quarta-feira, 15 de julho de 2020

25 de fevereiro

Por que não lhe disse antes? Apertá-lo demoradamente contra o meu peito e dizer. Não disse porque pensava que tinha pela frente a eternidade. Só me resta agora esperar que aconteça outra vez, vislumbro esse encontro - mas vou reconhecê-lo? E vou me reconhecer nos farrapos da memória do meu eu? Peço que me faça um sinal e responderei ao código secreto na noite e no silêncio dos navios que se comunicam quando se cruzam no mar.

Trecho 25 de fevereiro, de Lygia Fagundes Telles, do livro A Disciplina do Amor - fragmentos. Editora Nova Fronteira, 7ª Edição, 1980.

terça-feira, 14 de julho de 2020

A melhor e a pior comida do mundo

Há mais de dois mil anos, um rico mercador grego tinha um escravo chamado Esopo. Um escravo corcunda, feio, mas de sabedoria única no mundo. Certa vez, para provar as qualidades de seu escravo, o mercador ordenou:

- Toma, Esopo. Aqui está esta sacola de moedas. Corre ao mercado. Compra lá o que houver de melhor para um banquete. A melhor comida do mundo!

Pouco depois, Esopo voltou do mercado e colocou sobre a mesa um prato coberto por fino pano de linho. O mercador levantou o paninho e ficou surpreso:

- Ah! Língua? Nada como a boa língua que os pastores gregos sabem tão bem preparar. Mas por que escolheste exatamente a língua como a melhor comida do mundo?

O escravo, de olhos baixos, explicou sua escolha:

- O que há de melhor do que a língua, senhor? A língua é que nos une a todos, quando falamos. Sem a língua, não poderíamos nos entender. A língua é a chave das ciências, o órgão da verdade e da razão. Graças à língua é que se constroem as cidades, graças à língua podemos dizer o nosso amor. A língua é o órgão do carinho, da ternura, da compreensão. É a língua que torna eternos os versos dos grandes poetas, as ideias dos grandes escritores. Com a língua se ensina, se persuade, se instrui, se reza, se explica, se canta, se descreve, se elogia, se demonstra, se afirma. Com a língua, dizemos "mãe", "querida" e "Deus". Com a língua, dizemos "sim". Com a língua, dizemos "eu te amo"! O que pode haver de melhor do que a língua, senhor?

O mercador levantou-se entusiasmado!

- Muito bem, Esopo! Realmente, tu me trouxeste o que há de melhor. Toma agora esta outra sacola de moedas; vai de novo ao mercado e traze o que houver de pior, pois quero ver a tua sabedoria!

Mais uma vez, depois de algum tempo, o escravo Esopo voltou do mercado trazendo um prato coberto por um pano. O mercador recebeu-o com um sorriso.

- Hum... Já sei o que há de melhor. Vejamos agora o que há de pior...

O mercador descobriu o prato e ficou indignado:

- O quê? Língua? Língua outra vez? Não disseste que a  língua era o que havia de melhor? Queres ser açoitado?

Esopo encarou o mercador e respondeu:

- A língua, senhor, é o que há de pior no mundo. É a fonte de todas as intrigas, o início de todos os processos, a mãe de todas as discussões. É a língua que separa a humanidade, que divide os povos. É a língua que usam os maus políticos quando querem nos enganar com suas falsas promessas. É a língua que usam os vigaristas quando querem trapacear. A língua é o órgão da mentira, da discórdia, dos desentendimentos, das guerras, da exploração. É a língua que mente, que esconde, que engana, que explora, que blasfema, que insulta, que se acovarda, que mendiga, que xinga, que bajula, que destrói, que calunia, que vende, que seduz, que corrompe. Com a língua, dizemos "morre", "canalha" e "demônio". Com a língua, dizemos "não". Aí está, senhor, porque a língua é a pior e a melhor de todas as coisas!

