sábado, 12 de dezembro de 2020

Contato com os Guias espirituais

 Afliges-te, porque ainda não lograste o contato psíquico com os teus Guias Espirituais.

Reflexionas que buscaste a fé religiosa, abraçando a mediunidade, e, não obstante, tens a impressão que navegas sem rumo, padecendo conflitos e experimentando desânimo.

Momentos surgem nos quais receais pela legitimidade do intercâmbio espiritual de que te fazes objeto.

Anseias por informações precisas sobre o teu papel nas tarefas de mediunidade.

Relacionas pessoas que te parecem menos equipadas, e, apesar disso, apresentam-se superprotegidas pelos Espíritos Nobres, assessoradas por Benfeitores Venerandos e Entidades outras, que na Terra deixaram nomes respeitáveis, famosos...

Planejas desistir, acreditando que as tuas são faculdades atormentadas, sem credencial ou recurso capaz de registrar a proteção dos Guias Espirituais.

Tem, porém, cuidado, e medita sem queixa.

A mediunidade é instrumento de serviço em nome do amor de Deus, para apressar o progresso dos homens e facultar o intercâmbio com os espíritos, deles recebendo a ajuda.

Candidataste-te ao labor socorrista, como recurso saudável para te recuperares moralmente do passado delituoso, por cuja contribuição terias, também, as dores lenidas ou alteradas no teu organograma para a evolução.

Honrado pelo trabalho de iluminação de consciência, estás colocado como veículo de bênçãos.

Buscam-te os sofredores, porque são trazidos a ti pelos teus Guias Espirituais, que confiam na tua ductibilidade, no teu sentimento de amor.

Porque não ouves os teus Benfeitores, não te creias abandonado, sem apoio.

Tem paciência.

Faze silêncio íntimo e entrega-te mais.

Quando desdobrado parcialmente pelo sono, eles te confortam e instruem, fortalecem-te e programam as atividades para as quais renasceste.

Se não o recordas conscientemente, ficam impressos nos teus registros psíquicos, esses salutares conúbios edificantes.

Se aprofundares reflexão, perceberás quantas vezes eles já te falaram, socorreram e apoiaram nos momentos rudes das provações e dos testemunhos.

Eles são discretos e agem sem alarde, não brindando recursos que induzam à vaidade, ao exibicionismo.

Amparam em silêncio, instruem em calma, conduzem com afabilidade.

Quando vejas, na mediunidade, o campeonato das disputas humanas e o calafrio que provoca a presença de seres nobres do passado, aureolando com pompa terrestre a memória, que pretendem manter rutilante, acautela-te e desconfia.

Importante não é o nome que firma ou enuncia uma mensagem, mas, sim, o seu conteúdo de qualidade e penetração benéfica.

Desse modo, trabalha no anonimato e, consciente das responsabilidades que te dizem respeito, deixa que os teus Guias Espirituais zelosamente te guardem e conduzam, não te expondo no palco da insensatez, onde brilha por um dia e se apaga de imediato a vaidade humana.


Texto de Divaldo Franco pelo espírito Joanna de Ângelis, retirado do livro Momentos de Felicidade, Livraria Espírita Alvorada Editora, Salvador, 5ª Edição, 2014.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

Uma História de Carícias

 Nesse conto, Claude Steiner, com muita sabedoria e ternura, sintetiza muitas ideias sobre Carícias.

Era uma vez, há muito tempo, um casal feliz, Antônio e Maria, com dois filhos chamados João e Lúcia. Para entender a felicidade deles, é preciso retroceder àquele tempo.

Cada pessoa, quando nascia, ganhava um saquinho de carinhos. Sempre que uma pessoa punha a mão no saquinho podia tirar um Carinho Quente. Os Carinhos Quentes faziam as pessoas sentirem-se quentes e aconchegantes, cheias de carinho. As pessoas que não recebiam Carinhos Quentes expunham-se ao perigo de pegar uma doença nas costas, que as faziam murchar e morrer.

