Um casal que viveu muito tempo atrás ia sempre ao templo orar e rogar por um filho, mesmo que ele fosse do tamanho de um dedo.
Seu desejo foi atendido. O filho que nasceu era do tamanho de um polegar e recebeu um nome tão bonito quanto ele: Issum Boshi. Era esperto e saudável, embora permanecesse sempre do mesmo tamanho.
Viviam os três muito felizes na mesma casa, mas um dia chegou a hora de ele partir. Issum Boshi queria conhecer a capital.
Muito pesarosos, os pais não tiveram como dissuadi-lo da ideia. De uma agulha de costura fizeram para ele uma espada, única arma para defender-se dos perigos que teria de enfrentar.
Viajando num barco pouco maior que um dedal, contornando o rio que corria ao lado de sua casa, enfrentando as carpas que queriam devorá-lo, desviando-se das pedras e tomando cuidado para não despencar nas cachoeiras, Issum Boshi finalmente chegou à capital.
Teve de ficar muito atento para não ser pisoteado por aquela quantidade tão grande de pessoas até atingir as portas de um grandioso palácio. O senhor que o atendeu a muito custo conseguiu divisá-lo junto aos seus chinelos de madeira, mas ouviu atentamente o que ele lhe dizia, com muita convicção:
- Senhor, é nesta casa que quero trabalhar. Sei que aqui poderei prestar serviços valiosos.
Foi contratado para servir a linda filha do senhor, que era muito dedicada à arte de caligrafia. Ao preparar-lhe as tintas para o treino diário, foi logo tratando de aprender todos os passos do ofício.
Certo dia a moça decidiu ir ao templo para fazer suas orações acompanhada de Issum Boshi e de alguns fiéis empregados.
Confiante e corajosa, partiu também disposta a enfrentar um perigosíssimo gigante, armado com um martelo, que vivia por aquela região.
Já estavam voltando das orações quando o gigante surgiu diante deles. Todos fugiram, apavorados. Só Issum Boshi, com sua espada feita de agulha de costura, enfrentou o perigoso inimigo. Zombando muito dele, o gigante o engoliu inteirinho.
Polegarzinho não perdeu tempo. Desceu goela abaixo do gigante, espetando-o sem parar. Do estômago subiu para a garganta, provocando intensa dor e obrigando o gigante a cuspi-lo e a fugir espavorido para as montanhas.
Na pressa, o inimigo esqueceu o martelo.
A jovem patroa de Polegarzinho, vendo o martelo, disse as palavras que soaram como música aos seus ouvidos:
Ouvi falar da existência de um martelo que tem o poder de atender a qualquer pedido ao se dar marteladas com ele. Quer fazer um pedido, Issum Boshi?
- Ah! Eu gostaria imensamente de crescer.
A moça bateu de leve com o martelo em sua cabeça, fazendo o pedido com muita suavidade.
- Cresça, Issum Boshi. Cresça!
Ele foi crescendo e crescendo e se transformou no rapaz mais bonito que a filha do senhor tinha visto em toda a sua vida.
Issum Boshi chamou os pais e todos viveram juntos e felizes por muitos e muitos anos.
Uma lenda japonesa adaptada por Sylvia Manzano. Retirado do revista Nova Escola, Fundação Victor Civita, Editora Abril, Setembro de 1994.
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