domingo, 6 de abril de 2025

A produção de textos nas escolas

 Diversas soluções são apresentadas para melhorar o nível das redações nas escolas, problema que requer atenção especial do professor de Língua Portuguesa


A afirmação de que o ensino de Língua Portuguesa no Brasil está em crise é recorrente no cotidiano acadêmico. A necessidade de melhoria no ensino de produção de texto nas escolas públicas brasileiras é indiscutível, aliás, é muito questionada por estudiosos da Língua. Ensinar conceitos de gramáticas normativas ou ensinar a funcionalidade da Língua? Dar ênfase aos desacordos gramaticais de uma produção textual ou analisar o sentido essencial do texto?

O ensino de Língua Portuguesa, em sua totalidade, é extremamente abrangente. Talvez o mais sensato fosse não priorizar uma ou outra vertente, mas tudo. Para tanto, demandaria tempo e estrutura nas escolas, envolvendo outras questões, inclusive a política.

Considerando o sistema tradicional de correção de textos nas escolas, sabe-se que uma produção textual para ser considerada boa deve apresentar, além de lógica entre as ideias, poucos desacordos gramaticais. Dessa forma, elaborar textos é uma atividade complexa, pois exige uma boa compreensão da gramática normativa e de encadeamento das frases no texto.

Algumas vezes, o problema educacional começa na formação do professor. Este, quando não consegue compreender o texto de um aluno, justifica os possíveis defeitos com conceitos abrangentes e, dessa maneira, aponta a falta de coerência ou talvez coesão. Nem o professor, porém, consegue esmiuçar a questão problemática, de modo a ficar clara a falha do texto.

O texto escrito necessita de uma atenção maior ao ser elaborado, já que não possui auxílio de alguns elementos que ajudam na compreensão do interlocutor como acontece no texto faca a face.

Antigamente, o ensino de produção de textos era focado na dissertação para o vestibular; dessa forma, elaboravam-se métodos específicos ou "receitas do texto". Atualmente, com a inserção dos gêneros textuais nos vestibulares, o aluno não pode ficar preso a um modo de escrita apenas; logo, deverá ampliar o seu repertório linguístico.

Na teoria parece funcionar. Na prática, porém, problemas antigos são visíveis em muitos textos atuais. Foi feita uma pesquisa acadêmica para observar o nível textual de alguns alunos de uma escola pública no Paraná e o resultado não foi muito animador. Os alunos participantes sabiam que as dissertações seriam materiais para estudo acadêmico, portanto, empenharam-se muito. Tirando as exceções, exemplos como os que estão abaixo são comuns no ensino médio. O fragmento foi escrito por um aluno do 3º ano do ensino médio:

"(Cidade X) é uma cidade grande e muito conhecida, apesar disso é uma cidade que falta emprego as pessoas e isso causa dificuldades para todos porque sem um trabalho não tem como comprar o que comer, o que vestir, não te, onde morar, e etc.

E isso causa muita tristeza, muito desânimo, muitas pessoas que são abandonadas e acabam sendo mortas, abandonadas pela sociedade, pelo mundo, mortas pelas enchentes."

Considerando o tema problemas de uma cidade grande, o aluno não foi coerente. Alguns problemas formais apareceram, mas o mais grave e importante a ser analisado talvez seja a falta de bons argumentos.


SOLUÇÃO COMPLEXA

Quantos estudos já corroboraram a crise do ensino de produção de textos? Medidas são tomadas, às vezes, para camuflar alguns problemas. Infelizmente a educação depende de muitos fatores para funcionar, principalmente da política.

A reversão desses caminhos negativos é árdua. A preocupação com a qualidade textual de alunos que almejam cursar uma graduação é interessante, já que estudos a partir dessa preocupação podem servir de diagnóstico para identificar o nível de produção desses alunos, gerando dados para a pesquisa com reflexões sobre o cenário textual.

Quando se estabelece um cenário textual, há sempre um contexto vinculado a esse cenário. Os alunos produzem sob um contexto imediato: o escolar, carregado de pressão.

Pensar que um aumento considerável de pesquisas, estudos e reflexões dedicados a como escrever um bom texto, gêneros textuais e tipos textuais sanará as dificuldades dos discentes é utopia, pois eles sempre apresentarão dificuldades. Mas deixá-los à mercê do destino é desprezível, pois é papel das instituições responsáveis pelas pesquisas tentar entender os problemas para produzirem boas literaturas ao cenário textual. Não é a quantidade de pesquisas, o problema, mas o engajamento de um conjunto: universidades, escolas, governos, professores, pesquisadores, alunos e outros.

Mesmo enfrentando vários empecilhos, melhorar a qualidade dos textos nas escolas públicas deve ser atividade constante de muitos professores de Português. São notórias as dificuldades encontradas no ambiente escolar: a falta de motivação, o excesso de trabalho, além da falta de respeito dos alunos e até dos pais. Mas é trabalho do professor tentar melhorar.


Texto de Bruno Lopes retirado da revista Conhecimento Prático Língua Portuguesa, número 41, Editora Escala Educacional, São Paulo.

sábado, 5 de abril de 2025

Acordar e Erguer-se (66)

 "Desperta, tu que dormes! Levanta-te dentre os mortos e o Cristo te iluminará." - Paulo. (EFÉSIOS, 5:14.)


Há milhares de companheiros nossos que dormem, indefinidamente, enquanto se alonga debalde para eles o glorioso dia de experiência sobre a Terra.

