domingo, 7 de janeiro de 2024

Aperto de mão elétrico

Em 1905, cientistas imaginaram cumprimento à distância


Foi há 110 anos. Impressionados com os avanços da eletricidade, alguns cientistas franceses começaram a especular como seriam as comunicações em um futuro próximo a 1905. Chegaram à conclusão que o mundo estava perto do "aperto de mão elétrico". Haveria, acreditavam, um aparelho semelhante ao telefone no qual, além de se ouvir a voz do interlocutor, seria possível sentir a pressão de um aperto de mão na hora de fechar um negócio.

A base para esse contato caloroso seria o rádio, recém-descoberto. Claro que o tal aperto nunca funcionou, mas os franceses começaram a trabalhar em uma máquina semelhante ao atual fax que atuaria como os aparelhos de transferência de dinheiro.

Se no começo do século passado os cientistas superestimaram o valor da cortesia, com certeza ficariam chocados com a transferência de imagens íntimas que circulam pelos smartphones. Ainda que não se sinta o toque alheio (há alguns dispositivos que insinuam isso, mas não exatamente o de um aperto de mão), fotos e selfies estão aí para mostrar que a proximidade, hoje, carece de distância.


Texto sem autoria identificada e retirado da revista Aventuras na História, Ano 12, número 3, Edição 139, Fevereiro de 2015, Editora Caras, São Paulo.

sábado, 6 de janeiro de 2024

10 Castelos Mal-Assombrados

 Há fantasmas em fortalezas de três continentes


01- Edimburgo - Escócia: Fortaleza militar do século 12, é conhecido como o castelo mais mal-assombrado do país. O fantasma do duque Alexander da Albânia, aprisionado nos calabouços, vaga por lá, acreditam. Lady Glamis, acusada de bruxaria em 1537 e queimada viva, supostamente ainda ronda os quartos. Soldados franceses e vítimas da Peste Negra são outros espectros.

02- Chillinglam - Inglaterra:  Em 1297, o líder escocês William Wallace atacou o local e ateou fogo à abadia, incinerando mulheres e crianças. Um panfleto de 1925, da Condessa de Tankerville, já fazia referência a almas penadas que habitam o castelo. A mais famosa, o "menino azul", pertence a um pajem incumbido de entregar documentos confidenciais à Armada Espanhola.

03- Houska - República Tcheca: Construído no século 13, sob ordens do regente da Boêmia Ottokar II, foi erguido para preencher uma falha geológica profunda que os moradores acreditavam ser um portal para o inferno. E, 1930, o local foi usado para experimentos nazistas. É onde supostamente há diversas aparições fantasmagóricas e demoníacas.

04- Belcourt - Estados Unidos: Foi encomendado em 1891 por um milionário para ser usado como residência de verão. Não há fantasmas no local, que é palco de atividades paranormais. Reúne artefatos como um coche que balança sozinho e uma armadura que, se acredita, solta um grito todo mês de março, época em que o antigo dono morreu com uma lança atravessada no olho.

05- Brissac - França: Com mais de sete andares e 200 salas remonta ao século 11, quando era residência dos condes de Anjou. No século 15, o castelo foi renovado pelo ministro Pierre de Breze. Seu filho o herdou e mudou-se para lá com a esposa, Charlotte, que tinha  reputação de infiel. Ela desapareceu, mas seus gemidos ecoam pelos corredores até hoje, de acordo com a lenda.

06- Bardi - Itália: Construído no século 9 para conter invasões húngaras, a fortaleza tem uma história digna de Shakespeare. A filha do dono apaixonou-se por um capitão. Esperando seu retorno, avistou o exército inimigo e optou por se matar. Na verdade, eram os locais, que usavam as cores dos derrotados para vangloriar-se. Ao ver o corpo da noiva, o capitão se matou.

07- Drags Holme - Dinamarca: Do século 12, abrigaria mais de uma centena de espectros. Um deles, o Lorde de Bothwell, foi aprisionado ali. Outro fantasma possui história mais trágica: a filha do dono do castelo foi cimentada viva como punição por amar um plebeu. Em 1930, um esqueleto foi achado. O vestido era igual ao de uma menina por vezes avistada a noite nos corredores.

08- Moosham - Áustria: Palco de centenas de decapitações, foi construído pelos regentes de Salzburgo no século 13. Entre 1675 e 1690, na histeria da caça às bruxas, pessoas foram julgadas e executadas ali, e é dito que muitas delas permanecem no lugar. Por volta de 1800, moradores da região registraram casos de mutilação de animais nas imediações do edifício.

09- Warwick - Inglaterra: Construído no século 10, foi palco de diversas batalhas durante a invasão normanda da Inglaterra. Um dos donos do castelo, sir Fulke Greville, foi assassinado em 1628 por seu empregado. Segundo a lenda, ele se materializa do seu retrato em noites frias. Além disso, um grande  cachorro negro de olhos vermelhos ronda o local.

10- Himeji - Japão: O castelo existe desde 1346, mas foi no século 17 que começou a maldição. A serva Okiku era apaixonada pelo nobre local. Quando descobriu uma conspiração para assassiná-lo ela revelou os planos. O arquiteto do golpe, por vingança, acusou-a de ter roubado um dos pratos do senhor. Foi torturada e seu corpo jogado no poço do castelo.


