domingo, 13 de novembro de 2022

O Pião

 A mão firme e ligeira

puxou com força a fieira:

e o pião

fez uma elipse tonta

no ar e fincou a ponta

no chão.


É o pião com sete listas

de cores imprevistas.

Porém,

nas suas voltas doidas,

não mostra as cores todas

que tem:


- fica todo cinzento,

no ardente movimento...

E até

parece estar parado,

teso, paralisado,

de pé.


Mas gira. Até que, aos poucos,

em torvelins tão loucos

assim,

já tonto, bamboleia,

e bambo, cambaleia...

Enfim,

tomba. E, como uma cobra,

corre mole e desdobra

então, 

em hipérboles lentas,

sete cores violentas,

no chão.


Poema de Guilherme de Almeida retirado do livro Caminho da Poesia, série Literatura em minha casa, Global Editora, São Paulo, 2003.

sábado, 12 de novembro de 2022

Estado Mental de Felicidade

    A problemática da felicidade encontra solução eficaz no comportamento íntimo do indivíduo em relação à vida.

    Por que transferir para o futuro o momento de ser feliz, quando se pensa em conseguir determinados valores, que possivelmente não lograrão completar o quadro de harmonia e ventura pessoal?

    Pode-se e deve-se ser feliz em cada instante, pois que tal conquista procede do estado de espírito e não dos recursos materiais amealhados de que se pode dispor.

    O dinheiro soluciona alguns problema; projeta a personalidade; promove socialmente o indivíduo, mas não resolve as situações interiores, nas quais estão as bases da harmonia como do desequilíbrio.

    É necessário valorizar-se o que realmente pode proporcionar a felicidade e não os seus acessórios. Digamos, então, que esta é um estado mental, variando de pessoa para pessoa, conforme o seu grau de evolução, portanto, a sua aspiração maior.

    As conquistas materiais não dispõem do poder de fazer as criaturas felizes. Podem diminuir-lhes a aflição, atender a algumas necessidades, minorar amarguras, gerar bem-estar e conforto...

    Esperando-se conseguir o beneplácito da felicidade, mediante as dádivas da cornucópia da fortuna, por exemplo, perdem-se muitos instantes felizes que dificilmente retornarão.

    Essa felicidade dourada, sem preocupações, ociosa, não existe; é miragem que se dilui ante a realidade.

    Podes conseguir o estado mental da felicidade de permanente, crendo que ela é propiciada pelo amor a Deus, que a deposita no escrínio dos teus sentimentos, a fim de que aí a desdobres, brindando-as às demais pessoas.

    Assim, não obstante as mudanças e circunstâncias em que te encontres, alterando o ritmo dos assuntos e acontecimentos externos, ela permanecerá contigo, porque está em ti.

    O vendaval das paixões não a expulsa; a frialdade do abandono não a empalidece; a chuva das acusações não a conspurca; o granizo da ofensa não a fere; o ouro das ambições não a entorpece; o fogo das lutas cruzadas não a atinge.

    Ela permanece serena, e qual chama abençoada, com a luz aponta o caminho seguro a seguir, acalmando as ansiedade do coração.

    A felicidade plena e compensadora não é deste mundo. No entanto, germina e se desenvolve enquanto o Espírito avança pela estrada  reencarnacionista, graças às ações desenvolvidas e ao comportamento mantido.

    Reservada para o Reino dos Céus, é indispensável que o homem lhe conduza as matrizes íntimas mediante as quais se desvela no momento oportuno.


Retirado do livro Momentos de Esperança; Divaldo Franco pelo Espírito Joanna de Ângelis; Livraria Espírita Alvorada Editora, Salvador, 3ª Edição, 2014.

sexta-feira, 11 de novembro de 2022

Bem-te-vi... Bem-te-vi...

 Que terás visto?

Há quanto tempo tu avisas, bem-te-vi...

Bem-te-vi da minha infância, sempre a gritar,,

sempre a contar, fuxiqueiro,

e não viste nada.


Meu amiguinho, preto-amarelo.