Percebem vagamente a produção incessante da Natureza, mas não se recordam da obrigação de algo fazer em benefício do progresso coletivo.

Diante da árvore que se cobre de frutos ou da abelha que tece o favo de mel, não se lembram do comezinho dever de contribuir para a prosperidade comum.

De maneira geral, assemelham-se a mortos preciosamente adornados.

Chega, porém, um dia em que acordam e começam a louvar o Senhor, em êxtase admirável...

Isso, no entanto, é insuficiente.

Há muitos irmãos de olhos abertos, guardando, porém, a alma na posição horizontal da ociosidade. É preciso que os corações despertos se ergam para a vida, se levantem para trabalhar na sementeira e na seara do bem, a fim de que o Mestre os ilumine.

Esforcemo-nos por alertar os nossos companheiros adormecidos, mas não olvidemos a necessidade de auxiliá-los no soerguimento.

É imprescindível saibamos improvisar os recursos indispensáveis em auxílio dos nossos afeiçoados ou não que precisam levantar-se para as bênçãos de Jesus.

Não basta recomendar.

Quem receita serviço e virtude ao próximo, sem antes preparar-lhe o entendimento, através do espírito de fraternidade, identifica-se com o instrutor exigente e reclama do aluno integral conhecimento acerca de determinado e valioso livro, sem antes ensiná-lo a ler.

Disse Paulo: - "Desperta, tu que dormes! Levanta-te dentre os mortos e o Cristo te iluminará." E nós repetiremos: - "Acordemos para a vida superior e levantemo-nos na execução das boas obras e o Senhor nos ajudará, para que possamos ajudar os outros."


Texto retirado do livro Fonte VivaFrancisco Cândido Xavier pelo Espírito Emmanuel, FEB, Brasília, 1987.

segunda-feira, 31 de março de 2025

Imprensa e Impressão no Brasil

 No dia 5 de janeiro de 1808, foi instituída a imprensa e a impressão no Brasil, quando D. João VI, fugindo de Napoleão, que tomava conta da Europa, veio para o Rio de Janeiro e criou a Imprensa Régia. Mas, em junho do mesmo ano, era criada a figura dos censores reais contra a Sociedade Literária. Sob censura, dessa oficina, a 10 de setembro de 1808, saiu o primeiro número da Gazeta do Rio de Janeiro. Já o Correio Braziliense, nosso outro jornal impresso em Londres, começando a primeiro de junho de 1808, fugindo à censura local.


Em primeiro lugar, é preciso frisar o atraso com que foram introduzidas a imprensa e a impressão no nosso país. O México conheceu  imprensa em 1539, o Peru em 1583 e as colônias inglesas em 1650. O livro sofria censura e restrições em Portugal. Aqui, os livros eram importados. E perseguidos. As bibliotecas confiscadas e fechadas. Nos fins do Século XVIII, começaram a aparecer bibliotecas particulares. Os autos da inconfidência revelam que ter livros e ler era prova de crime. Na mesma época, começou o comércio de livros. A polícia vigiava severamente livreiros e livrarias.

Em 1706, no Recife, instalou-se pequena tipografia. A Carta Régia liquidou a tentativa.

No Rio, em 1746, o antigo impressor de Lisboa, Antônio Isidoro Fonseca, montou material tipográfico em oficina que foi abolida e queimada pela polícia. O primeiro livro em Português impresso na América, o fora do México, em 1710.


IMPRENSA RÉGIA

A ilustração brasileira começou, claro, na Imprensa Régia, no Arquivo Militar e no Colégio das Fábricas. Em xilogravura, talho doce e litogravura. Ilustrações com base em cartas de jogar e estampagem de chitas. As matrizes importadas logo foram feitas aqui. A primeira ilustração num periódico, provavelmente foi na Gazeta do Rio de Janeiro, em 29 de agosto de 1809, dois mapas xilografados, atribuído ao primeiro ilustrador-gravador Braz Sinibaldi.

É da Imprensa Régia, também, o primeiro livro brasileiro contendo uma ilustração. Tinha um título quilométrico: História Verdadeira da Princeza Magalona, filha Del rey de Nápoles e do nobre e valeroso cavalleiro Pieres Pedro de Proença, de 1815. Já empresários de espetáculos, sabendo da importância da ilustração, traziam inúmeras gravuras para reclames.

No dia 14 de dezembro de 1837, no Jornal do Comércio, foi publicada a "bela invenção da caricatura", sob o título A Campainha e o Cujo, de Manoel de Araújo Porto-Alegre. O mesmo autor lançou a revista Lanterna Mágica (1844/45). Bonecos de crítica saíram em 1831, na litografia de Briggs, na rua do Ouvidor. A Marmota (1849/64), de Paula Brito veio depois, usando a cor. A Gazeta de Domingo, também com ilustrações importadas, em 1839 era dirigida por Guilherme Kopke, sócio de uma gráfica. A cor podia ser gravada, pintada à mão livre ou à estampilha (au pochoir).


A PROLIFERAÇÃO DE REVISTAS

Em 1870, havia 248 impressores litográficos e os desenhos eram traçados diretamente na pedra para impressão. As revistas proliferaram: A Lanterna, O Mosquito, Revista Ilustrada, Semana Ilustrada, Vida Fluminense, entre outras. Tinham dupla impressão, uma litográfica, com os desenhos, e outra tipográfica, com o texto. Eram cadernos de oito páginas, no tamanho 19x23 cm, para 32 páginas.

