Há diversas maneiras de se considerar este assunto. De modo passageiro, como o tempo desta conferência permite, irei fazer breves alusões a três aspectos que considero os mais importantes.
O recurso mais frequente que se costuma recomendar às pessoas para vencerem a solidão é o aproveitamento útil dos tempos ociosos.
De fato, quando existe um tempo de ociosidade que se prolonga, o indivíduo é naturalmente impelido a ocupá-lo de qualquer maneira. E, neste caso, uma tendência muito comum a qualquer pessoa é a de ficar pensando em si. Ora, pelo fato de ser improdutiva, a ociosidade gera sentimentos de vacuidade e frustração, que podem deprimir o indivíduo. Pensar em si mesmo, neste clima interior, é, então, seguir um caminho destrutivo, que acentua os aspectos negativos da pessoa, gerando uma autocrítica impiedosa
O fato do indivíduo se ocupar em alguma coisa útil já possui, em si mesmo, uma força profilática, que o faz sair de seu casulo e aplicar sua atenção em algo que está fora, libertando-o, assim, da preocupação obsessiva consigo mesmo. Entretanto, este modo de agir só é eficaz se não significar uma forma ansiosa do indivíduo fugir de si. Não se pode vencer a solidão pela fuga, mas sim, pelo enfrentamento. E para que não ocorra este perigo, de ser apenas uma fuga, convém que a atividade, à qual o indivíduo se dedica, seja realmente de interesse para ele, exigindo seus esforços mas trazendo-lhe alegria e satisfação. Desta forma, estará a serviço de seu enriquecimento pessoal, não sendo um simples instrumento para ele se esquecer de si.
Uma solução mais consistente para vencermos a solidão é podermos descobrir um trabalho, uma obra, um ideal ou uma missão que deem um novo sentido à nossa vida e que nos empolgue de modo mais integral. Tal atividade estaria destinada a fomentar a autoestima de qualquer um, pois o diálogo que neste caso o indivíduo estabelecesse consigo mesmo teria a inclinação de ser inspirado no próprio valor de sua produtividade e de sua realização pessoal.
Outra maneira de vencer a solidão é buscar o encontro com outras pessoas. Neste caso, o que se procura não é um simples relacionamento e nem mesmo uma simples companhia, mas, sim, que o outro seja capaz de acolher e de entender o que se passa com quem o procura. E, como, sem dúvida, a aceitação e a compreensão formam os traços mais expressivos do amor verdadeiro, então podemos afirmar que para vencer a solidão, o que o indivíduo realmente procura é ser amado pelo outro. É como se ele dissesse: - Não acredito em mim. Por favor, mostre-me que eu tenho valor, gostando de mim. Para quebrar a solidão do indivíduo que a procura, o essencial não é a pessoa dizer ou fazer alguma coisa de extraordinário, mas, com sinceridade, mostrar simplesmente que a presença dele traz contentamento; acolhendo-o, portanto, com simpatia.
Existem pessoas que reclamam de não encontrarem esta acolhida afetiva dos outros, quando dela precisam. Isso me faz lembrar de uma passagem da Sagrada Escritura, que diz: "Quem semeia ventos, colhe tempestades." De fato, os outros só podem gostar de nós, se formos capazes de criar uma condição favorável para que isso aconteça. Se, ao contrário, tratamos os outros de um modo rígido e indelicado, se não respeitamos e nem consideramos as pessoas, se nos tornamos aversivos pela maneira de nos relacionarmos, vamos, então colocarmo-nos numa ilha de isolamento, cercada de antipatia por todos os lados. Como é possível, na hora da solidão, encontrarmos alguém que nos aceite e compreenda?
Eu quero dizer o seguinte: pode haver diversas razões que levam a não contarmos com o apoio do outro na hora em que necessitamos. Algumas delas surgem de circunstâncias que não dependem de nós. Mas, com frequência esta falta de apoio indica apenas uma reação à nossa maneira de tratarmos as pessoas. Par o homem religioso, o diálogo mais importante, como ajuda para vencer a solidão, é aquele que se estabelece com Deus através da oração. A fé ensina que Ele é a Força, o Poder e a Sabedoria, que dele o indivíduo recebe a vida, e que, por Ele, jamais é abandonado. Sabe, ainda, que nele pode confiar, porque a sua aceitação e a sua compreensão não têm limites: Deus é Amor.
Finalmente, o modo mais definitivo e eficaz para o indivíduo vencer a solidão é pela procura do seu próprio aperfeiçoamento, de ser mais coerente consigo mesmo, de ser, na realidade, aquilo que é; numa palavra, de ser autêntico. Quanto mais ele for assim, mais terá um relacionamento construtivo consigo mesmo, mais gostará de si de maneira apropriada, mais terá uma autoestima elevada e autônoma, que se tornará fonte generosa do sentimento pessoal de autorrealização e de produtividade para o mundo.
Texto de Franz Victor Rúdio retirado do livro Compreensão Humana e Ajuda ao Outro, Editora Vozes, Petrópolis, 1991.
Conferência de abertura do II Encontro de Psicologia do Vale do Paraíba, realizado na Faculdade Salesiana de Filosofia, Ciências e Letras de Lorena, São Paulo.
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