Adaptação feita por Pedro Bandeira, de trecho da peça teatral "A Raposa E As Uvas", de Guilherme de Figueiredo.

segunda-feira, 13 de julho de 2020

Bicho de Estimação

Um cara vivia sozinho, até que decidiu que sua vida seria melhor se ele tivesse um animalzinho de estimação como companhia.

Assim, ele foi até a loja, falou ao dono que queria um bichinho que fosse incomum.

Depois de um tempo, chegaram à conclusão de que ele deveria ficar com uma centopéia. Centopéia seria mesmo um bichinho incomum...

Um bichinho tão pequeno, com cem pés... É realmente incomum!! A centopéia veio dentro de uma caixinha branca, que seria usada para ser a sua casinha...

Bem, ele levou a caixinha para casa, achou um bom lugar para colocar tão pequenina caixinha, e pensou que o melhor começo para sua nova companhia seria levá-la até o bar, para tomarem uma cervejinha...

Assim, ele perguntou à centopéia, que estava dentro da caixinha:

- "Gostaria de ir comigo até o Frank's tomar uma cerveja?"

Mas... Não houve resposta da sua nova amiguinha.

Isso deixou-o meio chateado. Esperou um pouco e perguntou de novo:

- "Que tal ir comigo até o bar tomar uma cervejinha, hein?"

Mas, de novo, nada de resposta da nova amiguinha...

De novo, ele esperou mais um pouco, pensando e pensando sobre o que estava acontecendo...

Decidiu perguntar de novo, mas desta vez, chegou o rosto bem perto da caixinha e gritou:

- "EI, VOCÊ AÍ!!! QUER OU NÃO IR COMIGO ATÉ O FRANK'S TOMAR UMA CERVEJA??"

Uma pequena voz veio de lá de dentro da caixinha:

- "Eu já ouvi desde a primeira vez, CARA! Estou calçando os sapatos, PORRA!"

Autoria desconhecida.

Coisas de Viado - Versão 2003 (Pra rir e não levar a sério!)

1- Usar cores exóticas:
Você, quando vai comprar uma camisa, ao invés de dizer "me dê aquela marrom clara", você diz "me dê aquela creme"? Talvez você não tenha percebido, mas você é viado. Creme, salmão, verde-água, azul-bebê, porra nenhuma. Só existem 7 cores no mundo masculino (e se você pensou nas sete cores do arco-íris, você é um viadinho-mór). Azul, preto, branco, verde, vermelho, amarelo, marrom e só. Valem as derivações, como azul-escuro, verde-escuro... O resto é viadagem. Cinza é preto+branco. Rosa é vermelho+branco. Laranja é vermelho+amarelo. Azul marinho é igual a preto. Lima é fruta. Vinho é bebida. Roxo é viadagem. E pronto.

2- Segurar sacolas e sacos plásticos pela alça:
Quando você faz uma compra, segura a sacola ou saco pela alça? Sim? Olha aí: Viado!! Segura essa porra de sacola pelo corpo e não pela alcinha, assim como fazem os estivadores, que carregam as cargas pelo corpo, pois essas não têm alcinhas.

3- Ficar parado na escada rolante esperando chegar no final:
Bicha Cansada!! Escada é pra andar, não pra ficar parado. Se a escada é rolante, problema é dela. Faça a sua parte e ande pra chegar mais rápido ao final. Se disser que está cansado, vá de elevador.

4- Tomar sucos de frutas misturadas:
"Moço, me dê um suco de laranja com mamão". Baitola!! Que viadagem é essa? Ou você toma de laranja ou de mamão. Ou então um depois do outro, mas os dois misturados é viadagem!!

5- Dizer que gosta de sobremesa:
Você é daqueles que adoram pavê, jojô-cake, casadinho? Viadinho!! Homem que é homem não gosta de docinhos. No máximo, depois do almoço, um pedaço de goiabada. E se alguém olhar com cara de desconfiado, diga que é pra tirar o gosto da feijoada que você comeu antes.