Aí surgiu Angelo Agostini, com sua Revista Ilustrada, em 1876. Agostini trabalhou em O Malho e na revista infantil O Tico Tico, para o qual desenhou o título. Em 1867, na revista O Cabriao, realiza As Cobranças, uma das primeiras histórias ilustradas do mundo, ao mesmo tempo em que Wilhelm Busch, na Alemanha, e logo depois de Rudolph Topffer, na Suíça, em 1824.


A ZINCOGRAFIA

Vivaldi edita uma revista de luxo, com material do exterior, no mesmo ano de 1876. E, 1881, depois de uma tentativa fracassada, surge a zincografia, na oficina Litographia e Zincographia Artistica e Comercial, de Paulo Rubin & Cia.

A importância da zincografia naquela época estava no seu preço, na rapidez, no abandono da pedra e sem necessidade de dupla impressão. O triunfo da zincografia veio com a revista A Bruxa, de Olavo Bilac e Julião Machado. Essa revista assinalou um momento histórico ao sair em maio de 1900, com reportagens fotográficas preparadas por Álvaro de Teffé, com a colaboração de Raul e do fotógrafo Bastos Dias.

A partir daí, todos os processos para ilustrar e imprimir jornais, revistas e livros estavam disponíveis e ao alcance dos editores e impressores brasileiros. Mas o atraso cultural, nas Américas, jamais foi recuperado...


Texto de Álvaro de Moya retirado da revista Conhecimento Prático Literatura, Edição 51, 2013, Editora Escala, São Paulo.

A culpa é da televisão

Estamos no período da tarde, vamos dar uma parada nos nossos afazeres domésticos, sentar no sofá e ligar a televisão. Não é um hábito saudável, mas não podemos negar que é incontrolável o poder que a telinha exerce sobre nós. Pegamos o controle remoto e, aleatoriamente, buscamos algo para assistir. Para quem possui TV a cabo, dependendo do pacote, as opções são inúmeras: porém, aos que possuem apenas os canais da TV aberta, o mais certo é desligá-la e dormir - bem mais produtivo e reconfortante. Melhor mesmo seria ler um bom romance, mas a preguiça e a curiosidade acabam forçando-nos, muitas vezes, a continuar navegando pelos programas vespertinos.

O que encontramos? Um circo de horrores - reprises, tragédias familiares, fofocas, propagandas durante e fora do conteúdo dos programas etc etc. E por falar em conteúdo, se assim podemos chamar o que é apresentado nestes programas, ou nos fartamos com as receitas apresentadas, ou caímos em depressão porque não temos aquele corpo escultural (anoréxico) das atrizes, das modelos, das celebridades! Sim, temos celebridades criadas a partir das mais variadas origens.

E para chegar lá? Como ter aquele corpo magnífico? Sem gordura alguma?

Somos bombardeados por um sem número de chás, sucos detox, produtos naturais, aparelhos, dicas,  orientações, rezas, patuás, livros, dietas milagrosas. E não se esqueça de contar as calorias! Tudo em nome da boa forma e da vida saudável. Enquanto assistimos a uma reportagem sobre a epidemia da obesidade em um canal, no outro encontramos a propaganda sobre um aparelho para ginástica, em outro um shake, no outro um chá e em outro uma receita de dar água na boa. Lembrem-se - eu disse que seria melhor ler um bom livro.

Além disso, temos os apresentadores e seus convidados que ficam procurando sinais de celulite nas pernas das modelos que desfilam de maiôs ou lingeries ou alguma gordurinha localizada; na contramão mostram aquelas barrigas saradas, aqueles corpos esculturais que, na maioria das vezes, embora elas neguem veementemente, foi esculpido pelas mãos de um bom cirurgião plástico. Para matar de uma vez os telespectadores ainda existem as competições entre gordos a fim de ver quem consegue atingir suas metas de emagrecimento. Ou então mostram o martírio de pessoas obesas no calvário até conseguir passar por uma cirurgia de redução de estômago. Tudo muito estimulante. Depois de assistir a todas estas agressões televisivas, o que você sente vontade de fazer? Isso mesmo - comer. Comer de raiva e desespero. Comer para suprir sua carência, não de comida, mas por se sentir um pecador, um monstro. Olhamos no espelho e nos perguntamos: como cheguei até aqui? O que fiz com meu corpo? Para amenizar um pouco nossa culpa, chegaram à conclusão de que obesidade é uma doença. Pelo menos não poderemos ser tachados de preguiçosos, acomodados e relaxados. Ainda temos a esperança de que algum dia, um grande cientista descobrirá o remédio certo para curar este grande mal.

Para sairmos desta depressão momentânea, vamos ao shopping. Nada melhor do que algumas comprinhas para aliviar. Queremos algumas coisa bonita para cobrir este nosso grande pecado. Paramos em uma vitrine, vemos um vestido maravilhoso, entramos já notando que a atendente nos olha se questionando: "o que esta gorda pretende comprar aqui?" Você pede seu número e ela, sarcasticamente, responde: "é tamanho único". Para ajudar, ao sair da loja você encontra uma "amiga" que não via há um certo tempo e ela lhe diz: "Nossa! Você está linda de rosto!" Traduzindo: seu corpo está indescritivelmente feio. O que  você faz? Vai para casa, liga a televisão com um belo tablete de chocolate nas mãos. Pelo menos compre um suíço ou belga. Seu corpo merece!


