sábado, 24 de outubro de 2020

Fenômenos Inexoráveis

 Vês definhar o ser querido, que a enfermidade implacável consome.

Preocupas-te e disfarças a tua agonia, ante o inexorável acontecimento.

Anotas o nome de pessoa querida que a desencarnação violenta arrebatou, e tens o coração dorido.

Oras, em silêncio, sem que ninguém saiba o que experimentas em forma de melancolia.

Recebes informação sobre acontecimentos rudes, afetando corações afetuosos que são convidados a dores extenuantes.

Padeces choque emocional, constatando a tua carência de recursos diante de tão graves provações.

Chega-te o apelo angustiado de amigos queridos, que despertam na soledade ante as infaustas partidas daqueles a quem amam.

Constatas a precariedade da existência física e sofres calado, embora sorrindo.

Defrontas os companheiros da juventude, agora deformados, combalidos, sem rumo.

Nublam-se-te os olhos com lágrimas que não deixas, a fim de que ninguém perceba a tua compunção.

Multiplicam-se, em toda parte, as enfermidades mutiladoras, debilitantes, perturbadoras, que acometem os seres vivos e dilaceram as criaturas humanas, deixando vazios terríveis nos corações.

Não te desalentes, porém.

A desencarnação é etapa final do fenômeno biológico, e ninguém se eximirá de experimentá-la.

Não te entristeças ante os infortúnios e padecimentos daqueles a quem amas.

Canta, aos ouvidos desses que padecem, a canção da imortalidade, acenando-lhes com a esperança de libertação próxima que virá.

Dize-lhes que a existência corporal é veste que dura um dia e a dor é fenômeno de desgaste que descerra a luz guardada no íntimo.

Felizes os que sabem sofrer.

Bem-aventurados aqueles que expungem na Terra.

Se a estância é breve na matéria, o estágio libertador é longo e abençoado.

Anima os que se dilaceram nas enfermidades consumidoras, irradiando-lhes as alegrias com que se inundarão de coragem para sublimar-se.

Reflexiona com eles sobre a realidade da existência humana e o que a todos aguarda após a morte.

Nenhuma dor que permaneça sem termo.

A morte é, portanto, dádiva de Deus para interromper os ciclos afligentes.

Raciocina, examinando a vida sob o ponto de vista espiritual, e tudo se modificará.

Sentir-te-ás feliz, então, vendo os amigos em processo de libertação, antegozando as alegrias que os esperam, por tua vez, a ti também aguardando.

Jesus, sadio e puro, ensinando o amor e confirmando a imortalidade, aceitou, espontaneamente, a traição de um amigo, a negação de outro, o abandono de quase todos, e, sofrendo, sem desanimar, permaneceu tranquilo, tal a Sua certeza, que nos legou, do triunfo da vida além da morte e da noite humana.

Assim, reflexiona e deixa-te dominar pela fé na imortalidade, verificando que, nesta condição, tudo se altera e passa a ter nova e ditosa configuração.


Texto retirado do livro Momentos de Felicidade; Divaldo Franco pelo espírito Joanna de Ângelis, Livraria Espírita Alvorada Editora, Salvador, 5ª edição, 2014.

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