sábado, 15 de julho de 2023

Notoriedade

Disputa-se muito, na sociedade, a conquista da fama, o privilégio do destaque, a notoriedade.

Façanhas de todo porte são apresentadas no cenário humano, de modo que chamem a atenção para as suas personagens. Quando não se dá a conquista através dos lances de enobrecimento e elevação, derrapa-se no escândalo, na vulgaridade, desde que o empenho produza os frutos da popularidade.

Criou-se mesmo um brocardo que afirma a necessidade de notoriedade, quando se propõe: "Que falem de mal de mim, mas, que falem..."

A ânsia por notoriedade permite que os caracteres mais frágeis, a fim de alcançá-la, transitem pelos caminhos escabrosos, vivam em estado de promiscuidade moral, desde que esse contributo venal, tal concessão lamentável sirva para lograr a meta.

Passada, no entanto, a excitação da notoriedade, o cansaço se instala no indivíduo, levando-o ao tédio, após vividas as sensações mais fortes, que exigem outras novas e desgastantes, sempre efêmeras.

Por outro lado, há a notoriedade natural, alcançada pelo trabalho, mediante o sacrifício, como resultado do altruísmo e da sabedoria.

As artes e as ciências, as religiões e as filosofias, a ética e todos os empreendimentos humanos relevantes ergueram à notoriedade homens e mulheres, que passaram a ser símbolos dignos de ser seguidos pelas demais criaturas.

A sua trajetória, todavia, deu-se mediante pesadas renúncias e eloquentes sacrifícios.

Alguns desses indivíduos notáveis teriam gostado do anonimato, da vida pacata ou ativa, sem as exigências que a glória terrena impõe, sem a perda de tempo que a notoriedade propicia.

Quase todos aqueles que cercam os vitoriosos tendem a asfixiá-los, olvidando-se que esse são seres humanos normais e necessitam respirar, descer do pódio, viver. Exigem-lhes a mesma postura, o habitual e constante momento de relevo, a notoriedade refletida sempre no comportamento de todas as horas. Negam-lhes o direito de viver simplesmente.

O grande físico Albert Einstein, amargurado com o uso que foi feito do átomo, após o lançamento das bombas nucleares sobre Hiroshima e Nagasaki, escreveu que desejava ter sido um bombeiro-encanador anônimo; a, mesmo que inconscientemente, ter contribuído para o êxito do Projeto Manhattan, que culminaria na destruição de milhares de vidas e daquelas duas cidades.

Pasteur escondia-se dos admiradores, a fim de poder prosseguir nas suas pesquisas.

Madame Curie sofreu tanto assédio dos fãs que, não suportando mais, pediu-lhes que a deixassem trabalhar.

Heifetz, o insigne violinista, quando alguém lhe disse que daria a vida para tocar como ele, redarguiu com calma: - Foi exatamente isto que eu fiz: dei toda a minha vida à arte do violino...

O Cura d'Ars via-se constrangido a repreender os insensatos que o queriam adorar em vida.

A galeria é vasta e expressiva, daqueles que teriam preferido o serviço anônimo, de modo a passarem despercebidos.

Mesmo Jesus, sempre que operava os admiráveis fenômenos de socorro à multidão, fugia-lhe do convívio, a fim de ficar a sós com Deus...

A notoriedade, pelo que tem de belo e grandioso, também se expressa como grave e de alta responsabilidade. Favorece o orgulho e fomenta a presunção nos fracos, que derrapam na prosápia e no culto da personalidade, assim entorpecendo os sentimentos nobres e turbando a claridade da consciência do bem e do dever.

Nem positiva nem negativa a notoriedade, para quem deseja, realmente, servir e encontrar a paz.

O silêncio, a discrição e a perseverança no ideal, na ação digna, constituem o aval de segurança para o êxito e o melhor antídoto para os venenos perigosos que destroem as criaturas humanas.

Se te vês convidado a uma situação de fama e notoriedade, resguarda-te na prece e vigia as nascentes do coração, a fim de permaneceres inatingido pelo mal que dorme em ti próprio.


Retirado do livro Momentos de Harmonia; Divaldo Franco pelo Espírito Joanna de Ângelis, Livraria Espírita Alvorada Editora, Salvador, 3ª edição, 2014.

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