Texto de Rita de Cássia Milharci Castellucci retirado da revista Conhecimento Prático Literatura, Edição 59, Março/Abril de 2015, Editora Escala, São Paulo.

domingo, 30 de março de 2025

"Vareia"

 Ao assinar um contrato, a secretária orienta: "aponha aí sua rúbrica". Vou ao Facebook para relaxar e lá, alguém curioso sobre a morte de um amigo comum, pergunta: "O que ouve com ele?" Saio procurando uma trégua.


Na barraca onde vejo algumas pessoas tomando água de coco, certamente terei. Diante do anúncio: "guarapa e água de cocô", desisto. Não quero isso não. No escritório, atendo uma cliente pela Assistência Judiciária, em busca de executar pensões alimentícias atrasadas. O rol de filhos é grande. Analiso as certidões de nascimento e depois de quatro nomes masculinos, encontro, finalmente, o de uma menina: Dhionata! "Como vai a menina, senhora?" Me reprova no ato: "Dhionata não, doutor. Dhíonata. É menino, tá? Entendi que a intenção do registro de nascimento era Jonathan e nunca mais na vida associei nomes com sexo.

Juro que tudo aí é verdade, e só não dou nome aos bois porque não é ético. O Brasil transformou-se, todos sabem, num grande circo. Ninguém se preocupa mais em ser sério, quanto mais escrever e falar corretamente, e, assim, a pobre Língua pátria está morrendo. E não é somente nas conversas coloquiais que isto se dá. No mundo da mídia e dos negócios, também. As moças do 0800 foram treinadas para responder: "vou estar encaminhando a sua reclamação..." Não seria mais curto e fácil "Encaminharei sua reclamação"? Para que serve o futuro perfeito? Talvez ele seja perfeito demais, ou difícil de pronunciar, enrolando a língua. Deve ser isto. Não, não é não! A situação está mesmo crítica. Em 2014, 529 mil candidatos tiraram zero na redação do ENEM, acreditem. Em 2013, até mesmo 845 corretores de redação do mesmo ENEM foram igualmente reprovados por não alcançarem a nota mínima 7 nas próprias redações!

Ao longo da vida de curioso e piedoso com o nosso idioma, coleciono esses pequenos e dolorosos assassinatos na Língua de Camões. Cito, para ilustrar, algumas bem conhecidas como "assustar e adoçar o cheque" - diabético esse traumatizado cheque! -, "entre parentes" - reunião de família!, "célebro", "a gente fazemos", "avoar", "crasse", esta escrita de mil maneiras, menos "exceção". Outras, menos frequentes, mas que valem dez daquelas: "o avião degola", "tenho oregiza de camarão", "a corrupção afeta todo mundo, exclusive eu", "tive um ilídio de amor", "quem não risca não apetisca".

Conectada nas redes sociais, a moçada está cada vez mais alienada da história, geografia e conhecimentos gerias. No ENEM de 2014, foram registradas essas pérolas: "O Ateísmo é uma religião anônima", "A alimentação é o meio de digerirmos o corpo", "Eles negão de pés juntos que não são corruptos", "Os portugueses, depois que descobriram Fernandes de Noronha, assinaram o Tratado de Tortas Ilhas". É triste, mas a realidade é que estamos construindo uma sociedade sem qualquer compromisso com a acribia no uso da Língua Portuguesa. Mais triste ainda é constatar o estado de total depauperamento que campeia no mundo de Educação Nacional. Professores pessimamente remunerados que, para sobreviver, têm de ter mais de um emprego, sacrificando as horas de preparação das aulas pela sobrevivência. Completo desalento é constatar que neste país de falsa democracia, não há efetivo interesse em investir numa educação decente, sempre descente, por conta de interesses eleitoreiros. O voto de cabresto continua de forma disfarçada. Mesmo os jornalistas e novelistas ajudam a empobrecer o vernáculo: não dizem mais "vê-la", mas sim "ver ela", "amá-la", mas "amar ela", criando associações de palavras que beiram o hilário e o ridículo. Nossa presidente até tentou fazer alguma coisa, exigindo ser chamada pelo feminino "presidenta"*, mas não resolveu as queixas que criou entre os profissionais masculinos, que agora exigem ser tratados por "dentisto" e "nutricionisto".

Após ler Máximo Gorki, quando adolescente, enfrentei o patrão do meu pai, que exigia que ele devolvesse a multa do FGTS, naquela época de 10%. Irritadíssimo porque um "moleque" ousou afrontá-lo, quis me bater. Nervosinho que eu já era, lembrei-me de Gorki e retorqui: "O senhor não passa de um bilioso!" Tenho certeza que ele ficou mais irado ainda por não compreender que eu somente  dissera que ele era amargo como bílis. Pensou, naturalmente, que eu o xingara feio. Mas correu a acertar os direitos do meu querido pai. E aí percebi que falar e escrever corretamente eram uma grande vantagem neste mundo de Deus.

Não é arrogância, nem esnobismo. É gratidão e elegância. Gratidão com a Língua que me foi ensinada. Elegância porque é muito mais sonoro e agradável de ouvir "eu a amo", do que "quis amá-la mas não deu". De repente, eu teria esquecido a mala na rodoviária. "Amar-te-ei eternamente", por outro lado é elegância demais, não acham? Estão vendo a sutileza? Todo mundo gosta de coisas bonitas, tenho certeza.

