domingo, 8 de abril de 2012

Odara

                    Caetano Veloso

Deixa eu dançar
Pro meu corpo ficar odara
Minha cara
Minha cuca ficar Odara

Deixa eu cantar
Que é pro mundo ficar Odara
Pra ficar tudo jóia rara
Qualquer coisa que se sonhara
Canto e danço que dará...

música de Caetano Veloso lançada em 1977. Nara Leão e Gal Costa regravaram a canção!!

Dancin' Days

                         Nelson Motta/Rubens Queiroz

Abra suas asas
Solte suas feras
Caia na gandaia
Entre nessa festa
Leve com você
Seu sonho mais louco
Eu quero ver seu corpo
Lindo, leve, solto

A gente às vezes
Sente, sofre, dança
Sem querer dançar
Na nossa festa
Vale tudo
Vale ser alguém como eu
Como você

Dance bem, dance mal
Dance sem para,
Dance bem, dance até
Sem saber dançar...

Música do segundo disco das Frenéticas intitulado Caia Na Gandaia lançado em 1978. Não preciso dizer nada sobre o grande sucesso dela... É tocada até hoje!!

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Um poema para aqueles que transformam sonhos em realidade



Gosto de pessoas vibrantes
Que não  precisam ser empurradas
Que não precisam que ninguém lhes diga o que fazer.
Mas que sabem o que devem fazer
E o fazem em tempo muito menor do que se espera.

Gosto de pessoas capazes
De medir as consequências de seus atos.
Pessoas que não esperam que as soluções apareçam do nada.
Gosto de pessoas que são rígidas com os outros
E consigo próprias
Mas que jamais perdem de vista o fato de que somos
Todos humanos
E, que às vezes , cometemos erros.

Gosto de pessoas que acreditam
Que trabalhar em equipe
Produz mais resultados do que caóticos esforços
Individuais.
Gosto de pessoas que conhecem
A importância da felicidade.
Gosto de pessoas que são sinceras e francas
Capazes de enfrentar decisões
Com argumentos serenos e bem balizados.

Gosto de pessoas que têm discernimento,
Que não engolem as coisas sem crítica
Que não se envergonham de reconhecer que não sabem
Algo ou que cometeram um erro, e que, ao aceitar seus erros
Fazem um esforço genuíno para não repeti-los.

Gosto de pessoas capazes
De me fazer críticas conscientes.
Os  chamo de amigos na presença de todos.
Gosto de pessoas leais e persistentes
Que não desanimam na tentativa de atingir suas metas.

Gosto de pessoas tenazes
Que enxergam nos obstáculos desafios.
Gosto de pessoas que trabalham pelos resultados.

Com pessoas assim
Comprometo-me a fazer qualquer coisa
Sem esperar recompensa alguma
Porque tendo convivido com pessoas assim
Já terei sido recompensado.

autoria desconhecida

" Nóis Mudemo "

                          Fidêncio Bogo


O ônibus da Transbrasiliana deslizava manso pela Belém-Brasília rumo a Porto Nacional. Era abril, mês das derradeiras chuvas. No céu, uma luazona enorme pra namorado nenhum botar defeito. Sob o luar generoso, o cerrado verdejante era um presépio, todo poesia e misticismo.

Mas minha alma está profundamente amargurada. O encontro daquela tarde, a visão daquele jovem marcado pelo sofrimento, precocemente envelhecido, a crua recordação de um episódio que parecia tão banal... Tentei dormir. Inútil. Meus olhos percorriam a paisagem enluarada, mas ela nada mais era para mim que o pano de fundo de um drama estúpido e trágico.

....................................................................................................................................................................

As aulas tinham começado numa segunda-feira. Escola da periferia, classes heterogêneas, retardatários. Entre eles, uma criança crescida, quase rapaz.

- Por que você faltou esses dias?
- É que nóis mudemo onti, fessora. Nóis veio da fazenda.

Risadinhas da turma.

- Não se diz " nóis mudemo ", menino! A gente deve dizer: nós mudamos, tá?
- Tá, fessora!

No recreio, as chacotas dos colegas: Oi, nóis mudemo! Até amanhã, nóis mudemo!
No dia seguinte, a mesma coisa: risadinhas, cochichos, gozações.

- Pai, não vô mais pra escola.
- Oxente! Módi que?

Ouvida a história, o pai coçou a cabeça e disse:

- Meu fio, num deixa a escola por uma bobagem dessa! Não liga pras gozações da mininada! Logo eles esquece.

Não esqueceram.

