Sou a senhora Leopoldina
locomotiva muito faceira,
solto fumaça, fico zangada,
vou chique-chique pela estrada.
Ando nervosa, nervosa eu fico,
dou o meu grito quando apito!
Pois o meu filho, o Zé Vagão,
me atormenta... Quem aguenta?
Ele só vive na contramão!
Se vou pra baixo, ele escorrega,
o seu traseiro no trilho esfrega!
Se vou pra cima, ele reclama,
tem dor na rosca e só quer cama!
Quando eu paro na estação,
o meu filhote faz confusão:
come pipoca, cachorro-quente,
come cocada, pede empada,
fica doente, o Zé Vagão,
reclama tanto de indigestão...
E o meu filho, ai, o meu filho,
vai poluindo toda a estrada,
pingando óleo por todo o trilho!
O que é que eu faço com o Zé Vagão?
Estou cansada, puxo o menino,
ser mãe sofrida é meu destino?
O Zé Vagão, passado um tempo,
foi se tornando diferente...
O vagãozinho, muito esticado,
de bigodinho adolescente?
Estou sofrida, estou exausta,
puxo o vagão pelo caminho,
ai, a ladeira é longa e alta!
O Zé Vagão salta do trilho,
sai aos pulinhos, ali na roça,
fica flertando com uma carroça?
Eu dou apito, grito que grito,
pego o danado desse meu filho,
volto com ele num choque-choque,
o danadinho requebra um roque?
Passou um tempo, fiquei velhota,
o meu filhote ficou ativo.
apita e grita, corre que corre,
virou um pai Locomotiva.
Ele implicam com meu netinho,
o meu netinho Zé Vagãozito,
puxa a criança pela estrada,
eu não admito, fico zangada:
- Deixa o meu neto, ele é criança,
não atormenta o pobrezito,
o vagãozinho tem dor na rosca,
o coitadinho é tão fraquito!
Aí eu compro na estação
muito sorvete, pé-de-moleque,
compro empada, dou bombonzinho,
encho a pança do meu netinho.
Se pinga óleo... ai, que gracinha,
eu limpo o trilho, mudo a fraldinha.
Sou Leopoldina, vovó ativa,
velha senhora locomotiva.
História criada por Sylvia Orthof e retirada na Revista Nova Escola, Fundação Victor Civita, Editora Abril, Abril de 1995.
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