6- Não ter cicatrizes no corpo:
Você é um cara que não tem cicatrizes? Que passou toda sua vida ileso, sem arranhão? Viadão!! Homem mesmo cai no chão, se arranha no arame farpado, se queima com fogo, toma porrada e mais porrada, etc... Nada mais do que sinais de virilidade. Sinais de que você não é menino criado em casa de avó com carpete persa e que nunca podia descer ao playground pra jogar bola.

7- Dizer que vai pra praia pra tomar sol:
Quando você vai à praia você diz que vai "pegar um bronzeado"? Boiola!! Homem não pega sol. O sol é que pega ele. Homem quando vai à praia é pra jogar bola, beber com os amigos, paquerar, surfar, etc... Bronzear é consequência de estar exposto ao sol. E nem pensar em bloqueador solar, muito menos creme.

8- Raspar os pelos do corpo com exceção da barba/bigode:
Que é isso, cara? Não acredito que você perde seu tempo se depilando, seu Viado pelado!! Homem só pode raspar a barba e o bigode, e de preferência quando forem falhos, pra não parecer ridículo. Raspar o peito, o sovaco, as pernas, não!! Até a bunda tem gente raspando. Se você se parece com o Tony Ramos, azar o seu. Aceite seu aspecto de urso e mude-se para a Sibéria.

9- Fazer Aeróbica, ginástica localizada?:
É bom para o corpo? Pô, mas que legal. Legal pra você, seu VI - A - DO!! Macho só vai à academia pegar peso e tarar as mulheres, o resto é viadagem da grande.

10- No sábado, você gosta de tomar um sorvetinho enquanto passeia no shopping com sua namorada, não é mesmo?!
Você não passa de um tremendo de um Viado!! Sábado é sinônimo de futebol, de cerveja, de churrasco, pagode e mulher. Macho vai para o shopping com a namorada no domingo, no horário do Faustão. Enquanto ela olha as promoções, você fica tomando um chopp na praça de alimentação. (Observando os outros machos na mesma situação... Coisa de Viado!!) Acrescentado por mim... kkkk

11- "Garçom, uma coca-cola e um copo com gelo e limão, por favor!" 
Afinal, você quer tomar coca ou soda limonada, seu Viado?? E que viadagem é essa de "copo"? Copo um cacete! Tome essa porra na lata mesmo, sua bicha!!

12- Você é do tipo que frequenta academia de dança para "desinibir", "soltar as cadeiras"... Coisas assim?
Você tá é disfarçado, sua bicha-bailarina!! Que baitolagem é essa?? Homem macho não precisa ficar "soltando a franga" em dança de salão. Esse negócio de dança só serve pra paquera... E tem que ser rosto-no-rosto, barriga-na-barriga, tem que chamar a dama na chincha mesmo, no rala-rala!! Sua bichona!!

Autoria desconhecida... Obviamente, uma crítica aos enrustidos, aos preconceituosos...


domingo, 12 de julho de 2020

Um Momento Para Pensar

A vida nunca ensina coisa alguma.
É você quem decide se há uma lição em cada alegria,
cada tristeza e cada dia comum pelo qual passa,
ou se desperdiça todos os momentos de prazer e dor.
Não são os fatos que acontecem que fazem
com que você aprenda algo,
mas somente suas respostas e reações
àquilo que acontece.
Também não são as experiências de sua vida,
desde a infância,
que transformaram você na pessoa que é hoje,
mas somente a maneira como reagiu,
ou respondeu, àquilo que você viveu.

Veja que são coisas bem diferentes.
Tudo o que você é, tudo o que você foi
e tudo o que você será tem relação direta
com o jeito como você age quando uma coisa boa, 
ou má, acontece na sua vida.

Exatamente por isso,
uma mesma situação pode levar uma
pessoa a tornar-se mais ácida, deprimida,
cínica e isolada,
enquanto outra... Na exata mesma situação...
Aproveita para se tornar alguém melhor,
com mais fé, coragem,
resistência e confiança no espírito humano ou
em seu próprio potencial de ser feliz.

