Quem anuncia é um cientista chamado Adrian Kantrowitz. O homem se propõe a utilizar um tubo de borracha, ligado à corrente sanguínea, através do qual é automaticamente posto a funcionar um aparelho elétrico fora do corpo, que ajudará o funcionamento do coração, quando este começar a ratear, seja por falta de forças, seja por excesso de trabalho. A isto o cientista dá o nome de "coração suplementar".
Bonito nome, hein? Coração Suplementar! Claro, o doutor falou que se experimento poderá ser aperfeiçoado a ponto de cada um, um dia, poder adquirir o seu coração suplementar. E então a gente fica imaginando como seria bom se esse coração, além de ajudar o funcionamento do coração principal nas suas funções fisiológicas, ajudasse também nas suas funções sentimentais.
Ah... como isto seria admirável! Um coração suplementar para satisfazer a doce amada, com quem gostaríamos de deixar o coração durante todas as horas, as alegres e as tristes, as decisivas ou as dúbias, as certas ou as indefinidas, qualquer hora enfim, porque a ela pertence o nosso coração que pulsa sentimento.
Mas ele mora num quarto conjugado junto com aquele que pulsa sangue e que é preciso levar para o ouro e o pão; impossível separá-los na dura lida, que onde vai um vai outro, unidos e tão inúteis um para o outro, em seus destinos tão diversos.
Meu Deus, como eu estou hoje!
Que venha o coração suplementar e que o doutor seja tão genial a ponto de definir as funções dando a um os prosaicos afazeres e ao outro as lidas do sentimento. E que o suplementar fique sendo aquele e o principal fique sendo este.
E aí então, oh, meu amor, você não vai reclamar mais a angústia maior da minha ausência, porque eu chegarei feliz para dizer que tenho de ir ali e volto já, mas acrescentando com toda a sinceridade d'alma:
- Até já, querida! Deixo aqui contigo o meu coração principal!
Crônica de Stanislaw Ponte Preta retirada do livro Dois amigos e um chato, Coleção Veredas, Editora Moderna, 26ª Edição, 1997, São Paulo.
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