Muitas pessoas são ilógicas,
desconcertantes, egocêntricas.
Assim mesmo, dê a elas um voto de confiança.
Praticando o bem,
haverá quem acuse você de interesses ocultos, egoístas.
Assim mesmo, plante bondade.
Se você obtém êxito,
ganhará falsos amigos e verdadeiros inimigos.
Assim mesmo, triunfe.
A honestidade e a franqueza nos tornam vulneráveis.
Assim mesmo, seja honesto e franco.
Os benefícios que fazemos hoje
serão esquecidos amanhã.
Assim mesmo, beneficie seus irmãos.
O melhor homem com as melhores ideias
pode ser destruído pelo homem mesquinho,
de mente acanhada, sem ideias nenhuma.
Assim mesmo, pense e aja com magnanimidade.
Sentimos compaixão pelos fracos,
mas preferimos os fortes.
Assim mesmo, defenda os fracos e necessitados.
O que a gente constrói com anos e anos de trabalho
pode ser derrubado da noite para o dia.
Assim mesmo, continue construindo.
Todos necessitam, realmente, de ajuda.
Não raro, nos atacam, se os ajudamos.
Assim mesmo, continue prestando ajuda.
Se damos ao mundo o melhor de nós mesmos,
talvez a resposta seja uma pedrada, a ingratidão.
Assim mesmo, dê ao mundo o melhor de si mesmo,
o que você possui de mais sagrado,
tudo o que você é.
Ser bom ainda é o melhor!
É necessário que alguns batalhem,
sofram, construam e acreditem
para que muitos sejam felizes!
sexta-feira, 7 de janeiro de 2011
O Periquito Cor de Lua
pesquisa de Diana Pequeno
Era uma vez um periquito lindo, encantado. E tinha no canto um som celestial e, nas penas, uma cor indefinível, quase transparente. Uma cor de sonho.
De janelinha em janelinha ia o periquito cantando. E as pessoas, fascinadas pelo seu canto, ficavam a sonhar com a Lua.
Mas o periquito tinha na Lua sua eterna companheira, uma misteriosa amiga da qual ele queria receber sua luz, aprender mais coisas.
Um dia, com as árvores ainda orvalhadas, o periquito encontrou a nuvem Cintila e pediu ajuda:
- Eu quero ir para a Lua - disse ele.
Cintila ficou assustada e pediu que ele continuasse na Terra.
Só que o periquito não desistiu. E saiu voando pelo céu, pousando de nuvem em nuvem, perguntando como poderia ir à Lua. Pousou na Anaconda, na Florisbela (duas nuvens amigas) e elas pediram que desistisse da ideia.
- Seu lugar é na Terra, periquito, - elas disseram.
Mesmo assim pediram para que ele procurasse Dona Ursa Menor, uma estrela sábia do Universo, sempre sonolenta.
- Esqueça, meu periquito, disse Dona Ursa Menor bocejando.
Mas o periquito não desistia. Assim, ela, ainda bocejando, disse que procurasse o Cruzeiro do Sul, uma casinha com várias estrelas, senhoras sábias do Universo.
... e o periquito voou até o Cruzeiro do Sul, numa viagem muito longa. E foi à sua Estrela do Norte, a mais distante de todas. Depois de contar o que queria, ela respondeu:
- O brilho da Lua não precisa ser visto de perto.
E não ensinou o caminho. Nem as estrelas do Leste e Oeste também quiseram dar, pelo menos, uma pista.
Foi quando a Estrela do Sul, vendo que o periquito não iria desistir, resolveu ensinar-lhe o caminho.
O periquito voou feliz, seguindo a trilha indicada pela estrela. E finalmente chegou a uma Terra estranha, escura, deserta, onde nada brilhava. Só ele. Achou que estava errado, pensou que estivesse em Mércurio ou Plutão, nunca na Lua. Correu para uma areiazinha e perguntou:
- Areiazinha, você é da Lua?
Ela respondeu que sim, era da Lua. E uma pedrinha, também muito branca, disse:
- Eu também sou uma pedra da Lua!
