Foi em pleno julgamento do filho do Prefeito que o Juiz teve um ataque cardíaco e virou presunto.
Com o julgamento adiado, o Prefeito não se conteve:
- Justo agora o desgraçado teve que empacotar! Gastei uma dinheirama para garantir a inocência do meu filho e o sujeito desmonta daquele jeito!
E a pequena cidade estava em véspera de festa. A comemoração da emancipação era no fim-de-semana. Até mesmo um futebolzinho estava programado para o domingo. Era contra a cidade vizinha, um verdadeiro clássico! Mas agora o Prefeito estava preocupado, seu filho teria que ser libertado antes da comemoração, uma questão política. Um novo Juiz chegaria nos próximos dias e o Prefeito teria que usar do mesmo procedimento.
- Será que vai ser fácil comprar o homem? falou o Prefeito, passando a mão pelo farto bigode.
Dois dias antes da festa o Juiz apareceu. O Prefeito na estação rodoviária foi recebê-lo:
- O senhor é o Juiz?
- Sou sim, senhor. Estou um pouco cansado da viagem, mas estarei pronto para atuar.
- Ótimo, seu Juiz, ótimo!
No caminho até o hotel, o Prefeito explicou a situação ao Juiz e de cara foi logo oferecendo o dinheiro. O Juiz ficou sem entender, quis explicar, tentou dizer algo, mas o Prefeito não permitiu:
- O dobro, seu Juiz, o dobro!
Era muito dinheiro, o Juiz não resistiu:
- Pagamento imediato?
O Prefeito limpou os cofres da Prefeitura e conseguiu o dinheiro. O Juiz ainda teve a petulância de conferir:
- Está certo, seu Prefeito! Então está combinado. Pode ficar tranquilo.
Na manhã seguinte, o Juiz acordou cedinho. Tomou o primeiro ônibus e desapareceu do mapa.
Naquele mesmo dia chegava à cidade o Juiz de Direito. Na Prefeitura, encontrou-se com o Prefeito.
- Senhor Prefeito? Sou o Juiz.
- Como vai o senhor? Não o esperava tão cedo. O jogo de futebol é só no domingo!
- Futebol? Que futebol?
- Uai, o senhor não veio apitar o clássico de domingo?!
Crônica de Alexandre Azevedo retirado do livro Que Azar, Godofredo!, Atual Editora, Série Transas e Tramas, São Paulo, 13ª Edição, 1989.
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