Convenhamos, outrossim, que a vulgaridade de "vai lá em casa, fia", ou "eu vou aí", é de doer, concordam? Vamos lá: exercício de conjugação verbal: "Eu pêntio, tu pêntias, ele pêntia..." Pode? Pode sim, "eu faço questã!" Bom, vou parar por aqui. O carteiro está me mostrando um recibo para mim assinar. Ou seria eu? Caramba, isso pega!


Texto de José Carlos Ursini retirado da revista Conhecimento Prático Literatura, Edição 60, Maio/Junho 2015, Editora Escala, São Paulo.

* O uso da palavra "Presidenta" foi utilizada em 1868 por Moliére na peça "As Sabichonas" e por Machado de Assis em "Memórias Póstumas de Brás Cubas" em 1881.

Meu Celular E Eu

Pensei muito antes de iniciar este texto sobre a maneira como deveria escrever o título - o que colocar primeiro? O celular ou eu? Eu ou o celular? Pela ordem de importância, optei pela primeira. Mas vamos ao que interessa. O ser humano é um ser social e, como tal, possui a imensa necessidade de comunicar-se. Desde as inscrições nas paredes das cavernas, passando pela criação do alfabeto, dos registros em pele de animais até a invenção do papel, do nascer dos livros impressos até o surgimento do computador. Tudo ficou registrado. Além disso, aprendemos a viver em grupo e a falar - nos comunicamos uns com os outros. Falamos com nossos pares e aprendemos outras Línguas para podermos nos comunicar melhor com pessoas de diferentes nacionalidades. Mas, se não estivermos perto, como fazê-lo? Então o homem criou meios de enviarmos mensagens, como o telégrafo sem fio. Agora, um pouco de história. Por volta de 1860, Antonio Meucci, isso mesmo, um italiano, inventou um aparelho capaz de enviar a voz humana, por meio de cabos elétricos, de um lugar a outro. Podíamos falar no bocal deste aparelho e a pessoa, em outro local, também usando um aparelho semelhante, podia ouvir o que estávamos falando e, assim, responder. É bom informar que, em 15 de junho de 2002, o Congresso Americano decidiu que o inventor do telefone não foi Alexander Graham Bell e, sim, o senhor Meucci. Graham Bell comprou o invento e o patenteou. Nas voltas que o mundo dá, com a mente inquieta deste ser chamado homem, alguém teve a ideia de inventar um aparelho telefônico sem fio, daí para a criação dos aparelhos celulares foi um pulinho. Celular, isso mesmo. Este aparelho que iguala todo mundo chama-se celular. Caro leitor me perguntará por que me refiro ao aparelho como algo unificador? Pois assim o é. Todo mundo tem celular - rico, pobre, classe média, burguesia, aristocratas e plebeus. Dos mais variados tamanhos, com as mais variadas potências, "smarts", "não smarts", "pouco smarts". Ele serve apenas para falarmos? Não! Serve para tantas coisas que nem caberia aqui enumerá-las. Não sou da geração dos pequenos aparelhos em que carregamos o mundo conosco. Também não posso tirar-lhes toda a utilidade; porém, o que chama minha atenção é o domínio que ele tem sobre os seres humanos. Para alguns, o aparelho celular tornou-se extensão do próprio corpo. Impossível separar. O que me chama a atenção, até por ser professora e sem entrar no mérito do caos em que se encontra a educação neste país, é a capacidade, e diria também a cara de pau de alguns alunos que simplesmente trocam sua aula por notícias, jogos, mensagens, música, etc etc. Diriam vocês, caros leitores - "mas o uso do celular em sala de aula não é proibido por lei?" É! Tanto quanto é proibido dirigir falando ao celular. Não preciso dizer mais nada. Talvez se um dia criarem uma lei que multe quem usa o celular em sala de aula, para outros fins que não sejam fotografar, copiar ou pesquisar; os alunos pensem duas vezes antes de fazerem uso dos mesmos. Não percebem que estão deixando de aprender, estão trocando sabedoria por brincadeiras. Possuem celulares de última geração, mas não conseguem interpretar um texto simples, não sabem escrever corretamente, não conseguem resolver cálculos pouco complexos e muitos não escrevem corretamente nem o próprio nome. Estão de posse de um canhão; porém, mal conseguem dar tiros de espingarda. Uma coisa que reparei outro dia ao caminhar por um shopping center, foi observar o grande número de pessoas com o pescoço curvado para baixo, tanto em pé ou sentadas, mexendo em seus celulares. Fiquei pensando que daqui a algum tempo - e não precisa muito - estarão recorrendo a ortopedistas por problemas na coluna cervical, além de tendinite. Outros precisarão de aparelho auditivo por causa da surdez provocada pelo costume de ouvir música em volume alto, diretamente no ouvido.