O periquito não se conformou. Ele não sabia onde estava o brilho da Lua. " A Lua não brilha? " perguntou a si próprio. " Claro que brilha, claro! " Mas a pedra e areiazinha eram opacas, não eram brilhantes.
Assim chegou a noite, com o periquito muito solitário e triste, andando cabisbaixo. O silêncio era imenso, não havia nenhum ruído. Foi quando encontrou uma árvore, também solitária, e que tinha nos galhos um pássaro cujo canto se parecia com o vento.
O periquito enxergou a si próprio, vendo sua imagem na Terra, cantando em suas janelinhas.
A árvore, silenciosa, disse:
- Não se entristeça, periquitinho. Você apenas viu que o brilho da Lua não precisa ser tocado ou visto de perto. Ele somente existe.
A árvore tossiu. Depois continuou:
- A realidade é sonho. E tu és um mensageiro do sonho. É seu canto mais sua cor que transportam as pessoas até a Lua, pela emoção.
E o periquito percebeu que ele mesmo brilhava muito, mesmo não estando ma Lua. Bastava apenas cantar. Assim, resolveu voltar pra Terra, pensando em cantar novamente nas janelinhas.
E assim voou de volta, deixando um rastro brilhante, cor de Lua...
Era uma vez um periquito lindo, encantado. E tinha no canto um som celestial e, nas penas, uma cor indefinível, quase transparente. Uma cor de sonho.
De janelinha em janelinha ia o periquito cantando. E as pessoas, fascinadas pelo seu canto, ficavam a sonhar com a Lua.
Mas o periquito tinha na Lua sua eterna companheira, uma misteriosa amiga da qual ele queria receber sua luz, aprender mais coisas.
Um dia, com as árvores ainda orvalhadas, o periquito encontrou a nuvem Cintila e pediu ajuda:
- Eu quero ir para a Lua - disse ele.
Cintila ficou assustada e pediu que ele continuasse na Terra.
Só que o periquito não desistiu. E saiu voando pelo céu, pousando de nuvem em nuvem, perguntando como poderia ir à Lua. Pousou na Anaconda, na Florisbela (duas nuvens amigas) e elas pediram que desistisse da ideia.
- Seu lugar é na Terra, periquito, - elas disseram.
Mesmo assim pediram para que ele procurasse Dona Ursa Menor, uma estrela sábia do Universo, sempre sonolenta.
- Esqueça, meu periquito, disse Dona Ursa Menor bocejando.
Mas o periquito não desistia. Assim, ela, ainda bocejando, disse que procurasse o Cruzeiro do Sul, uma casinha com várias estrelas, senhoras sábias do Universo.
... e o periquito voou até o Cruzeiro do Sul, numa viagem muito longa. E foi à sua Estrela do Norte, a mais distante de todas. Depois de contar o que queria, ela respondeu:
- O brilho da Lua não precisa ser visto de perto.
E não ensinou o caminho. Nem as estrelas do Leste e Oeste também quiseram dar, pelo menos, uma pista.
Foi quando a Estrela do Sul, vendo que o periquito não iria desistir, resolveu ensinar-lhe o caminho.
O periquito voou feliz, seguindo a trilha indicada pela estrela. E finalmente chegou a uma Terra estranha, escura, deserta, onde nada brilhava. Só ele. Achou que estava errado, pensou que estivesse em Mércurio ou Plutão, nunca na Lua. Correu para uma areiazinha e perguntou:
- Areiazinha, você é da Lua?
Ela respondeu que sim, era da Lua. E uma pedrinha, também muito branca, disse:
- Eu também sou uma pedra da Lua!
O periquito não se conformou. Ele não sabia onde estava o brilho da Lua. " A Lua não brilha? " perguntou a si próprio. " Claro que brilha, claro! " Mas a pedra e areiazinha eram opacas, não eram brilhantes.
Assim chegou a noite, com o periquito muito solitário e triste, andando cabisbaixo. O silêncio era imenso, não havia nenhum ruído. Foi quando encontrou uma árvore, também solitária, e que tinha nos galhos um pássaro cujo canto se parecia com o vento.
