domingo, 11 de fevereiro de 2024

A História de Keesh

Keesh viveu, há muito tempo, à beira do oceano polar, foi líder de sua aldeia por vários e prósperos anos e morreu coberto de honras, com seu nome na boca dos homens. Ele viveu há tanto tempo que somente os velhos se recordam de seu nome, de seu nome e de sua história, que aprenderam dos velhos antes deles e que os futuros velhos repetirão, contando o que ouviram aos seus filhos e aos filhos de seus filhos, até o final dos tempos. E a escuridão do inverno, quando a tempestade do Norte varre com mais força a superfície do gelo, e o ar é preenchido com flocos de neve flutuantes, esse é o tempo escolhido para contar como Keesh, vindo do iglu mais pobre da aldeia, alcançou poder e um lugar acima de todos.

Ele era um rapaz brilhante, assim a história conta, saudável e forte, e havia visto treze sóis, segundo o jeito de contar o tempo adotado pela tribo. Pois a cada inverno o sol deixa a terra na escuridão e no próximo ano um novo sol retorna, aquecendo novamente os corpos dos habitantes do lugar e fazendo com que eles possam olhar o companheiro no rosto. O pai de Keesh havia sido um homem corajoso, que encontrara a própria morte em um tempo de fome, quando procurava salvar a vida de sua gente tirando a vida de um enorme urso polar. Em sua impetuosidade, lutou com o animal de frente e acabou com os ossos triturados; mas o urso tinha muita carne e o povo foi salvo. Keesh, o único filho desse homem, viveu sozinho com a mãe depois disso. Mas as pessoas costumam esquecer, e elas se esqueceram do que o pai de Keesh havia feito; e ele, sendo apenas um menino, e sua mãe, apenas uma mulher, foram rapidamente esquecidos, e logo começaram a viver no mais miserável dos iglus.

Foi em um conselho da tribo, uma noite, no grande iglu de Klosh Kwan, o chefe, que Keesh mostrou o sangue que corria em suas veias e a virilidade que lhe fortalecia a coluna vertebral. Com a dignidade de um homem velho, ele se levantou e aguardou o momento em que as vozes, confusas, silenciassem.

- É verdade que a carne tem sido dividida em partes iguais, para mim e para quem vive comigo - disse. - Mas, muitas vezes, é velha e dura essa carne, que, além disso, tem uma porção de ossos.

Os caçadores, grisalhos e maduros, robustos e jovens, ficaram horrorizados. Aquilo nunca havia acontecido antes. Uma criança que falava como adulto e dizia coisas rudes na cara deles!

Entretanto, imperturbável e sério, Keesh prosseguiu:

- Digo essas palavras porque sei que meu pai, Bok, era um grande caçador. Dizem que Bok trazia para casa mais carne que quaisquer dos dois melhores caçadores, que ele, com suas próprias mãos, dividia as porções e, com seus próprios olhos vigiava para que a velha mais pobre e o homem mais idoso recebessem partes justas.

- Não, não! - os homens gritaram.

- Tirem essa criança daqui!

- Ponham o menino na cama!

- Ele ainda não é um adulto para falar com homens e velhos de barba branca!

Keesh esperou calmamente a gritaria terminar.

- Você tem uma mulher, Ugh-Gluk - disse. - E fala por ela. E você, Massuk, tem mãe também, e fala por ela. Minha mãe não tem ninguém, exceto a mim; é por esse motivo que falo. Como eu digo, apesar de Bok ter sido morto por caçar com imprudência, eu, que sou seu filho, e Ikeega, que é minha mãe e foi sua mulher, devem receber carne em abundância enquanto houver carne em abundância na tibo. Eu, Keesh, filho de Bok, falei.

Ele se sentou, os ouvidos bem atentos ao burburinho que suas palavras criaram.

- Um menino falando no conselho! - resmungou Ugh-Gluk.

