domingo, 19 de setembro de 2021
Trecho da Pedagogia da Autonomia
sábado, 18 de setembro de 2021
Ascetismo
Existem pessoas que, a pretexto de buscarem a paz espiritual, odeiam o mundo, literalmente, e se entregam a uma vida de desprezo a tudo e a todos, num ascetismo fanático, longe da lógica e da razão.
Algumas, embora nos mereçam respeito pelo esforço e intenção, não passam de personalidades psicopatas, que se entregam a mecanismos de fuga sob pretextos que se lhes tornam fundamentais.
Pretendem a felicidade espiritual por meio da mortificação física e creem que, no recolhimento pessoal e no isolamento, conseguirão a morte do ego.
Propõem-se e entregam-se à inação como meta de vida, na expectativa de uma paz que é inoperância, anulação do ser.
O espírito reencarna para evoluir e jamais para estagnar.
A reencarnação é processo de iluminação pelo trabalho, pela transformação moral.
Renascimento significa oportunidade de crescimento pelo amor e pela sabedoria.
Quem se isola, reserva-se a negação da vida e o desrespeito a Deus, embora sob a justificativa de buscá-lO.
Em toda a Criação vibram em uníssono, as notas ritmadas da ação, que gera o progresso, e do movimento, que responde pela ordem universal.
Inatividade e água estagnada guardam os miasmas da morte.
No célebre diálogo entre Krishna e Arjuna, responde o Bem-aventurado ao jovem príncipe pândava, a respeito da ação, na Bhagavad-Gita:
- É vã quão vergonhosa a vida do homem que, vivendo neste mundo de ação, tenta abster-se da ação; que, gozando o fruto da ação do mundo ativo, não coopera, mas vive em ociosidade. Aquele que, aproveitando a volta da roda, em cada instante de sua vida, não quer pôr a mão à roda para ajudar a movê-la é parasita, e um ladrão que toma sem dar coisa alguma em troca.
E prossegue:
- Sábio é, porém, aquele que cumpre bem os seus deveres e executa as obras que são para fazer-se no mundo, renunciando a seus frutos, concentrado na ciência do Eu Real. (*)
Jesus, o excelente Mestre, viveu trabalhando e exaltando o valor da ação como meio de dignificação e paz.
Dentro do mesmo enfoque, Allan Kardec estabeleceu a tríade do Trabalho, Solidariedade e Tolerância, completando que, só a Caridade salva, por ser esta a ação do amor a serviço do homem e da Humanidade.
(*) Bhagavad-Gita - Tradução de Francisco Valdomiro Lorenz - 4ª Edição, Editora O Pensamento (Nota da autora espiritual)
Texto retirado do livro Momentos de Meditação; Divaldo Franco pelo espírito Joanna de Ângelis, Livraria Espírita Alvorada Editora, Salvador, 3ª edição, 2014.
sábado, 11 de setembro de 2021
Jesus
Comiam todos o caldo, recolhidos e calados, quando o menino disse:
- Sei um ninho!
A Mãe levantou para ele os olhos negros, a interrogar. O Pai, esse, perdido no alheamento costumado, nem ouviu. Mas o pequeno, ou para responder à Mãe, ou para acordar o Pai, repetiu:
- Sei um ninho!
O velho ergueu finalmente as pálpebras pesadas, e ficou atento, também.
A criança, então, um tudo-nada excitada, contou. Contou que à tarde, na altura em que regressava a casa com a ovelha, vira sair um pintassilgo de dentro dum grande cedro. E tanto olhara, tanto afiara os olhos para a espessura da rama, que descobrira o manhuço negro, lá no alto, numa galha.
A Mãe bebia as palavras do filho, a beijá-lo todo com a luz da alma. O Pai regressou ao caldo.
Mas o menino continuou. Disse que então prendera a cordeira a uma giesta e trepara pela árvore acima.
De novo o Pai levantou as pálpebras cansadas, e ficou tal e qual a Mãe, inquieto, com a respiração suspensa, a ouvir.
E o pequeno ia subindo. O cedro era enorme, muito grosso e muito alto. E o corpito, colado a ele, trepava devagar, metade de cada vez. Firmava primeiro os braços; e só então as pernas avançavam até onde podiam. Aí paravam, fincadas na casca rija.
A subida levou tempo. Foi até preciso descansar três vezes pelo caminho, nos tocos duros dos ramos. Por fim, o resto teve de ser a pulso, porque eram já só vergônteas as pernadas da ponta.