O periquito enxergou a si próprio, vendo sua imagem na Terra, cantando em suas janelinhas.
A árvore, silenciosa, disse:
- Não se entristeça, periquitinho. Você apenas viu que o brilho da Lua não precisa ser tocado ou visto de perto. Ele somente existe.
A árvore tossiu. Depois continuou:
- A realidade é sonho. E tu és um mensageiro do sonho. É seu canto mais sua cor que transportam as pessoas até a Lua, pela emoção.
E o periquito percebeu que ele mesmo brilhava muito, mesmo não estando ma Lua. Bastava apenas cantar. Assim, resolveu voltar pra Terra, pensando em cantar novamente nas janelinhas.
E assim voou de volta, deixando um rastro brilhante, cor de Lua...
segunda-feira, 20 de dezembro de 2010
Laura
Lluis Llach/Diana Pequeno
Hoje lhe escrevo uma canção
Recordo ver você chegar
Com o mistério dos teus olhos
O vulto inquieto, o corpo amigo
Com o sorriso em tuas mãos
Levaste ao longe minha canção
Em cada nota do teu nome, Laura
É tão difícil recordar
Os tantos mundos que vivemos
Nossa amargura por viver
Nossa esperança no amanhã
Em casa com nossos irmãos
Ou em triste exílio além do mar
Nunca faltou o teu alento, Laura
E se acaso longe vás
Que os deuses guardem teu caminho
Que te acompanhem passarinhos
Que te afaguem as estrelas
E num acorde desta voz
Embora nem possas ouvir
Sempre estará tua canção, Laura.
A Laura, a quem aqui presto a homenagem, está hoje no plano espiritual. Só soube da sua partida recentemente e acho até que tenha sido melhor assim! Vou ter sempre a imagem dela sorrindo ao me receber...
Laura não era mais uma mocinha, muito pelo contrário, talvez já tivesse ultrapassado um pouquinho os 80 anos... não sei dizer! Foi ela quem me ensinou muitas coisas que certamente usei depois que eu cresci.
Ela não era a minha avó, mas me considerava seu neto. Não me lembro exatamente quando foi a última vez que nos encontramos. Devo admitir que fiquei muito triste com a notícia... Talvez eu quisesse me despedir dela ainda viva, não sei. Apesar da distância nos últimos anos, senti um grande vazio, pois assim como eu gostava muito dela, ela nutria um grande sentimento por mim. Você vai ficar na saudade, minha senhora... mas vou torcer para você estar em um lugar bem melhor, o Nosso Lar, por exemplo. Sei que onde estiver, estará velando por mim e por aqueles que convivem comigo. Um grande beijo...
Hoje lhe escrevo uma canção
Recordo ver você chegar
Com o mistério dos teus olhos
O vulto inquieto, o corpo amigo
Com o sorriso em tuas mãos
Levaste ao longe minha canção
Em cada nota do teu nome, Laura
É tão difícil recordar
Os tantos mundos que vivemos
Nossa amargura por viver
Nossa esperança no amanhã
Em casa com nossos irmãos
Ou em triste exílio além do mar
Nunca faltou o teu alento, Laura
E se acaso longe vás
Que os deuses guardem teu caminho
Que te acompanhem passarinhos
Que te afaguem as estrelas
E num acorde desta voz
Embora nem possas ouvir
Sempre estará tua canção, Laura.
A Laura, a quem aqui presto a homenagem, está hoje no plano espiritual. Só soube da sua partida recentemente e acho até que tenha sido melhor assim! Vou ter sempre a imagem dela sorrindo ao me receber...
Laura não era mais uma mocinha, muito pelo contrário, talvez já tivesse ultrapassado um pouquinho os 80 anos... não sei dizer! Foi ela quem me ensinou muitas coisas que certamente usei depois que eu cresci.
