No tempo em que não existia o fogo, os homens, desesperados, foram implorar ajuda a Santo Antônio. O fogo se achava no inferno e Santo Antônio, apiedando-se dos homens, resolveu ir buscá-lo.
Santo Antônio trabalhara como guardião de porcos e um dos seus leitões o acompanhava sempre. Então lá foram eles: Santo Antônio, o leitão e seu bastão de férula. Assim, apresentou-se na porta do inferno:
- Tenho frio e quero me esquentar. Abram para mim.
- Não. Nós não o reconhecemos. Não abrimos pra você. O porco, é claro, deixamos entrar. Você, não!
E foi aí que tudo começou: o porco, assim que se viu no inferno, começou a aprontar uma grande confusão. Os diabos não conseguiam agarrá-lo nem expulsá-lo e acabaram apelando para Santo Antônio, que ficara do lado de fora da porta:
- Venha buscar aquele seu porco maldito.
Santo Antônio entrou mais que depressa no inferno, tocou o porco com seu bastão e ele aquietou-se imediatamente.
- Bom - disse o santo homem -, já que estou aqui, vou me sentar um pouco e esquentar as minhas mãos.
A todo instante passava um diabo correndo para contar a Lúcifer sobre almas que ele fizera cair em tentação. Santo Antônio aproveitava para dar-lhe pancadas nas costas com seu bastão de férula.
- Abaixe imediatamente esse bastão - disseram os diabos. - Não gostamos dessas brincadeiras.
Santo Antônio, que na verdade era muito brincalhão, pousou o bastão a seu lado e o primeiro diabo que passou correndo para dar uma boa notícia a Lúcifer tropeçou e deu de cara no chão.
- Já perdemos a paciência com esse bastão. Vamos queimá-lo já.
Dizendo isso, os diabos colocaram a ponta dele nas chamas. O porco, como que avisando, começou a revirar tudo: montes de lenha, ganchos, tochas.
Santo Antônio, muito calmo, disse apenas:
- Se quiserem que o acalme é só me devolverem o bastão.
Dito e feito. O bastão foi devolvido e o porco acalmou-se novamente.
Para alívio de todos os diabos, lá se foram Santo Antônio, o bastão e o porco. O que eles não sabiam é que o bastão era de férula, uma madeira que apresenta a seguinte propriedade: por ter o miolo poroso, se uma centelha penetra nela, fica queimando escondida, sem que se perceba.
Vendo-se em liberdade, Santo Antônio girou o bastão pelos ares, as centelhas começaram a voar e, para grande alegria dos homens, a partir daquele instante houve fogo na terra.
Feliz, Santo Antônio voltou ao seu deserto para meditar. Junto com seu porco, é claro.
Uma lenda italiana adaptada por Sylvia Manzano. Retirado da Revista Nova Escola, Fundação Victor Civita, Editora Abril, Junho de 1994.
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