Transidos, nem o Pai nem a Mãe diziam nada. Deixavam, apavorados, mudos, que o pequeno chegasse ao cimo, à crista, e pusesse os olhos inocentes no ovo pintado. O ninho tinha só um ovo.
Aqui, o menino fez parar o coração dos pais. Inteiramente esquecido da altura a que estava, procedera como se viver ali, perto do céu, fosse viver na terra, sem precisão dos braços cautelosos agarrados a nada. E ambos viram num relance o pequeno rolar, cair do alto, da ponta do cedro, no chão duro e mortal de Nazaré.
Mas a criança, apesar de mostrar, sem querer, que de todo se alheara do abismo sobre que pairava, não caiu. Acontecera outra coisa. Depois de pegar no ovo, de contente, dera-lhe um beijo. E, ao simples calor da sua boca, a casca estalara ao meio e nascera lá de dentro um pintassilgo depenadinho.
E o menino contava esta maravilha com a sua inocência costumada, como quando repetia a história de José do Egito, que ouvira ler a um vizinho.
Por fim, pôs amorosamente o passarinho entre a penugem da cama, e desceu. E agora, um nada comprometido, mas cheio da sua felicidade, sabia um ninho.
A ceia acabou num silêncio carregado. Só depois, à volta do lume quente do cepo de oliveira em brasido, é que os pais disseram um ao outro algumas palavras enigmáticas, que o pequeno não entendeu. Mas para quê entender palavras assim? Queria era guardar dentro de si a imagem daquele passarinho depenado e pequenino. Isso, e ao mesmo tempo olhar cheio de deslumbramento os dedos da Mãe, que, alvos de neve, fiavam linho.
E tanto se encheu da imagem do pintassilgo, tanto olhou a roca, o fuso, e aqueles dedos destros e maravilhosos, que daí a pouco deixou cair a cabeça tonta de sono no regaço virgem da Mãe.
Conto de Miguel Torga retirado do livro Bichos, Editora Coimbra, 5ª Edição, 1984.
Caminho da Autoiluminação
O homem atinge um alto nível de evolução quando consegue unir o sentimento e o conhecimento, utilizando-os com sabedoria.
Nesse estágio é-lhe mais fácil desenvolver a paranormalidade, realizando o autodescobrimento e canalizando as energias anímicas e mediúnicas para o serviço de consolidação do bem em si mesmo e na sociedade.
O seu amadurecimento psicológico permite-lhe compreender toda a magnitude das faculdades parapsíquicas, superando os impedimentos que habitualmente se lhe antepõem à educação.
Desse modo, a mediunidade põe-se em contato com o mundo espiritual de onde procede a vida e para o qual retorna, quando cessado o seu ciclo material, ensejando-lhe penetrar realidades que se demoram ignoradas, incursionando com destreza além das vibrações densas do corpo carnal.
O exercício das faculdades mediúnicas, no entanto, se reveste de critérios e cuidados, que somente quando levados em conta propiciam os resultados pelos quais se anela.
A mediunidade é inerente a todos os indivíduos, em graus de diferente intensidade. Como as demais, é uma faculdade amoral, manifestando-se em bons e maus, nobres e delinquentes, pobres e ricos.
Pode expressar-se com alta potencialidade de recursos em pessoas inescrupulosas, e quase passar despercebida em outras, portadoras de elevadas virtudes.
Surge em criaturas ignorantes, enquanto não é registrada nas dotadas de cultura.
É patrimônio da vida para crescimento do ser no rumo da sua destinação espiritual.
O uso que se lhe dê responderá por acontecimentos correspondentes no futuro do seu possuidor.
Uma correta educação da mediunidade tem início no estudo das suas potencialidades: causas, aplicações e objetivos.
Adquirida a consciência mediúnica, o exercício sistemático, sem pressa, contribui para o equilíbrio das suas manifestações.
Uma conduta saudável, calcada nos princípios evangélicos, atrai os bons Espíritos, que passam a cooperar em favor do medianeiro e da tarefa que ele abraça, objetivando os melhores resultados possíveis de empreendimento.
O direcionamento das forças mediúnicas para fins elevados propicia qualificação superior, resultando em investimento de saber eterno.
Se te sentes portador de mediunidade, encara-a com sincero equilíbrio e dispõe-te a aplicá-la bem.
O homem ditoso do futuro será um indivíduo PSI, um sensível e consciente instrumento dos Espíritos, ele próprio lúcido e responsável pelos acontecimentos da sua existência.
Desveste-te de quaisquer fantasias em torno dos fenômenos de que és objeto e encara-os com realismo, dispondo-te à sua plena utilização.