Ela não era a minha avó, mas me considerava seu neto. Não me lembro exatamente quando foi a última vez que nos encontramos. Devo admitir que fiquei muito triste com a notícia... Talvez eu quisesse me despedir dela ainda viva, não sei. Apesar da distância nos últimos anos, senti um grande vazio, pois assim como eu gostava muito dela, ela nutria um grande sentimento por mim. Você vai ficar na saudade, minha senhora... mas vou torcer para você estar em um lugar bem melhor, o Nosso Lar, por exemplo. Sei que onde estiver, estará velando por mim e por aqueles que convivem comigo. Um grande beijo...
Morte e Vida Severina (trecho)
João Cabral de Melo Neto
O meu nome é Severino,
não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria;
como há muitos Severinos
com mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria
do finado Zacarias.
Mas isso ainda é pouco:
há muitos na freguesia,
por causa de um coronel
que se chamou Zacarias
e que foi o mais antigo
senhor desta sesmaria.
Como então dizer quem fala
ora a Vossas Senhorias?
Vejamos: é o Severino
da Maria do Zacarias,
lá da Serra da Costela,
limites da Paraíba.
Mas isso ainda diz pouco:
se ao menos mais cinco havia
como nome Severino
filhos de tantas Marias
mulheres de outros tantos,
já finados, Zacarias,
vivendo na mesma serra
magra e ossuda em que eu vivia.
Somos muitos Severinos
iguais em tudo na vida:
na mesma cabeça grande
que a custo é que se equilibra,
no mesmo ventre crescido
sobre as mesmas pernas finas,
e iguais também porque o sangue
que usamos tem pouca tinta.
E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte,
de fome um pouco por dia
(de fraqueza e de doença
é que a morte severina
ataca em qualquer idade,
e até gente não nascida).
Somos muitos Severinos
iguais em tudo e na sina:
a de abrandar estas pedras
suando-se muito em cima,
a de tentar despertar
terra sempre mais extinta,
a de querer arrancar
algum roçado da cinza.
Mas, para que me conheçam
melhor Vossas Senhorias
e melhor possam seguir
a história de minha vida,
passo a ser o Severino
que em vossa presença emigra.
O meu nome é Severino,
não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria;
como há muitos Severinos
com mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria
do finado Zacarias.
Mas isso ainda é pouco:
há muitos na freguesia,
por causa de um coronel
que se chamou Zacarias
e que foi o mais antigo
senhor desta sesmaria.
Como então dizer quem fala
ora a Vossas Senhorias?
Vejamos: é o Severino
da Maria do Zacarias,
lá da Serra da Costela,
limites da Paraíba.
Mas isso ainda diz pouco:
se ao menos mais cinco havia
como nome Severino
filhos de tantas Marias
mulheres de outros tantos,
já finados, Zacarias,
vivendo na mesma serra
magra e ossuda em que eu vivia.
Somos muitos Severinos
iguais em tudo na vida:
na mesma cabeça grande
que a custo é que se equilibra,
no mesmo ventre crescido
sobre as mesmas pernas finas,
e iguais também porque o sangue
que usamos tem pouca tinta.
E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte,
de fome um pouco por dia
(de fraqueza e de doença
é que a morte severina
ataca em qualquer idade,
e até gente não nascida).
Somos muitos Severinos
iguais em tudo e na sina:
a de abrandar estas pedras
suando-se muito em cima,
a de tentar despertar
terra sempre mais extinta,
a de querer arrancar
algum roçado da cinza.
Mas, para que me conheçam
melhor Vossas Senhorias
e melhor possam seguir
a história de minha vida,
passo a ser o Severino
que em vossa presença emigra.
quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
Como é Grande e Bonita a Natureza
Sivuca/Glorinha Gadelha
Andorinha é a presa do picanço
Beija-flor todo dia a flor beija
E a pequena floresta onde eu descanso
É um mundo de fera e de presa
Quero muito zelar pela pureza
Pelo rei, pela fada e pelo santo
Escondendo na mata o meu espanto
Como é grande e bonita a natureza
Eu me chamo João, Joana chama
Pra mostrar verdes olhos. verde queixa
Pra plantar minha crença galopando
Quero sol, quero chuva que despeja
Minha força taí nessa peleja
No rastejo arrastado do meu chão
Vou fazendo do mote o meu refrão
Como é grande e bonita a natureza
O cometa que passa vai passando
E a estrela do norte pestaneja
Zelação pelo céu alumiando
No clarão da manhã a noite fecha
Minha sorte no meio dessa riqueza
Meu desejo, meu sonho, meu sertão
Meu inverno é a promessa de um verão
Como é grande e bonita a natureza
Eu sou feita da força do remanso
A paulada no couro me desfecha
No momento da fome eu me avanço
Pra comer, como tudo que me deixa
A coragem embarcou nessa afoiteza
Minha sede abre a boca num rasgão
Que não sofra por mim o meu irmão
Como é grande e bonita a natureza.
Outra canção de Clara Nunes falando sobre a natureza que foi gravada em seu disco de 1981 intitulado Clara.
Andorinha é a presa do picanço
Beija-flor todo dia a flor beija
E a pequena floresta onde eu descanso
É um mundo de fera e de presa
Quero muito zelar pela pureza
Pelo rei, pela fada e pelo santo
Escondendo na mata o meu espanto
Como é grande e bonita a natureza
Eu me chamo João, Joana chama
Pra mostrar verdes olhos. verde queixa
Pra plantar minha crença galopando
Quero sol, quero chuva que despeja
Minha força taí nessa peleja
No rastejo arrastado do meu chão
Vou fazendo do mote o meu refrão
Como é grande e bonita a natureza
O cometa que passa vai passando
E a estrela do norte pestaneja
Zelação pelo céu alumiando
No clarão da manhã a noite fecha
Minha sorte no meio dessa riqueza
Meu desejo, meu sonho, meu sertão
Meu inverno é a promessa de um verão
Como é grande e bonita a natureza
Eu sou feita da força do remanso
A paulada no couro me desfecha
No momento da fome eu me avanço
Pra comer, como tudo que me deixa
A coragem embarcou nessa afoiteza
Minha sede abre a boca num rasgão
Que não sofra por mim o meu irmão
Como é grande e bonita a natureza.
Outra canção de Clara Nunes falando sobre a natureza que foi gravada em seu disco de 1981 intitulado Clara.
Salve o Verde
Jorge Ben
Toca a viola, toca a viola, violeiro
Segura o ritmo, segura o ritmo, batuqueiro
Entra na roda, entra na roda, milongueiro
Pois estão chegando
Estão chegando os partideiros
Cantando assim
Salve o verde! Salve o verde!
Deus salve o verde
Que o homem está acabando
E construindo o cinza
Salve o verde! Salve o verde!
Tá faltando grama nesse jardim
Tá faltando árvore nessa cidade
Tá faltando oxigênio nessa atmosfera
O que será, o que será, o que será
O que será da biosfera?
Salve o verde! Salve o verde!
Esta música de Jorge Ben foi gravada pelo Quarteto em Cy do disco Querelas do Brasil de 1978 com uma grande preocupação com o meio ambiente. Ela foi tema de abertura da novela Sinal de Alerta da TV Globo (quando esta fazia algo que prestava...).
Toca a viola, toca a viola, violeiro
Segura o ritmo, segura o ritmo, batuqueiro
Entra na roda, entra na roda, milongueiro
Pois estão chegando
Estão chegando os partideiros
Cantando assim
Salve o verde! Salve o verde!
Deus salve o verde
Que o homem está acabando
E construindo o cinza
Salve o verde! Salve o verde!
Tá faltando grama nesse jardim
Tá faltando árvore nessa cidade
Tá faltando oxigênio nessa atmosfera
O que será, o que será, o que será
O que será da biosfera?
Salve o verde! Salve o verde!
Esta música de Jorge Ben foi gravada pelo Quarteto em Cy do disco Querelas do Brasil de 1978 com uma grande preocupação com o meio ambiente. Ela foi tema de abertura da novela Sinal de Alerta da TV Globo (quando esta fazia algo que prestava...).