- Devem os bebês de colo dizer a nós, homens, as coisas que devemos fazer? - reclamou Massuk, erguendo a voz. - Sou por acaso um homem que possa virar motivo de zombaria para qualquer criança que pede carne?

A fúria ao máximo. Os velho ordenaram que ele fosse dormir, ameaçaram-no de não mais receber carne e lhe prometeram uma bela surra pela presunção. Os olhos de Keesh começaram a faiscar e o sangue, a pulsar sombriamente sob sua pele. Em meio ao insulto, ele ficou de pé.

-Ouçam-me vocês, homens! - ele gritou. - Nunca mais vou falar no conselho novamente, nunca mais, até que os homens venham a mim e digam: "Está bem, Keesh, você pode falar, está bem e é nosso desejo que seja assim". Esta é minha palavra final. Bok, meu pai, foi um grande caçador. Eu, também, seu filho, vou caçar a carne para comer. E fiquem sabendo, agora, que a divisão daquilo que eu matar será justa. Nenhuma viúva, nenhum fraco, chorará à noite porque não há carne, enquanto homens fortes se queixam de grandes dores por terem comido demais. Eu, Keesh, disse isso!

Vaias e risos debochados o acompanharam à saída do iglu, mas seus maxilares estavam cerrados e ele se pôs a caminho, sem olhar para os lados.

No dia seguinte, foi à beira da praia, onde o gelo e a terra se encontram. Aqueles que o viram, notaram que ele carregava seu arco com um bom suprimento de flechas de osso farpado e que, atrás de seu ombro, levava a grande lança de caça que pertencera a seu pai. E então houve risos, e muito falatório, por conta desse fato. Esse era um acontecimento sem precedentes. Nunca antes garotos naquela tenra idade tinham-se aventurado a caçar, muito menos sozinhos. Houve também muita gente balançando a cabeça e murmurando profecias, e as mulheres olhavam penalizadas para Ikeega, que mantinha a expressão grave e triste.

- Ele vai voltar logo - elas disseram, para consolá-la.

- Deixe-o ir; ele vai levar uma lição - os caçadores sentenciaram. - E vai voltar, humilde e com a fala mansa, nos próximos dias.

Mas um dia se passou, e dois, e no terceiro um vento forte soprou, e nada de Keesh. Ikeega arrancou os cabelos e pôs na cara fuligem de óleo de foca, em sinal de dor; e as mulheres criticaram os homens com palavras amargas, por ele terem destratado o garoto e o enviado à morte; e os homens não ensaiaram respostas, preparando-se, em lugar disso, para sair à procura do corpo, quando a tempestade diminuísse.

Na manhã seguinte, entretanto, Keesh entrou a passos largos na aldeia. Mas não vinha humilhado. Em seus ombros, trazia um fardo com carne fresca, recém caçada. E havia dignidade em seu caminhar e arrogância na sua fala.

- Vão vocês, homens, com os cães e os trenós, sigam minha trilha como a melhor parte de um dia de viagem - ele disse. - Há muita carne no gelo: - uma ursa e dois filhos quase crescidos.

Ikeega estava felicíssima, mas ele reagiu à manifestação dela como um adulto, dizendo:

- Vamos, Ikeega, vamos comer. E depois disso vou dormir, porque estou exausto.

Ele entrou no iglu da família, comeu até se fartar e, depois, dormiu por vinte horas seguidas.

Houve muita dúvida inicialmente, muita dúvida e discussão. Matar um urso é perigoso, mas é três vezes mais perigoso matar uma ursa com seus filhotes. Os homens não podiam crer que o menino Keesh, sem qualquer ajuda, tivesse realizado aquela maravilha tão grande.