Amadurece reflexões em torno deles e resguarda-os das frivolidades, exibicionismos vãos, comercialização vil, recurso para a exaltação da personalidade ou das paixões inferiores.
Sê paciente com os resultados e perseverante nas realizações.
Toda sementeira responde à medida que o tempo passa.
A educação da mediunidade requer tempo, experiência, ductilidade do indivíduo, como sucede com as demais faculdades e tendências culturais, artísticas e mentais que exornam o homem.
Quem seja portador de cultura, de bondade e sinta a presença dos fenômenos paranormais, está a um passo da realização integral, a caminho próximo da autoiluminação.
Texto retirado do livro Momentos de Iluminação; Divaldo Franco pelo espírito Joanna de Ângelis, Livraria Espírita Alvorada Editora, Salvador, 4ª Edição, 2015.
sábado, 4 de setembro de 2021
Companhia Perturbadora
Reflexionas, sofrido, em tentativas racionais para compreender por que pessoas aparentemente generosas falam mal de ti, são inamistosas para contigo, recusam a tua presença fraterna...
Consideras, magoado, que nada de mal lhes fizeste, antes reservaste respeito e consideração para com elas.
Intentastes um relacionamento agradável, e foste repelido.
Supões que se trata de antipatia provinda de existências passadas...
Não apenas estes, a quem conheces, opõem-se a ti e comentam desairosamente a teu respeito.
Ouviram falar sobre ti, ou viram-te em um momento breve, não possuindo justificativas para objetar-se aos teus labores.
Multiplicam-se, porém, em todas as áreas humanas, estas ocorrências.
Inimigos surgem inesperadamente, retalhando os grupos sociais com as tesouras da intriga, da maledicência, da malquerença.
Se pudesses ou devesses interrogá-los pelos motivos da inimizade, argumentariam com veemência, explicariam de variada forma, todavia, não se dariam conta da geradora real desse desconcerto.
Sabendo disfarçar-se, ela permanece oculta, no entanto destila veneno e atira petardos aguçados que atingem muitas vidas.
Essa companheira perturbadora é a inveja.
Aqueles que não cresceram emocionalmente cultivam-na, infelizes com o triunfo dos outros, a sua aparência de felicidade, a beleza, a inteligência e a saúde de que sejam portadores...
O invejoso não necessita de razões para externar os sentimentos inferiores, que se convertem em rancor, ojeriza ou sistemática perseguição.
Desejando superar as demais criaturas, não vence as más inclinações morais, entregando-se à campanha inglória da crucificação de outras vidas.
Luta com tenacidade contra a inveja.
Dilui o sentimento negativo na solução do respeito às conquistas alheias.
Desconheces os testemunhos ocultos e silenciosos daqueles a quem invejas ou contra os quais competes.
Muitos desses indivíduos são mais nobres do que parecem, porquanto, sob dores morais e físicas muito fortes, não se deixam trair, aparentando uma realidade que não estão vivendo, como forma de preservar o equilíbrio social e familiar.
O êxito, a fama, o destaque, a glória são conquistas efêmeras, e aqueles que as alcançam oferecem um tributo muito pesado.
Não invejes ninguém nem posição alguma.
Contenta-te com o que tens, o que és; anelas e luta pelo teu crescimento interior e a tua realização plenificadora.
Não é o volume do que se faz, que realmente revela a pessoa que o realiza. Cada ser vale a medida do seu esforço em relação aos recursos de que dispõe.
Executa o teu trabalho com amor, e dá-lhe o toque de ternura pessoal que o tornará especial e exclusivo.
Jesus referiu-se à fé do tamanho de um grão de mostarda, à alegria pelo reencontro de uma insignificante dracma que estava perdida, valorizando as pequenas-grandiosas coisas da vida como de real importância.
Assim, vigia as nascentes dos teus sentimentos, a fim de que a inveja não se transforme em algoz das tuas aspirações e tormentosa inimiga daqueles que lutam e sofrem, no processo da evolução, no qual todos nos encontramos situados.
Texto retirado do livro Momentos de Harmonia; Divaldo Franco pelo espírito Joanna de Ângelis; Livraria Espírita Alvorada Editora, Salvador, 3ª Edição, 2014.
sexta-feira, 3 de setembro de 2021
Mal Nenhum
Enquanto a vida cai ao seu redor
Lamento te encontrar assim!
Enquanto tudo pode ser melhor
Você só pode achar ruim!
E já vai longe
O tempo que a gente se entendeu
Longe como um sonho que já se perdeu!
Longe, tão distante
O professor de mim, lamento de enxergar assim!