As Forças da Natureza
João Nogueira/Paulo César Pinheiro
Quando o sol
Se derramar em toda sua essência
Desafiando o poder da ciência
Pra combater o mal
E o mar com suas águas bravias
Levar consigo o pó dos nossos dias
Vai ser um bom sinal
Os palácios vão desabar
Sob a força de um temporal
E os ventos vão sufocar
O barulho infernal
Os homens vão se rebelar
Dessa farsa descomunal
Vai voltar tudo ao seu lugar
Afinal
Vai resplandecer
Uma chuva de prata do céu vai descer
E o esplendor da mata vai renascer
E o ar de novo vai ser natural
Vai florir
Cada grande cidade o mato vai cobrir
Das ruínas um novo povo vai surgir
E vai cantar, afinal
As pragas e as ervas daninhas
As armas e os homens de mal
Vão desaparecer
Nas cinzas de um carnaval
Música-título do então LP de Clara Nunes gravado em 1977. Já havia uma grande preocupação ambiental...
Quando o sol
Se derramar em toda sua essência
Desafiando o poder da ciência
Pra combater o mal
E o mar com suas águas bravias
Levar consigo o pó dos nossos dias
Vai ser um bom sinal
Os palácios vão desabar
Sob a força de um temporal
E os ventos vão sufocar
O barulho infernal
Os homens vão se rebelar
Dessa farsa descomunal
Vai voltar tudo ao seu lugar
Afinal
Vai resplandecer
Uma chuva de prata do céu vai descer
E o esplendor da mata vai renascer
E o ar de novo vai ser natural
Vai florir
Cada grande cidade o mato vai cobrir
Das ruínas um novo povo vai surgir
E vai cantar, afinal
As pragas e as ervas daninhas
As armas e os homens de mal
Vão desaparecer
Nas cinzas de um carnaval
Música-título do então LP de Clara Nunes gravado em 1977. Já havia uma grande preocupação ambiental...
sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
O Menino Sonhador
Enio Brito
Era uma vez um menino
Que gostava de voar!
Anunciando a liberdade
Para quem soubesse amar!
Ele cantava pelas ruas,
Por becos e povoados,
Um sentimento inquietante,
Que estava sempre do seu lado,
Ele cantava ao mundo inteiro,
num coração desesperado,
Preparando o homem novo,
Para amar e ser amado,
Mas enquanto ele cantava,
Seu coração se entristecia,
Pela ausência de espaços,
Para dizer o que sentia...
E o país era tão grande
Mas a surdez era maior
Até que um dia de repente
Este menino ficou só
Então resolveram calar a sua voz
Então resolveram tombar o seu corpo
Então resolveram tirar-lhe da história
Então resolveram tirar-lhe da glória...
E o menino calou-se no tempo
O sol se entristeceu
A verdade perdeu-se de tudo
Ficou só você e eu...
Menino que anda distante!
Aonde está o seu coração?
Menino eu sou navegante!
Das águas de suas mãos...
Brinquedos Incendiados
Cecília Meireles
Uma noite, houve um incêndio num bazar. E no fogo total desapareceram consumidos os seus brinquedos. Nós, crianças, conhecíamos aqueles brinquedos um por um, de tanto mirá-los nos mostruários - uns, pendentes de longos barbantes; outros, apenas entrevistos em suas caixas. Ah! maravilhosas bonecas louras, de chapéus de seda! pianos cujos sons cheiravam e metal e verniz! carneirinhos lanudos, de guizo ao pescoço! piões zunidores! - e uns bondes com algumas letras escritas ao contrário, coisa que muito nos seduzia - filhotes que éramos, então. de Mr. Jourdain, fazendo a nossa poesia concreta antes do tempo.
