"Tenho o corpo tão leve (quando queiras) que a teu primeiro sopro cederei distraída como um pensamento cortado pela visão da lua em que acaso - mais alto - refloresça." (verso final de Vem, doce morte, de Henriqueta Lisboa, 1950)
A normalista sai do Colégio Sion, em Campanha, e, da cidade natal, a vizinha Lambari, em Minas Gerais, muda-se com a família para o Rio de Janeiro. Ali se torna inspetora de alunos, professora de Literatura Hispano-Americana, tradutora, e vira poeta. Estamos em 1925, quando Henriqueta Lisboa publica seu primeiro livro de poesias, o de corte ainda marcadamente simbolista Fogo-fátuo.
Nas décadas seguintes, ela se afirma como uma das mais delicadas vozes da poesia brasileira, publicando obras que vão pouco a pouco se filiando à chamada segunda geração de modernistas. Em O Menino Poeta, de 1943, pela primeira vez um livro infantil no país escapa dos esquemas pedagógicos e do cunho moralista vigente e se aventura no jogo de palavras, na leitura pelo prazer do texto.
O Modernismo, sua temática e o verso livre em sua poesia vão ganhando espaço em trajetória similar à de Cecília Meirelles. Na correspondência tão afetuosa entre Henriqueta e Mário de Andrade, Querida Henriqueta, encontramos algumas pistas disso: "...tem em você agora, com certa indecisão, imprecisão de divisão, duas pessoas distintas. Uma delas é o poeta, e outra é a professora católica". No decorrer de seus livros, à procura da "realidade lírica e livre da poesia", como lhe aconselhou Mário, Henriqueta, aos poucos, substitui definitivamente a primeira pela segunda, com folgas.
Texto de Marcílio Godoi retirado da revista Língua Portuguesa, Ano 9, Número 105, Julho de 2014, Editora Segmento, São Paulo.
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