Aonde havia força, uma luz
Há hoje o medo de mostrar
Um lado fraco, o passo que conduz
A vida ao seu real lugar,
Pois não há mal nenhum
Em se deixar transparecer
Tudo aquilo que à gente faz temer
Mal nenhum não ser capaz de esconder
Sofrer para encontrar a paz
E não há mal nenhum não ser
Um super homem não
Mal nenhum em evitar comparação
Então quem sabe lá no fundo ainda
Possa ver
Meu velho amigo, meu irmão
De novo!
Música de Fernando Forni gravada no CD Amálgama, de Roseli Martins, Tratore, 2003.
Pequenos Segredos
Essa senhora
Que passa aqui na rua
Insuspeita, só
Guarda um segredo inconfessável:
Ela sai com um garotão
Da idade do seu filho
Enquanto o seu marido
Esquenta a pança no fogão
Esse rapaz
Dentro do elevador
Tem mil mulheres atrás
Mas passa a noite toda olhando
A vizinha nua
Enquanto a sua namorada fica pela rua
E cai nos braços de qualquer um
Mas é tão normal
Eles são tão normais
Como você é tão normal
Com os seus pequenos segredos
Essa mulher
Tem seus 29 anos
E como outra qualquer
Narra as suas aventuras amorosas
Pras amigas, que não sabem que a moça
Nunca se deitou com um homem sequer
Esse garoto
Leva a namoradinha no domingo pro almoço
E apresenta pra família
Mas no escuro do seu quarto
Bate papo e faz juras de amor
A um homem pela internet
Música de Clara Gurjão gravada no CD Ela, com a participação de Sílvia Machete. Produção Independente de 2016.
Filhos de Plutão
É da natureza do signo
Estar sempre de mal com alguém
Ficar sempre de bem
Não digo ficar zen
Pois isso é impossível
É da natureza do signo
Sentir a dor, fazer doer também
Palavras afiadas
Frase envenenada
O corte incisivo
É agressivo, é progressivo, é instintivo
É corrosivo, decisivo, intensivo
A culpa que ocupa espaço
Já embutida no preço
É dolorido feito um beijo sem abraço
É tão estranho quanto o carnaval cair em março
É o tresloucado trem fora do trilho
É o encontro de dois fios desencapados
Música de Roseli Martins que faz parte do CD Amálgama, gravado em 2003 pela Tratore.
quarta-feira, 1 de setembro de 2021
O mundo é tentador, rapaz
O mundo é tentador, rapaz
Nem tente bater asas se tem medo de voar
O mundo é tentador, rapaz
É muita vida, é muito riso, muito chão pra explorar
Quero ficar,
Nem vem que não tem
Quando cê foi com a farinha, o pão prontinho te entreguei
Nesse lugar
Não tem reza nem amém
Nem vem falar no meu ouvido, em hedonismo me formei
Tente lembrar
Do dia em que deixei você chegar devagarinho
Sem querer me apegar
Desalinhar
Tua ordem descompor
Eu dou as cartas nesse jogo e viro a mesa sem pudor
O mundo é tentador, rapaz
Nem tente bater asas se tem medo de voar
O mundo é tentador, rapaz
É muita vida, é muito riso, muito chão pra explorar
Pra onde mira teu sentido
Tua libido, os teus ouvidos
Pra onde vai a tua língua, a tua ginga
A tua rima, a tua sina
Eu deito e rolo, me embolo
Em muitos colos, por outros solos,
Deslizo e sinto infinito
Em cada giro, em cada grito, eu admito que...
O mundo é tentador, rapaz
Nem tente bater asas se tem medo de voar
O mundo é tentador, rapaz
É muita vida, é muito riso, muito chão pra explorar
Música de Clara Gurjão gravada no CD Ela, Produção Independente de 2016.
terça-feira, 31 de agosto de 2021
A Hora e a Vez
Vê quantas voltas
Tem que dar o amor
Fica com medo de querer chegar
Paga a promessa que não fez
Diz a verdade ao mentir
E não tem volta não
Volta não
Olha no espelho
E só vê o amor
Agora sabe que perdeu a paz
Jogou o laço e se prendeu
O inesperado aconteceu
A vez da caça
E a hora do caçador
Eu não sabia
Que era pra valer
Até um dia encontrar você
A gente sabe
Que o amor não tem juízo
Mas brinca com feitiço
E quando se vê
Vai ser você...
Vai ser você
Dono do meu coração
Vai ser você!
Música de Cláudio Nucci, Zé Renato e Ronaldo Bastos gravada no disco Pelo Sim Pelo Não, de 1985, pela gravadora CBS.