Às vezes, num aniversário, ou pelo Natal, conseguíamos receber de presente algum bonequinho de celulóide, modestos cavalinhos de lata, bolas de gude, barquinhos sem possibilidades de navegação... - pois aquelas admiráveis bonecas de filó, aqueles batalhões completos de soldados de chumbo, aquelas casas de madeira com portas e janelas, isso não chegávamos a imaginar sequer para onde iria. Amávamos os brinquedos sem esperança nem inveja, sabendo que jamais chegariam às nossas mãos, possuindo-os apenas em sonho, como se para isso, apenas, tivessem sido feitos.
Assim, o bando que passava, de casa para a escola e da escola para casa, parava longo tempo a contemplar aqueles brinquedos e lia aqueles nítidos preços, com seus cifrões e zeros, sem muita noção de valor - porque nós, crianças, de bolsos vazios, como os namorados antigos, éramos só renúncia e amor. Bastava-nos levar na memória aquelas imagens, e deixar cravados nelas, como setas, os nossos olhos.
Ora, uma noite, correu a notícia de que o bazar incendiara. E foi uma espécie de festa fantástica. O fogo ia muito alto, o céu ficava todo rubro, voavam chispas e labaredas pelo bairro todo. As crianças queriam ver o incêndio de perto, não se contentavam com portas e janelas, fugiam para a rua, onde brilhavam bombeiros entre jorros d'água. A elas não interessavam nada peças de pano, cetins cretones, cobertores, que os adultos lamentavam. Sofriam pelos cavalinhos e bonecas, os trens e palhaços, fechados, sufocados em suas grandes caixas. Brinquedos que jamais teriam possuído, sonho apenas da infância, amor platônico.
O incêndio, porém, levou tudo. O bazar ficou sendo um fumoso galpão de cinzas.
Felizmente, ninguém tinha morrido - diziam em redor. Como não tinha morrido ninguém? pensavam as crianças. Tinha morrido um mundo e, dentro dele, os olhos amorosos das crianças, ali deixados.
E começavamos a pressentir que viriam outros incêndios. Em outras idades. De outros brinquedos. Até que um dia também desaparecêssemos sem socorro, nós, brinquedos que somos, talvez, de anjos distantes!
Uma noite, houve um incêndio num bazar. E no fogo total desapareceram consumidos os seus brinquedos. Nós, crianças, conhecíamos aqueles brinquedos um por um, de tanto mirá-los nos mostruários - uns, pendentes de longos barbantes; outros, apenas entrevistos em suas caixas. Ah! maravilhosas bonecas louras, de chapéus de seda! pianos cujos sons cheiravam e metal e verniz! carneirinhos lanudos, de guizo ao pescoço! piões zunidores! - e uns bondes com algumas letras escritas ao contrário, coisa que muito nos seduzia - filhotes que éramos, então. de Mr. Jourdain, fazendo a nossa poesia concreta antes do tempo.
Às vezes, num aniversário, ou pelo Natal, conseguíamos receber de presente algum bonequinho de celulóide, modestos cavalinhos de lata, bolas de gude, barquinhos sem possibilidades de navegação... - pois aquelas admiráveis bonecas de filó, aqueles batalhões completos de soldados de chumbo, aquelas casas de madeira com portas e janelas, isso não chegávamos a imaginar sequer para onde iria. Amávamos os brinquedos sem esperança nem inveja, sabendo que jamais chegariam às nossas mãos, possuindo-os apenas em sonho, como se para isso, apenas, tivessem sido feitos.
Assim, o bando que passava, de casa para a escola e da escola para casa, parava longo tempo a contemplar aqueles brinquedos e lia aqueles nítidos preços, com seus cifrões e zeros, sem muita noção de valor - porque nós, crianças, de bolsos vazios, como os namorados antigos, éramos só renúncia e amor. Bastava-nos levar na memória aquelas imagens, e deixar cravados nelas, como setas, os nossos olhos.
Ora, uma noite, correu a notícia de que o bazar incendiara. E foi uma espécie de festa fantástica. O fogo ia muito alto, o céu ficava todo rubro, voavam chispas e labaredas pelo bairro todo. As crianças queriam ver o incêndio de perto, não se contentavam com portas e janelas, fugiam para a rua, onde brilhavam bombeiros entre jorros d'água. A elas não interessavam nada peças de pano, cetins cretones, cobertores, que os adultos lamentavam. Sofriam pelos cavalinhos e bonecas, os trens e palhaços, fechados, sufocados em suas grandes caixas. Brinquedos que jamais teriam possuído, sonho apenas da infância, amor platônico.