Texto sem autoria identificada e retirado da revista Aventuras na História, Ano 12, número 3, Edição 139, Fevereiro de 2015, Editora Caras, São Paulo.

Ante a lição (1)

 "Considera o que te digo, porque o Senhor te dará entendimento em tudo." 

- Paulo. (II TIMOTÉO, 2:7)


Ante a exposição da verdade, não te esquives à meditação sobre as luzes que recebes.

Quem fita o céu, de relance, sem contemplá-lo, não enxerga as estrelas; e quem ouve uma sinfonia, sem abrir-lhe a acústica da alma, não lhe percebe as notas divinas.

Debalde escutarás a palavra inspirada de pregadores ardentes, se não descerrares o coração para que o teu sentimento mergulhe na claridade bendita daquela.

Inúmeros seguidores do Evangelho se queixam da incapacidade de retenção dos ensinos da Boa Nova, afirmando-se ineptos à frente das novas revelações, e isto porque não dispensam maior trato à lição ouvida, demorando-se longo tempo na província da distração e da leviandade.

Quando a câmara permanece sombria, somos nós quem desata o ferrolho à janela para que o sol nos visite.

Dediquemos algum esforço à graça da lição e a lição nos responderá com as suas graças.

O apóstolo dos gentios é claro na observação.

"Considera o que te digo, porque, então, o Senhor te dará entendimento em tudo."

Considerar significa examinar, atender, refletir, e apreciar.

Estejamos, pois, convencidos de que, prestando atenção aos apontamentos do Código da Vida Eterna, o Senhor, em retribuição à nossa boa-vontade, dar-nos-á entendimento em tudo.


Texto retirado do livro Fonte Viva; Francisco Cândido Xavier pelo Espírito Emmanuel, FEB, Brasília, 1987.

quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

Olho de Boi

 Brasil foi o segundo país a adotar sistema de postagem


O primeiro selo brasileiro foi criado em 1843, quase 200 anos após a criação do serviço de correio. Até o período da Regência, a entrega das correspondências era feita principalmente por escravos. Em 1835, o correio da Corte passou afazer a entrega de correspondência a domicílio. Até então, o serviço funcionava apenas para estabelecimentos  registrados, que pagavam uma anuidade.

"Até os selos entrarem em uso, se pagava um mensageiro para fazer a entrega e ele cobrava do destinatário. Mas havia dois problemas: quem recebia podia ler a carta e se recusar a pagar. Ou o mensageiro recebia e era assaltado na volta", afirma o comerciante filatélico Leão Marek. O sistema mudou em 1841, depois que Dom Pedro II, inspirado pelo primeiro selo do mundo, o penny black britânico, aprovou uma reforma postal. A inovação permitia maior controle sobre os pagamentos. Em 1843, o Brasil se tornou o segundo país a incorporar a medida nacionalmente - no mesmo ano, Zurique lançou um selo regional -, quando entrou em vigor o Olho de Boi, assim chamado pelo desenho oval. Disponível nos valores de 30, 60 e 90 réis, eram desenhados a pena e depois reproduzidos. Para usar, era necessário recortar e colar os selos, que ainda não vinham picotados.


SEM O ROSTO DO IMPERADOR


Dom Pedro II determinou que os primeiros selos não fossem estampados com sua efígie - achou que seria indigno ter o rosto carimbado. Posteriormente, o monarca mudou de ideia, mas os primeiros selos traziam apenas cifras.

O selo de 30 réis deveria ter uma primeira impressão de 6 mil unidades, mas a tiragem final foi de 1.148.994. Servia para distâncias curtas, dentro de uma mesma cidade. Hoje, um exemplar é avaliado em R$ 10 mil.

O Olho de Boi de 60 réis teve como tiragem final 1,5 milhão de selos e é, atualmente, considerado o menos valioso dos três modelos. Era usado para distâncias médias, entre províncias. O selo de 90 réis, usado para distâncias mais longas, teve uma impressão de 349.182 exemplares. Desses, 18 mil foram enviados para a Bahia, província que recebeu o maior volume de selos. Para correspondências despachadas para outros países, via navio, era necessário usar vários selos, de acordo com o peso do pacote e o trajeto. É hoje o mais raro dos Olhos de Boi, podendo valer mais de R$ 15 mil.


Texto sem autoria identificada e retirado da revista Aventuras na História, Ano 12, número 3, Edição 139, Fevereiro de 2015, Editora Caras, São Paulo.

terça-feira, 2 de janeiro de 2024

Como fazíamos sem... Asfalto

 Animais fizeram primeiro piso de estradas


As primeiras vias foram feitas por animais de manada, como búfalos, zebras e elefantes. Era sobre essas trilhas que os homens pré-históricos caminhavam, evitando topadas, escorregões ou pisar em cobras escondidas na vegetação. Em Ur, no atual Iraque, surgiram as primeiras estradas parecidas com as que conhecemos, em 4 mil a.C. Eram feitas com calçamento de pedra.

Os romanos foram os maiores empreiteiros: abriram mais de 85 mil km de estradas. Sim, "todos os caminhos levavam à Roma". Vinte e nove grandes vias convergiam para a capital. Na Ásia, chineses e persas competiam com um sistema quase tão avançado. O motivo era principalmente bélico: impérios precisavam deslocar grandes exércitos. Mesmo assim, até o século 18 essas vias eram cheias de buracos e irregularidades. A pavimentação era feita com blocos de pedra ou madeira, tijolos, cascalho e areia, com água para dar liga.