Era fácil receber Carinhos Quentes. Sempre que alguém os queria, bastava pedi-los. Colocando-se a mão no saquinho surgia um Carinho do tamanho da mão de uma criança. Ao vir à luz, o carinho expandia-se e transformava-se num grande Carinho Quente que podia ser colocado no ombro, na cabeça, no colo da pessoa. Então, misturava-se com a pele e a pessoa se sentia bem.

As pessoas viviam pedindo Carinhos Quentes umas às outras e nunca havia problemas para consegui-los, pois eram dados de graça. Por isso todos eram felizes e cheios de carinhos, na maior parte do tempo.

Um dia, uma bruxa má ficou brava porque as pessoas, sendo felizes, não compravam as poções e unguentos que ela vendia. Por ser muito esperta, a bruxa inventou um plano muito malvado. 

Certa manhã, ela chegou perto de Antônio, enquanto Maria brincava com a filha, e cochichou em seu ouvido:

"Olha, Antônio, veja os carinhos que Maria está dando a Lúcia. Se ela continuar assim vai consumir todos os carinhos e não sobrará nenhum para você".

Antônio ficou admirado e perguntou: "Quer dizer, então, que não é sempre que existe um Carinho Quente no saquinho?"

E a bruxa respondeu: "Eles podem acabar e você não os ganhará mais". Dizendo isso a bruxa foi embora, montada na vassoura, gargalhando muito.

Antônio ficou preocupado e começou a reparar cada vez que Maria dava um Carinho Quente para outra pessoa, pois temia perdê-los. Então, começou a se queixar a Maria, de quem gostava muito, e também parou de dar carinhos aos outros, reservando-os somente para ela.

As crianças perceberam e passaram também a economizar carinhos, pois entenderam que era errado dá-los. Todos ficaram cada vez mais mesquinhos.

As pessoas do lugar começaram a sentir-se menos quentes e acarinhadas e algumas chegaram a morrer por falta de Carinhos Quentes. Cada vez mais gente ia à bruxa para adquirir unguentos e poções. Mas a bruxa não queria realmente que as pessoas morressem, porque se isso ocorresse, deixariam de comprar as poções e unguentos. Então, inventou um novo plano: todos ganhavam um saquinho muito parecido com aquele de Carinhos, porém era frio e continha Espinhos Frios. Os Espinhos Frios faziam as pessoas sentirem-se frias e espetadas, mas evitava que murchassem.

Daí para frente, sempre que alguém dizia "eu quero um Carinho Quente", aqueles que tinham medo de perder um suprimento respondiam: "Não posso dar-lhe um Carinho Quente, mas se você quiser, posso dar-lhe um Espinho Frio".

A situação ficou muito complicada porque, desde a vinda da bruxa, havia cada vez menos Carinhos Quentes, e estes tornaram-se valiosíssimos. Isto fez com que as pessoas tentassem de tudo para consegui-los.

Antes de a bruxa chegar, as pessoas costumavam se reunir em grupos de três, quatro, cinco sem se preocupar com quem estava dando carinho para quem. Depois que a bruxa apareceu, as pessoas começaram a juntar-se aos pares e a reservar todos seus Carinhos Quentes exclusivamente para o parceiro. Quando se esqueciam e davam um Carinho Quente para outra pessoa, logo se sentiam culpadas. As pessoas que não conseguiam encontrar parceiros generosos precisavam trabalhar muito para obter dinheiro para comprá-los.

Algumas pessoas tornavam-se simpáticas e recebiam muitos Carinhos Quentes sem ter que retribuí-los. Então, passavam a vendê-los aos que precisavam deles para sobreviver. Outras pegavam os Espinhos Frios, que eram ilimitados e de graça, cobriam-nos com cobertura branquinha e estufada, fazendo-os passar por Carinhos Quentes. Eram, na verdade, carinhos falsos, de plástico, que causavam novas dificuldades. Por exemplo, duas pessoas juntavam-se e trocavam entre si, livremente, os seus Carinhos Plásticos. Sentiam-se bem em alguns momentos, mas logo depois sentiam-se mal. Como pensavam que estavam trocando Carinhos Quentes, ficavam confusas.

A situação, portanto, ficou muito grave.