O incêndio, porém, levou tudo. O bazar ficou sendo um fumoso galpão de cinzas.
Felizmente, ninguém tinha morrido - diziam em redor. Como não tinha morrido ninguém? pensavam as crianças. Tinha morrido um mundo e, dentro dele, os olhos amorosos das crianças, ali deixados.
E começavamos a pressentir que viriam outros incêndios. Em outras idades. De outros brinquedos. Até que um dia também desaparecêssemos sem socorro, nós, brinquedos que somos, talvez, de anjos distantes!
segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
Mulheres de Atenas
Augusto Boal/Chico Buarque
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Vivem pros seus maridos, orgulho e raça de Atenas
Quando amadas se perfumam
Se banham com leite, se arrumam
Suas melenas
Quando fustigadas não choram
Se ajoelham, pedem, imploram
Mais duras penas
Cadenas.
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Sofrem por seus maridos, poder e força de Atenas
Quando eles embarcam, soldados,
Elas tecem longos bordados
Mil quarentenas
E quando eles voltam sedentos
Querem arrancar, violentos,
Carícias plenas,
Obcenas.
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Despem-se pors seus maridos, bravos guerreiros de Atenas
Quando eles se entopem de vinho
Costumam buscar o carinho
De outras falenas
Mas no fim da noite, aos pedaços
Quase sempre voltam pros braços
De suas pequenas
Helenas.
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Geram pros seus maridos os novos filhos de Atenas
Elas não têm gosto ou vontade
Nem defeito nem qualidades
Têm medo apenas
Não têm sonhos, só têm presságios
O seu homem, mares, naufrágios
Lindas sirenas
Morenas.
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Temem por seus maridos, heróis e amantes de Atenas
As jovens viúvas marcadas
E as gestantes abandonadas
Não fazem cenas
Vestem-se de negro, se encolhem
Se conformam e se recolhem
Às suas novenas
Serenas.
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Secam por seus maridos, orgulho e raça de Atenas.
Gravação feita pelo autor em seu disco " Meus Caros Amigos " lançado em 1976. No ano seguinte, as meninas do Quarteto em Cy registraram em seu álbum ao vivo intitulado " Resistindo ".
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Vivem pros seus maridos, orgulho e raça de Atenas
Quando amadas se perfumam
Se banham com leite, se arrumam
Suas melenas
Quando fustigadas não choram
Se ajoelham, pedem, imploram
Mais duras penas
Cadenas.
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Sofrem por seus maridos, poder e força de Atenas
Quando eles embarcam, soldados,
Elas tecem longos bordados
Mil quarentenas
E quando eles voltam sedentos
Querem arrancar, violentos,
Carícias plenas,
Obcenas.
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Despem-se pors seus maridos, bravos guerreiros de Atenas
Quando eles se entopem de vinho
Costumam buscar o carinho
De outras falenas
Mas no fim da noite, aos pedaços
Quase sempre voltam pros braços
De suas pequenas
Helenas.
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Geram pros seus maridos os novos filhos de Atenas
Elas não têm gosto ou vontade
Nem defeito nem qualidades
Têm medo apenas
Não têm sonhos, só têm presságios
O seu homem, mares, naufrágios
Lindas sirenas
Morenas.
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Temem por seus maridos, heróis e amantes de Atenas
As jovens viúvas marcadas
E as gestantes abandonadas
Não fazem cenas
Vestem-se de negro, se encolhem
Se conformam e se recolhem
Às suas novenas
Serenas.
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Secam por seus maridos, orgulho e raça de Atenas.
Gravação feita pelo autor em seu disco " Meus Caros Amigos " lançado em 1976. No ano seguinte, as meninas do Quarteto em Cy registraram em seu álbum ao vivo intitulado " Resistindo ".
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