O engenheiro John Metcalfe modernizou o processo de construção de estradas e, apesar de cego, pavimentou quase 290 km ao longo da cerreira. Em 1787, seu compatriota John McAdam desenvolveu um método que consistia em usar uma camada de peças de pedra quebrada e compactada coberta por uma superfície de pedregulhos menores. Era mais barato, mas retinha água da chuva e sujeira, como excrementos de cavalos. Baudelaire, ao falar sobre as ruas de Paris, menciona o "lodaçal de macadame" com repugnância.

O asfalto, uma substância natural também chamado de betume, é usado pelo homem desde 3 mil a.C., especialmente para vedação. Em 1824, a Avenida Champs-Elysées, em Paris, foi uma das pioneiras no uso do asfalto no solo - misturado com pedras e agregadores que se solidificavam como se fosse blocos de concreto. Um cruzamento do macadame com o betume. As estradas francesas também passaram a usar esses blocos como revestimento. O asfalto recebeu impulso final em 1896, quando New York passou a usá-lo como padrão de cobertura em suas ruas.


Texto sem autoria identificada e retirado da revista Aventuras na História, Ano 12, número 3, Edição 139, Fevereiro de 2015, Editora Caras, São Paulo.

domingo, 31 de dezembro de 2023

Mulheres ao Mar

 Nórdicas colonizaram ocupações vikings


A imagem de filmes e séries que mostram mulheres e crianças nórdicas se despedindo de pais e maridos guerreiros, que viajavam em busca de novas terras e pilhagens, não faz sentido, de acordo com pesquisadores suecos e noruegueses. Durante as longas viagens vikings entre os séculos 8 e 11, eles estavam nos barcos. Estudo publicado na revista Philosophical Transactions com base no DNA mitocondrial (só transmitido pelas mães) mostra que elas embarcaram rumo a Inglaterra, Irlanda, Islândia e  pequenas ilhas, como Orkney e Shetlands. "A pesquisa apoia a visão de que um significativo grupo de mulheres estava envolvido na colonização", diz Erika Hagelberg, da Universidade de Oslo, que participou do estudo. "Isso põe fim à ideia de que as viagens só envolviam estupros e pilhagens".

Os pesquisadores estudaram dezenas de esqueletos entre 950 e 1200 anos de idade. Compararam o DNA mitocondrial nórdico antigo com 5 mil amostras de indivíduos modernos da Noruega, Grã Bretanha, Islândia e outros países europeus. O resultado mostrou que o DNA materno dos vikings era muito próximo ao de moradores atuais da Islândia, das Orkney e Shetlands - ilhas isoladas do Atlântico Norte. "Mostramos que eles trouxeram as mulheres para colonizar a Islândia e outras áreas", disse a pesquisadora Maja Krzewinska.

Teorias mais antigas afirmavam que os vikings se fizeram ao mar em busca de mulheres, raras em suas terras originais, e que usaram garotas gaélicas para colonizar a Islândia.


Texto sem autoria identificada e retirado da revista Aventuras na História, Ano 12, número 3, Edição 139, Fevereiro de 2015, Editora Caras, São Paulo.

sábado, 30 de dezembro de 2023

Confusão de Origem

Afinal, quem foram os primeiros habitantes das Américas?


No final de 2014, a análise de DNA de dentes de dois crânios de índios botocudos, encontrados no acervo do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, trouxe uma grande revelação: o genoma era polinésio. Os botocudos, ou aimorés, viviam na atual região de Minas Gerais e Espirito Santo, distantes mais de 7 mil km do polinésio mais próximo, os rapa nui da Ilha de Páscoa. Para chegar de um lugar ao outro, seus antepassados teriam de ter cruzado um bom pedaço do Oceano Pacífico e, depois, atravessado a Cordilheira dos Andes. "O que já era surpreendente se tornou intrigante", afirmou o pesquisador Eske Willerslev, da Universidade de Copenhague e um dos autores do estudo. Em 2013, uma análise do DNA mitocondrial, que só a mãe transfere aos descendentes, havia apontado a origem polinésia das ossadas. Agora a certeza é quase absoluta. A tribo foi praticamente exterminada no século 19, e hipóteses como a de que seriam escravos vindos do Peru ou de Madagascar (as duas regiões receberam escravos polinésios) acabaram descartadas.

A nova evidência traz à luz uma antiga discussão: quem são os antepassados dos americanos? Durante muito tempo, acreditava-se que os indígenas do continente fossem descendentes de um único grupo asiático que cruzou o Estreito de Bering entre 20 mil e 15 mil anos atrás. O grupo seria o ancestral da chamada cultura Clóvis - com base em artefatos datados de 13 mil anos encontrados no Novo México, EUA. Nos últimos tempos, tal visão tem sido fortemente contestada, graças a novos achados arqueológicos e paleontológicos.

O biólogo mineiro Walter Neves batizou uma descoberta em Lagoa Santa (MG) de Luzia. O fóssil tem 13 mil anos e é negróide. Ou seja, teria vindo da África ou da Oceania. Para Neves, Luzia poderia ser explicada se tivesse ocorrido mais de uma leva migratória pelo Estreito de Bering - com populações de etnias diferentes.