Chego à assustadora conclusão de que, assim como o automóvel, o celular tornou-se, além de sua utilidade, também uma arma. Muitas pessoas já morreram atropeladas devido à distração na hora de atravessar ruas movimentadas, por estarem manuseando seus aparelhos. Outras provocaram acidentes automobilísticos. Aqueles que trocam o aprendizado pelo uso deste objeto acabam cometendo um crime contra si. Quem, em uma roda de conversa, isola-se, ou melhor dizendo, mostra sua falta de educação ao não resistir à tentação de dar uma olhada no aparelho, vai perder amigos e tornar-se cada vez mais rejeitado. Tanto é assim que existe uma série de regras de etiqueta orientando-nos sobre o correto uso do aparelho. Não pretendo de maneira alguma fazer apologia ao não uso do mesmo, impossível imaginar a vida sem ele. Sua utilidade é indiscutível. O problema, como sempre, é que não conseguimos enxergar o limite entre o individual e o coletivo. Entre o certo e o errado. Além de pagarmos caro pelos aparelhos, pagamos caro pela nossa ignorância.


Texto de Rita de Cassia Milharci Castellucci retirado na revista Conhecimento Prático Literatura, Edição 60, Maio/Junho de 2015, Editora Escala, São Paulo.

sábado, 29 de março de 2025

O poder inconsequente e a reforma política

 Antecipando a possível e necessária reforma política brasileira, a literatura falou da corrupção endêmica e de outros vícios que acompanham o poder político, além de questionar parâmetros da democracia.


Com a queda do Muro de Berlim, em 9 de novembro de 1989, a Alemanha se reunificava e o fim da Guerra Fria se iniciava. O processo que levou à derrubada do muro durou trinta dias e ocorreu sem violência. Hoje, o país liderado pela presidente Angela Merkel (que veio da antiga Alemanha Oriental), é visto como líder do continente, especialmente pela forma como reagiu à crise econômica de 2008 e à crise do euro.

Considerando-se que foi possível derrubar um muro que durante 28 anos separou famílias, parentes e amigos, dividiu ideologias, relegou a população oriental à estagnação econômica, poderá a reforma política, que ora se vislumbra, fazer com que os brasileiros voltem a confiar em seus políticos? Se a reforma se propõe a modificar a legislação eleitoral, a fim de frear a corrupção, hoje enraizada em órgãos públicos e particulares, ela conseguirá atingir suas metas, tendo em vista que a corrupção é realizada por homens acostumados a trapacear desde tempos remotos?

Naquele mesmo ano de 1989, o Brasil realizava sua primeira eleição direta para presidente depois da ditadura. O sonho de um país democrático se realizava, a esperança se estampava nos rostos das pessoas, mas os governos que seguiram transformaram os sonhos em pesadelos. É certo que muita coisa mudou pra melhor, mas, infelizmente, a corrupção veio à tona, e a cada dia o descontentamento aumenta.

A reforma política é, sem dúvida, necessária é urgente. Pode-se verificar essa urgência nos fatos expostos no livro O Nobre Deputado, do juiz de Direito, Márlon Reis. O deputado-personagem expõe abertamente o esquema de corrupção no país. Sobre eleições, ele declara que "a política é movida a dinheiro, poder e vaidade. Dinheiro compra poder, e poder é uma ferramenta poderosa para se obter dinheiro." Sobre a compra de votos: "sei que em alguns lugares o esquema é sofisticado, cheia de meandros e mecanismos para mascarar a milenar prática da corrupção. Para levantar dinheiro, vale fraudar licitações, desviar verbas indenizatórias, instrumentalizar os convênios (...)". Sobre ideologia: "no passado, já houve uma parte significativa da classe política que chegava ao mandato em virtude do seu prestígio e de outros valores mais nobres. Hoje, a liderança é a força do dinheiro."


Desvios de verbas públicas

O desvio das verbas públicas gera falta de recursos que seriam destinados à educação, saúde e segurança. Tudo isso, acarreta péssimas condições de vida para boa parte da população, além de instabilidade econômica para o País, de modo geral. Essa situação, inclusive, pode ser uma das causas do tráfico de drogas, uma vez que, não havendo investimento e controle governamental, grupos se formam para dominar parte da população carente de esperanças no futuro próximo, governada por instituições ineficientes.

Segundo o antropólogo e escritor Roberto Damatta, "alimentar os famintos, vestir os nus, dar abrigo aos sem-teto são as palavras mágicas dessa cosmologia política pervertida (...)". E completa que, "(...), nada disso ocorre, exceto a utopia de enricar sem fazer nada - apenas governando e politicando: vendo onde, quando e quanto se pode tirar sem dolo, culpa ou remorso porque o dinheiro era do lucro e o lucro, como na Idade Média, é roubo e pecado. E quem rouba o ladrão tem mil anos de perdão..."

Modificar esse esquema viciado é o que propõe a Coalizão Democrática pela Reforma Política e Eleições Limpas. Entre suas propostas, destaca o fim do financiamento empresarial de campanha, considerado "a raiz da corrupção". A Coalizão é uma iniciativa de entidades, organizações e movimentos que se uniram para apresentar à sociedade uma proposta de Reforma Política Democrática e realizar uma campanha unificada pela sua efetivação.

Muita coisa mudou desde 1989, por isso, muitas regras que regem a Constituição precisam ser revistas, e uma das questões mais relevantes é a reforma política. A partir dela, outras virão para garantir a democracia conquistada. O fato de José Saramago ter sido um grande questionador da democracia, e ter feito, em seu livro Ensaio Sobre a Lucidez, uma censura aberta ao sistema capitalista e aos seus governos que em nome da democracia cometem atos arbitrários, ilegítimos e antidemocráticos, mostra-nos quantas lutas ainda deveremos abraçar. Argumentos "pró" e "contra" a democracia, o governo e a reforma não faltam, e são bem-vindos.

