quinta-feira, 18 de novembro de 2010

História da Águia

                    A águia empurra gentilmente seus filhotes para a beirada do ninho. Seu coração maternal se acelera com as emoções conflitantes, ao mesmo tempo em que ela sente a resistência dos filhotes aos seus persistentes cutucões: " Por que a emoção de voar tem que começar com o medo de cair?! ", ela pensou... Esta questão secular ainda não estava respondida para ela...
                   Como manda a tradição da espécie, o ninho estava localizado bem no alto de um pico rochoso, nas fendas protetoras de um dos lados dessa rocha. Abaixo dele, somente o abismo e o ar para sustentar as asas dos seus filhotes. " E se justamente agora isto não funcionar?! ", ela pensou.
                   Apesar do medo, a águia sabia que aquele era o momento. Sua missão maternal estava prestes a se completar. Restava ainda uma tarefa final... o empurrão!!
                  A águia tomou-se da coragem que vinha de sua sabedoria interior. Enquanto os filhotes não descobrirem suas asas, não haverá propósito para sua vida! Enquanto eles não aprenderem a voar, não compreenderão o privilégio que é nascer uma águia! O empurrão era o maior presente que ela podia oferecer-lhes! Era seu supremo ato de amor...
                 E então, um a um, ela os precipitou para o abismo... e eles voaram pela primeira vez!!

Estrela-do-Mar

                       Um homem, sábio e poeta, costumava fazer longas caminhadas pela praia, antes de escrever.
                       Certo dia, avistou à distância, um vulto que parecia dançar. Ao se aproximar, viu um rapaz que não dançava, mas se abaixava, apanhava algo na areia e, cuidadosamente, atirava ao mar.
                       - Bom dia, meu rapaz, o que está fazendo?
                       - Jogando estrelas-do-mar no oceano.
                       - Por que está fazendo isso?
                       - Preciso aproveitar o tempo. A maré está baixando, o sol está forte e, se eu não as atirar na água morrerão.
                       - Mas, meu jovem, você não percebe que há quilômetros e quilômetros de praias e estrelas-do-mar em todas elas? E que as poucas que você consegue salvar não fazem diferença alguma?
                       O jovem escutou atentamente e, curvando-se, apanhou mais uma estrela-do-mar e atirando-a para lá da arrebentação, disse:
                       - Para esta fez diferença!!
                       No dia seguinte, havia um sábio poeta ajudando um jovem a lançar estrelas-do-mar no oceano...

Vagalume

                      Conta a lenda que uma vez uma serpente começou a perseguir um vagalume.
                      Este fugia rápido, com medo da feroz predadora e a serpente nem pensava em desistir.
                      Fugiu um dia e ela não desistia, dois dias e nada...
                      No terceiro dia, já sem forças, o vagalume parou e disse à cobra:
                      - Posso lhe fazer três perguntas?
                      - Não costumo abrir esse precedente para ninguém, mas já que vou te devorar mesmo, pode perguntar...
                      - Pertenço à sua cadeia alimentar?
                      - Não.
                      - Eu te fiz algum mal?
                      - Não.
                      - Então, por que você quer acabar comigo?
                      - Porque não suporto ver você brilhar...

                                                VAMOS REFLETIR??

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Feliz Aniversário

                      Álvaro de Campos/Fernando Pessoa


No dia em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia mais ter esperanças.
Quando vim a olhar a vida, perdera o sentido da vida.

Sim, o que fui de suposto de mim mesmo,
O que fui de coração e parentesco,
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui - ai, meu Deus!, o que só sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!

O que eu sou hoje é como a humanidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!

Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos de louça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas - doces, frutas, o resto na sombra debaixo do alçado -,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...

Para, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje não faço anos.
Duro.
Somam-se os dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...

O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...

FESTIVAIS DA DÉCADA DE 80:

Diverdade - Diana Pequeno

                        Chico Maranhão

Eu sei que você fica preso no ar
Quando eu canto a minha moda,
Meu deserto, a minha trova,
Meu convento violado ou coisa mais

Vivei
Pra ver que sob a porta aberta
Desta escuridão
A luz suave e terna
Vai estender a mão
E a treva em torno toda
Clarear estrela nova
Para acabar com essa ideia
De achar que tudo tem que ter censura
Para acabar com essa mania
De querer tirar das ruas minha juventude

Eu sei que você fica preso no ar
Quando eu canto
Nestas horas de silêncio
A minha história, meus intentos
Com certeza ou coisa mais

Vivei cantando
E cantarei enquanto a voz cantar em mim
Enquanto voz tiver, enquanto for assim
Irei fazendo tudo clarear, estrela nova
Para acabar com essa ideia
De achar que tudo tem que ter censura
Para acabar com essa mania
De querer tirar das ruas minha juventude

Nunca entendi porque esta música não ficou classificada entre as três primeiras colocadas no Festival MPB em 1980... Recentemente, entrei em contato com o seu autor via e-mail e ele me falou o que muitos já sabem: alguns eventos são um jogo de cartas marcadas...