Não faz muito tempo uma mulher especial chegou ao lugar. Ela nunca tinha ouvido falar na bruxa e não se preocupava com o fim dos Carinhos Quentes. Ela os dava de graça, mesmo quando não eram pedidos. As pessoas do lugar desaprovavam sua atitude porque essa mulher dava às crianças a ideia de que não deviam se preocupar com o término dos Carinhos Quentes, e chamavam-na de Pessoa Especial.

As crianças gostavam muito da Pessoa Especial porque se sentiam bem em sua presença e passaram a dar Carinhos Quentes sempre que tinham vontade.

Os adultos ficaram muito preocupados e decidiram impor uma lei para proteger as crianças do desperdício de seus Carinhos Quentes. A lei dizia que era crime distribuir Carinhos Quentes sem uma licença. Muitas crianças, porém, continuavam a trocar Carinhos Quentes sempre que tinham vontade ou quando alguém os pedia. Como existiam muitas crianças, parecia que elas prosseguiriam seu caminho.

Ainda não sabemos dizer o que acontecerá. As forças da lei e da ordem dos adultos forçarão as crianças a parar com sua imprudência? Os adultos se juntarão à Pessoa Especial e às crianças e entenderão que sempre haverá Carinhos Quentes, tantos quantos forem necessários? Lembrar-se-ão dos dias em que os Carinhos Quentes eram inesgotáveis porque eram distribuídos livremente?

Em qual dos lados você está?

O que você pensa disto?


Texto retirado do livro A Carícia Essencial - uma psicologia do afeto, de Roberto Shinyashiki, Editora Gente, São Paulo, 1994,  83ª Edição.

sábado, 5 de dezembro de 2020

O Amigo Ideal

 Sentimentos desencontrados se entrechocam nas tuas paisagens íntimas.

Em certos momentos, estás a ponto de explodir, tal a soma de desespero que te desgoverna, e, noutras ocasiões, pensas em parar, em desistir de tudo, tal o acúmulo de sofrimentos que te conduzem à exaustão.

Gostarias de encontrar um amigo paciente e esclarecido, com quem pudesses desabafar, deixar que todas as tuas inquietações desfilem, encontrando compreensão e diretrizes.

Sentes necessidade de novos afetos, como se fossem bálsamo salutar para o teu coração ralado de suspeição e tormentos.

Vês outras criaturas, sorridentes e felizes, que desfilam, dando a impressão de que a vida delas é um agradável convescote ou um carnaval permanente.

Como, porém estás equivocado!

A existência carnal é igual para todos os que se encontram na Terra, variando a circunstância e a intensidade das ocorrências para cada homem.

Corrige, desse modo, a tua óptica e cuida mais do teu critério de avaliação.

A aparência é a capa luminosa ou sombria que oculta a realidade.

Quem te veja e desconheça o que se passa em teu foro íntimo, se não te queixares, terá a impressão de que vives bem aquinhoado pela felicidade, enriquecido pelos favores do prazer...

Tu, porém, sabes que não é bem assim, o que se passa contigo, da mesma forma que não é, quanto supões, tão áspera e desditosa a tua marcha.

Se reflexionares melhor, constatarás que o número de bênçãos suplanta os teus questionamentos queixosos.

Relaciona o que possuis e quanto te favorece, em referência a outros que não dispõem desses valores e conquistas.

Ninguém, no mundo físico, pode desfrutar de tudo quanto gostaria, pois que se o conseguisse já fruiria do "Reino dos Céus" que, afinal de contas, não tem lugar na esfera física.

Este amigo, que exibe felicidade e paira na opulência, invejado e cercado de carinho atormenta-se, intimamente insatisfeito com a vida, sentindo-se obrigado a manter a aparência, escondendo-se, magoado.

Essa dama, que se apresenta adornada de joias finas e caras, requestada por uns e por outros invejada, disfarça, nos sorrisos, pesadas frustrações conjugais que ninguém imagina.

Aquele jovem, bem apessoado, que conquista o futuro com audácia, envolvido num halo de triunfo, iridescente como uma estrela e conquistador como a luz, amarga-se, nas horas distantes do público, vencido por conflitos desconhecidos de todos.

