e, algumas vezes, verde. Seus domínios são os caminhos, os combates e as demandas de toda ordem.


Arquétipo


Ogum representa as pessoas impulsivas, explosivas, obstinadas, teimosas e que sentem prazer em estar com os amigos e com o sexo oposto. Muitas vezes têm dificuldade em perdoar as ofensas que lhe são feitas. Perseguem seus objetivos de forma enérgica e não se desencorajam facilmente. Dificilmente perdem a esperança, mesmo nos momentos difíceis. Seu humor geralmente é instável, alternando a agitação e a tranquilidade. Muitas vezes o ser representado por Ogum é julgado como um ser arrogante, impetuoso e até mesmo indiscreto. Por outro lado, sua franqueza e sinceridade fazem com que seja admirado pelas pessoas. A rotina para ele é um castigo, pois gosta de agitação, novidades e de tudo o que é moderno.


Retirado da revista Sexto Sentido Especial - Orixás; Mythos Editora, São Paulo, 2010.

terça-feira, 4 de janeiro de 2022

Exú

 Exú é provavelmente um dos orixás mais polêmicos do panteão africano, pois apresenta características múltiplas e muitas vezes contraditórias.


Exú é a divindade da fertilidade, o regulador do cosmos, e esteve presente em nosso planeta desde o princípio. Ele é o  elemento dinâmico de tudo o que existe, o princípio da expansão e da comunicação. No mito cosmogônico, é o responsável pela conservação do axé, o poder com o qual as divindades conseguem realizar suas atividades sobrenaturais.

Com características múltiplas e muitas vezes contraditórias, é Exú quem coloca barreiras e traça os caminhos que devem ser seguidos pelo homem. Entretanto, não cabe a ele decidir o que é certo ou errado do que lhe é pedido, já que o homem tem em seu poder o livre arbítrio.

Exú faz a ligação entre o mundo material e espiritual. Sua principal atividade mítica é a de mensageiro, aquele que leva  pedidos e oferendas do homem aos orixás e que traduz a linguagem humana para as divindades. Por essa razão é que nada se faz sem ele e sem que oferendas lhe sejam feitas, antes de qualquer outro orixá.

Cabe a Exú, por exemplo, transmitir a resposta dos orixás ao babalorixá na leitura de Búzios, assim como iniciar qualquer cerimônia, trabalho ou festa nos cultos afro-brasileiros. Sua função de figura-limite entre o astral e a matéria se revela em suas cores, o negro (ausência de cor) e o vermelho (forte iluminação).

Exú se revela o mais "humano" dos orixás: nem completamente bom, nem completamente maus. Representa a bipolaridade e os opostos, como o certo e o errado, o dia e a noite, o homem e a mulher, o bem e o mal. Brinca e se diverte, possibilitando prazeres ao homem, mas também provoca o mal e acontecimento dramáticos. Por ter o conhecimento das energias mais densas e ser o orixá da abertura dos caminhos, a ele se pede a interferência nas situações do mundo físico.

No Brasil, o Exú foi sincretizado com o diabo. Acredita-se que os antigos missionários cristãos o identificaram como a representação do diabo, por apresentar-se nu exibindo um falo ereto. Na tradição iorubá é fundamental a descendência, e o falo simboliza a procriação, assim como o fogo das paixões.

O lugar consagrado a Exú é,  geralmente ao ar livre ou no interior de uma pequena choupana isolada ou, ainda, atrás da porte da casa. A segunda-feira é o dia da semana consagrado a ele. As pessoas que procuram a sua proteção usam colares de contas pretas e vermelhas.


Arquétipo

O arquétipo de Exú pode ser encontrado facilmente na nossa sociedade. Ele se apresenta nas pessoas que são boas e más ao mesmo tempo. Ardilosos e sedutores, geralmente inspiram grande confiança nas pessoas. Essas características muitas vezes são usadas em benefício próprio. Possuem facilidade e inteligência para compreender os problemas dos outros, dando conselhos ponderados. As artimanhas intelectuais enganadoras e as intrigas políticas são armas que usam para alcançar o sucesso desejado. Maleáveis e pragmáticos, enfrentam cada situação de forma independente, pois acreditam que cada problema ou situação deve ser tratado de forma exclusiva.


Retirado da revista Sexto Sentido Especial - Orixás, nº 46; Mythos Editora, São Paulo, 2010.

domingo, 2 de janeiro de 2022

Reconstrução Nacional

 Num ato de reconstrução nacional

Doutores, mendigos, tupis, guaranis

Vieram até o planalto central

Trabalhadores, pivetes, senis

E falaram de coisas sublimes, gentis

das coisas que fazem tão grande este país


Alguém fez menção a Dom Pedro I

O ilustre imperador

Que "Estrada" e Francisco inspirados

fizeram este hino de amor

Falaram também da princesa heroína

que a sina do negro mudou

Do "Xavier" que foi traído, do "Zumbi" lutador

Nossa história tem imagens, personagens imortais


E hoje não tão diferente traz exemplos geniais

Um certo "Betinho" convoca a nação

E diz que o que ainda mata não é só inflação

E se não dá o pão...

