São meus todos os versos já cantados:
A flor, a rua, as músicas da infância,
O líquido momento e os azulados
Horizontes perdidos na distância.
Intacto me revejo nos mil lados
De um só poema. Nas lâminas da estância,
Circulam as memórias e as substância
De palavras, de gestos isolados.
São meus também os líricos sapatos
De Rimbaud, e no fundo dos meus atos
Canta a doçura triste de Bandeiro.
Drummond me empresta sempre o seu bigode.
Com Neruda, meu pobre verso explode
E as borboletas dançam na algibeira.
Poema de José Paulo Paes retirado do livro Ofício de Poeta, da série Literatura em minha casa - Volume 1 - Poesia, Editora Scipione, São Paulo, 2003.
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