A recente descoberta do botocudos polinésios só ajudou a embaralhar ainda mais a questão. "Acho que está na hora de ser humilde e declarar ignorância", admitiu Sérgio Danilo Pena, da Universidade Federal de Minas Gerais e um dos autores do artigo, publicado na revista científica Current Biology.

Ainda há um terceiro componente: as pesquisas da arqueóloga franco-brasileira Niède Guidon na Serra da Capivara, no sul do Piauí. A arqueóloga encontrou artefatos humanos ali - e traços do que ela acredita serem fogueiras de 45 mil anos. Para outros grupos de pesquisadores, as evidências, datadas por carbono 14, podem ser apenas incêndios naturais, sem a participação de humanos. Se a hipótese de Niède Guidon estiver correta, tudo o que se sabe sobre o ocupação humana das Américas terá de ser revisado.


Texto sem autoria identificada e retirado da revista Aventuras na História, Ano 12, número 3, Edição 139, Fevereiro de 2015, Editora Caras, São Paulo.

quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

Linha do tempo de Carl Rogers

1902 - Em 8 de janeiro, nasce Carl Ransom Rogers, em Oak Park, Illinois, Chicago, EUA. Ele era o quarto de seis filhos do casal Walter A. Rogers (engenheiro civil) e Julia M. Cushing (dona de casa, fiel seguidora da Igreja Pentecostal Cristã).

1914 - A família, muito religiosa, muda-se para uma fazenda nos arredores de Chicago, para afastar os filhos dos perigos da grande cidade.

1919 - Ingressa na Universidade de Wisconsin, para cursar Agronomia, a primeira opção de carreira escolhida em função da fazenda em que morava.

1921 - Muda do curso de Agronomia para o de História.

1922 - Viaja para a China, para participar do Word Student Christian Federation Conference, quando começou a duvidar de suas convicções religiosas. Para ajudá-lo a esclarecer a sua escolha de carreira, participou de um seminário intitulado Por que estou entrando no Ministério?

1924 - Gradua-se em História. Casa-se com Helen Elliot, muda-se para New York e começa a cursar Teologia no Union-Theological Seminary.

1925 - Muda-se para Vermont, onde faz um estágio com a função de pastor.

1926 - Nasce seu primeiro filho David Elliot Rogers. Transfere-se para o Teachers College da Universidade de Columbia. Deixa a carreira religiosa e começa a trabalhar com crianças, sob orientação de Leta Hollingworth. Seu primeiro emprego foi no Centro de Observação e Orientação Infantil, onde ficou durante doze anos, tendo chegado a ser diretor. Nos oito primeiros anos, absorveu-se num trabalho diagnóstico e aplacamento de casos de crianças delinquentes e desprovidas de qualquer assistência.

1927 - Gradua-se em Masters of Arts. 

1928 - Nasce sua segunda filha: Natalia Rogers. Ao terminar o mestrado em Psicologia, começa a trabalhar no Child Study Departament of the Society of the Prevention of Cruelty to Children, de Rochester.

1929 - Passa a dirigir o centro em que trabalhava e, no ano seguinte, é nomeado diretor, onde fica por 12 anos trabalhando com crianças.

1931 - Recebe o título de PhD em Psicologia Clínica pela Universidade de Columbia.

1935 - Começa a lecionar no Teacher's College da Universidade Rochester. Desse ano até 1940 fou professor na Universidade de Rochester.

1939 - Publica seu primeiro livro, O Tratamento Clínico da Criança-Problema, no qual relata o que tem de mais importante nas suas experiências até esse momento. O livro foi bem aceito e motivou a sua contratação como catedrático da Universidade do Estado de Ohio, sendo sua responsabilidade a disciplina "Técnicas em Psicoterapia".

1940 - Leciona psicologia clínica na Universidade de Ohio. Nesse ano, Rogers se deparou com fortes reações contrárias às suas ideias, quando expôs o seu pensamento numa conferência, na Universidade de Minnesota. Ele a intitulou "Novos conceitos em psicoterapia" e destacou que o alvo da nova terapia era ajudar o indivíduo a crescer de maneira que ele mesmo pudesse resolver as suas dificuldades e as que surgissem, de uma maneira muito mais integrada, baseada numa tendência que ele possui para o crescimento, a saúde e a adaptação. Por isso elegeu o dia 11 de dezembro de 1940 como a data de nascimento da Terapia Centrada no Cliente.

1942 - Publica seu segundo livro Psicoterapia e Consulta Psicológica (Counseling and Psychotherapy). Nele, fez um exame formal e sistematizado da sua abordagem de terapia.

1946 - É eleito presidente da Associação Americana de Psicologia.

1951 - Seu terceiro livro é lançado: Terapia Centrada no Cliente (Client-Centered Therapy) contém sua teoria formal sobre a terapia da personalidade e algumas pesquisas que culminaram com a sua abordagem. Rogers obteve reconhecimento profissional.

1956 - É eleito presidente da Academia Americana de Psicoterapeutas e recebe um prêmio da Associação Americana de Psicologia por (...) "ter desenvolvido um método original para descrever e analisar o processo terapêutico, por ter formulado uma teoria da psicoterapia e dos seus efeitos na personalidade e no comportamento, susceptível de ser testada, pela extensa e sistemática pesquisa para explicitar o valor do método e explorar e testar as implicações da teoria".

