sexta-feira, 17 de julho de 2020

O Grande Desastre Aéreo de Ontem

Vejo sangue no ar, vejo o piloto que levava uma flor para a noiva, abraçado com a hélice. E o violinista, em que a morte acentuou a palidez, despenhar-se com sua cabeleira negra e seu estradivárius. Há mãos e pernas de dançarinas arremessadas na explosão. Corpos irreconhecíveis identificados pelo Grande Reconhecedor. Vejo sangue no ar, vejo chuva de sangue caindo nas nuves batizadas pelo sangue dos poetas mártires. Vejo a nadadora belíssima, no seu último salto de banhista, mais rápida porque vem sem vida. Vejo três meninas caindo rápidas, enfunadas, como se dançassem ainda. E vejo a louca abraçada ao ramalhete de rosas que ela pensou ser o paraquedas, e a prima-dona com a longa cauda de lantejoulas riscando o céu como um cometa. E o sino que ia para uma capela do oeste, vir dobrando finados pelos pobres mortos. Presumo que a moça adormecida na cabina ainda vem dormindo, tão tranquila e cega! Ó amigos, o paralítico vem com extrema rapidez, vem como uma estrela cadente, vem com as pernas do vento. Chove sangue sobre as nuvens de Deus. E há poetas míopes que pensam que é o arrebol.

Texto de Jorge de Lima.

O Acendedor de Lampiões

Lá vem o acendedor de lampiões da rua!
Este mesmo que vem infatigavelmente,
Parodiar o sol e associar-se à lua
Quando a sombra da noite enegrece o poente!

Um, dois, três lampiões, acende e continua
Outros mais a acender imperturbavelmente,
À medida que a noite aos poucos se acentua
E a palidez da lua apenas se pressente.

Triste ironia atroz que o senso humano irrita:
Ele que doura a noite e ilumina a cidade,
Talvez não tenha luz na choupana em que habita.

Tanta gente também nos outros insinua
Crenças, religiões, amor, felicidade,
Como este acendedor de lampiões de rua!

Soneto de Jorge de Lima, retirado do livro Nossos Clássicos, Livraria Agir Editora, 3a Edição, 1975.

quinta-feira, 16 de julho de 2020

O Filho

Um homem muito rico e seu filho tinham grande paixão pela arte. Tinham de tudo em sua coleção, desde Picasso até Rafael. Muito unidos, se sentavam juntos para admirar as grandes obras de arte.

Por uma desgraça do destino, seu filho foi para a guerra. Foi muito valente e morreu na batalha, quando resgatava um soldado.

O pai recebeu a notícia e sofreu profundamente a morte de seu único filho. 

Um mês mais tarde, justo antes do Natal, alguém bateu na porta... Um jovem com uma grande tela em suas mãos disse ao pai:

- Senhor, você não me conhece, mas eu sou o soldado por quem seu filho deu a vida. Ele salvou muitas vidas nesse dia e estava me levando a um lugar seguro quando uma bala lhe atravessou o peito, morrendo assim, instantaneamente. Ele falava muito do senhor e deu seu amor pela arte.

E o rapaz estendeu os braços para entregar a tela.

- Eu sei que não é muito e eu também não sou um grande artista, mas sei também que seu filho gostaria que você recebesse isto.

O pai abriu a tela. Era o retrato de seu filho, pintado pelo jovem soldado. Ele olhou com profunda admiração a maneira como o soldado havia capturado a personalidade de seu filho na pintura. 

O pai estava tão atraído pela expressão dos olhos de seu filho que seus próprios olhos se encheram de lágrimas. Ele agradeceu ao jovem soldado e ofereceu pagar-lhe pela pintura.

- Não, senhor, eu nunca poderia pagar-lhe o que seu filho fez por mim. Essa pintura é um presente.

O pai colocou a tela a frente de suas grandes obras de arte. Cada vez que alguém visitava sua casa, ele mostrava o retrato do filho, antes de mostrar sua famosa galeria.