A moça, que passa deslumbrante, vendendo beleza e juventude, qual fosse uma deusa renascida das páginas mitológicas, desprezando candidatos ou entregando-se a dissipações absurdas, aturde-se em confuso estado de timidez, que a desconcerta e vence.

A legião dos felizes-infelicitados cresce, diariamente, e as suas estatísticas são assustadoras, especialmente nas áreas das patologias da loucura, do vício, das fugas espetaculares.

Há muito mais ilusão e sonhos tornados pesadelos do que imaginas.

A visão azul do cosmo não é real...

A Terra é educandário e não jardim edênico.

Da mesma forma que anelas por aquele amigo que te pudesse ajudar na solução das tuas dificuldades, alguém te observa, supondo que o és para as necessidades dele.

Mesmo que não o sejas, esforça-te por te tornares.

Ao invés de dependeres, de pedires, passa a doar, a socorrer.

Começa, mediante pequenas tarefas gratificantes do amor fraterno.

Assume singelos deveres; gera alegria em tua volta; produze bem-estar; pensa em alguém com simpatia; supera o azedume...

Tentativas de renovação culminam em conquistas, em realizações edificantes.

Assim fazendo, tua mente abrirá espaço para ouvir a orientação anelada, e os sentimentos renovados propiciarão a tua sintonia com o Amigo Ideal, que é, que espera somente Lhe concedas o ensejo de ajudar-te e conceder-te a alegria que buscas.


Texto de Divaldo Franco, pelo espírito Joanna de Ângelis retirado do livro Momentos de Coragem, Livraria Espírita Alvorada Editora, Salvador, 8ª Edição, 2014.

domingo, 29 de novembro de 2020

Negritude

Trago em meu peito
as marcas do açoite
na pele cor de noite que
o bronze esculturou
tenho no meu sangue
o elã da madrugada
de cada encruzilhada
que Angola me deixou

Sou filha do atabaque
do som dos retirantes
do congo, dos amantes
caçados no Sudão

Da música de Gana
das flautas de Uganda
das festas de Luanda
tambores do Gabão

E desses ancestrais
da Argélia ao Senegal
nasceu meu carnaval
e dele sou herdeira
e mostro com orgulho
ao mundo, à terra inteira
meu ritmo, meu viço
de negra brasileira
negra bras
negra brasi
negra brasilei
negra brasileira

Música de Irinéia Maria e Paulo Cezar Feital que dava título ao então LP Negritude de Zezé Motta lançado em 1979.

Trecho 47 de Arnaldo Antunes

 A chuva derrubou as pontes. A chuva transbordou os rios. A chuva molhou os transeuntes. A chuva encharcou as praças. A chuva enferrujou as máquinas. A chuva enfureceu as marés. A chuva e seu cheiro de terra. A chuva com sua cabeleira. A chuva esburacou as pedras. A chuva alagou a favela. A chuva de canivetes. A chuva enxugou a sede. A chuva anoiteceu de tarde. A chuva e seu brilho prateado. A chuva de retas paralelas sobre a terra curva. A chuva destroçou os guarda-chuvas. A chuva durou muitos dias. A chuva apagou o incêndio. A chuva caiu. A chuva derramou-se. A chuva murmurou meu nome. A chuva ligou o para-brisa. A chuva acendeu os faróis. A chuva tocou a sirene. A chuva com a sua crina. A chuva encheu a piscina. A chuva com as gotas grossas. A chuva de pingos pretos. A chuva açoitando as plantas. A chuva senhora da lama. A chuva sem pena. A chuva apenas. A chuva empenou os móveis. A chuva amarelou os livros. A chuva corroeu as cercas. A chuva e seu baque seco. A chuva e seu ruído de vidro. A chuva inchou o brejo. A chuva pingou pelo teto. A chuva multiplicando insetos. A chuva sobre os varais. A chuva derrubando raios. A chuva acabou a luz. A chuva molhou os cigarros. A chuva mijou no telhado. A chuva regou o gramado. A chuva arrepiou os poros. A chuva fez muitas poças. A chuva secou ao sol.


Texto de Arnaldo Antunes retirado do livro as coisas, Editora Iluminuras, São Paulo, 2000.