1961 - Seu maior sucesso literário "Tornar-se Pessoa" (On Becoming a Person) vende mais de 1 milhão de cópias.

1969 - Primeiro livro dirigido à Educação "Liberdade Para Aprender" (Freedom to Learn). 

1970 - Publica o ensaio "Grupos de Encontro" (On Encounter Groups).

1977 - Lançou outro livro, "Sobre o Poder Pessoal" (On Personal Power). Nesse ano, vem pela primeira vez ao Brasil, promover sua obra. Realiza uma série de workshops, é entrevistado pela revista Veja e acompanha a formação de grupos que aplicam a sua teoria. Desperta interesse de um grande número de pessoas: terapeutas e educadores, entre outros, que passam a ser seus seguidores. Publica também o ensaio "A Pessoa Como Centro".

1979 - Morre Helen, a grande companheira de sua vida. Após sua morte, Rogers dedicou-se ao trabalho espiritual, acreditando na integração do homem com o universo.

1980 - Lança "Um Jeito de Ser" (A Way of Being), onde fez uma retrospectiva da evolução de seu pensamento e atividades profissionais, o que refletiu nas mudanças de terminologia da sua obra: "Sorrio quando penso nos diversos rótulos que dei a esse tema no decorrer de minha carreira - Aconselhamento Não-Diretivo, Terapia Centrada no Cliente, Ensimo Centrado no Aluno, Liderança Centrada no Grupo. Como os campos de aplicação cresceram em número e variedade, o rótulo "Abordagem Centrada na Pessoa" parece ser o mais adequado", explicou.

1983 - "Liberdade para aprender nos anos oitenta" seu segundo livro voltado à Educação.

1987 - Rogers sofreu uma queda e teve de ser operado. Houve complicações na cirurgia; ele entrou em coma e seus filhos, atendendo a seu pedido já feito tempos antes, desligaram as máquinas que o mantinham vivo após o terceiro dia do coma. Ele faleceu aos 85 anos. No ano de sua morte, foi indicado ao prêmio Nobel da Paz, por seu trabalho com o conflito intergrupal nacional na África do Sul e Irlanda do Norte.


Datas organizadas por Ana Elizabeth Cavalcanti e retiradas da Revista/Encarte Grande Ícones do Conhecimento, número 07, Mythos Editora, São Paulo.

sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

Rogers compreendeu o ser humano em sua totalidade

Para Rogers, cada pessoa é única, com funcionamentos conscientes diferentes, sendo possível categorizá-las e restringi-las apenas à compreensão do inconsciente e à busca incessante de traumas ocorridos na infância.


Cada vez mais ouvimos falar em teorias psicológicas que valorizam tanto o ser humano quanto as suas relações, bem diferentes das crenças da Psicanálise, que aponta os problemas do ser humano unicamente sendo intrapsíquicos, ou seja, residem no inconsciente de cada um, provenientes de traumas infantis.

No entanto, engana-se quem acha que estas correntes ou teorias sejam recentes. Um dos precursores desta corrente é Carl Rogers, um psicólogo americano, nascido em 1902, que ousou dedicar-se ao estudo e à observação de seu próprio trabalho com os seus clientes, vindo a desenvolver, posteriormente, a chamada Abordagem Centrada na Pessoa - ACP.

Carl Rogers foi o primeiro psicólogo a gravar e filmar suas sessões de psicoterapia com a permissão de seus clientes. Fez uso deste material para estudar não só a relação paciente x psicólogo, bem como o próprio ser humano. Na época, uma grande inovação no campo da psicoterapia.

É considerado também um dos nomes mais importantes da Psicologia Humanista, um ramo da Psicologia que surgiu como uma "reação ao determinismo dominante" nas demais correntes, em especial, a Psicanálise. Em suma, a Psicologia Humanista acredita que o ser humano traz com ele uma força tanto de autorrealização, como de crescimento, podendo, no entanto, sofrer alterações do meio ambiente. Alterações ou influências estas que podem ser positivas ou negativas, provenientes de fatores sociais, familiares, econômicos e políticos.

Desta forma, tendo a pensar que Carl Rogers foi um dos pioneiros a compreender o ser humano em sua totalidade, ao invés de restringi-lo apenas à compreensão do inconsciente e à busca incessante de traumas ocorridos na infância, guardados no inconsciente do ser humano e que teria grande influência na vida adulta.


Ênfase ao indivíduo


Rogers amplia, portanto, a compreensão do ser humano, dando ênfase ao próprio indivíduo como um ser vivo que, apesar do meio em que está inserido, possui forças determinantes na busca de seu autodesenvolvimento, mas é também um ser que sofre influências do meio em que vive. Fica claro, portanto, o valor que Carl Rogers atribui às relações interpessoais, apontando para o fato de que o outro também interferir em mim, tanto quanto eu posso interferir no outro. Uma maneira mais humanista e mais complexa, levando em consideração que o ser humano é não só complexo, mas está inserido em um ambiente também complexo, onde ninguém vive só e está livre de influências.

No entanto, Carl Rogers expressa de maneira incisiva que, assim como seres orgânicos vivos, temos uma tendência para crescermos em busca do melhor para cada um de nós, mesmo que o ambiente externo não seja favorável a isso, mas cada um encontra o caminho possível para si.