Coisas boas e coisas ruins acontecem
a todos os seres humanos de modo aleatório,
mas consistente com leis matemáticas e 
universais de ação e reação.
Por isso não é possível vivermos em um paraíso,
mas podemos ser um oásis de paz no meio
das guerras que muitas outras pessoas vivem,
se nos lembrarmos de que não podemos
escolher tudo o que nos acontece,
mas quase sempre podemos escolher
o modo como reagimos àquilo que nos acontece.

Podemos fugir à tristeza? Não.
Podemos impedir todas as perdas? Não.
Podemos prender a nós todos os que amamos? Não.
Mas podemos usar os momentos
de dor e separação como razão para
tornar ainda mais importantes os momentos
nos quais estamos ao lado do que amamos;
podemos tornar nosso trabalho mais profundo,
podemos nos tornar pessoas diferentes
daquilo que já fomos.
Podemos escolher nossas reações.
Podemos ser, hoje, melhores do que fomos ontem.

Mesmo quando a realidade é dura,
sua reação,
sua resposta a ela pode levar você para frente,
para novos horizontes e uma vida
mais rica ou pode derrubar você.
Se isso acontecer e você cair no chão,
faça com que seja uma queda temporária.
Levante-se e ande.

O fracasso só existe se você não se
levantar após uma queda.
Cabe a você... E somente a você...
Escolher se os acontecimentos de ontem,
hoje e amanhã serão usados para torná-lo
uma pessoa melhor ou pior do que você é agora.

É apenas uma escolha. A sua escolha.
Qual será sua escolha hoje?

Autoria desconhecida.

sábado, 11 de julho de 2020

Eminência Parda

Eu já não quero disfarçar mais nada
Eu não consigo andar mais escondido
Eu não aguento mais ficar calado
E nem passar mais desapercebido

Não quero ser uma eminência parda
E sim uma evidência colorida
Não quero ser a sombra em sua estrada
E sim o grande amor da sua vida

Eu quero que eles saibam que eu existo
Que entre nós é mais do que amizade
Quero cantar o nosso amor num grito
E escandalizar toda cidade
Quero que saibam que você me ama
Que toda noite eu durmo em sua cama

Que me derreto todo nos seus beijos
E realizo todos seus desejos

Eu quero que eles falem pelas ruas
Que eu sou mesmo dono de você
Queimados pelo sol e a luz da lua
Escancarar pra todo mundo ver

Eu não aguento mais ficar calado
E nem passar mais desapercebido
Não quero ser uma eminência parda
E sim uma evidência colorida
Eu quero que eles saibam que eu existo
Que entre nós é mais do que amizade
Quero cantar o nosso amor num grito
E escandalizar toda cidade

Quero que saibam que você me ama
Que toda noite eu durmo em sua cama
Que me derreto todo nos seus beijos
E realizo todos seus desejos

Eu quero que eles falem pelas ruas
Que eu sou mesmo dono de você
Queimados pelo sol e a luz da lua
E te beijar pra todo mundo ver
Eu quero que eles falem pelas ruas
Que eu sou mesmo dono de você
Queimados pelo sol e a luz da lua
Escancarar pra todo mundo ver

Eu quero que eles falem pelas ruas
Que eu sou mesmo dono de você
Queimados pelo sol e a luz da lua
E te beijar pra todo mundo ver
Queimados pelo sol e a luz da lua
Escancarar pra todo mundo ver

Música que abre o CD da cantora Marry Martins lançado em 2005. (Adaptação parcial da letra)

sexta-feira, 10 de julho de 2020

Os Quatro Alunos

Uma fábula sobre as diferentes maneiras de ser estudante, escrita por um aluno...

Esta é uma história que se passa em qualquer canto do Brasil, em qualquer escola, com qualquer aluno, comigo, com você... Eram quatro rapazes que estudavam numa escola em uma mesma classe: Arrependido, Falso, Mínimo e Quero-Tentar.

Arrependido era um rapaz desanimado com os estudos, não fazia nada na sala de aula e muito menos os deveres de casa. Não pensava no seu futuro e vivia achando que estava perdendo tempo naquela escola e por isso arrependia-se por não poder ficar pelas ruas com seus colegas. Por não gostar de estudar, tirava notas baixas.