Trecho 41 de Arnaldo Antunes

 O vidro quebra mas não derrete. O plástico derrete mas não quebra. Assim são os óculos. Estrutura plástica para lentes de vidro. O espelho mostra, o vidro deixa ver. Assim são os vidros. O mármore é usado nos túmulos. A madeira polida não solta farpas. As bolhas quando estouram não deixam cacos. O vidro não apodrece, nem na umidade, nem debaixo da terra. Depois de anos enterrados os mortos míopes, sobram apenas os ossos e os óculos. E quando não restarem mais os ossos ainda estarão intactos os óculos. Se o vidro for negro os olhos desaparecem. Assim são os óculos escuros. Mostram mas não deixam ver. O ferro cromado não enferruja. O vidro da janela retém a chuva mas deixa passar as cenas. A água parada espelha como prata. Assim é a água. Se houver luz de um só lado o vidro espelha, como a água parada. A prata depois de anos preteja. Assim é a prata. A pedra quando afunda turva a água. Assim é a pedra.


Texto de Arnaldo Antunes retirado do livro as coisas, Editora Iluminuras, São Paulo, 2000.

Trecho 87 de Arnaldo Antunes

 O inverno é eterno no polo norte. Os dias dilatam no verão. A água gira em sentido anti-horário nos ralos das pias do japão. A patagônia fica ao norte do polo sul. A groelândia fica ao sul do sul do sul da patagônia. O mundo é redondo. Um país ao leste pode estar a oeste se você for pelo caminho mais comprido. Os carrinhos de aeroporto no brasil são empurrados, como os carrinhos de bebê e os de supermercado. Os carrinhos de aeroporto dos estados unidos são puxados. Os chineses e os yanomamis e os tailandeses e os ticuna e os bororo e os vietnamitas têm os olhos puxados. Os relógios da suíça têm um ponteiro maior que o outro, como os outros. As bússolas de marrocos têm um ponteiro, como as outras, só. A terra do fogo é fria. A areia do saara é como a areia da praia, mas fica longe do mar. O mar cerca todos os lugares. O saara fica longe de qualquer lugar. As cidades crescem mas os continentes continuam do mesmo tamanho; crescem na maré baixa e encolhem na maré cheia. A guiana francesa fica longe da frança. A áfrica do sul é na áfrica. O equador fica no meio do mapa. O hawai fica no meio do mar.


Texto de Arnaldo Antunes retirado do livro as coisas, Editora Iluminuras, São Paulo, 2000.

* o autor escreveu todos os nomes próprios com letra minúscula!!

sábado, 28 de novembro de 2020

O Teu Deus Interno

 Periodicamente, o tresvario humano, cansado de desgastar aquele que lhe tomba nas malhas, investe, furioso, contra Deus, em uma forma doentia de afirmar-se na paisagem torpe onde predomina.

Logo após a Revolução Francesa, o cidadão Jacques Duport, entusiasmado com a derrocada da Casa dos Bourbons, pretendeu destronar Deus do Universo, proclamando: - "Natureza e Razão, são esses os meus deuses."

Acompanhado por outros cérebros e vozes apaixonadas, viu a decadência dos seus postulados, à semelhança de Heine, que também O negara antes, morreu "adorando a Deus".

Mais tarde, Nietzsche, colocava nos lábios da sua personagem central, retratando a sua própria aflição: "Acabo de matar Deus, pela Sua desnecessidade no mundo", repetindo a façanha daqueles que se arvoravam a destruí-lO com as armas do materialismo que os decepcionou amargamente.

Mais recentemente, Challemel Lacour, substituto de Renan, na Academia Francesa de Letras, repetiu o estertor dos antepassados, declarando: "Ciência e Razão, eis os meus deuses", acompanhando, logo depois, as conquistas do Conhecimento, que lograva defrontá-lO na raiz das suas descobertas.

E, não há muito, teólogos holandeses inquietos, participando do coral aflitivo das alucinações dos anos sessenta, insistiram: - "Cremos em Jesus, mas não em Deus", constatando, de imediato, a inatingibilidade d'Ele, pelos pesquisadores da Física Nuclear, da Astrofísica, da Astronomia e de outros ramos da Ciência como da Tecnologia, que apenas Lhe vislumbram a existência.