Em que ninho nasceste, de que ovinho vieste,

e quem te ensinou a dizer: Bem-te-vi?...

Bem te vejo, queria eu também cantar e repetir

para ti: Bom dia, bem te vejo, te escuto.

Bem-te-vi sobrevivente

de tantos que já não voam sobre o rio,

nem pousam nas palmas dos coqueiros altos...


Mostra para mim, meu velho companheiro

de uma infância ultrapassada,

tua casa, tua roça, teu celeiro, teu trabalho, 

tua mesa de comer,

tuas penas de trocar,

leva-me à tua morada de amor e procriar.


Vamos ao altar de Deus agradecer ao Criador

não desaparecerem de todo os bem-te-vis

dos Reinos de Goiás.


Canta para mim, tão antiga como tu,

as estorinhas do passado.

Bem-te-vi inzoneiro, malicioso e vigilante.

Conta logo o que viste, fuxiqueiro do espaço,

sempre nas folhas dos coqueiros altos,

que também vão morrendo devagar 

como morrem os coqueiros,

comidos de velhice e de lagartas.


Poema de Cora Coralina retirado do livro Caminho da Poesia, série Literatura em minha casa, Global Editora, São Paulo, 2003.

quinta-feira, 10 de novembro de 2022

Dois e dois: quatro

 Como dois e dois são quatro

sei que a vida vale a pena

embora o pão seja caro

e a liberdade pequena


Como teus olhos são claros

e a tua pele, morena


como é azul o oceano

e a lagoa, serena


como um tempo de alegria

por trás do terror me acena


e a noite carrega o dia

no seu colo de açucena


- sei que dois e dois são quatro

sei que a vida vale a pena


mesmo que o pão seja caro

e a liberdade, pequena


Poema de Ferreira Gullar retirado do livro Caminho da Poesia, da série Literatura em minha casa, Global Editora, São Paulo, 2003.

quarta-feira, 9 de novembro de 2022

Desenho de Caminhão

 Lápis, papel, num minuto

ele fez seu avião,

fez um navio minúsculo,

fez também um caminhão.


O navio foi ao fundo,

caiu longe do avião.

O menino deu um pulo,

entrou no seu caminhão.


Quem tem um lápis tem tudo,

alegrias da invenção, 

tem à frente o vasto mundo,

estradas pro caminhão.


O menino já tem rumo,

tem caminhos, condução;

agora, vai num segundo

dar partida ao caminhão.


Poema de Antonieta Dias de Moraes retirado do livro Caminho da Poesia, série Literatura em minha casa, Global Editora, São Paulo, 2003.

terça-feira, 8 de novembro de 2022

A lua no cinema

 A lua foi ao cinema,

passava um filme engraçado,

a história de uma estrela

que não tinha namorado.


Não tinha porque era apenas

uma estrela bem pequena,

dessas que, quando apagam,

ninguém vai dizer, que pena!


Era uma estrela sozinha,

ninguém olhava pra ela,

e toda a luz que ela tinha

cabia numa janela.


A lua ficou tão triste

com aquela história de amor,

que até hoje a lua insiste:

- Amanheça, por favor!


Poema de Paulo Leminski retirado do livro Caminho da Poesia, série Literatura em minha casa, Global Editora, São Paulo, 2003.

segunda-feira, 7 de novembro de 2022

Meio-dia

 Meio-dia. Sol a pino.

Corre de manso o regato.

Na igreja repica o sino;

Cheiram as ervas do mato.


Na árvore canta a cigarra;

Há recreio nas escolas:

Tira-se, numa algazarra,

A merenda das sacolas.


O lavrador pousa a enxada

No chão, descansa um momento,

E enxuga a fronte suada,

Contemplando o firmamento.


Nas casas ferve a panela

Sobre o fogão, nas cozinhas;

A mulher chega à janela,

Atira milho às galinhas.


Meio-dia! O sol escalda,

E brilha, em toda a pureza,

Nos campos cor de esmeralda,

E no céu cor de turquesa...


E a voz do sino, ecoando

Longe, de atalho em atalho,

Vai pelos campos, cantando

A Vida, a Luz, o Trabalho!