Salve Drummond! Há uma pedra no meio do caminho. Se ela for mais leve que um muro, poderá ser removida. Se alguma planta a envolver e nela criar raízes profundas, ainda assim nos resta a esperança de que muitas mãos unidas consigam retirar pelo menos a pedra, senão for possível retirar as raízes. Há pedras no caminho que podem reconstruir um sonho esquecido.


Texto de Maria do Rosário Andrade Chaves retirado da revista Conhecimento Prático Literatura, Edição 63, Novembro/Dezembro de 2015, Editora Escala, São Paulo.

Não te enganes (65)

 "Olhais para as coisas, segundo as aparências? Se alguém confia em si mesmo que é do Cristo, pense outra vez isto consigo, que assim como ele é do Cristo, também nós do Cristo somos." - Paulo. (II CORÍNTIOS, 10:7.)


Não te enganes, acerca da nossa necessidade comum no aperfeiçoamento.

Muita vez, superestimando nossos valores, acreditamo-nos privilegiados na arte da elevação. E, em tais circunstâncias, costumamos esquecer, impensadamente, que outros estão fazendo pelo bem muito mais que nós mesmos.

O vaga-lume acende leves relâmpagos nas trevas e se supõe o príncipe da luz, mas encontra a vela acesa que o ofusca. A vela empavona-se sobre um móvel doméstico e se presume no trono absoluto da claridade, entretanto, lá vem um dia em que a lâmpada elétrica brilha no alto, embaciando-lhe a chama. A lâmpada, a seu turno, ensoberbece-se na praça pública, mas o Sol, cada manhã resplandece no firmamento, clareando toda a Terra e empalidecendo todas as luzes planetárias, grandes e pequenas.

Enquanto perdura a sombra protetora e educativa da carne, quase sempre somos vítimas de nossas ilusões, mas, em voltando o clarão infinito da verdade com a renovação da morte física, verificamos, ao sol da vida espiritual, que a Providência Divina é glorioso amor para a Humanidade inteira.

Não troques a realidade pelas aparências.

Respeitemos cada realização em seu tempo e cada pessoa no lugar que lhe é devido.

Todos somos companheiros de evolução e aperfeiçoamento, guardados ainda entre o bem e o mal. Onde acionarmos a nossa "parte inferior", a sombra dos outros permanecerá em nossa companhia. Da zona a que projetarmos a nossa "boa parte", a luz do próximo virá ao nosso encontro.

Cada alma é sempre uma incógnita para outra alma. Em razão disso, não será lícito erguer as paredes de nossa tranquilidade sobre os alicerces do sentimento alheio.

Não nos iludamos.

Retifiquemos em nós quanto prejudique a nossa paz íntima e estendamos braços e pensamentos fraternos, em todas as direções, na certeza de que, se somos de portadores de virtudes e defeitos, nas ocasiões de juízo receberemos sempre de acordo com as nossas obras. E, compreendendo que a Bondade do Senhor brilha para todas as criaturas, sem distinção de pessoas, recordemos em nosso favor e em favor dos outros as significativas palavras de Paulo: - "Se alguém confia em si mesmo que é do Cristo, pense outra vez isto consigo, porque tanto quanto esse alguém é do Cristo, também nós do Cristo somos."


Texto retirado do livro Fonte VivaFrancisco Cândido Xavier pelo Espírito Emmanuel, FEB, Brasília, 1987.

terça-feira, 25 de março de 2025

Gênero e Tipologia Textual

 Para muitos não há diferença entre Gêneros Textuais e Tipologia Textual. Por isso se faz necessário a definição de cada termo, bem como a diferenciação entre ambos.


GÊNEROS TEXTUAIS

São as espécies de textos efetivamente produzidos em nosso cotidiano, cumprindo funções em situações comunicativas e que apresentam características gerais e comuns - como forma, estrutura linguística e assunto - facilmente identificáveis. Como exemplos de Gêneros Textuais temos a carta pessoal, alista de compras, os cartazes, o romance, etc. São inúmeras formas textuais escritas ou orais estáveis, da mesma forma que são inúmeras as práticas sociais a que elas servem. Enquanto a prática social estiver em vigor, o gênero textual a ela associado circulará. Como a vida em sociedade está sempre mudando e evoluindo, novos gêneros nascem, outros desaparecem e outros se mantêm. Exemplo: O gênero "carta pessoal" já não é tão conhecido e praticado pelos alunos. Devido à democratização da informática, esse gênero caiu em desuso, sobretudo no ambiente urbano, porém nasceu o gênero "e-mail", que tem o mesmo objetivo social da carta pessoal.


TIPOLOGIA TEXTUAL

São composições linguísticas que têm como característica a predominância de certas estruturas sintáticas, tempos e modos verbais, classes gramaticais, combinações etc., de acordo com sua função e intencionalidade no interior do gênero textual. Se os gêneros textuais são inúmeros, a tipologia textual é limitada. São tipos textuais: Narrativo, Descritivo, Argumentativo, Expositivo e Injuntivo. Pode-se dizer que um gênero textual pode conter uma ou mais tipologias textuais. Por exemplo, para os gêneros crônica, romance, fábula, piada, contos de fada, entre outros, a tipologia textual predominante é a narrativa. Para os gêneros anúncio de classificado, lista de compras, cardápio, cartaz de procura-se, a tipologia que predomina é a descritiva. Para os gêneros manifesto, sermão, monografia, ensaio, editorial, dissertação, a tipologia predominante é a argumentativa. Para os gêneros livro didático, verbete de dicionário e enciclopédia, é a tipologia expositiva que predomina. Para os gêneros propaganda, receita culinária, manual de instruções, entre outros, é a tipologia injuntiva.

