segunda-feira, 28 de março de 2022

Contanabos, o senhor das montanhas

    Entre a Silésia e a Boêmia estende-se uma enorme cadeia de montanhas em cujo interior vive o poderoso Espírito das Rochas, o afamado Contanabos. Esse príncipe dos espíritos da terra possui na superfície terrestre apenas um espaço reduzido, de algumas milhas de extensão, cercado pela serra pedregosa. mas em profundidade seu domínio é enorme e desce por milhas e milhas até o centro da Terra. Ele, o Contanabos, reina sobre as minas de metais e as jazidas de pedras preciosas, manda nos vulcões e em todos os espíritos das entranhas da terra e das montanhas. Tem também o poder de transfigurar-se no que lhe der vontade: pode aparecer em forma de homem ou de animal, grande ou pequeno, anão diminuto ou monstro assustador.

    De vez em quando gosta de afastar-se dos seus domínios das profundezas e de subir, para observar os míseros e medrosos seres humanos, à custa dos quais se diverte, ora de maneira cruel e zombeteira, ora demonstrando-lhes, disfarçado de várias formas, benevolência e generosidade. Porque o soberano das montanhas, o gigante Contanabos, tem gênio variável e instável, ora calmo, ora turbulento, ora malvado, ora bondoso, ora frio e insensível, ora caloroso e carinhoso, cheio de contradições, mas sempre surpreendente.

    Há séculos e séculos, contam-se dele as mais estranhas histórias, engraçadas umas, outras apavorantes. Ninguém sabe seu nome verdadeiro, mas foi por causa de uma de suas aventuras, acontecida há centenas de anos, que recebeu do povo da região o apelido de Contanabos. Ele detesta essa alcunha, porque ganhou-a num episódio de que tem vergonha, acontecido na única vez em que tentou ser realmente humano.

    É uma longa história, mas por enquanto basta contar que, há muito, muito tempo, numa das vezes em que o Espírito das Rochas subiu à superfície da terra, ele se apaixonou por uma formosa princesa. Então, transformando-se num belo príncipe, raptou-a e levou-a para seu palácio subterrâneo, onde queria casar-se com ela. Mas ela já era noiva de um príncipe do reino vizinho e não queria saber de casamento com seu raptor, por mais belo, rico e poderoso que ele fosse. Para livrar-se dele, astutamente o enganou dizendo que se casaria, se numa só noite ele contasse todos os nabos mágicos da sua enorme horta - sem errar, nem mesmo por um. Se errasse um que fosse - para mais ou para menos - ela não se casaria com ele.

    O Espírito das Rochas concordou com a condição, que julgou fácil e pôs-se logo a contar os nabos, o que fez até rapidamente. Mas toda vez que conferia a contagem, dava uma diferença e ele passou a noite inteira contando e recontando os nabos.

    Enquanto isso, a esperta princesa, usando um dos nabos mágicos que ele lhe dera para satisfazer suas vontades, transformou-o em fogoso corcel e fugiu do reino subterrâneo, deixando o poderoso Espírito das Rochas a ver navios. Foi assim que ele acabou ganhando o ridículo apelido de nabos ou, simplesmente, Contanabos.


Mito popular alemão recontado por Tatiana Belinky. Retirado da revista Nova Escola, Dezembro de 1996. Fundação Victor Civita. Editora Abril.

Nenhum comentário:

Postar um comentário