Poema de Olavo Bilac retirado do livro Caminho de Poesia, série Literatura em minha casa, Global Editora, São Paulo, 2003.

domingo, 6 de novembro de 2022

Música Nova

 Eu te encontrei

E mais nada do que eu penso faz sentido agora

Eu já tô fora

De qualquer esquema

Já joguei fora

Antes de um dilema

Eu te escolhi pra andar comigo

Sempre te vi como meu amigo

Como meu amigo

Seu olho sempre me seguindo à noite

Eu do seu lado mal sabendo dessa história

O vento soprava o seu cabelo

Seu jeito derrama minha bebida

Que eu não vou embora

Sem você comigo

Eu te protejo de todo perigo

Eu amplifico todos os seus sonhos

Você me inspira a carregar nos ombros

A carregar nos ombros

Seu olho sempre me seguindo à noite

Eu do seu lado mal sabendo dessa história

Os dois correndo morro abaixo

Ladrões só que do mesmo lado

Eu não vou embora

Sem você comigo

Eu te protejo de todo perigo

Eu amplifico todos os seus sonhos

Você me inspira a carregar nos ombros

Minha vida agora é você

Minha vida agora é você

Minha vida agora é você


Música de Danni Carlos que abre e dá nome ao seu CD lançado em 2007 pela Gravadora Sony BMG.

sábado, 5 de novembro de 2022

Saúde Integral

    A sofisticação tecnológica da Medicina atual ainda permanece na insustentável tese de que o homem são as células que lhe constituem a organização somática.

    Negando, por sistema, a realidade do ser integral, - Espírito, perispírito e matéria - detém-se na conceituação ultrapassada, na qual o cérebro gera o pensamento, e a vida cessa quando se dá o fenômeno da anóxia, alguns minutos depois da parada cardíaca...

    Desde Hipócrates, passando por Aécio e Galeno, a visão dualista somente vem encontrando confirmação e respeito, não se podendo mais negar a interação espírito/matéria, mente/corpo, como termos da equação existencial.

    Em face dessa constatação, convenciona-se que a saúde é mais do que a ausência de doença no organismo, sendo um conjunto de fatores propiciatórios ao bem-estar psicológico, econômico e social.

    O paradigma da atualidade em torno da saúde leva o médico a examinar o paciente não mais como uma cobaia, ou alguém aflito de quem se deve libertar, mas como portador de muitos problemas que, não raro, a doença exterioriza, mascarando-os na gêneses profundas do estado patológico.

    Volve-se, desse modo, ao antigo sacerdócio médico, graças ao qual ele se torna amigo do paciente, seu confidente, seu companheiro, ajudando-o a drenar as emoções negativas recalcadas, a fim de dar campo à catarse libertadora das angústias e tormentos que sofre, para que então, nele se instale de volta a saúde.

    A saúde integral independe das drogas químicas e dos tratamentos cirúrgicos, não obstante esses sejam  ainda valiosos instrumentos para sua aquisição.

    É forçoso reconhecer-se que o ser atual é um somatório de experiências próximas e remotas. Tanto lhe constituem fatores degenerativos os conflitos próximos, da atual encarnação, quanto os transatos, das existências pretéritas.

    Examinado desse ponto de vista, compreender-se-á a gama larga de fatores predisponentes como preponderantes, para o estabelecimento da enfermidade ou da saúde.

    Cumpre que se conscientizem os indivíduos em geral, e os enfermos em particular, que cada criatura é o resultado das realizações morais, espirituais da sua mente, como já observavam os gregos antigos...

    A disposição para o otimismo ou para a autodestruição responderá pelos seus futuros comportamentos.

    Nesse sentido, o Evangelho de Jesus é um excelente tratado de psicoterapia, cuja aplicação resultará em bem-estar e harmonia.

    Toda mensagem de Jesus é vazada no conhecimento profundo do homem, considerando sua realidade transpessoal, na qual ressaltam o Espírito e sua condição de imortalidade.

