Havia, muitos e muitos anos atrás, num reino muito distante daqui, uma princesa muito linda. Ela adorava dança, música e todas as artes que no mundo existiam. Por isso, artistas de todas as partes faziam fila para poder se apresentar naquele pequeno reino, pois o prêmio maior pelos espetáculos era o sorriso da bela princesa.
Num dia em que o sol se confundia com as nuvens claras e nem parecia inverno ou verão, apareceu no reino um grupo de saltimbancos, trazendo um espetáculo muito interessante. Os mensageiros do reino logo correram para avistar a princesa, que, encantada com a novidade, aceitou o convite para ver o espetáculo bem na primeira fila.
Curiosa em saber o que trazia a nova companhia, a princesa chegou bem antes do início da peça para ver os preparativos da montagem. Foi aí que, no meio daquele movimento todo, ela o viu.
Ela enxergou um rapaz enorme, alto, forte, tão forte que carregava metade de um cenário inteiro sorrindo, como quem carrega flores. O moço, por sua vez, ao perceber que a princesa olhava para ele, baixou os olhos, tímido. "Imagine, a mais bela de todas as princesas olhando para mim", pensou. Ela também falou a mesma coisa para os seus botões. Mas, mesmo pensando coisas tão mal pensadas, os dois não conseguiram parar de se olhar.
O cenário ficou pronto, a peça começou e o moço escondeu-se atrás do palco. E a linda princesa ficou inquieta, pensando num jeito de se encontrar com aquele que mexera com seu coração. Mas como?
Do outro lado, o moço também a observava, achando estranho que a princesa, famosa por apreciar os espetáculos com muito interesse e alegria, estivesse distraída e com um ar preocupado. E suspirou, olhando para ela.
A princesa também suspirou, impaciente. Mas, de repente, chamou sua aia e lhe disse:
- Quero que vá atrás do palco, aia. Leve este novelo de fita até o rapaz maior que houver lá dentro. Ele é enorme, forte, mas tem o olhar mais meigo que você já deve ter visto. Amarre a ponta do novelo em seu pulso e traga a outra para mim. Não se preocupe, ele não perguntará nada e nem a impedirá de fazer isso. Vá logo, por favor!
E assim a aia fez.
O moço, a princípio, ficou um pouco assustado. Mas, feliz, reconheceu a fita que amarrava seu braço com a mesma que enfeitava os cabelos da princesa. E se soube preso. E nunca em sua vida imaginou tão doce prisão. Grades de fitas coloridas, música, dança e sorriso da princesa mais encantadora do mundo. Então, amarrou o laço mais forte em seu pulso.
A princesa não sabia, mas ele iria levá-la em seu cavalo para o seu reino. Ela não sabia, mas ele também era um príncipe. Um príncipe viking, acostumado a vencer muitas guerras, mas completamente fascinado pela arte dos saltimbancos. A princesa não sabia, mas estava condenada a ser feliz para sempre ao lado do príncipe viking. Ou será que sabia?
Conto de Januária Cristina retirado da Revista Nova Escola. Fundação Victor Civita, Editora Abril. Novembro de 1995.