quarta-feira, 9 de março de 2022

O Olho Cobiçoso

    Certa vez, na volta para a sua Macedônia, Alexandre Magno, rei grego e grande conquistador, passou por um rio que não conhecia. Apeou da sela e tirou da sacola um peixe salgado para o seu almoço. Mas quando se abaixou na margem do rio a fim de dessalgá-lo antes de comer, viu espantado que o peixe morto, ao ser tocado pela água corrente, súbito reviveu e saiu nadando.

    - Este rio só pode ter a sua nascente no Paraíso - pensou o rei - vou segui-lo até chegar lá.

    Tornou a montar no seu cavalo e partiu a galope, para pouco depois se ver diante dos esplêndidos portais do Paraíso, que estavam fechados. Ali, gritou autoritário:

    - Abram-se já, portais do Paraíso, para Alexandre Magno, o rei!

    Imediatamente uma voz profunda lhe respondeu:

    - Os portais da eternidade só se abrem para os pios e os puros.

    Percebendo que ele, guerreiro arrogante, jamais poderia entrar, Alexandre pediu mais humilde:

    - Deem-me ao menos alguma coisa para eu poder provar que estive diante dos portais celestiais!

    Então entreabriu-se uma pequeníssima fresta e um olho humano saiu rolando em direção ao rei. Alexandre recolheu o olho e, intrigado, retomou seu caminho de volta à Macedônia. Lá chegando, convocou os sábios do reino e perguntou-lhes o significado daquele estranho presente. Depois de pensar muito, o mais velho deles disse:

    - Pegue este olho, ó rei, e coloque-o sobre um dos pratos da grande balança do tesouro. No outro prato, ponha esta peça de ouro. Veremos qual dos dois pesa mais.

    Alexandre fez o que o sábio sugeriu e constatou, surpreso, que o pequenino olho pesava mais que a grande peça de ouro. Ele pôs outra moeda na balança e viu que o olho ainda pesava mais. Continuava mais pesado depois de um punhado de moedas e até de um barril e outro e mais outro cheios de ouro e joias!

    Vendo o espanto de Alexandre, o velho sábio disse:

    - Que isto lhe ensine uma lição, ó rei! Saiba que o olho humano nunca fica satisfeito com o que vê. Por mais tesouros que lhe mostrem, ele sempre quererá mais e sua cobiça pesará cada vez mais e mais.

    - Dá-me uma prova do que dizes - falou Alexandre, incrédulo.

    - Muito bem - retrucou o sábio. - Mande tirar da balança tudo o que fizeste colocar nela e substitua por um punhadinho de terra.

    Novamente, Alexandre seguiu a sugestão do sábio. No mesmo instante o prato com a terra desceu e levantou facilmente aquele do pequenino olho, que antes pesara mais do que todo o tesouro real.

    - Agora compreendi o significado disto! - exclamou o rei. - Enquanto o homem está vivo, sua cobiça não tem limites e seu olho nunca fica saciado e satisfeito. Mas assim que o homem morre e se transforma no pó da terra, seu olho perde a força e o peso. Não pode mais desejar nem cobiçar nada...


História da tradição judaica, recontada por Tatiana Belinky; retirada da Revista Nova Escola, Fundação Victor Civita, Editora Abril, Março de 1995.

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