quarta-feira, 30 de março de 2022

Três Conselhos

    Um passarinho caiu na rede, mas, quando o caçador o pegou na mão, a avezinha  começou a falar, com voz humana, implorando que a soltasse:

    - Não me mates, homem! Solta-me, deixa-me voar! Em troca da minha liberdade, eu te darei três conselhos preciosos, de muito valor!

    - Que conselhos um pobre passarinho como tu pode dar a um homem como eu?, riu o caçador. Mas estou curioso. Fala, passarinho. Se eu gostar dos teus conselhos, prometo deixar-te voar embora.

    - Ouve, então, com atenção, disse o passarinho. O primeiro conselho é: "Não lamentes nunca, homem, coisa alguma que passou." O segundo é: "Nunca te esforces para procurar fazer voltar as coisas que já se foram." E o terceiro é: "Nunca creias em coisas incríveis, pois milagres não existem."

    - Teus conselhos me parecem bons, passarinho, disse o caçador, pensativo.

    - Então solta-me agora, como prometeste, disse o passarinho. E trata de seguir os meus bons conselhos.

    - O prometido é devido, disse o caçador, abrindo a mão. Voa, passarinho. E trata de não cair em outra arapuca!

    O passarinho saiu voando e logo pousou num ramo alto da árvore mais próxima, de onde se dirigiu ao caçador, todo contente:

    - Tu és um tolo, caçador, bobeaste. Sabias que perdeste uma fortuna ao me deixar escapar? Se me matasses, ias ficar rico, porque dentro da minha barriguinha se oculta um tesouro, um diamante raríssimo, três vezes maior do que eu!

    Desapontado e aborrecido, o caçador lamentou:

    - Esse passarinho esperto me enganou, zombou de mim.

    Com voz doce, mudando de tom, continuou:

    - Volta aqui, passarinho. Vem ficar comigo. Eu te tratarei tão bem! Vais morar numa gaiola de ouro, com balanço, para te embalares e cantares. Volta para mim, passarinho.

    - Nada feito, retrucou o passarinho. Pensa bem como és bobo, homem! Nem bem acabaste de ouvir os meus conselhos, no mesmo instante os esqueceste. Primeiro, mal me soltaste, já lamentas o que passou. Em seguida já estás tentando fazer voltar o que se foi. E ainda acreditaste na balela que te contei, de que no meu buchinho está escondido um diamante precioso, três vezes maior do que eu. De nada te serviram os meus conselhos, caçador! Trata de lembrar-te deles daqui em diante! Adeus, homem tolo.

    E o passarinho saiu voando, feliz da vida, enquanto o caçador lá ficou, lamentando sua burrice.


História de origem remota, de que existem versões em vários países, recontada por Tatiana Belinky. Retirada da revista Nova Escola, Abril de 1997. Fundação Victor Civita. Editora Abril.

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