Mas as mulheres comentavam a carne fresca que ele havia trazido nas costas e isso era um argumento incontestável contra a descrença dos homens. Então eles finalmente desistiram, resmungando o tempo todo que, com toda a certeza, se era assim, ele havia se esquecido de cortar as carcaças. No Norte, é imprescindível que isso seja feito tão logo o animal morra. Senão a carne se congela tão firmemente que pode entortar a ponta da faca mais afiada, e um urso de 136 quilos, com o cadáver congelado, não é coisa fácil de se colocar sobre o trenó e de se arrastar pela neve áspera. Mas, chegando ao lugar, eles encontraram não somente a caça morta - fato do qual haviam duvidado -, mas também puderam ver que o garoto Keesh havia esquartejado as feras como um verdadeiro caçador, e removido as entranhas dos animais.

Foi aí que o mistério de Keesh começou, mistério que era maior e maior com o passar dos dias. Em sua viagem seguinte, ele matou um urso jovem, quase crescido, e na viagem posterior, um enorme urso e sua fêmea. Geralmente se ausentava por três ou quatro dias, embora não fosse raro permanecer fora uma semana, no campo de gelo. Sempre dispensava companhia nessas expedições e as pessoas ficavam maravilhadas.

- Como ele faz isso? - perguntavam-se, umas às outras.

- Nunca leva cães com ele, e os cães são de grande ajuda.

- Por que você só caça ursos? - Klosh-Kwan arriscou perguntar a ele, uma vez. Keesh deu uma resposta conveniente:

- Todos sabem que os ursos têm mais carne.

Mas na aldeia falava-se em feitiçaria.

- Ele caça com os espíritos maus - algumas pessoas diziam -, razão pela qual sua caçada é recompensada. Que mais pode ser, senão que ele caça com os maus espíritos?

- Talvez não sejam maus, mas bons, esses espíritos - outros diziam. - Todos sabem que o pai dele era um caçador corajoso. Não poderia o pai estar caçando com o filho, transmitindo a ele sua superioridade, sua paciência e seu conhecimento? Quem sabe?

Apesar disso, o sucesso de Keesh continuou, e os caçadores menos hábeis frequentemente encarregados de arrastar a carne que ele trazia. E na divisão da caça, ele era justo. Como seu pai fizera antes, vigiava para que a velha mais humilde e o homem mais idoso recebessem uma porção legítima, reservando para si próprio nada mais do que aquilo que suas necessidades reclamassem. E por causa disso, e por seu mérito como caçador, ele era olhado com respeito e até com temor; já se falava em fazê-lo chefe depois do velho Klosh-Kwan. Em razão das coisas que havia feito, eles o procuravam para participar novamente do conselho, mas ele nunca ia, e todos se envergonhavam de insistir.

- Estou com vontade de construir um iglu para mim - disse um dia a Klosh-Kwan e a um bando de caçadores. - Deverá ser um iglu grande, onde Ikeega e eu possamos viver confortavelmente.

- Sim - acenaram gravemente com a cabeça.

- Mas eu não tenho tempo. Meu negócio é caçar e isso leva todo o meu dia. Por isso, é justo que os homens e mulheres da aldeia que comem a carne que trago construam o iglu para mim.

E o iglu foi construído adequadamente, numa escala generosa, que excedeu até a moradia de Klosh-Kwan. Keesh e sua mãe mudaram-se para a nova casa, e essa foi a primeira regalia da qual ela desfrutou desde a morte de Bok. Não somente a prosperidade material pertencia a ela - devido a seu maravilhoso filho e à posição que lhe foi dada por ele, Ikeega passou a ser olhada como a primeira mulher da aldeia; e as mulheres iam visitá-la, pedir conselhos, e notar sua sabedoria quando, entre elas ou entre os homens, surgiam discussões.

Mas era o mistério das maravilhosas caçadas de Keesh o que ocupava as mentes em primeiro lugar. E um dia, Ugh-Gluk o acusou de praticar feitiçaria.

- Sobre você pesa a acusação - disse Ugh-Gluk, nefastamente - de lidar com maus espíritos, o que traria recompensa à sua caçada.