É importante salientar a presença do adjetivo predominante, pois cada gênero pode apresentar mais de uma tipologia, daí a designação sequência textual, já que os textos podem ser elaborados com sequências de mais de uma tipologia textual, embora sempre uma delas prevaleça. Por exemplo, em uma crônica pode haver uma sequência narrativa, uma descritiva e até mesmo  uma sequência argumentativa.


O APRENDIZADO DO TEXTO POR MEIO DO GÊNERO TEXTUAL

Todos os textos, orais e escritos, que circulam em nossa sociedade, apresentam um conjunto de características relativamente estáveis que se caracterizam por diferentes gêneros textuais e podem ser identificados por aspectos básicos, como o assunto (conteúdo temático), a estrutura (forma composicional) e os procedimentos recorrentes da linguagem (estilo).

Para Bernard Schuneuwly, o gênero textual é uma ferramenta, ou seja, um instrumento com o qual se pode exercer uma ação linguística sobre a realidade. Dessa forma, o gênero textual produz dois efeitos de aprendizagem: Amplia a competência linguística e discursiva do aluno, como também amplia o conhecimento a respeito do próprio gênero e aponta as inúmeras formas de utilizá-lo socialmente. Por exemplo, o aluno, ao saber reconhecer o assunto, a estrutura e o estilo, bem como a linguagem do gênero Receita Culinária, saberá que ela serve para instruir sobre a feitura da guloseima e para dar certo é necessário seguir os ingredientes, bem como as quantidades, o modo de preparo, etc.

Toda ação linguística cotidiana é sempre orientada por um conjunto de fatores que atuam no contexto situacional: quem produz o texto, quem é o interlocutor, e qual é a finalidade do texto. Por se tratarem de estruturas fixas, os gêneros textuais são facilmente identificados, por ser facilmente encontrados em nosso cotidiano, ainda mais se tratando de alguns gêneros mais usados na esfera familiar, como é o caso da Receita Culinária.

O ensino de produção de texto por meio do gênero textual faz com que o resultado seja satisfatório, uma vez que põe o aluno em contato com uma variedade textual, ou seja, os diferentes gêneros textuais que circulam socialmente, quando isso ocorre logo nas primeiras séries, a aprendizagem se dá em espiral, uma vez que o mesmo gênero periodicamente é retomado, aprofundado e ampliado de acordo com a série, o grau de maturidade do aluno bem como com suas habilidades linguísticas.

Dessa forma, a sala de aula se transforma em uma oficina de textos de ação social e faz com que os alunos aprendam a escrever todos os tipos textuais, além de perceber que o bom texto não é aquele que apresenta características de beleza literária, mas aquele que é adequado à situação comunicacional para a qual foi produzido.


Texto de Fabiano Garcez retirado da revista Conhecimento Prático Literatura, Edição 64, Janeiro/Fevereiro 2016, Escala Editora, São Paulo.

sábado, 22 de março de 2025

Semeadores (64)

 "Eis que o semeador saiu a semear." - Jesus. (MATEUS, 13:3)


Todos ensinamento do Divino Mestre é profundo e sublime na menor expressão. Quando se dispõe a contar a parábola do semeador, começa com ensinamento de inestimável importância que vale relembrar.

Não nos fala que o semeador deva seguir, através do contrato com terceiras pessoas, e sim que ele mesmo saiu a semear.

Transferindo a imagem para o solo do espírito, em que tantos imperativos de renovação convidam os obreiros da boa-vontade à santificante lavoura da elevação, somos levados a reconhecer que o servidor do Evangelho é compelido a sair de si próprio, a fim de beneficiar corações alheios.

É necessário desintegrar o velho cárcere do "ponto de vista" para nos devotarmos ao serviço do próximo.

Aprendendo a ciência de nos retirarmos da escura cadeia do "eu", excursionaremos através do grande continente denominado "interesse geral". E, na infinita extensão dele, encontraremos a "terra das almas", sufocadas de espinheiros, ralada de pobreza, revestida de pedras ou intoxicada de pântanos, oferecendo-nos a divina oportunidade de agir a benefício de todos.

Foi nesse roteiro que o Divino Semeador pautou o ministério da luz, iniciando a celeste missão do auxílio entre humildes tratadores de animais e continuando-a através dos amigos de Nazaré e dos doutores de Jerusalém, dos fariseus palavrosos e dos pescadores simples, dos justos e dos injustos, ricos e pobres, doentes do corpo e da alma, velhos e jovens, mulheres e crianças...

Segundo observamos, o semeador do Céu ausentou-se da grandeza a que se acolhe e veio até nós, espalhando as claridades da Revelação e aumentando-nos a visão e o discernimento. Humilhou-se para que nos exaltássemos e confundiu-se com a sombra a fim de que a nossa luz pudesse brilhar, embora lhe fosse fácil fazer-se substituído por milhões de mensageiros, se desejasse.

Afastemo-nos, pois, das nossas inibições e aprendamos com o Cristo a "sair para semear".


Texto retirado do livro Fonte VivaFrancisco Cândido Xavier pelo Espírito Emmanuel, FEB, Brasília, 1987.