O homem morreu alguns meses mais tarde e se anunciou um leilão de todas as suas obras de arte. Muita gente importante e influente, com grandes expectativas de comprar verdadeiras obras de arte.

Em exposição, estava o retrato do filho.

O leiloador bateu seu martelo para dar início ao leilão.

- Começaremos o leilão com o retrato "O FILHO". Quem oferece por este quadro? Um grande silêncio...

Então, um grito do fundo da sala:

- Queremos ver as pinturas famosas!!! Esqueça-se desta!!!

O leiloador insistiu... 

- Alguém oferece algo por essa pintura? $100? $200? 

Mais uma vez outra voz:

- Não viemos por esta pintura! Viemos por Van Goghs, Picasso... Vamos às ofertas de verdade...

Mesmo assim, o leiloador continuou:

- O FILHO!!! O FILHO!!! Quem leva O FILHO?

Finalmente, uma voz:

- Eu dou $ 10 pela pintura.

Era o velho jardineiro da casa. Sendo um homem muito pobre, esse era o único dinheiro que podia oferecer.

- Temos $10! Quem dá 20$? gritou o leiloador.

As pessoas já estavam irritadas, não queriam a pintura O FILHO, queriam as que realmente eram valiosas, para completarem sua coleção.

Então, o leiloador bateu o martelo. Dou-lhe uma, dou-lhe duas... Vendida por $10!!!

- Agora vamos começar com a coleção!! gritou um.

O leiloador soltou seu martelo e disse:

- Sinto muito, damas e cavalheiros, mas o leilão chegou ao seu final.

- Mas, e as pinturas? disseram os interessados.

- Eu sinto muito, disse o leiloeiro. Quando me chamaram para fazer o leilão, havia um segredo estipulado no testamento do dono. Não seria permitido revelar esse segredo até esse exato momento. Somente a pintura O FILHO seria leiloada. Aquele que a comprasse, herdaria absolutamente todas as posses deste homem, inclusive as famosas pinturas. O homem que comprou O FILHO fica com tudo...

Autoria desconhecida. 

O Laço Azul

Uma professora decidiu homenagear seus alunos do último ano colegial, dizendo a cada um deles a sua importância.

Ela chamou todos os alunos em frente à classe, um de cada vez.

Primeiro, disse a eles como eram importantes para ela e para a classe. Então, presenteou cada um deles com um laço azul com uma frase impressa em letras douradas: EU SOU IMPORTANTE.

Depois, a professora resolveu desenvolver um trabalho com a classe para ver que tipo de impacto o reconhecimento teria sobre a comunidade.

Deu a cada aluno mais três laços e os instruiu para que saíssem e disseminassem a cerimônia de reconhecimento. Em seguida, eles deveriam acompanhar os resultados. Ver quem homenagearia quem e relatar à classe dentro de uma semana.

Um dos alunos foi até um executivo Júnior de uma empresa próxima e o condecorou por ajudá-lo no planejamento de sua carreira.

Então, deu-lhe dois outros laços e disse:

- Estamos fazendo um trabalho para a Escola sobre reconhecimento. Gostaríamos que você procurasse alguém para homenagear, que o presenteasse com um laço azul, e que lhe desse outro laço para ela homenagear uma terceira pessoa, disseminando esta cerimônia de reconhecimento. Em seguida, por favor, procure-me novamente e conte-me o que aconteceu.

Mais tarde, naquele dia, o executivo Júnior procurou seu chefe, que era tido até então, como um cara rabugento. Pediu ao chefe que se sentasse e disse-lhe que o admirava profundamente por seu gênio criativo. O chefe pareceu surpreso.

