Diversas soluções são apresentadas para melhorar o nível das redações nas escolas, problema que requer atenção especial do professor de Língua Portuguesa
A afirmação de que o ensino de Língua Portuguesa no Brasil está em crise é recorrente no cotidiano acadêmico. A necessidade de melhoria no ensino de produção de texto nas escolas públicas brasileiras é indiscutível, aliás, é muito questionada por estudiosos da Língua. Ensinar conceitos de gramáticas normativas ou ensinar a funcionalidade da Língua? Dar ênfase aos desacordos gramaticais de uma produção textual ou analisar o sentido essencial do texto?
O ensino de Língua Portuguesa, em sua totalidade, é extremamente abrangente. Talvez o mais sensato fosse não priorizar uma ou outra vertente, mas tudo. Para tanto, demandaria tempo e estrutura nas escolas, envolvendo outras questões, inclusive a política.
Considerando o sistema tradicional de correção de textos nas escolas, sabe-se que uma produção textual para ser considerada boa deve apresentar, além de lógica entre as ideias, poucos desacordos gramaticais. Dessa forma, elaborar textos é uma atividade complexa, pois exige uma boa compreensão da gramática normativa e de encadeamento das frases no texto.
Algumas vezes, o problema educacional começa na formação do professor. Este, quando não consegue compreender o texto de um aluno, justifica os possíveis defeitos com conceitos abrangentes e, dessa maneira, aponta a falta de coerência ou talvez coesão. Nem o professor, porém, consegue esmiuçar a questão problemática, de modo a ficar clara a falha do texto.
O texto escrito necessita de uma atenção maior ao ser elaborado, já que não possui auxílio de alguns elementos que ajudam na compreensão do interlocutor como acontece no texto faca a face.
Antigamente, o ensino de produção de textos era focado na dissertação para o vestibular; dessa forma, elaboravam-se métodos específicos ou "receitas do texto". Atualmente, com a inserção dos gêneros textuais nos vestibulares, o aluno não pode ficar preso a um modo de escrita apenas; logo, deverá ampliar o seu repertório linguístico.
Na teoria parece funcionar. Na prática, porém, problemas antigos são visíveis em muitos textos atuais. Foi feita uma pesquisa acadêmica para observar o nível textual de alguns alunos de uma escola pública no Paraná e o resultado não foi muito animador. Os alunos participantes sabiam que as dissertações seriam materiais para estudo acadêmico, portanto, empenharam-se muito. Tirando as exceções, exemplos como os que estão abaixo são comuns no ensino médio. O fragmento foi escrito por um aluno do 3º ano do ensino médio:
"(Cidade X) é uma cidade grande e muito conhecida, apesar disso é uma cidade que falta emprego as pessoas e isso causa dificuldades para todos porque sem um trabalho não tem como comprar o que comer, o que vestir, não te, onde morar, e etc.
E isso causa muita tristeza, muito desânimo, muitas pessoas que são abandonadas e acabam sendo mortas, abandonadas pela sociedade, pelo mundo, mortas pelas enchentes."
Considerando o tema problemas de uma cidade grande, o aluno não foi coerente. Alguns problemas formais apareceram, mas o mais grave e importante a ser analisado talvez seja a falta de bons argumentos.
SOLUÇÃO COMPLEXA
Quantos estudos já corroboraram a crise do ensino de produção de textos? Medidas são tomadas, às vezes, para camuflar alguns problemas. Infelizmente a educação depende de muitos fatores para funcionar, principalmente da política.
A reversão desses caminhos negativos é árdua. A preocupação com a qualidade textual de alunos que almejam cursar uma graduação é interessante, já que estudos a partir dessa preocupação podem servir de diagnóstico para identificar o nível de produção desses alunos, gerando dados para a pesquisa com reflexões sobre o cenário textual.
Quando se estabelece um cenário textual, há sempre um contexto vinculado a esse cenário. Os alunos produzem sob um contexto imediato: o escolar, carregado de pressão.
Pensar que um aumento considerável de pesquisas, estudos e reflexões dedicados a como escrever um bom texto, gêneros textuais e tipos textuais sanará as dificuldades dos discentes é utopia, pois eles sempre apresentarão dificuldades. Mas deixá-los à mercê do destino é desprezível, pois é papel das instituições responsáveis pelas pesquisas tentar entender os problemas para produzirem boas literaturas ao cenário textual. Não é a quantidade de pesquisas, o problema, mas o engajamento de um conjunto: universidades, escolas, governos, professores, pesquisadores, alunos e outros.
Mesmo enfrentando vários empecilhos, melhorar a qualidade dos textos nas escolas públicas deve ser atividade constante de muitos professores de Português. São notórias as dificuldades encontradas no ambiente escolar: a falta de motivação, o excesso de trabalho, além da falta de respeito dos alunos e até dos pais. Mas é trabalho do professor tentar melhorar.
Texto de Bruno Lopes retirado da revista Conhecimento Prático Língua Portuguesa, número 41, Editora Escala Educacional, São Paulo.