quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

A Deusa dos Orixás

                    Toninho/Romildo

o vento bateu na saia de Iansã
o vento bateu pra Iansã rodar

Iansã, cadê Ogum? Foi pro mar
Mas Iansã, cadê Ogum? Foi pro mar
Iansã penteia os seus cabelos macios
Quando a luz da lua cheia
Clareia as águas dos rios
Ogum sonhava com a filha de Nanã
E pensava que as estrelas
Eram os olhos de Iansã
Mas Iansã, cadê Ogum? Foi pro mar
Iansã, cadê Ogum? Foi pro mar
Na terra dos orixás, o amor se dividia
Entre um deus que era de paz
E outro deus que combatia
Como a luta só termina
Quando existe um vencedor
Iansã virou rainha da coroa de Xangô

oiá oiá oiá me
óia matamba me cacurucajo zinguê

a gravação original desta música foi feita por Clara Nunes em 1976 no então LP Claridade e regravada por Rita Ribeiro em seu CD Tecnomacumba de 2006.

São João Xangô Menino

                             Caetano Veloso/Gilberto Gil


Ah, Xangô Xangô menino
Da fogueira de São João
Quero ser sempre o menino Xangô
Da fogueira de São João

Céu de estrela sem destino
De beleza sem razão
Tome conta do destino Xangô
Da beleza e da razão

Viva São João
Viva o milho verde
Viva São João
Viva o brilho verde
Viva São João das matas de Oxossi
Viva São João

Olha pro céu meu amor
Veja como ele está lindo
Noite tão fria de junho Xangô
Canto tanto canto lindo

Fogo fogo de artifício
Quero ser sempre o menino
As estrelas deste mundo Xangô
Ah, São João Xangô menino

Viva São João
Viva o milho verde
Viva São João
Viva o brilho verde
Viva São João
Das matas de Oxossi
Viva São João


meu pai são joão batista é xangô
é dono do meu destino até o fim
se um dia me faltar
a fé em meu senhor
derrube essa pedreira sobre mim
meu pai são joão batista é xangô

(Ponto de Macumba recolhido e adaptado por Eli Camargo)

música do CD Brasileirinho gravado em 2004 por Maria Bethânia

Xangô

                            Chico César/ Suzana Salles


É Xangô que vai chegar
Por Alá canta o corão
Coro Atlântico verão
Acalanto uma canção

Xangô baixou em Shangai
Na pele de um samurai
Em nome da mãe e do pai
Xangô quando entra não sai
Xangô chamou um xamã
Nas terras de Aldebarã
Em nome do irmão, da irmã
Xangô é a luz da manhã

É Xangô que vai chegar
Por Alá canta o corão
Coro Atlântico verão
Acalanto uma canção

Xangô pluma da cultura
O bico da bic futura
Seu nome é a água que fura
Dureza da pedra que dura
Xangô agogô da planície
Xango versos que Xangô disse
O chão, a chã superfície
Me viu antes que eu lhe visse

É Xangô que vai chegar
Por Alá canta o corão
Coro Atlântico verão
Acalanto uma canção

Música do CD As Sílabas da cantora paulistana Suzana Salles gravado em 2001.

sábado, 20 de novembro de 2010

Santa Bárbara

                      Fatima Guedes

Santa Bárbara dos tempos violentos
Vosso rosto me aparece num clarão
Quando um raio rasga
A imensa escuridão

Muitos ventos, muitos ventos
Passam por meu coração
Na carícia quase bruta
Do poder de vossa mão
Senhora, iluminai
Clareai meus pensamentos
Santa Bárbara
Dos tempos violentos

Vejo em vossos elementos
A chuva não vai parar
Até ter deixado limpos
Meu corpo e minha alma
Dona dos meus temporais,
Senhora de olhos cinzentos,
Santa Bárbara dos tempo violentos

música do CD Pra Bom Entendedor... de Fatima Guedes, gravado em 1993
(aliás, um dos mais belos trabalhos já feitos por ela)
Santa Bárbara no sincretismo brasileiro é Iansã

Não Vou Sair

                     Celso Viáfora

A geração da gente
Não teve muita chance
De se afirmar, de arrasar, de ser feliz.
Sem nada pela frente
Pintou aquele lance
De se mudar, de se mandar deste país.

Aí você partiu pro Canadá
Mas eu fiquei no já vou já
Pois quando eu tava me arrumando
Pra ir
Bati com os olhos no luar
A lua foi bater no mar
E eu fui que fui ficando

Distantes tantas milhas
São tristes os invernos
Não vou sair, tá mal aqui, mas vai mudar

Os donos de Brasília não podem ser eternos
Pior que foi, pior que tá, não vai ficar

Não vou sair, melhor você voltar pra cá
Não vou deixar esse lugar
Pois quando eu tava me arrumando
Pra ir
Bati com os olhos no luar
A lua foi bater no mar
e eu fui que fui ficando

Belíssima regravação da cantora Célia em seu CD Louca de Saudade de 1993

Que País É Este?

                        Renato Russo

Nas favelas, no Senado
Sujeira pra todo lado
Ninguém respeita a Constituição
Mas todos acreditam no futuro da nação

Que país é este?