O rapaz perguntou-lhe se aceitaria o laço azul como presente e se permitia que ele o colocasse. Seu chefe, surpreso, disse que sim. O executivo Júnior pegou o laço de fita azul e colocou-o no paletó do chefe bem acima do coração. Ao dar ao chefe o último laço, disse:

- O senhor me faz um favor? Receberia este outro laço e o passaria adiante homenageando outra pessoa? O garoto que me deu o laço está fazendo um trabalho para a Escola e quer que esta cerimônia de reconhecimento prossiga, para descobrir como ela influencia as pessoas.

Naquela noite, ao chegar em casa, o chefe procurou seu filho de quatorze anos e pediu que se sentasse e disse:

- Hoje me aconteceu uma coisa incrível. Estava em meu escritório e um dos executivos Juniores entrou, disse que me admirava e me deu este laço azul por me considerar um gênio criativo. Então, ele prendeu este laço que diz "EU SOU IMPORTANTE" no meu paletó, bem sobre meu coração... Deu-me um outro laço e pediu-me que homenageasse uma outra pessoa.

Esta noite, voltando para casa, comecei a pensar a quem homenagearia com este laço e pensei em você. Quero homenagear você. Meus dias são muito tumultuados e, quando chego em casa, não lhe dou muita atenção. Algumas vezes grito com você  por não tirar boas notas na escola e por seu quarto estar uma bagunça, mas de qualquer forma, esta noite eu gostaria apenas de me sentar aqui e, bem... Dizer-lhe que você é Muito Importante para mim. Além de sua mãe, você é a pessoa mais importante em minha vida. Você é um grande filho e eu amo você.

O sobressaltado garoto começou a soluçar e não conseguia parar de chorar. Todos o seu corpo tremia.

Ele olhou para o pai e disse através de lágrimas:

- Papai, eu planejava cometer suicídio amanhã, porque achava que você não me amava. Agora não preciso mais...

Autoria desconhecida.

O Lenhador Esforçado

Havia uma vez um lenhador que foi procurar trabalho em uma madeireira. O pagamento era bom e as condições de trabalho melhores ainda. Talvez o único problema no local era o exigente capataz.

O lenhador era um homem bom, tinha uma esposa amável, e cinco filhos adorados. Necessitava desse emprego e decidiu fazer um bom papel.

No primeiro dia se apresentou ao capataz, que com poucas palavras lhe deu um machado e lhe designou um local na mata onde ele seria o responsável pelo corte das árvores.

O homem muito entusiasmado saiu a trabalhar.

Em um só dia cortou dezoito árvores.

- Te felicito, continue sempre assim, disse o capataz, com o rosto sério, e muito fiel ao seu patrão.

Animado pelo trabalho, e de ter conseguido tirar um "Te felicito" desse homem tão severo, o lenhador decidiu melhorar seu próprio desempenho no segundo dia de labuta, e foi deitar-se bem cedo.

Na manhã seguinte levantou-se antes que os outros lenhadores e foi ao bosque trabalhar, mas apesar de todo seu empenho, não conseguiu cortar mais do que quinze árvores.

Ao voltar, exausto e desanimado cruza o caminho com o capataz e se justifica:

- Devo estar cansado, vou deitar mais cedo, descansar e amanhã recupero o dia de hoje.

O capataz nada disse, sequer alterou o seu semblante.

Ao amanhecer lá estava o lenhador no bosque decidido a superar sua marca de dezoito árvores. Nesse dia não chegou a cortar nem nove árvores.

Voltou ao final da tarde completamente arrasado, passou pelo capataz e nada disse.

Nessa noite mal conseguiu dormir. Pensava no que poderia estar acontecendo nesse local, seria uma maldição da floresta, a ação de duendes, a inveja dos outros lenhadores diante do primeiro elogio do capataz ou seria a própria energia severa do capataz que o impossibilitava de cortar mais árvores do que o seu feito inicial?

No dia seguinte cortou sete, depois cinco, e no último dia estava lutando para cortar a terceira árvores, quando se aproximou o capataz.