Registrei esta canção no dia do seu aniversário em minha agenda de 2010. Minha homenagem a você!!

Serra do Luar - Walter Franco

Amor
Vim te buscar
Em pensamento
Cheguei agora
... no vento

Amor não chora
De sofrimento
Cheguei agora
... no vento

Eu só voltei
Pra te contar
Viajei
Fui pra Serra do Luar
Mergulhei
Ah! Eu quis voar
Agora vem
Vem pra terra
Descansar

Viver
É afinar o instrumento
De dentro pra fora
De fora pra dentro
A toda hora
A todo momento
De dentro pra fora
De fora pra dentro...

Esta música participou do Festival MPB Shell realizado pela TV Globo em 1981. Dez anos depois, Leila Pinheiro fez uma belíssima regravação com arranjo de Guilherme Arantes em seu CD Outras Caras.

A Massa - Raimundo Sodré

                   Jorge Portugal/Raimundo Sodré

A dor da gente
É dor de menino acanhado
Menino bezerro pisado
No curral do mundo a penar
Que salta aos olhos
Igual ao gemido calado
A sombra do mal assombrado
É dor de nem poder chorar

Moinho de homens
Que nem jerimuns amassados
Mansos meninos domados
Passados medos iguais
Amassando a massa
A mão que amassa a comida
Esculpe, modela e castiga
Massa dos homens normais

Quando eu lembro da massa da mandioca, mãe
Da massa
Quando eu lembro da massa da mandioca, mãe
Da massa

Lelé, meu amor lelé
Lelé, meu amor lelé
No cabo da minha enxada
Não conheço um coroné

Eu quero, mas não quero, camará
" Mulé " minha na fusão, camará
Tá livre de um abraço, camará
Mas num tá de beliscão

Torna a repetir oi z'amor
Ai, ai, ai
Torna a repetir oi z'amor
Ai, ai, ai

É que o guarda-civil não quer a roupa no quarador
O guarda-civil não quer a roupa no quarador
Meu Deus onde vai quarar
Quarar essa massa
Meu Deus onde vai rolar
Rolar essa massa
Mas o trem corre é por cima da linha
O trem corre é por cima da linha

canção participante do Festival MPB realizado pela TV Globo em 1980. Tânia Alves e Elba Ramalho regravaram a música anos mais tarde...

Planeta Água - Guilherme Arantes

Água que nasce na fonte serena do mundo
E que abre um profundo grotão
Água que faz inocente riacho
E desagua na corrente do ribeirão
Águas escuras dos rios
Que levam a fertilidade ao sertão
Águas que banham aldeias
E matam a sede da população
Águas que caem das pedras
No veu das cascatas, ronco de trovão
E depois dormem tranquilas
No leito dos lagos, no leito dos lagos
Água dos igarapés, onde Iara, mãe-d'água
É misteriosa canção
Água que o sol evapora,
Pro céu vai embora
Virar nuvens de algodão
Gotas de água da chuva,
Alegre arco-iris sobre a plantação
Gotas de água da chuva, tão tristes
São lágrimas da inundação
Águas que movem moinhas
São as mesmas águas que encharcam o chão
E sempre voltam humildes
Pro fundo da terra
Pro fundo da terra
Terra, planeta água

Canção vencedora do Festival MPB Shell  realizado em 1981 pela TV Globo. No ano seguinte, a cantora espanhola Ana Belen fez uma linda regravação da música em espanhol.

Estrelas - José Alexandre

                   Oswaldo Montenegro

Pela marca que nos deixa
A ausência de som que emana das estrelas
Pela falta que nos faz a nossa própria luz
A nos orientar
Doido corpo que se move
É a solidão dos bares que
A gente frequenta,
Pela mágica do dia
Que independeria da gente pensar
Não me fale do teu medo
Ah! Eu conheço inteira a tua fantasia
E é como se fosse pouca e a tua alegria
Não fosse bastar
Quando eu não estiver por perto
Canta aquela música
Que a gente ria,
É tudo que eu cantaria
E quando eu for embora
Você cantará