sexta-feira, 29 de abril de 2022

África Reinventada

    Trazidas com a diáspora forçada pela escravidão nas Américas, as crenças de origem africana fincaram raízes na nova terra. Aqui foram reformuladas a partir do encontro das diferentes "nações" negras que misturaram em diversos cantos do país suas divindades, lendas e rituais: batuque no Sul, tambor no Norte, umbanda no Sudeste, xangô em alguns estados do Nordeste, candomblé em outros mais. Ao rever a construção dessa tradição de fé, vemos a perseguição ao calundu ainda no século XVIII, a fama de curandeiros derrubando barreiras sociais na capital do Império, voduns e orixás se confundindo em terreiros, objetos de feitiçaria apreendidos pela polícia, mas ainda impondo respeito, mesmo sob a guarda da lei.

    A história das religiões afro-brasileiras revela muito de nossas crenças e também de nossos preconceitos. Revela, sobretudo a mistura entre raças, etnias e grupos sociais que deu forma a uma cultura de incorporações e resistência. Ainda hoje, essas manifestações rituais são o testemunho vivo, marcado na gira de um orixá, no toque do atabaque ou no canto em iorubá, do universo cultural africano assentado desse lado de cá do Atlântico.

    Os atabaques começam o ijiká, o toque que reverencia todos os orixás. Quem for de paz pode entrar.


Texto de Renato da Silveira. Professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e doutor em Antropologia pela École de Hautes Études em Sciences Sociales de Paris. Introdução da matéria publicada na Revista de História da Biblioteca Nacional. Ano I, nº 6, Dezembro de 2005. Ministério da Cultura.

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