terça-feira, 22 de março de 2022

O rei que só queria comer peixe

Há muito tempo, havia no Tibete um rei que só queria comer pescado, o que era muito bom para os pescadores do reino. Mas eis que chegou um ano de grande estiagem, tão grande que os rios foram secando, e os peixes foram morrendo. Chegou um dia em que não havia mais peixes para pescar. Não havia peixe nem mesmo para o próprio rei, que se viu obrigado a comer apenas arroz, o que não o satisfazia e o deixava muito deprimido.

Então o rei mandou colocar faixas e cartazes por toda a parte anunciando que quem lhe levasse ao palácio qualquer tipo de pescado receberia como recompensa e prêmio qualquer coisa que quisesse pedir. A notícia correu ligeira por todo o reino, mas sem resultado. Por mais que todo mundo tentasse e procurasse, não havia mais peixes nos rios secos. E o rei foi ficando cada vez mais aflito e abatido.

Até que um belo dia apareceu no portão do palácio um homem, um pescador vindo do estrangeiro, com uma cesta cheia de pescado fresco e reluzente, que ele queria oferecer à Sua Majestade. Mas, na entrada do palácio, o guarda de sentinela deteve o homem e lhe perguntou, ríspido, o que ele vinha fazer ali. Quando soube do que se tratava, disse ao pescador:

- Trazes pescado para o rei, não é? Pois muito bem, deixa-o aqui comigo, que eu me encarrego de entregá-lo ao rei.

- Não, disse o homem, eu mesmo quero entregá-lo pessoalmente nas mãos de Sua Majestade.

- Então vende-me o pescado, disse o guarda. Eu pagarei bem.

- Não vim vender esses peixes. Vim oferecê-los de presente ao rei.

Vendo que não conseguia convencer o homem, o guarda mudou de tática:

- Pois fica sabendo que só vou te deixar passar se prometeres dar-me metade do prêmio que vais pedir e ganhar do rei. Jura que vais fazer o que exijo. Senão, não poderás entrar.

- Está bem, disse o homem, - eu concordo. Juro que vou fazer o que tu queres. Mas preciso saber o teu nome, porque se me demorar no palácio, preciso saber como encontrar-te depois.

- Meu nome é Yaco-Zarolho, não te esqueças - disse o guarda.

O pescador entrou na sala do trono e ofereceu o pescado ao rei. Este, exultante, perguntou o que ele queria como prêmio e recompensa. Mas o rei ficou perplexo quando ouviu o homem dizer que só queria duzentas chibatas no lombo. Incrédulo, o rei repetiu a pergunta e ouviu a mesma resposta:

- Peço somente duzentas chibatadas no meu lombo, Majestade.

Diante disso, o rei ordenou aos seus servos que lhe dessem as duzentas chibatadas, "mas bem de leve", para não machucar o lombo do excêntrico pescador. O que começou a ser feito, bem de leve. Mas na centésima chibatada o pescador falou:

- Basta, já recebi metade do meu prêmio. A outra metade eu prometi ao guarda Yaco-Zarolho.

O rei

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