Rogers passou a compreender que cada pessoa é única, com funcionamentos conscientes diferentes, sendo impossível categorizá-las!

Outras grandes contribuições de Carl Rogers para a psicoterapia são: considerar seus clientes como clientes e não pacientes; o desenvolvimento de trabalhos em grupos, mais especificamente chamado de Encontros e Reflexões e Mudanças no Sistema Educacional.

Quanto ao termo "Clientes", Carl Rogers enfatiza que nem todas as pessoas que procuram por psicoterapia estão, necessariamente, doentes. Portanto, é mais um "salto" que Rogers provoca no mundo da Psicologia, uma vez que, até então, ela era considerada uma Ciência ou uma modalidade direcionada a pessoas doentes, de forma que qualquer sofrimento psíquico era considerado uma doença. Mais ainda, ele compreende que as pessoas que buscam por psicoterapia são pessoas que se encontram em dificuldades e que estas são inerentes à vida. Outra grande contribuição, ainda em relação ao cliente, é que o psicólogo passa a entendê-los como os responsáveis e autônomos por suas próprias vidas, escolhas, bem como pela superação das dificuldades enfrentadas, uma vez que possuem, em sua essência, uma força que os conduz à superação e ao autodesenvolvimento. Desta forma, Rogers também inaugura um outro tipo de papel do psicólogo, em que este não é o "possuidor ou detentor" de todo o saber do cliente. Ele é, apenas, o facilitador de uma conversa em que o próprio cliente irá descobrir-se.

Esta é uma postura que vem ganhando espaço nas últimas décadas. Uma postura de "não saber" do psicólogo que descentraliza o seu poder como sendo o dono da sessão. É uma relação entre cliente e terapeuta, a meu ver, mais humana, mais respeitosa, em que o cliente "troca" e "confia" nele, mas não entrega a sua vida e a sua história nas mãos dele. Ao contrário, tem a oportunidade de, a cada conversa, decidir o rumo de sua vida.

A outra contribuição, o trabalho em grupos, chamado por ele de Encontros, também se diferencia da Psicoterapia em grupo. Nos Encontros, qualquer pessoas pode participar e há facilitadores, ao invés de líderes ou psicólogos. A intenção é que cada um possa participar à sua maneira, com o conteúdo que desejar, sem que, para isso, seja necessária a escolha de um único tema a ser conversado. Desta forma, abre-se espaço para a participação igualitária, bem como uma interação coletiva, de modo a proporcionar a aceitação de todos.

Rogers considera os efeitos deste tipo de trabalho em grupo mais benéfico ou mais enriquecedor do que a Terapia em grupo, na qual, o cliente ou a pessoa irá se sentir aceita apenas pela figura do terapeuta. Nos Encontros, a aceitação tende a ser maior, pois é como se o grupo todo se aceitasse mutuamente.


Método da Não Diretividade na Educação


A terceira grande contribuição e, no meu entender, é em relação à Educação. Rogers aliou sua teoria Centrada na Pessoa, levando em consideração a individualidade de cada um, bem como as suas particularidades e potencialidades, às ideias de Paulo Freire, quando leu o livro "A Pedagogia do Oprimido".

O terapeuta norte-americano passou a defender uma pedagogia que fosse em direção a uma "aprendizagem significativa para o aprendiz", para tornar o ensino algo além do "acúmulo de conhecimentos" e que, acima de tudo, provocasse mudanças tanto no comportamento, nas atitudes e nas escolhas futuras do aprendiz, criando então o Método da Não Diretividade.

 O Método implica, portanto, na figura do professor também como um facilitador, não devendo interferir diretamente na aprendizagem, de forma que o aprendiz tenha total liberdade, bem como responsabilidade na escolha de caminhos que favoreçam a aprendizagem. A seu ver, isto só é possível quando o aluno se torna um agente ativo e não passivo (recebedor do conhecimento).

Atualmente, ouvimos falar de muitas técnicas e teorias que condizem com esta postura, mas ainda impera, em nossa sociedade e em nossa cultura, uma visão de que o professor é o detentor de todo o conhecimento e, também, autoridade máxima na sala de aula. A questão que Rogers inaugura também implica em descentralizar este poder da figura do professor, colocando o aluno como sendo o "centro" da sala de aula, devendo exercer a sua autonomia, inclusive na escolha do conteúdo que quer ou pretende aprender, tendo o professor como um "aliado" neste processo e não como um líder.

Hoje, o que temos de muito parecido é a Escola da Ponte, em Portugal, pautada no que chamam de Pedagogia Democrática, criada por José Pacheco. Atualmente, José Pacheco vive no Brasil, no Estado de São Paulo, e se dedica cada vez mais ao desenvolvimento deste método Democrático na Educação.

Rogers, repensando o sistema de educação, também foi um dos pioneiros a defender a liberdade de expressão na própria sala de aula e em qualquer contexto, tanto de aprendizagem quanto social, dando ênfase ao desenvolvimento da autocrítica. Assim, acreditou sempre num modelo tanto educacional quanto social em que cada um de nós deve e pode se desenvolver enquanto "pessoa atuante".

