"Há uma palavra a caminho", revelou-lhe a cartomante. "Mas se você a pronunciar, morrerá." E mais não disse, que a bola de cristal, subitamente turva, recusava-se a mensagens.
Em pânico, resolveu calar-se para evitar o perigo. E já punha a alma em paz, quando percebeu que, embora muda, sua mente dialogava, e, como se atravessa um rio por sobre pedras, varava o silêncio interior, evitando palavras que pudessem estar contaminadas. Temia o risco da palavra pensada.
Só o sono amordaçaria seu pensamento. Assim decidindo, deitou-se. E dormiu, dormiu, dormiu.
Mas num esgarçar-se daquele torpor em que voluntariamente mergulhara, o aflorar da consciência comunicou-lhe que no sono sonhava. E no sonho falava.
Já não lhe era permitido dormir. Nem ficar acordado. Cada letra, cada fonema, cada canção solta no ar podia esconder o alçapão que o precipitaria no negro abismo. Suor gelado empapou-lhe a fronte. Os minutos rosnaram à sua frente. Um dia que fosse já era longo demais. E a morte, de repente, pareceu-lhe um alívio, única salvação possível contra o terror da morte. Mas, sem saber-lhe o nome, como fazer para chamá-la?
Conto de Marina Colasanti retirado do livro Contos de Amor Rasgados, Editora Rocco, Rio de Janeiro, 1986.
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