Na quarta-feira, dei pela falta do menino. Ele não apareceu no resto da semana, nem na segunda-feira seguinte. Aí me dei conta de que eu nem sabia o nome dele. Procurei no diário de classe e soube que se chamava Lúcio - Lúcio Rodrigues Barbosa. Achei o endereço. Longe, um dos últimos casebres do bairro. Fui lá, uma tarde. O rapazola tinha partido no dia anterior para a casa de um tio, no sul do Pará.

- É professora, meu fio não aguentou as gozações da mininada. Tentei fazê ele continuá, mas não teve jeito. Ele tava chatiado demais. Bosta de vida! Eu devia de tê ficado na fazenda coa família. Na cidade nóis não tem veis. Nóis fala tudo errado.

Inexperiente, confusa, sem saber o que dizer, engoli em seco e me despedi.

....................................................................................................................................................................

O episódio ocorrera há dezessete anos e tinha caído em total esquecimento, ao menos de minha parte.

Uma tarde, num povoado à beira de Belém-Brasília, eu ia pegar o ônibus, quando alguém me chamou. Olhei e vi, acenando para mim, um rapaz pobremente vestido, magro, com aparência doente.

- O que é, moço?
- A senhora não se lembra de mim, fessora?

Olhei para ele, dei tratos à bola. Reconstruí num momento meus longos anos de sacerdócio, digo, de magistério. Tudo escuro.

- Não me lembro não, moço. Você me conhece? De onde? Foi meu aluno? Como se chama?

Para tantas perguntas, uma resposta lacônica:

- Eu sou " nóis mudemo ", lembra?

Comecei a tremer.

-Sim, moço. Agora me lembro. Com era mesmo seu nome?
- Lúcio - Lúcio Rodrigues Barbosa.
- O que aconteceu com você?
- que aconteceu? Ah, fessora! É mais fácil dizer o que não aconteceu. Comi o pão que o  diabo amassô. E êta diabo bom de padaria! Fui garimpeiro, fui boia-fria, um " gato " me arrecadou e levou num caminhão pruma fazenda no meio do mato. Lá trabaiei como escravo, passei fome, fui baleado quando consegui fugi. Peguei tudo quanto foi doença. Até na cadeia fui pará. Nóis ignorante às veis fais coisa sem querê fazê. A escola fais uma farta danada. Eu não devia de tê saído daquele jeito, fessora, mas não aguentei as gozações da turma. Eu vi logo que nunca ia consegui falá direito. Ainda hoje não.

- Meu Deus!

Aquela revelação me virou pelo avesso. Foi demais pra mim. Descontrolada, comecei a soluçar convulsivamente. Como podia ter sido tão burra e má? E abracei o rapaz, o que restava do rapaz, que me olhava atarantado.

- O ônibus buzinou com insistência.
- O rapaz afastou-se de mim suavemente.
- Chora não, fessora. A senhora não tem curpa.

Como? Eu não tenho culpa? Deus do céu!

Entrei no ônibus apinhado. Cem olhos eram flechas vingadoras apontadas para mim. O ônibus partiu. Pensei na minha sala de aula. Eu era uma assassina a caminho da guilhotina.

....................................................................................................................................................................

Hoje tenho raiva da gramática. Eu mudo, tu mudas, ele muda, nós mudamos, mudamos, mudaamoos, mudaaamooos... Superusada, mal usada, abusada, ela é uma guilhotina dentro da escola. A gramática faz gato e sapato da língua materna - a língua que a criança aprendeu com seus pais e irmãos e colegas - e se torna um terror dos alunos. Em vez de  estimular e fazer crescer, comunicando, ela reprime e oprime, cobrando centenas de regrinhas estúpidas para aquela idade.

E os lúcios da vida, os milhares de lúcios da periferia e do interior, barrados nas salas de aula: " Não é assim que se diz, menino! " Como se o professor quisesse dizer: " Você está errado! Os seus pais estão errados! Seus irmãos e amigos e vizinhos estão errados! A certa sou  eu! Imite-me! Copie-me! Fale como eu! Você não seja você! Renegue suas raízes! Diminua-se! Desfigure-se! Fique no seu lugar! Seja uma sombra! "

E siga desarmado para o matadouro da vida...

Este texto sempre me emocionou...

terça-feira, 3 de abril de 2012

Antônio & Miguel II

Antônio & Miguel I

Dança II

Dança I

Lobão em dose dupla

Chorando no Campo 
Lobão/Bernardo Vilhena

A chuva cai chorando
E o meu amor vai e vem
No céu, no chão
A rede vai e vai levando
A noite além da noite
Me faz lembrar
O que eu não vivi
Toda essa história
Esse segredo
Memórias de um vendaval

Pela estrada enquanto eu passo
O cinema é só ilusão
Vou chorando pelo campo
No meio do temporal

A chuva dá saudades
De um lugar que eu nunca fui
E o vento vai soprando
Um choro tão distante