    Lentamente, em face do volume das aflições que dominam as paisagens humanas, e das enfermidades psicossomáticas de difícil diagnose, que levam a estados lamentáveis, a criatura sente-se convidada à valorização da vida, à descoberta dos seus recursos éticos, à autoestima, ao autoaprimoramento.

    O amor, nesse cometimento, assume papel preponderante, em razão das energias que libera no sistema imunológico, fortalecendo-o, no sistema nervoso simpático e nos glóbulos brancos, fundamentais na luta pela preservação da saúde.

    A visualização mental otimista, gerando energias que combatam ou anulem a enfermidade, produz endorfinas que atenuam a dor, auxiliando as células à remissão da doença.

    Bombardeios mentais através da visualização, sobre tumores de origem cancerígena, logram alteração profunda no seu desenvolvimento, conseguindo mesmo eliminá-los. Todavia, se o sentimento de amor acompanha a descarga psíquica da vontade, estimulando as células saudáveis a se manterem em ritmo de equilíbrio enquanto as outras se consomem a vibração da força transformadora será mais potente e portadora de resultados eficientes.

    Nesse aspecto, o querer é imprescindível e o crer, essencial, em face da continuidade do fluxo mental, sem vacilações, suspeitas e receios que lhe interrompem essa continuidade.

    A harmonia mental que decorre da relaxação confiante produz, também, o benéfico estado alfa, quando o cérebro libera ondas do mesmo nome no ritmo de oito a doze ciclos por segundos, ensejando a restauração da saúde, quando se está enfermo, ou a preservação dela, quando se encontra saudável.

    Nesse campo, o autodescobrimento corajoso propicia a eliminação dos mecanismos do ego que levam à fuga da responsabilidade e do respeito por si mesmo, ensejando consciência de quem se é, do que se deve realizar e como se poderá fazê-lo.

    A visão junguiana de saúde é conclusiva, convidando a uma revisão de paradigmas na Medicina tradicional e na tecnologia médica atual redescobrindo os pacientes como pessoas necessitadas de amor, que se autopunem por ignorância e se autodestroem por desequilíbrio emocional, mediante pugnas íntimas incessantes...

    O amor que pertencia às áreas da Sociologia e da Filosofia, além das análises literárias, passa hoje a ser elemento fundamental para os conteúdos do comportamento e da conduta na preservação da sanidade.

    Mantendo-se, desse modo, a recomendação do Evangelho sobre o amor a Deus, ao próximo e a si mesmo, na condição de experiência humana, mesmo que se instalem focos infecciosos no corpo ou se expressem distúrbios orgânicos de vária ordem, o paciente se torna terapeuta de si mesmo, auxiliando o médico e este àquele, a fim de que a meta essencial seja lograda - a alegria de viver saudavelmente.

    Pode-se, portanto, experimentar saúde integral, mesmo que algum órgão se encontre comprometido, sem que isso altere o ser em profundidade, consciente que o fenômeno biológico da morte somente encerra o ciclo carnal, jamais a vida.

    A visão médica, com paradigmas holísticos em torno da saúde e da doença, faculta a possibilidade de uma perfeita interação corpo/alma, em razão do controle da mente sobre a matéria.

    Uma organização fisiopsíquica sadia resulta da perfeita identificação entre o Espírito e o soma, como decorrência das reencarnações anteriores ou das conquistas atuais, preparando a existência em marcha para a plenitude.


Texto retirado do livro Momentos Enriquecedores; Divaldo Franco pelo Espírito Joanna de Ângelis, Livraria Espírita Alvorada Editora, Salvador, 2ª Edição, 2015.

sexta-feira, 4 de novembro de 2022

O Gato

 No alto do muro

pulando no escuro

miando no mato

entrando em apuro

é o gato, seguro.


De antigo passado

e jeito futuro

movimento puro

ar sofisticado

é o gato, de fato.


Só pode ser gato

esse bicho exato

acrobata nato

que só cai de quatro.


Poema de Marina Colasanti retirado do livro Caminho da Poesia, série Literatura em minha casa, Global Editora, Volume 1, São Paulo, 2003.