- Mas a carne não é boa? - foi a resposta de Keesh. - Alguém na aldeia já caiu doente porque a comeu? Como sabe se há feitiçaria nisso? Ou por acaso você supõe essas coisas na escuridão, meramente por causa da inveja que o consome?

E Ugh-Gluk retirou-se, derrotado, as mulheres rindo enquanto ele se afastava. Mas no conselho, uma noite, após longa deliberação, ficou determinado que espiões seriam postos na trilha de Keesh quando ele saísse para caçar, para que seus métodos pudessem ser estudados. Dessa forma, na viagem seguinte, Bim e Bawn, dois rapazes, dos mais espertos entre os caçadores, o seguiram, tomando o cuidado de não serem vistos. Depois de cinco dias eles retornaram, seus olhos esbugalhados e suas línguas, trêmulas, para contar o que haviam visto. O conselho foi chamado às pressas na casa de Klosh-Kwan e Bim tomou a palavra.

- Irmãos! Conforme nos foi ordenado, viajamos na trilha de Keesh, e com habilidade nós caminhamos, para que ele não desconfiasse. E na metade do caminho, no primeiro dia, ele arrumou um grande urso macho. Era um urso enorme.

- Nenhum é maior - Bawn confirmou, e prosseguiu contando. - Mas o urso não estava interessado em lutar, por isso voltou e fugiu devagarzinho pelo gelo. Isso a gente viu dos rochedos da praia, e o urso veio em nossa direção, e em seguida Keesh, sem medo algum. Vinha gritando palavras horríveis na direção do urso, agitando os braços e fazendo um barulhão. Então o urso ficou furioso, levantou-se nas patas traseiras e grunhiu. Mas Keesh caminhou diretamente para ele.

- Sim - continuou Bim. - Keesh andou bem na direção do urso. E o urso correu atrás dele, e ele fugiu. Mas, ao correr, Keesh deixou cair uma pequena bola de gelo. O urso parou e a cheirou, e então a engoliu. E Keesh continuou fugindo e despejando bolinhas, e o urso continuou devorando todas elas.

Exclamações e gritos saíram da boca dos homens, incrédulos, e Ugh-Gluk expressou total desconfiança.

- Vimos tudo com nossos próprios olhos  - afirmou Bim.

E Bawn:

- Sim, com nossos próprios olhos. E isso continuou até que o urso, de repente, parou ereto e começou a uivar de dor, batendo as patas dianteiras furiosamente. E Keesh continuou a fugir pelo gelo, até alcançar uma distância segura. Mas o urso não lhe deu atenção, preocupado que estava com a desventura que as bolinhas haviam produzido dentro dele.

- Sim, nas entranhas dele - interrompeu Bim. - Ele rolava na neve como um cachorrinho brincalhão; não fosse a maneira que rosnava e guinchava, e ninguém diria que estivesse sofrendo, mas, pelo contrário, divertindo-se muito. Nunca vi coisa parecida!

- Nunca, nunca vi uma coisa assim - disse Bawn, aumentando a tensão. - E, além disso, era um urso enorme.

- Feitiçaria - insinuou Ugh-Gluk.

- Sei não - replicou Bawn. - Eu só digo o que os meus olhos viram. E depois de um tempo o urso cresceu em fraqueza e cansaço, pois era muito pesado e tinha pulado com extrema violência, e saiu pela praia gelada, balançando a cabeça levemente, de um lado para o outro, e se sentando de vez em quando para gemer e chorar. E Keesh seguiu o urso, e nós seguimos Keesh, e naquele dia e nos três seguintes. O urso ficava cada vez mais fraco e não parava de gritar sua dor.

- Foi um feitiço! - exclamou Ugh- Gluk. - É claro que foi um feitiço!

- Talvez tenha sido.

E Bim tomou a palavra de Bawn.