Como se vê, muitas das ideias e das práticas hoje encontradas na psicoterapia, assim como na Educação, estão relacionadas às origens do pensamento de Rogers, tendo como base a Abordagem Centrada na Pessoa. Trata-se de concepções que favorecem o olhar e a compreensão do ser humano de maneira mais Humanista, valorizando cada ser, libertando-o de conceitos e rótulos e compreendendo a sua capacidade de transformação de sua própria vida e do meio em que está inserido.

Para mim, as suas contribuições são valiosíssimas, mas ainda há muito para ser desenvolvido, tanto no setor psicológico como na área da Educação, uma vez que ainda impera, em nossa cultura, as práticas consideradas centralizadoras, em que tanto o psicólogo quanto o professor possuem, ainda um "pseudo poder" sobre a vida das pessoas.


Texto de Ssmaia Abdul retirado da Revista/Encarte Grandes Ícones do Conhecimento, Mythos Editora, número 07, São Paulo.

quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

Aceitar-se, o segredo da autoestima

Carl Rogers enfatiza na "abordagem centrada na pessoa" que a aceitação incondicional de si mesmo, apesar das fraquezas e imperfeições, é determinante para uma autoestima saudável.


Muito já se falou da importância da autoestima. Centena de escritores especializados em livros de "autoajuda" tentaram dar receitas prontas de como elevá-la. Entre elas, frases de efeito a serem repetidas várias vezes ao dia, fórmulas do tipo "encontre suas qualidades e não supervalorize os seus defeitos".

Mas Carl Rogers alertou que as coisas são um pouco mais complexas. Segundo ele, a autoestima começa a se formar na mais tenra infância. "O bebê e, mais tarde, a criança e o adolescente que são tratados com carinho, afeto, atenção, consideração, respeito e amor, têm mais chances de se tornarem adultos com satisfatória autoestima." Mesmo assim, diz o psicólogo, podem ocorrer ao longo da vida problemas que afetem a visão de si mesmo. Neste caso, lembra que é fundamental aceitar-se sem qualquer condição e com todas as limitações que por ventura existam.


Importância do Amor


"Desde criança, o indivíduo passa por diversas dificuldades e obstáculos, que Rogers caracteriza como sendo normal ao desenvolvimento. Ela é levada a aprender regras para o seu próprio bem, mas que no futuro podem se tornar pontos inibidores da personalidade", descrevem Luma Guirado Scartezini, Ana Carolina Raad Rocha e Vanessa da Silva Pires em A Necessidade de Autoestima em Carl Rogers (faef.revista.inf.br).

De acordo com as autoras, a partir do instante em que a criança começa a conhecer a sua essência, desenvolve uma necessidade de amor e consideração. Uma carência natural de todo ser humano. Baseadas no trabalho de Maria da Graça Rafael, A relação de ajuda e a ação social: uma abordagem rogeriana, elas explicam que a "a consideração positiva desenvolve-se na primeira infância; por intermédio do amor e dos cuidados recebidos pelo bebê, a criança descobre que o afeto é fonte de satisfação e, assim, ela aprende a sentir uma necessidade de afeição. Conforme o bebê recebe a consideração positiva ou negativa, ele desenvolve a sua autoestima".

Para as acadêmicas, o amor é tão importante para a criança, que ela começa a agir de uma maneira que lhe seja garantido. A necessidade de aprovação faz com que ela passe a ter comportamentos que, muitas vezes, podem ir contra os seus próprios interesses. Agradar aos outros e ser aceita é o que a motiva.

Fundamentadas na obra Introdução à Psicologia (Prentice Hall Base) de Morris e Albert, as autoras descrevem que "Rogers chamou de 'consideração positiva incondicional', caso essas avaliações sempre fossem positivas; ou seja, não haveria distanciamento ou incongruência entre o organismo e o self, a autoestima seria incondicional, as necessidades de consideração positiva e autoestima não discordariam da avaliação organísmica, fazendo a pessoa funcionar de modo completo". Mas, ponderam que a maioria dos pais tem uma relação com seus filhos baseada na "consideração positiva condicional", ou seja, valorizam e aceitam alguns aspectos da criança. Se o seu comportamento satisfizer determinadas condições será aceita, e terá o amor e afeto. "Assim, o autoconceito do indivíduo desvincula-se cada vez mais de sua capacidade inata de ser", argumentam.

Elas salientam que a criança aprende rapidamente o que agrada e desagrada seus pais. O que é reprovado por eles passa a ser encarado como uma rejeição latente, mesmo que a criança acredite que aquele comportamento é certo. "Isto acaba levando a um autoconceito em desacordo com as experiências organísmicas. A criança tenta ser aquilo que os outros querem que ela seja em vez de tentar ser aquilo que realmente é" (Hall, Lindsey e Campbell, Teorias da Personalidade, Artes Médicas).

Neste sentido, as autoras ressaltam que "Rogers realizou  diversas pesquisas que destacaram a importância das avaliações das figuras parentais ou significativas, quanto ao comportamento da pessoa, podendo ocorrer uma grande diferenciação entre o self ideal e o self real (eu ideal x eu percebido). A diferença entre a 'imagem de si' (self real) e o 'desejado' (self ideal, num grupo de características do indivíduo, levará ao índice de autoestima, ou poderá refletir a autoinsatisfação, motivando-o a procurar ajuda (Rafael, 2002)".