Falso era um cara mentiroso e um pouco preguiçoso para com os estudos. Ou copiava de alguém ou falsificava o que fazia; na realidade mesmo, nada fazia e era falso quanto sua própria nota - apesar de ser razoável - pois tudo que precisava era "colar" ou confiar no amigo na hora da avaliação, raramente isso falhava.

Mínimo era um rapaz que não pensava em ir muito longe, para este o que importava era conseguir uma nota que o aprovasse, portanto, estudava pouco, mas não passava disso, 60% era o bastante e contentava-se com este mínimo. Sempre tinha um pensamento "Tenho boas notas porque não perdi nenhuma".

Quero-Tentar gostava do que fazia. Quando lhe apresentavam algo novo, um problema que ele não soubesse, ele dizia "vou tentar resolvê-lo" e quase sempre conseguia mesmo. Não era nem mais e nem menos inteligente do que os outros, mas tinha muita força de vontade. Suas notas eram boas, porém, não estudava para tirar notas e sim para ficar sabendo. Este era aluno todos os dias e sua persistência o ajudava a vencer.

Assim, Quero-Tentar era o primeiro da classe. Em termos de aprendizagem, Mínimo era o penúltimo, Falso era o último, pois só tinha nota e nada sabia e Arrependido abandonou a Escola.

Hoje, todos já são homens e cada um deles teve seus destinos.

Arrependido mora numa grande favela chamada TARDE-DEMAIS.

Falso, queria ser político, mas foi infeliz porque descobriram sua falsidade; foi julgado e condenado por um Juiz chamado VERDADE.

Mínimo, com seu conhecimento mínimo, é um soldado mínimo das Forças Armadas, ganha um salário mínimo e tem um Comandante exigente chamado MÁXIMO que sempre lhe cobra 100%.

Quero-Tentar se saiu melhor; hoje é presidente de um país chamado "REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DOS SUCESSOS".

Texto de Marcos José Ferreira, da Escola Estadual Professor Cândido Gomes, em Alvinópolis - MG.

quinta-feira, 9 de julho de 2020

Quem Sou Eu?

Tenho, em média, 18 cm, minha função é 
apreciada por pessoas de ambos os sexos.

Geralmente estou pendurado, balançando pronto
para ação imediata...

Ostento um montinho de pequenos cabelinhos
numa ponta e noutra termino de forma
arredondada.

Em uso, estou inserido, quase sempre disposto,
algumas vezes devagar, outras vezes
rapidamente, num buraco quente, carnudo e
úmido.

Sou empurrado pra dentro, puxado pra trás,
empurrado novamente, puxado de novo várias
vezes em sucessão, algumas vezes rapidamente
e acompanhado de movimento de torção
corporal.

Qualquer pessoa que ouvir o barulho quando
estou em uso irá quase sempre reconhecer o
som rítmico e pulsante, resultante de
movimentos bem lubrificados.

Quando finalmente sou tirado do buraco, deixo
um líquido branco, meio espumante, que
necessitará ser limpo do buraco e em toda sua
volta e também do meu longo e brilhante corpo.

Depois que tudo terminou e o líquido parou de
emanar, eu então, descanso, depois, fico
pendurado e balançando, pronto para um pouco
mais de ação.

Meu sonho é ser usado 4 ou 5 vezes por dia
mas, quase sempre é muito menos.

Quem sou eu??

Como você já deve ter adivinhado logo no início,
eu sou,
nada mais e nada menos que...
sua própria...
ESCOVA DE DENTES!!!

Seu pervertido...
O que você pensou que eu fosse??

