sábado, 20 de agosto de 2022

Homens Vazios

    Em uma sociedade injusta, que é o fruto amargo da cultura materialista, o homem vê-se massificado, desconhecido, com a sua identidade desnaturada, sem objetivo.

    Os esforços que empreende são dirigidos para metas que se caracterizam pelo imediatismo responsável pelas necessidades comuns, sem o apoio dos ideais compensadores, que iluminam a vida e dão-lhe significado.

    Acomodando-se aos padrões absorventes do cotidiano, ele sente-se comprimido pela ansiedade que o aturde, sem encontrar solução para os estados conflitivos da personalidade que o assaltam.

    Torna-se, em consequência, homem vazio, verdadeiro espectro que se movimenta no grupo social, que participa das atividades corriqueiras, sem que viva as emoções que dão beleza e significado à dignidade de ser senciente.

    Em torno dele agrupam-se outros que sofrem a mesma enfermidade, que mal disfarçam as suas aflições, mediante conversas que primam pela banalidade dos temas ou derrapam nas conceituações da promiscuidade moral em voga.

    Quando a conversação perde o tom do agradável e útil, o comentário proveitoso e sadio, o grupo social apresenta-se enfermo, em decomposição de sentido e de propostas.

    A vida inteligente emerge dos objetivos que constituem a manutenção do corpo e a continuidade das suas sensações.

    Pairam, em nível mais alto e mais ambicioso, os ideais de construção do bem, de criatividade nobre, de rendimento emocional dignificante, que se tornam essenciais na vida dos indivíduos. A ausência desses elementos responde pela impermanência da identidade psicológica de cada um, arrojando-o ao despenhadeiro do vazio íntimo.

    O homem vazio não consegue amar, porque não aprendeu a viver essa faculdade, base do comportamento de ser livre. Adaptou-se a ser amado ou disputado, sem preocupação de retribuir.

    Imaturo, antes reagia às expressões da emotividade nobre, preferindo o jogo arbitrário das sensações. Nele havia a preocupação de ser conhecido, de receber convites, de encontrar-se presente nas reuniões sociais, não porque estas lhe fizessem bem, porém, por medo da solidão, de ser esquecido... Em tais reuniões, a convivência emprestava brilho ao seu ego, em face da tagarelice, do consumo de alcoólicos, do tabagismo, que significavam status elevados.

    Assim, sem identidade, o homem vazio é uma pessoa morta.

    Há muita gente sem previdência, que inveja as pessoas colunáveis, vazias.

    Não que seja um mal participar da sociedade e preocupar-se com a projeção da personalidade no grupamento social. Só que, a maioria desses indivíduos-mitos é formada por solitários que se buscam, sem que se tornem solidários que se ajudam,

    Disputam homenagens e guerreiam-se entre sorrisos, no desfile do luxo e do exibicionismo, nos quais escondem os conflitos, quando assim o fazem, e as profundas necessidades afetivas.

    Tal conduta leva-os à melancolia e à depressão, ou a lamentáveis estados de irritabilidade, de mau humor que os tornam rudes, insuportáveis na intimidade, embora considerados sociáveis e educados.

    Essa ambiguidade no comportamento culmina com a instalação de neuroses que se agravam, desestruturando-os a médio prazo.

    O homem acumula vácuo, porque se sente impotente para alcançar plenitude.

    Acostumando-se à competição nos negócios, nos relacionamentos, espera ser o primeiro, o mais considerado. Se o logra, esvazia-se, de imediato. Quando não o consegue, frustra-se, perdendo-se da mesma forma.

    Os conflitos se instalam e ele se desama, deixa de sentir, de viver. Transfere-se, emocionalmente, para a ribalta do desespero e da futilidade.

    Este mecanismo de evasão mais o aturde, porque o desnatura.

    Pode-se, de certo modo, afirmar que estes são dias de homens vazios, homens-sombra.

    Se já travaste contato com as lições de Jesus, poderás insculpi-las no comportamento, transferindo-te do estado de vácuo para o de realizações.

    Compreenderás o significado da tua existência e saltarás o abismo que te ameaça, preenchendo as tuas lacunas emocionais com o idealismo que deflui do amor, base da plenificação humana.

    Viverás em sociedade sem conflitos íntimos e a elegerás por afinidade de propósitos e fins, começando a instalar aí e no coração o Reino de Deus, iluminado e pleno. E o farás porque terás por modelo e guia Jesus, o Homem-Luz de todos os tempos.


Retirado do livro Momentos de Iluminação; Divaldo Franco pelo Espírito Joanna de Ângelis; Livraria Espírita Alvorada Editora, Salvador, 2015, 4ª Edição.

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