O lenhador completamente transtornado pela necessidade do emprego, pelo imenso esforço que estava fazendo, e pelo insucesso que ocorria, começou a falar:

- Não entendo o que se passa, juro que estou me esforçando ao limite máximo do meu corpo. Estou completamente esgotado do trabalho e dia após dia venho piorando a minha produção.

O capataz, de poucas palavras, lhe perguntou:

- Quando afiaste teu machado pela última vez?

- AFIAR??? Não tive tempo de afiar, estava muito ocupado cortando árvores e preocupado com minha produção.

Traduzido e adaptado do livro "Recuentos para Demian", de Jorde Bucay.

quarta-feira, 15 de julho de 2020

O Povo da Caverna

(VOCÊ VAI PARTILHAR A LUZ?)

"A maior de todas as ignorâncias é rejeitar
uma coisa sobre a qual você nada sabe."
H. Jackson Brown

Havia uma caverna subterrânea com uma única abertura para o mundo exterior. Dentro dela, seres humanos acorrentados pelas pernas e pescoços, vivendo na semiescuridão desde a infância, presos de tal modo que não se podiam mover. Tais homens, verdadeiros prisioneiros, ficavam de costas para a abertura da caverna e só podiam olhar para a frente onde havia uma parede, pois eram impedidos de virar a cabeça por causa das correntes.

A única luz que viam era proveniente de uma fogueira que ardia do lado de fora da caverna, e que projetava, para seu interior, sombras de pessoas e objetos que passassem entre a fogueira e a entrada da caverna.

Assim, os prisioneiros acreditavam que as sombras que viam eram a única verdade, a realidade do seu mundo.

Em certo momento, um dos prisioneiros foi libertado das correntes e trazido para fora da caverna. No seu processo de adaptação à nova realidade, precisou acostumar-se com a claridade do fogo e a visão de um novo mundo. Viu primeiro as sombras no chão, depois os reflexos de homens e objetos na água, e então fitou-os diretamente. Depois, vendo o céu, o Sol, pôde raciocinar sobre eles. Tocou em objetos, pisou o solo e olhou para todos os lados. Descobriu fatos e coisas nunca antes imaginados, uma nova realidade.

Passado algum tempo, maravilhado com o grande processo de mudança que tinha vivido, lembrou-se dos companheiros e retornou à caverna. Era importante dar os demais prisioneiros a oportunidade de descobrir outra realidade. Mas sua missão não foi fácil. Por sua dificuldade em acostumar-se novamente à semiescuridão e em interpretar as sombras com a mesma habilidade, passou, a princípio, a ser ridicularizado pelo grupo. Os prisioneiros da caverna ainda acreditavam na sua "realidade", e concluíram que o prisioneiro libertado voltava enxergando menos que antes, contando estranhas histórias sobre uma "realidade impossível". Julgavam ser melhor não sair da caverna, não rejeitar as sombras tão familiares em troca de um mundo "melhor", porém desconhecido. Apesar das dificuldades, o "iluminado" enfrentou, com paciência e determinação, sua missão,  compreendendo as resistências impostas por seus companheiros e mantendo-se firme na busca pela evolução e pelo descobrimento de coisas novas para ele e seus semelhantes.

Considerado um dos homens mais sábios da Grécia antiga, Sócrates (cujo nome significa "mestre da vida") acreditava que o reconhecimento da ignorância é justamente o começo da sabedoria. Numa de suas frases mais conhecidas, percebemos o paradoxo contido neste pensamento: "SEI QUE NADA SEI."

Platão, em uma de suas obras clássicas, A República, desenvolveu muitas ideias de seu mestre Sócrates. No livro VII, que contém a parábola da caverna, somos levados a refletir sobre a missão de todos aqueles que estão em constante desenvolvimento e se propõem a superar as barreiras existentes nos processos de mudança.