O amor... a mão a um irmão

Um povo com fome não é soberano

E nem patriota será

Não dá pra curvar-se ao pendão

Sem poder levantar


Música de Flávio Oliveira, Marcelo do Rosário e Miro Barbosa gravada por Renata Jambeiro em 2009 no CD intitulado Jambeiro em uma Produção Independente.

História Sem Fim

 Misteriosa vida

Quem sou eu, pra onde vou

A velha pergunta de qualquer mortal

Talvez seja verdade

Uma bela mentira

A resposta que sempre nunca vou saber

Milagres acontecem

Teatro de dor e prazer

Um eterno duelo entre o bem e o mal

O destino de Deus

Está escrito na palma da minha mão

Destruo e salvo o mundo

Todo milênio, cada segundo

Tal qual criador, tal qual criação

Uma história sem fim...


Música de Rita Lee & Roberto de Carvalho que fecha o CD 3001, gravado e lançado em 2000 pela gravadora Universal Music.

sábado, 1 de janeiro de 2022

Rumo ao Porto Seguro

 O homem necessita emergir dos condicionamentos negativos a que se entrega, buscando a realização pessoal e o desenvolvimento da sociedade da qual é membro relevante.

Para esse fim, torna-se-lhe indispensável o conhecimento da própria personalidade, o controle dos impulsos e resíduos dos hábitos antigos, a busca do Eu eterno e uma programação saudável para a reconstrução da sua identidade.

O conhecimento da própria personalidade é um desafio admirável e estimulante, que não deve ser adiado.

Não basta um exame complacente das debilidades, tampouco uma análise severa dos deveres, transferindo-se para estados patológicos de fuga pela depressão ou mediante a rebeldia.

Faz-se necessária uma busca das causas do comportamento consciente e dos fatores que o induzem aos estados infelizes.

Isso será feito através de uma penetração no inconsciente, para ali encontrar os fantasmas persistentes das frustrações e medos, dos problemas infantis não solucionados, e até mesmo de algumas matrizes de outras reencarnações que interferem no comportamento atual. Todos esses mecanismos retidos no inconsciente são responsáveis pelo exaurimento das suas forças, pela paralisação dos esforços em favor do equilíbrio e por ideias obsessivas, perturbadoras.

Serão identificadas, ao mesmo tempo, as imensas possibilidades adormecidas, os tesouros da criatividade e da coragem, as vocações e capacidades que permanecem esmagadas por medos injustificáveis e conflitos facilmente superáveis.

O controle dos impulsos e resíduos dos hábitos antigos é de grande importância, porquanto estabelece novas metas a serem conquistadas e conduz à superação de todo o lixo acumulado na personalidade, a exsudar miasmas.

O que o indivíduo desconhece, funciona como força dominadora, embora se possa controlar tudo quanto consegue levar à desidentificação.

O conhecimento de uma fraqueza moral, às vezes, leva-o a admitir que está  vencido, o que é um erro básico, ou que não dispõe de forças para a batalha. Há sempre energias desconhecidas, em potencial, que podem e devem ser movimentadas.

Todo impulso pode ser canalizado de forma positiva, e os resíduos ancestrais devem ser diluídos mediante as novas ações estabelecidas.

Indispensável, pois, desintegrar as imagens residuais perniciosas e conduzir bem as energias liberadas.

O verdadeiro Eu é imortal e evolve através das reencarnações, atuando pelo amor e pelo conhecimento para o desabrochar do Deus interno, que nele jaz aguardando oportunidade.

Para esse cometimento, os valores espirituais e religiosos desempenham papel importante, por facultarem métodos de introspecção e ação capazes de vencer o ego e abrir espaços para as identificações ideais.

Esse esforço, ao invés de isolar os indivíduos, aproxima-os uns dos outros, desenvolvendo a solidariedade e o interesse de iluminação que devem a todos atingir.

Aquele que empreende esse desiderato, a ele se afeiçoa de tal forma, que passa a viver em sua função, sem abandonar, naturalmente, os demais deveres que executa com alegria, maneira feliz de exteriorizar a sua identidade superior, iluminada.

Por fim, elabora um programa de comportamento para a sua plena identificação, sua realização psicológica, sua libertação.

As dores não mais o mortificam nem desanimam. Antes, motivam-no a crescer conforme afirmou Heine: "O meu grande sofrimento eu converto em pequenas canções"; ou Milton, cego, escrevendo com júbilo o seu incomparável Paraíso Perdido; ou Mesmer, expulso de Viena, prosseguindo com as suas experiências em torno do fluidismo e do magnetismo.

Certamente, não atingirás de uma vez esta meta.

O esforço desenvolvido e o exercício continuado te auxiliarão a prosseguir, graças às pequenas vitórias que irás registrando e ao bem-estar de que te sentirás inundado.

Urge que rompas as amarras com a comodidade ou a depressão, com a revolta ou a má vontade; que te resolvas crescer e ser feliz.

Jesus viveu em toda plenitude o amor e ensinou como se poderá segui-lO através das lições que nos legou.

Assim, não te detenhas no passado, porquanto hoje é dia novo e amanhã é o porto feliz que deves conquistar a partir de agora.


Retirado do livro Momentos de Iluminação; Divaldo Franco pelo espírito Joanna de Ângelis; Livraria Espírita Alvorada Editora, Salvador, 4ª Edição, 2015.