terça-feira, 15 de março de 2022

Dois Amigos e a Liberdade

    Zezinho achou um passarinho com uma asa quebrada. Ele parecia estar chorando de dor e tremia inteirinho.

    Devagar, com muito cuidado, Zezinho foi tratar da asa do passarinho. Passou remédio, enfaixou a asa e deu comida para ele. E todos os dias ia lá no cantinho do quintal para ver como estava seu mais novo companheiro.

    O tempo foi passando e o passarinho  melhorando. Zezinho botou-lhe o nome de Leco e vivia conversando com ele. Chegava da escola e logo corria para contar-lhe as novidades do dia.

    Fazia os deveres dividindo com Leco as dificuldades da Matemática, as poesias bonitas que a professora de Português mandava recitar em voz alta e as novidades das Ciências.

    O bichinho ouvia tudo com os olhos bem abertos. De vez em quando até piava, o que significava para Zezinho que Leco estava opinando sobre alguma coisa.

    O menino percebia que agora o passarinho não tinha mais cara de choro. Estava ficando bom, mas não tinha vontade de sair dali. Os dois se entendiam tão bem que Leco chegou a pensar que Zezinho fosse um pássaro maior. Nunca tinha visto um menino que não quisesse acertá-lo com um estilingue ou prendê-lo numa gaiola.

    Zezinho não via a hora de chegar em casa para poder ficar com o Leco, conversando, brincando, vendo-o voar. Sentia-se tão bem em sua companhia que era como se ele fosse um irmão muito querido.

    Quando Leco ficou forte, voando bem alto, convidou o garoto para voar com ele. Ir para bem longe, conhecer outras terras. Mas Zezinho não tinha asas e, além disso, havia sua família, seus outros colegas, a escola, as peladas de futebol.

    O passarinho não podia ficar? - quis saber o menino. Não. Ser pássaro só tinha graça se vivesse voando por aí.

    Os dois se separaram então. Mas a amizade não acabou. Zezinho passou a amar todos os pássaros e Leco, todos os meninos. Eles espalharam esta história pelo mundo e houve muita gente que começou a ver meninos cantando como pássaros e pássaros conversando como meninos.


Texto de Januária Cristina retirado da Revista Nova Escola. Fundação Victor Civita, Editora Abril, Setembro de 1995.

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