Escrita há cerca de dois mil e quinhentos anos, a parábola da caverna constitui um ótimo modelo de perseverança e vontade de melhorar. Modernamente,  quando saímos de nossas "cavernas" para o mundo exterior, buscando qualidade de vida, estamos percorrendo o mesmo caminho do prisioneiro libertado. Da mesma forma, quando retornamos à caverna para motivar nossos colegas, devemos estar preparados para enfrentar as barreiras às mudanças e os comportamentos conservadores que preferem as sombras conhecidas à nova realidade fora da caverna.

É o momento de refletirmos sobre nossos progressos e nossa missão como agentes de mudanças e de encorajar pessoas. Devemos reconhecer quanto já percorremos até aqui. Apesar disso, a lição do "Mestre da Vida" deve servir como alerta para o nosso constante aperfeiçoamento. É preciso sempre querer saber mais e, sobretudo, partilhar.

Texto de Daniel de Carvalho Luz, do livro Insight, da DVS Editora, de 2001.

25 de fevereiro

Por que não lhe disse antes? Apertá-lo demoradamente contra o meu peito e dizer. Não disse porque pensava que tinha pela frente a eternidade. Só me resta agora esperar que aconteça outra vez, vislumbro esse encontro - mas vou reconhecê-lo? E vou me reconhecer nos farrapos da memória do meu eu? Peço que me faça um sinal e responderei ao código secreto na noite e no silêncio dos navios que se comunicam quando se cruzam no mar.

Trecho 25 de fevereiro, de Lygia Fagundes Telles, do livro A Disciplina do Amor - fragmentos. Editora Nova Fronteira, 7ª Edição, 1980.

terça-feira, 14 de julho de 2020

A melhor e a pior comida do mundo

Há mais de dois mil anos, um rico mercador grego tinha um escravo chamado Esopo. Um escravo corcunda, feio, mas de sabedoria única no mundo. Certa vez, para provar as qualidades de seu escravo, o mercador ordenou:

- Toma, Esopo. Aqui está esta sacola de moedas. Corre ao mercado. Compra lá o que houver de melhor para um banquete. A melhor comida do mundo!

Pouco depois, Esopo voltou do mercado e colocou sobre a mesa um prato coberto por fino pano de linho. O mercador levantou o paninho e ficou surpreso:

- Ah! Língua? Nada como a boa língua que os pastores gregos sabem tão bem preparar. Mas por que escolheste exatamente a língua como a melhor comida do mundo?

O escravo, de olhos baixos, explicou sua escolha:

- O que há de melhor do que a língua, senhor? A língua é que nos une a todos, quando falamos. Sem a língua, não poderíamos nos entender. A língua é a chave das ciências, o órgão da verdade e da razão. Graças à língua é que se constroem as cidades, graças à língua podemos dizer o nosso amor. A língua é o órgão do carinho, da ternura, da compreensão. É a língua que torna eternos os versos dos grandes poetas, as ideias dos grandes escritores. Com a língua se ensina, se persuade, se instrui, se reza, se explica, se canta, se descreve, se elogia, se demonstra, se afirma. Com a língua, dizemos "mãe", "querida" e "Deus". Com a língua, dizemos "sim". Com a língua, dizemos "eu te amo"! O que pode haver de melhor do que a língua, senhor?

O mercador levantou-se entusiasmado!

- Muito bem, Esopo! Realmente, tu me trouxeste o que há de melhor. Toma agora esta outra sacola de moedas; vai de novo ao mercado e traze o que houver de pior, pois quero ver a tua sabedoria!

Mais uma vez, depois de algum tempo, o escravo Esopo voltou do mercado trazendo um prato coberto por um pano. O mercador recebeu-o com um sorriso.

- Hum... Já sei o que há de melhor. Vejamos agora o que há de pior...

O mercador descobriu o prato e ficou indignado:

- O quê? Língua? Língua outra vez? Não disseste que a  língua era o que havia de melhor? Queres ser açoitado?