Texto sem autoria identificada.

quarta-feira, 8 de julho de 2020

Voy a guardar mi lamento

Él era el agua que yo bebía
Era la fuente de mi alegría
Sentí orgullo de andar con él
Saberme suyo, tenerlo a él

Hoy lo he perdido
Sangra mi pecho
Pero ninguno
Oirá de mi quejido

Voy a guardar mi lamento para cuando yo esté solo

Ele era a água que eu bebia
Ele era a fonte da minha alegria
Sentia orgulho namorar com ele
Ele era meu e eu era dele

Tudo acabado
Fiquei tão triste
Mas não me queixo
Ninguém vai me ver chorando

Eu vou guardar o meu lamento
Pra quando estiver sozinho

Voy a guardar mi lamento para cuando yo esté solo

Música de Raul Vasquez (em espanhol e português) que fecha o CD Idilio, de Marina de La Riva, lançado em 2012.


terça-feira, 7 de julho de 2020

O Gigolô de Palavras

Quatro ou cinco grupos diferentes de alunos do Farroupilha estiveram la em casa numa mesma missão designada por seu professor de Português: saber se o estudo da Gramática era indispensável para usar a nossa ou qualquer outra língua. (...) Suspeitei de saída que o tal professor lia esta coluna, se descabelava diariamente com as suas afrontas às leis da língua e aproveitava aquela oportunidade para me desmascarar. Já estava até preparando, às pressas, minha defesa ("é culpa da revisão"). Mas os alunos desfizeram o equívoco antes que ele se criasse. Vocês têm certeza que não pegaram o Veríssimo errado? Não. Então vamos em frente.

Respondi que a linguagem, qualquer linguagem, é um meio de comunicação e que deve ser julgada exclusivamente como tal. Respeitadas algumas regras básicas da Gramática, para evitar vexames mais gritantes, as outras são indispensáveis. A sintaxe é uma questão de uso, não de princípios. Escrever bem é escrever claro, não necessariamente certo. Por exemplo: dizer "escrever claro" não é certo, mas é claro, certo? O importante é comunicar. (É quando é possível surpreender, iluminar, divertir, comover... Mas aí entramos na área do talento, que também não tem nada a ver com a Gramática). A Gramática é o esqueleto da língua. Só predomina nas línguas mortas, e aí é de interesse restrito a necrólogos e professores de latim, gente em geral pouco comunicativa!! (...) É o esqueleto que nos traz de pé, certo, mas ele não informa nada, como a Gramática é a estrutura da língua mas sozinha não diz nada, não tem futuro. As múmias conversam entre si em Gramática pura.

Claro que eu não disse tudo isso para meus entrevistadores. E adverti que minha implicância com a Gramática na certa se devia à minha pouca intimidade com ela. Sempre fui péssimo em Português. Mas - isto eu disse - vejam vocês, a intimidade com a Gramática é tão dispensável que eu ganho a vida escrevendo, apesar da minha total inocência na matéria. Sou um gigolô das palavras. Vivo às suas custas. E tenho com elas a exemplar conduta de um cáften profissional. Abuso delas. Só uso as que eu conheço, as desconhecidas são perigosas e potencialmente traiçoeiras.Exijo submissão. Não raro, peço a elas flexões inomináveis para satisfazer um gosto passageiro. Maltrato-as, sem dúvida. E jamais me deixo dominar por elas. Não me meto na sua vida particular. Não me interessa seu passado, suas origens, sua família nem o que os outros já fizeram com elas. Se bem que não tenha também o menor escrúpulo em roubá-las de outro, quando acho que vou ganhar com isto. As palavras, afinal, vivem na boca do povo. São faladíssimas. Algumas são de baixo calão. Não merecem o mínimo respeito.

Um escritor que passasse a respeitar a intimidade gramatical das suas palavras seria tão ineficiente quanto um gigolô que se apaixonasse pelo seu plantel. Acabaria tratando-as com a deferência de um namorado ou com a tediosa formalidade de um marido. A palavra seria sua patroa. Com que cuidados, com que temores e obséquios ele consentiria em sair com elas em público, alvo de impiedosa atenção dos lexicógrafos, etimologistas e colegas. Acabaria impotente, incapaz de uma conjunção. A Gramática precisa apanhar todos os dias para saber quem é que manda!!

Luís Fernando Veríssimo.