terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

A carta do espantalho

Espantalho Cícero é muito bom de prosa. Tão bom que os passarinhos que vêm bicar o milho acabam pousando no seu ombro.

Ficam todos empoleirados, no maior bate-papo ou bate-bico, que até se esquecem de que vieram ali pra comer..

Só que, de uns tempos pra cá, Cícero percebeu que não aparecia mais nenhum passarinho. E, se passava um, olhava... Abanava a asa e seguia reto.

- Acho que meu papo está ficando chato! queixou-se para a sua amiga Graúna.

- Pois eu acho que precisa é chover... respondeu Graúna. O milharal está seco, a terra rachou, o ribeirão esturricou. Passarinho nenhum vem mais aqui.

- O que fazer pra cair uma chuvinha? quis saber o espantalho.

Graúna, que adorava dar conselho, mas não receber, aconselhou:

- Peça chuva a São Pedro.

- De que jeito? Cícero espantalhou-se.

- Não sou pombo-correio, mas sirvo para levar uma carta suas às nuvens, que levarão a mensagem para São Pedro..

Cícero achou meio espantalhisito... mas aceitou a sugestão.

Arrumaram uma palha de milho. Cícero ditava enquanto Graúna bicava... quer dizer, escrevia com o bico.

A carta ficou assim:


Milharal, num dia de sol, num ano sem chuva

São Pedro,

Meu nome é Cícero. Sou espantalho encarregado de tomar conta do milharal do Sítio Donizete.

Faz muito calor aqui embaixo. Os pés de milho estão secos, o ribeirão esturricou, a terra está rachada e as aves já nem aparecem por aqui.

Por favor, será que o Senhor pode mandar chuva?

Muito obrigado

Cícero - quem ditou

Graúna - quem escreveu

Depois de terminar o ditado, Cícero agradeceu do fundo do coração de palha a ajuda da amiga Graúna.

A ave dobrou a carta e, colocando-a no bico, despediu-se do amigo.


Texto de Telma Guimarães Castro Andrade, do livro Chove Sim, Chove Não! Edições Paulinas, São Paulo, 1989, publicado no livro Vamos escrever? - Atividades de Redação 3, autoras: Cândida Zuiani Menezes, Marlene Karabolad de Matos Paulo, Elsa Bahdur El Laham, Editora FTD, São Paulo, 1992.

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