Esopo encarou o mercador e respondeu:

- A língua, senhor, é o que há de pior no mundo. É a fonte de todas as intrigas, o início de todos os processos, a mãe de todas as discussões. É a língua que separa a humanidade, que divide os povos. É a língua que usam os maus políticos quando querem nos enganar com suas falsas promessas. É a língua que usam os vigaristas quando querem trapacear. A língua é o órgão da mentira, da discórdia, dos desentendimentos, das guerras, da exploração. É a língua que mente, que esconde, que engana, que explora, que blasfema, que insulta, que se acovarda, que mendiga, que xinga, que bajula, que destrói, que calunia, que vende, que seduz, que corrompe. Com a língua, dizemos "morre", "canalha" e "demônio". Com a língua, dizemos "não". Aí está, senhor, porque a língua é a pior e a melhor de todas as coisas!

Adaptação feita por Pedro Bandeira, de trecho da peça teatral "A Raposa E As Uvas", de Guilherme de Figueiredo.

segunda-feira, 13 de julho de 2020

Bicho de Estimação

Um cara vivia sozinho, até que decidiu que sua vida seria melhor se ele tivesse um animalzinho de estimação como companhia.

Assim, ele foi até a loja, falou ao dono que queria um bichinho que fosse incomum.

Depois de um tempo, chegaram à conclusão de que ele deveria ficar com uma centopéia. Centopéia seria mesmo um bichinho incomum...

Um bichinho tão pequeno, com cem pés... É realmente incomum!! A centopéia veio dentro de uma caixinha branca, que seria usada para ser a sua casinha...

Bem, ele levou a caixinha para casa, achou um bom lugar para colocar tão pequenina caixinha, e pensou que o melhor começo para sua nova companhia seria levá-la até o bar, para tomarem uma cervejinha...

Assim, ele perguntou à centopéia, que estava dentro da caixinha:

- "Gostaria de ir comigo até o Frank's tomar uma cerveja?"

Mas... Não houve resposta da sua nova amiguinha.

Isso deixou-o meio chateado. Esperou um pouco e perguntou de novo:

- "Que tal ir comigo até o bar tomar uma cervejinha, hein?"

Mas, de novo, nada de resposta da nova amiguinha...

De novo, ele esperou mais um pouco, pensando e pensando sobre o que estava acontecendo...

Decidiu perguntar de novo, mas desta vez, chegou o rosto bem perto da caixinha e gritou:

- "EI, VOCÊ AÍ!!! QUER OU NÃO IR COMIGO ATÉ O FRANK'S TOMAR UMA CERVEJA??"

Uma pequena voz veio de lá de dentro da caixinha:

- "Eu já ouvi desde a primeira vez, CARA! Estou calçando os sapatos, PORRA!"

Autoria desconhecida.

Coisas de Viado - Versão 2003 (Pra rir e não levar a sério!)

1- Usar cores exóticas:
Você, quando vai comprar uma camisa, ao invés de dizer "me dê aquela marrom clara", você diz "me dê aquela creme"? Talvez você não tenha percebido, mas você é viado. Creme, salmão, verde-água, azul-bebê, porra nenhuma. Só existem 7 cores no mundo masculino (e se você pensou nas sete cores do arco-íris, você é um viadinho-mór). Azul, preto, branco, verde, vermelho, amarelo, marrom e só. Valem as derivações, como azul-escuro, verde-escuro... O resto é viadagem. Cinza é preto+branco. Rosa é vermelho+branco. Laranja é vermelho+amarelo. Azul marinho é igual a preto. Lima é fruta. Vinho é bebida. Roxo é viadagem. E pronto.

2- Segurar sacolas e sacos plásticos pela alça:
Quando você faz uma compra, segura a sacola ou saco pela alça? Sim? Olha aí: Viado!! Segura essa porra de sacola pelo corpo e não pela alcinha, assim como fazem os estivadores, que carregam as cargas pelo corpo, pois essas não têm alcinhas.

