quarta-feira, 30 de agosto de 2023

O ambiente terrestre e a água

 A PRESENÇA DA ÁGUA NA NATUREZA


Um casamento perfeito entre energia e água foi que se deu na Terra e, pelo que se conhece até agora, somente na Terra, entre todos os componentes do sistema solar. Corpos celestes mais distantes - como alguns satélites de Júpiter e de Urano - possuem água, mas a energia que lhes chega do Sol é insuficiente para proporcionar o ciclo nos diferentes estados, o que é importante para garantir a sua mobilidade. Outros planetas, mais próximos do Sol, perderam a água, decomposta ou expulsa pelo excesso de energia e de mobilidade. Por isso, só na Terra o ciclo se observa.


MOBILIDADE, CARACTERÍSTICA PRINCIPAL


A característica principal da água, na Terra, é a mobilidade. E ela requer energia. Energia para passar do estado sólido ao líquido, do líquido ao gasoso e, assim, circular por todos os ambientes e ecossistemas terrestres. Graças à mobilidade, a água participa de quase todos os processos que ocorrem na natureza. Ela entra na composição das rochas, permanece reservada, nos seus interstícios, constituindo os lençóis subterrâneos, ou age como elemento degradador e transformador, responsável pelos fenômenos de transporte, erosão, formação de sedimentos e uniformização do relevo terrestre.


O CLIMA DA TERRA E A ÁGUA


O elevadíssimo calor específico da água tem importância decisiva no estabelecimento do clima terrestre. Da totalidade das radiações térmicas lançadas pelo Sol sobre o nosso planeta no decorrer do dia, uma parte considerável é absorvida pelas grandes massas de água que constituem o oceano, mas sem provocar elevação significativa de suas temperaturas, o que contribui para amenizar o clima terrestre durante as horas de insolação. À noite, ao contrário, quando o solo e o ar perdem rapidamente a temperatura, a água cede calor ao ar, impedindo um resfriamento mais drástico. Planetas que praticamente não possuem água, como Marte, ou mesmo a nossa Lua, apresentam temperaturas variando em mais de 90°C, entre o dia e a noite.

Essa interessante propriedade - o alto calor específico da água - consiste em consumir grandes quantidades de calor sem praticamente elevar a sua temperatura. Em outras palavras, ela não se aquece muito ao retirar calor de outro corpo e não se resfria demais ao ceder calor. É por isso que a utilizamos para nosso conforto (uma bolsa de água quente fornece calor durante muito tempo sem entretanto, perder muita temperatura), no resfriamento de um carro, ou qualquer objeto muito quente.

Mas há outros efeitos da água sobre o clima. Quando evapora, consome grandes quantidades de calor. Por isso, a água se mantém fresca dentro de um pote de barro poroso, que "transpira". É também disso que decorre, em parte, o frescor da mata ou mesmo de uma rua densamente arborizada. A evaporação de grandes volumes de água sobre os oceanos, lagos, grandes rios e densas florestas contribui muito para tornar o clima ameno, especialmente nas regiões tropicais.


ÁGUA E O TRANSPORTE DE MATERIAIS


A grande mobilidade da água faz dela um importante elemento transportador de materiais e de energia. Nos vegetais, a água dissolve os elementos essenciais do solo e os transporta, na forma de seiva, desde as raízes até as folhas e para todas as células da planta. Nos animais, é o componente principal do sangue, transportador de alimentos e oxigênio a todas as partes do corpo.

A água é também a principal responsável pela forma atual da superfície terrestre. Ela desgasta as rochas das regiões montanhosas e, seja como geleiras, seja como rios, cachoeiras e corredeiras, transporta continuamente o material resultante desse desgaste para as regiões mais baixas, depositando-o nos vales, fundo de lagos ou do oceano. Todas as rochas sedimentares que conhecemos, e que recobrem a maior parte da superfície terrestre - com exceção de algumas originadas pela ação dos ventos - têm essa origem. Essa "força" da água para transportar materiais de superfície, em seu movimento de queda de uma região mais elevada para uma mais baixa, há século tem sido utilizada pelo homem na movimentação de máquinas como roda d'água, monjolos e turbinas.


A ÁGUA NOS ANIMAIS E VEGETAIS


A água está presente nos vegetais, constituindo uma proporção, muito significativa de sua composição: 80% das folhas, 60% do caule, 95% do fruto, como no tomate. Os animais podem possuir até mais de 90% do corpo formado de água, como uma medusa marinha, ou cerca de 70% como no caso do ser humano.

O homem constitui o elo final de todas as cadeias de alimentação terrestres. Mas ele também - embora nem sempre se lembre - faz parte dos ciclos da natureza, devendo devolver ao meio o que dele foi retirado. Se admitirmos que cada habitante consome em média 50 litros de água por dia para alimentação e higiene, e que a água circulante nos rios representa cerca de 100 trilhões de litros por dia, teremos que a água que é potabilizada em todo o mundo constitui apenas 0,02% do total disponível na superfície. Quantidade bem maior que esta, entretanto, encontram-se nos solos e subsolos.

Os 0,02% de água utilizados pelo homem são, na maior parte, devolvidos aos rios, carregados de imundícies. Acrescenta-se a essa uma outra parcela, significativa, resultante das operações industriais, agrícolas, comerciais e urbanas que, igualmente, concorrem para a poluição e, portanto, para a perda de disponibilidade de água. Essa situação é fortemente agravada pelo fato de as grandes cidades não estarem situadas às margens de grandes rios, como o Amazonas ou o Nilo, mas sim  daqueles relativamente pequenos, como o Sena, o Tâmisa, o Tietê. Daí, a fatal interrupção do mais importante ciclo da natureza, afetando não só a vida dos peixes e outros seres aquáticos, mas também a das cidades e do homem que as habita.


Texto de Samuel Murgel Branco retirado do encarte "Água", publicado pelo Ministério Público do Estado de São Paulo.

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