Pela estrada enquanto eu passo
O cinema é só ilusão
Vou chorando pelo campo
No meio desse temporal

Por Tudo Que For
Lobão/Bernardo Vilhena

E depois
A luz se apagou
E eu não consigo mais ficar sozinho aqui

Sem você
É tão ruim
Não tem sentido prazer não há mais nada

Por favor
Não me interpreta mal
Eu não queria nem devia te magoar

O tempo vem
O tempo vai
Passa por mim meio assim, meio assim devagar

Vou dormir sentindo
O que a solidão pode fazer
A um ser ferido
Por saber que o erro era meu

Já passou
Agora já passou
Mas foi tão triste que eu não quero nem lembrar

Ver você
Ter você
E querer mais de nós dois não tem nada demais

E pensar
Você aparecer
Pela janela tão bonita de manhã

Vem pra mim
E não vai mais
Me abraça, me abraça, me abraça por tudo que for

A primeira música faz parte do álbum Vida Bandida gravado em 1987; a segunda, do álbum Cuidado de 1988. Não conheço a obra do Lobão, mas a impressão que tenho é a de que esses discos são os melhores que ele gravou. São da época do LP e não foram relançados em CD. Uma pena!! E por incrível que possa parecer, ganhei os dois discos de uma colega de trabalho. O filho estava se desfazendo de tudo e ela perguntou se eu queria. Como não tinha nada do Lobão e adoro novidades, aceitei-os!! São duas canções que considero " inseparáveis ". As letras são do grande Bernardo Vilhena, poeta e letrista que fez muita coisa com o Ritchie. O lirismo delas é uma coisa genial e delicada. Poderia soar estranho ouvir o Lobão cantando...  tão suave!! Mas o Lobo ficou manso por causa delas... Sensacional!!


segunda-feira, 2 de abril de 2012

O Som da Floresta

Há muitos anos, em um reino longínquo, um rei, pressentindo que estava chegando ao fim de seus dias, ponderou que a melhor maneira de preparar o seu filho para substituí-lo seria enviando-o para permanecer por algum tempo em companhia de um grande sábio, que morava em um templo distante, situado na fronteira de uma densa floresta. Era seu desejo que o sábio ensinasse ao príncipe as regras de um grande dirigente, transmitindo-lhe toda a sabedoria necessária para isso. Quando o príncipe chegou ao templo, com a incumbência de permanecer com o mestre, este respondeu que, como parte de sua formação, ele deveria ir para a floresta, aí permanecendo por um ano, ouvindo todos os sons da floresta e retornando a seguir.

Embora chateado, pois não era isto o que esperava, o príncipe foi para a floresta, voltando ao tempo após o prazo estipulado. Ao encontrar com o sábio, este solicitou ao jovem para descrever todos os sons que tinha ouvido. " Mestre ", respondeu o príncipe, " eu ouvi o canto dos pássaros, o ruído das folhas balançando ao vento, o zumbido das abelhas, o som do riacho correndo no seu leito, o estrando dos trovões... ", descrevendo com pormenores todos os sons que tinha registrado.

Quando o príncipe terminou o seu relato, o mestre disse-lhe para ir novamente para a floresta e ouvir tudo mais que ele poderia ter ouvido. O jovem mostrou-se perplexo e surpreso. Não teria ele ouvido todos os sons possíveis daquela floresta?

Durante muitos dias e noites, permaneceu o príncipe sozinho na floresta, meditando e buscando por novos sons que eventualmente lhe teriam passado despercebidos. Mas nada de novo era registrado, a não ser o que ele já havia escutado.

Então, numa certa manhã, quando o príncipe estava sentado silenciosamente à sombra de uma árvore, começou a discernir sons muito leves, diferentes de tudo que ele tinha ouvido anteriormente. Quanto mais atenção prestava, mais claros os sons se tornavam. Um sentimento de grande alegria envolveu o jovem. " Estes devem ser os sons que o mestre desejava que eu discernisse ", refletiu.

Quando o príncipe voltou ao templo, o mestre perguntou-lhe sobre o  que mais ele tinha ouvido. " Sábio ", respondeu o príncipe com reverência, " quando eu estava na floresta, pude escutar o inaudível - o som das flores se abrindo, o som do sol esquentando a terra, o som do orvalho se formando. " O mestre balançou a cabeça, com aprovação. " Ouvir o inaudível ", lembrou ele, " é disciplina necessária a todo grande líder, pois somente quando o líder é capaz de ouvir o coração das pessoas, escutar os sentimentos não-comunicados, as dores não expressas, as queixas não-ditas, pode ele ter esperança de inspirar confiança no seu povo, compreender quando algo está errado, satisfazer as necessidades verdadeiras de seus subordinados. "

autoria desconhecida