3- Ficar parado na escada rolante esperando chegar no final:
Bicha Cansada!! Escada é pra andar, não pra ficar parado. Se a escada é rolante, problema é dela. Faça a sua parte e ande pra chegar mais rápido ao final. Se disser que está cansado, vá de elevador.

4- Tomar sucos de frutas misturadas:
"Moço, me dê um suco de laranja com mamão". Baitola!! Que viadagem é essa? Ou você toma de laranja ou de mamão. Ou então um depois do outro, mas os dois misturados é viadagem!!

5- Dizer que gosta de sobremesa:
Você é daqueles que adoram pavê, jojô-cake, casadinho? Viadinho!! Homem que é homem não gosta de docinhos. No máximo, depois do almoço, um pedaço de goiabada. E se alguém olhar com cara de desconfiado, diga que é pra tirar o gosto da feijoada que você comeu antes.

6- Não ter cicatrizes no corpo:
Você é um cara que não tem cicatrizes? Que passou toda sua vida ileso, sem arranhão? Viadão!! Homem mesmo cai no chão, se arranha no arame farpado, se queima com fogo, toma porrada e mais porrada, etc... Nada mais do que sinais de virilidade. Sinais de que você não é menino criado em casa de avó com carpete persa e que nunca podia descer ao playground pra jogar bola.

7- Dizer que vai pra praia pra tomar sol:
Quando você vai à praia você diz que vai "pegar um bronzeado"? Boiola!! Homem não pega sol. O sol é que pega ele. Homem quando vai à praia é pra jogar bola, beber com os amigos, paquerar, surfar, etc... Bronzear é consequência de estar exposto ao sol. E nem pensar em bloqueador solar, muito menos creme.

8- Raspar os pelos do corpo com exceção da barba/bigode:
Que é isso, cara? Não acredito que você perde seu tempo se depilando, seu Viado pelado!! Homem só pode raspar a barba e o bigode, e de preferência quando forem falhos, pra não parecer ridículo. Raspar o peito, o sovaco, as pernas, não!! Até a bunda tem gente raspando. Se você se parece com o Tony Ramos, azar o seu. Aceite seu aspecto de urso e mude-se para a Sibéria.

9- Fazer Aeróbica, ginástica localizada?:
É bom para o corpo? Pô, mas que legal. Legal pra você, seu VI - A - DO!! Macho só vai à academia pegar peso e tarar as mulheres, o resto é viadagem da grande.

10- No sábado, você gosta de tomar um sorvetinho enquanto passeia no shopping com sua namorada, não é mesmo?!
Você não passa de um tremendo de um Viado!! Sábado é sinônimo de futebol, de cerveja, de churrasco, pagode e mulher. Macho vai para o shopping com a namorada no domingo, no horário do Faustão. Enquanto ela olha as promoções, você fica tomando um chopp na praça de alimentação. (Observando os outros machos na mesma situação... Coisa de Viado!!) Acrescentado por mim... kkkk

11- "Garçom, uma coca-cola e um copo com gelo e limão, por favor!" 
Afinal, você quer tomar coca ou soda limonada, seu Viado?? E que viadagem é essa de "copo"? Copo um cacete! Tome essa porra na lata mesmo, sua bicha!!

12- Você é do tipo que frequenta academia de dança para "desinibir", "soltar as cadeiras"... Coisas assim?
Você tá é disfarçado, sua bicha-bailarina!! Que baitolagem é essa?? Homem macho não precisa ficar "soltando a franga" em dança de salão. Esse negócio de dança só serve pra paquera... E tem que ser rosto-no-rosto, barriga-na-barriga, tem que chamar a dama na chincha mesmo, no rala-rala!! Sua bichona!!

Autoria desconhecida... Obviamente, uma crítica aos enrustidos, aos preconceituosos...