sábado, 2 de abril de 2022

Desdobramento Espiritual

    O sono fisiológico, muito propriamente denominado como um estado de morte, por propiciar o torpor das faculdades pensantes e fazer desaparecer a aparente realidade do mundo objetivo, faculta ao Espírito um parcial desdobramento, no qual se movimenta além dos limites corporais.

    Conforme as suas inclinações, desejos e hábitos, tão logo sente afrouxarem-se os liames perispirituais, o Espírito desloca-se para os lugares onde encontra respostas para as necessidade cultivadas.

    Mediante automatismos de sintonia da faixa vibratória na qual se localiza durante  o estado de lucidez física, transfere-se sem qualquer esforço para outra equivalente, graças ao clima psíquico no qual se compraz.

    Normalmente, nesse estado, encontra-se com Entidades que fazem parte do seu conúbio habitual, com elas se comprazendo, ou temendo-as, de acordo com o estado evolutivo que lhes seja peculiar.

    Da mesma forma, vai conduzido por esses comensais da sua simpatia à regiões nas quais se homiziam com outros semelhantes, ou agem no bem, afeiçoados ao programa da solidariedade e do progresso da Humanidade, conforme a evolução dos mesmos.

    Ao retornar ao corpo, nos neurônios cerebrais, na área da memória, são impressas as cenas vividas ou vistas, decorrentes dos pesadelos, sonhos e fenômenos mediúnicos transcendentes, podendo ou não recordar-se, de acordo com o estado de desprendimento em que vive.

    Sem qualquer dúvida, durante o sono fisiológico, natural ou provocado, especialmente na ocorrência do primeiro, o ser espiritual participa da vida estuante e causal, de onde todos procedemos e para a qual todos retornamos.

    A vivência diária, geradora da psicosfera própria a cada um,  faculta a sintonia equivalente, graças à qual o desprendimento ocorre com naturalidade, submisso ao mecanismo das ocorrências afins.

    O apóstolo Paulo, em decorrência dos seus extraordinários sacrifícios pela causa do Cristo, não poucas vezes foi arrebatado ao terceiro céu, região superior de onde hauria a inspiração e as forças para o ministério e apostolado.

    Maomé, em parcial desprendimento, foi conduzido a uma Esfera Superior, a fim de confirmar a imortalidade da alma, de onde retornou, transformado.

    Afonso de Liguori, enquanto dormia, em Arienzo, deslocou-se em Espírito até Roma, assistindo à desencarnação do Papa Clemente XIV.

    Dante Alighieri conheceu as regiões inferiores conduzido por Virgílio e vislumbrou as paisagens celestes sob o amparo de Beatriz.

    Voltaire, em momento de lúcido desdobramento pelo sono fisiológico, compôs todo um canto de sua obra Henriade.

    Tartini, igualmente em desdobramento parcial do corpo, escreveu a emocionante Sinfonia do diabo.

    Eurípedes Barsanulfo, o apóstolo sacramentano, deslocando-se com facilidade enquanto o organismo repousava, socorria doentes, gestantes e necessitados...

    É expressivo o número de médiuns que, em desdobramento espiritual, atuam conscientemente, participando de experiências extracorpóreas, ou cooperando com os mentores em tarefas socorristas, ou aprendendo comportamento, ou iluminando-se pelo conhecimento, de cujas experiências volvem com plena lucidez.

    Não é indispensável que a consciência do fenômeno permaneça como condição essencial para a ocorrência.

    O conhecimento dos mecanismos da vida espiritual, o exercício de desapego às paixões mais grosseiras, a preparação mental antes do repouso através da oração, a irrestrita confiança no amor de Deus e a entrega tranquila aos próprios Guias Espirituais, permitem que as horas de sono se transformem em realizações edificantes para si mesmo e para o seu próximo.

    Cultivada, mediante os recursos da moral salutar, da dedicação ao bem, essa faculdade psíquica enseja abençoado intercâmbio mediúnico, graças ao qual se ampliam os horizontes da vida, embora a permanência na roupagem carnal.


Texto retirado do livro Momentos de Esperança; Divaldo Franco pelo Espírito Joanna de Ângelis, Livraria Espírita Alvorada Editora, Salvador, 3ª Edição, 2014.

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