No Amazonas, no Araguaia, na Baixada Fluminense
Mato Grosso, nas Geraes e no Nordeste tudo em paz
Na morte eu descanso mas o sangue anda solto
Manchando papéis, documentos fiéis
Ao descanso do patrão

Que país é este?

Terceiro mundo se for
Piada no exterior
Mas o Brasil vai ficar rico
Vamos faturar um milhão
Quando vendermos todas as almas
Dos nossos índios em um leilão

Que país é este?

faixa-título do então LP do grupo Legião Urbana. Lançado originalmente em 1987.

Minha Alma (A Paz Que Eu Não Quero Ter)

                        Marcelo Yuka/O Rappa

A minha alma está armada
E apontada para a cara
Do sossego
Pois paz sem voz
Não é paz é medo

Às vezes eu falo
Com a vida
Às vezes é ela quem diz

Qual a paz que eu não
Quero conservar
Pra tentar ser feliz

As grades do condomínio
São para trazer proteção
Mas também trazem a dúvida
Se é você que está nessa prisão
Me abrace e me dê um beijo
Faça um filho comigo
Mas não me deixe sentar
Na poltrona no dia de domingo

Procurando novas drogas
De aluguel nesse video
Coagido pela paz
Que eu não quero
Seguir admitindo

Às vezes eu falo com a vida
Às vezes é ela quem diz

música do disco " Lado B Lado A " do grupo O Rappa, lançado em 1999; já foi regravada por Maria Rita, Vânia Abreu e Leila Pinheiro.

Diga Lá, Coração

                   Gonzaguinha

Diga lá, meu coração
Da alegria de rever essa menina
E abraçá-la
E beijá-la

Diga lá, meu coração
Conte as histórias das pessoas
Das estradas
Dessa vida
Chore essa saudade estrangulada
Fale sem você não há mais nada
Olhe bem nos olhos da morena
E veja lá no fundo a luz daquele
Sol de primavera
Durma qual criança no seu colo
Sinta o cheiro forte do teu solo
Passe a mão nos seus cabelos negros
Diga um verso bem bonito
E vá embora

Diga lá, meu coração
Que ela está dentro
Do teu peito
E bem guardada
E que é preciso
Mais que nunca
Prosseguir
Prosseguir

Espere por mim, morena
Espere que eu chego já
O amor por você, morena
Faz a saudade apressar...


Gravação original feita pela cantora Simone em seu disco " Cigarra " lançado em 1978.

Como Nossos Pais

                            Belchior

Não quero lhe falar, meu grande amor
Das coisas que aprendi nos discos
Quero lhe contar como eu vivi
E tudo o que aconteceu comigo
Viver é melhor que sonhar
E eu sei que o amor é uma coisa boa
Mas também sei que qualquer canto
É menor do que a vida
De qualquer pessoa
Por isso, cuidado, meu bem, há perigo na esquina!
Eles venceram e o sinal está fechado pra nós
Que somos jovens
Para abraçar seu irmão e beijar sua menina na rua
É que se fez o seu braço, o seu lábio e a sua voz
Você me pergunta pela minha paixão
Digo que estou encantado como uma nova invenção
Eu vou ficar nessa cidade
Não vou voltar pro sertão
Pois vejo vir vindo no vento
O cheiro da nova estação
Eu sei de tudo na ferida viva do meu coração
Já faz tempo eu vi você na rua, cabelo ao vento, gente jovem reunida
Na parede da memória essa lembrança é o quadro que dói mais
Minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo o que fizemos
Ainda somos os mesmos e vivemos
Como nossos pais
Nossos ídolos ainda são os mesmos e as aparências não enganam, não
Você diz que depois deles não apareceu mais ninguém
Você pode até dizer que eu tô por fora ou então que eu tô inventando
Mas é você que ama o passado e que não vê
Que o novo sempre vem
Hoje eu sei que quem me deu a ideia de uma nova consciência e juventude
Está em casa guardado por Deus contando vil metal
Minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo, tudo o que fizemos
Nós ainda somos os mesmo e vivemos
Ainda somos os mesmos e vivemos
Como os nossos pais

Música do disco " Falso Brilhante " gravado em 1976 por Elis Regina.
É impressionante como esta canção está sempre atual...

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Beija-Flor

                    Um incêndio avançava sobre a floresta destruindo tudo pelo caminho. Os animais, assustados, corriam para se proteger na outra margem do rio.
                    O rei leão procurava por todos os seus amigos: lá estavam os sapos, as cobras, os esquilos, as cabras, coiotes, os macacos, enfim, todos os animais. Com isso, ele sorri satisfeito pensando: " pelo menos estão todos aqui seguros ".
                   Perto dali, o pequenino beija-flor, enchia seu biquinho com água do rio, voava e do alto, soltava aquelas gotinhas sobre o imenso fogo.
                   Depois do quinto mergulho na água, o leão fez a pergunta esperada por todos:
                   - Ô beija-flor, você acha que vai conseguir apagar este incêndio com estas gotinhas?
                   - Não - respondeu a pequenina ave - mas estou fazendo a minha parte!!