- O urso andou a esmo, de um lado a outro, dobrando-se para trás ou para diante, atravessando sua trilha em círculos, de forma que, no final, ele praticamente voltara ao lugar onde Keesh primeiro o havia encontrado. Nessa hora, ele estava bastante doente, o urso, e não pôde mais rastejar, então Keesh chegou perto e atravessou a lança no corpo do bicho, até que ele morresse.

- E depois? - inquiriu Klosh-Kwan.

- Depois deixamos Keesh esfolando o urso e viemos correndo para que a notícia da matança pudesse se contada.

E na tarde daquele dia as mulheres arrastaram para a aldeia a carne do urso, enquanto os homens se reuniam na assembleia do conselho. Quando Keesh chegou, enviaram-lhe um mensageiro, chamando-o à reunião. Mas ele mandou uma resposta na qual dizia estar faminto e cansado; mas também lembrava que seu iglu era grande e confortável, e podia abrigar vários homens.

A curiosidade de todos era tão grande que o conselho inteiro, com Klosh-Kwan à frente, levantou-se e dirigiu-se ao iglu de Keesh. Ele estava comendo, mas os recebeu respeitosamente,  e os fez sentar, cada um de acordo com sua posição. Ikeega sentia-se orgulhosa e embaraçada, alternadamente, mas Keesh estava totalmente tranquilo.

Klosh-Kwan repetiu a informação trazida por Bim e Bawn e, ao final, disse, com uma voz firme:

- Portanto, queremos uma explicação, ó Keesh, sobre sua maneira de caçar. Há feitiçaria nisso?

Keesh levantou os olhos e sorriu.

- Não, ó Klosh-Kwan, as coisas das feiticeiras não são para um garoto, e de feitiçaria não entendo nada. Eu apenas descobri um jeito de matar o urso polar com facilidade, é só. Isso é a arte da inteligência, não a arte da feitiçaria.

- E qualquer homem pode fazer isso?

- Qualquer um.

Fez-se um grande silêncio. Os homens olharam-se, um no rosto do outro, e Keesh continuou comendo.

- E... E... Você vai contar para nós, ó Keesh? - perguntou Klosh-Kwan finalmente, com uma voz trêmula.

- Sim, vou contar a vocês. - Keesh terminou de chupar um osso cheio de tutano e levantou-se. É muito simples. Vejam!

Apanhou uma tira fina de osso de baleia e mostrou a eles. As extremidades eram afiadas como pontas de agulha. Ele enrolou a tira cuidadosamente, até que desaparecesse em sua mão. Então, de repente, soltou-a, e ela ficou novamente estirada. Ele apanhou um pedaço de gordura de baleia.

- É assim - ele disse. - Pega-se um pedaço pequeno e grosso da gordura da baleia e cava-se um buraco nela. Dentro do buraco vai o osso, apertado bem firme, e outro pedaço de gordura é colocado sobre o osso. Depois, esse pedaço é posto para fora, onde congela em forma de uma pequena bola. O urso engole a bolinha, a gordura se dissolve, o osso da baleia com suas pontas agudas se endireita, o urso fica doente, e quando o bicho estiver muito doente, bem... A gente mata com uma lança. É muito simples.

E Ugh-Gluk disse:

- Oh!

E Klosh-Kwan disse:

- Ah!

Cada um disse algo à sua maneira e todos entenderam.

E essa é a história de Keesh, que viveu há muito tempo à beira do oceano polar. Porque exercitou a arte da inteligência, subiu do mais miserável iglu à liderança de sua aldeia; e por todos os anos em que viveu, contam, sua tribo foi próspera, e nenhuma viúva e nenhum fraco chorou alto de noite porque havia carne.


Texto de Jack London, tradução de Rosane Barguil Pavam, retirado do livro Para Gostar de Ler, Volume 11 - Contos Universais, Editora Ática, São Paulo, 3ª Edição, 1991.

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