quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

O Aluno

 São meus todos os versos já cantados:

A flor, a rua, as músicas da infância,

O líquido momento e os azulados

Horizontes perdidos na distância.


Intacto me revejo nos mil lados

De um só poema. Nas lâminas da estância,

Circulam as memórias e as substância

De palavras, de gestos isolados.


São meus também os líricos sapatos

De Rimbaud, e no fundo dos meus atos

Canta a doçura triste de Bandeiro.


Drummond me empresta sempre o seu bigode.

Com Neruda, meu pobre verso explode

E as borboletas dançam na algibeira.


Poema de José Paulo Paes retirado do livro Ofício de Poeta, da série Literatura em minha casa - Volume 1 - Poesia, Editora Scipione, São Paulo, 2003.

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