sábado, 23 de abril de 2022

Ante o Tempo

    Generaliza-se o hábito de adiar realizações, sob justificativas sem cabimento, ocultando-se mecanismos neuróticos da personalidade em processo de destruição do homem.

    Neste sentido, as pessoas parecem detestar o tempo e procuram anulá-lo, utilizando-se de fórmulas escapistas, mediante as quais tudo transferem para depois, em um amanhã de difícil logro.

    Subitamente, porém, dão-se conta do acúmulo de compromissos a atender, afligindo-se, e, precipitadamente, intentam dar cumprimento ao que já deveria estar realizado há muito tempo.

    O velho brocado que afirma, "o tempo passa", encontra-se decadente, já que, eterno, é sempre o mesmo, sendo as pessoas que o atravessam, qual ocorre com os acontecimentos que nele se manifestam.

    Tentar tornar-se insensível ao tempo é fórmula neurotizante, em busca ingênua de ignorar uma realidade iniludível.

    Esse mecanismo se manifesta através das fugas psicológicas expressas nos axiomas "passar o tempo", "matar o tempo", qual se este fosse algo indesejável, mortificante, devastador.

    Há uma preocupação muito grande em gastar-se ou não o tempo, tornando-o uma coisa de fácil consumpção. Noutras vezes, diz-se "encher as horas", para delas ver-se livre. E são tomadas providências para tal: bebidas alcoólicas, drogas alucinógenas, tabagismo, sexo, desportos variados, jogos, divertimentos...

    Antecipando-se, porém, a todas essas escapadas emocionais, o tempo se apresenta imutável aguardando...

    Com isto, não há, conforme pretendem os ociosos e neuróticos, como adiar os mecanismos de ação da vida ou ignorá-los.

    Há quem planeje anular os tempos maus através de esperanças que, talvez, não se concretizem, afirmando: mais tarde este panorama se modificará, ou quando eu conseguir um trabalho, ou assim que eu recuperar a saúde...

    Não te facultes as transferências de tempo através de fórmulas anestesiantes em relação à atualidade, omitindo-se quanto aos deveres que te cabe assumir neste momento.

    O tempo é a tua oportunidade de realização, que deves aproveitar com empenho.

    Períodos haverá mais difíceis, nos quais viverás desafios mais severos.

    Quem busca viver bem no futuro, desperdiçando o presente, não alcançará esse porvir ambicionado.

    Da mesma forma, viver parado nas evocações do pretérito, é maneira inditosa de perder a ocasião e produzir felicidade.

    Certamente, o tempo te proporciona  variações emocionais curiosas: na dor, uma hora se estende indefinidamente, enquanto na alegria ela tem a celeridade de um relâmpago.

    Viver intensamente é a melhor maneira de o enfrentar, quando ele passará a brindar-te uma dimensão agradável, rápida e feliz.

    Cria os teus momentos fecundos, vivendo a realidade conforme se expresse.

    O presente é a única dimensão que tens ao alcance.

    O que sucedeu existe apenas durante o período que o recordes.

    O que virá é incerto.

    Jesus ensinou-nos esta conduta fazendo tudo quanto pretendia, e emulando-nos a valorizar o hoje em face da sua grandiosa significação.


Retirado do livro Momentos de Iluminação; Divaldo Franco pelo Espírito Joanna de Ângelis; Livraria Espírita Alvorada Editora; Salvador, 2015, 4ª Edição.

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