Por mais que o homem fuja de Deus, arranjando substitutivos transitórios, mediante explicações sofistas umas e estapafúrdias outras, Ele ressurge e mantém-se impenetrável na Sua realidade invencível.

Alguns avançados cientistas apresentam equações complexas que parecem dispensar Deus no ato da criação do Universo e falam sobre a Grande Explosão, para elucidar-lhe o aparecimento. E não elucidam os fenômenos precedentes.

Diversos estudiosos denominam-nO como a "Força que agita o elétron" e, penetrando no mundo subatômico, procuram demonstrá-lO como efeito da ignorância cultural daqueles que não estudaram as partículas elementares que se perdem na área de concepções audaciosas.

Há quem O desdenhe, por descobrir as imperfeições que detecta no Cosmo e na Vida.

A todos, porém, Deus sobrevive, e comanda a Sua Obra.

Jesus O chamou, sem qualquer atavio, Pai.

Outros mestres O denominaram "Criador Incriado".

Einstein concluiu pelo "Poder pensante e atuante fora do Universo".

João Evangelista nomeou-O como "Amor".

Chamemo-lO, porém, " Alma da Natureza " ou " Acaso ", " Matemática Transcendente " ou " Força Cósmica Imanente-Transcendente ",  Deus é a Fonte Eterna Geradora de Vida, que nos criou e aguarda por nós.

Interrogando os Guias da Humanidade, a respeito do "que é Deus", aqueles Mentores nobres responderam a Allan Kardec: - "Deus é a Inteligência Suprema do Universo, causa primária de todas as coisas."

Medita sobre a tua pequenez e fragilidade.

Considera a tua mente e os teus sentimentos.

Interroga as tuas aspirações e necessidades.

Questiona a transitoriedade da tua vida física.

Reflexiona quanto à celeridade com que o tempo se esvai no relógio das horas.

Raciocina sobre o amor e busca senti-lo.

Dá-te ao bem, ao próximo e, inevitavelmente, encontrarás Deus dentro de ti, pulsando, amando e conduzindo-te no rumo da plenitude.

Acalma-te e deixa-te por Ele conduzir.


Texto de Divaldo Franco, pelo espírito Joanna de Ângelis, retirado do livro Momentos de Alegria, Livraria Espírita Alvorada Editora, Salvador, 2014,  4ª Edição.

sábado, 21 de novembro de 2020

Arquitetura da Luz II

Até onde podemos crer sem desconfiar
nos inconfessáveis artifícios da luz?
Arquitetando nossos rostos e cenários
ora graves, ora em expansão como uma maré
de agosto, a todo momento somos vítimas
do entrelaçado jogo dos reflexos que nunca
compactua com a demarcação da realidade.

Enquanto na sombra o que somos
se evidencia mais claramente, nítido
se norteia o rumo das certezas e em nós
nenhum receio de não captar as fronteiras
das revelações. Tudo se mostra e se expõe
numa disposição de linhas inalteráveis
como na pauta a simbologia de uma canção.
Ciranda recifense
e outras canções

Poema de Bartyra Soares retirado do livro "Arquitetura da Luz", Editora Baraúna, Recife, 2004.

Arquitetura da Luz I

Apenas da luz um arabesco e a sombra
já não se nos impõe definitiva.
Erigindo, desarmando, regendo a esperança
sob a planta de nossos pés, a sutil
e ao mesmo tempo ousada dança dos reflexos
leva-nos às mais inesperadas aventuras
ultrapassando percepções e limites.

E nossos passos sempre tão leves
tão descalços, de súbito atrevem-se aos mais
esconsos desfiladeiros. Nossos olhos
outra vez emersos de um sono sem mitos
lançam-se na busca do percurso das estrelas
que caem nos poemas, nas fontes, nas vidraças
impulsionando-nos à renovação dos desejos.

Poema de Bartyra Soares retirado do livro "Arquitetura da Luz", Editora Baraúna, Recife, 2004.