Scartezini, Rocha e Pires enfatizam que "quando as pessoas perdem de vista o seu potencial inerente, tornam-se retraídas, rígidas e defensivas, sentindo-se ameaçadas e ansiosas; têm sua vida direcionada pelo que os outros querem e valorizam, sentindo-se desconfortáveis e inquietas. Em algum momento, podem perceber que não sabem realmente quem são e o que querem".


Crescimento Psicológico


Os estudos sobre o tema vão além. Para a psicóloga Debora Alfama Duarte, em "Autoconhecimento/Crescimento" (deborapsi.no.comunidades.net), por exemplo, a procura incessante pela autorrealização está intimamente ligada com o crescimento psicológico e com todas as opções que fazemos ao longo da vida. Ela acredita que a  Psicologia Humanista, representada pela teoria de Carl Rogers - Abordagem Centrada na Pessoa - explica a autorrealização, numa citação do psicólogo: "A maior força motivadora da personalidade é o impulso para a realização do self".

De acordo com Duarte, as pessoas saudáveis neste aspecto apresentam algumas evidências marcantes; são destemidas para novidades; vivem intensamente cada momento; têm sua própria opinião, não se deixando levar pela dos outros; sentem-se à vontade para expressar o seu pensamento, sentimento e ação e tem ótimo potencial criativo.

A psicóloga afirma que a autoestima "é uma relação com a 'imagem do eu'. E lembra que, "segundo Carl Rogers, a imagem do eu indica a configuração experiencial formada por percepções referentes ao Eu, às relações do Eu com os outros, com o ambiente e com a vida em geral, com os valores que o sujeito associa a estas distintas percepções".

Duarte salienta que o crescimento psicológico se evidencia mais facilmente para aqueles que têm a capacidade de fazer  experiências, o que proporciona um melhor autoconhecimento relacionado aos seus sentimentos positivos; a si mesmo, com os outros; o ambiente que o cerca e com os seus desajustes. "Aceitar-se e expressar os sentimentos a si mesmo e aos outros é ser congruente, já a ansiedade, a tensão e a confusão interna como, por exemplo, achar que: 'não sou capaz de tomar decisões', 'não sei o que quero', são comportamentos de pessoas incongruentes", conclui Duarte.

Dina Patrícia das Neves Vieira Guerreiro, concorda com suas colegas brasileiras. Em sua tese Necessidade Psicológica de Autoestima/Autocrítica: Relação com Bem-Estar e Distress Psicológico (repositorio.ul.pt) ela diz que "as pessoas, na maioria dos casos, valorizam muito a forma como são vistas e valorizadas pelos outros no seu meio". Ela define como notáveis as visões de Rollo May (1953) sobre a percepção pessoal e a autoalienação, e a ênfase de Carl Rogers (1961) sobre a congruência da autopercepção e precisão. E lembra que, nelas, o ambiente social é fundamental. De acordo com Guerreiro, estes autores asseguram que a origem da autoestima está profundamente ligada à aprovação e ao carinho do seu ambiente social e que, tendo-os em altos níveis, estas pessoas são mais propensas a desenvolver elevados níveis de autoestima, face àqueles que são provenientes de um ambiente social desfavorecido.

No entanto, ela lembra que não se pode levar em conta apenas os fatores externos para avaliar e entender a autoestima. "Na literatura, muitas vezes encontramos  pressupostos que acabam por confundir a autoestima adaptativa com atributos pessoais indesejáveis, como a centralidade, o egoísmo, e o senso exagerado de autoimportância, que acabam por levar a comportamentos disfuncionais. Desta forma, o que se pretende no indivíduo é o equilíbrio entre a autoestima e a autocrítica no alcance de um maior ajustamento interno".

Ela esclarece que "uma autoestima ótima é caracterizada por qualidades associadas à genuinidade, verdade, estabilidade, e congruência. Vulnerabilidade na autoestima dos indivíduos podem conduzir a diversas patologias, numa primeira análise, níveis elevados de autoestima podem conduzir a perturbações da personalidade, como narcisismo. Os indivíduos com perturbação narcísica da personalidade acreditam que são superiores, especiais e únicos e esperam que os outros também os reconheçam como tal. Já níveis baixos de autoestima , segundo Bednar, Peterson e Wells (1989), baseiam-se na escolha de evitar situações difíceis, em detrimento de se entregar a estas. Por conseguinte, as autoavaliações da pessoa tornam-se negativas e colocam de lado as avaliações positivas que outras pessoas significativas possam fazer de si. Podendo, nesses casos, conduzir a evitamentos, essencialmente, no que diz respeito a contextos sociais, culminando em perturbações como a ansiedade social".

A citação de Gabriel Garcia Marquez em "Como Contar Um Conto", de 1977, com a qual Guerreiro inicia a sua tese, sintetiza o equilíbrio a que todo o ser humano quer chegar: "Se o escritor se desfaz do que está escrevendo, está no bom caminho. Para escrever, o escritor tem de estar convencido de que é melhor que Cervantes; se não acaba sendo pior do que na verdade é. É preciso apontar para o alto e tentar chegar longe. É preciso ter critério e coragem, é claro, para arriscar o que deve ser riscado e para ouvir opiniões e refletir seriamente sobre elas".


Texto de Denise Berto retirado da Revista/Encarte Grande Ícones do Conhecimento, número 07, Mythos Editora, São Paulo.