segunda-feira, 16 de abril de 2012

Minha História

                 Dalla/Pallotino
                 versão: Chico Buarque


Ele vinha sem muita conversa
Sem muito explicar
Eu só sei que falava
E cheirava e gostava de mar
Sei que tinha tatuagem no braço
E dourado no dente
E minha mãe se entregou
A esse homem perdidamente
Ele assim como veio
Partiu não se sabe pra onde
E deixou minha mãe
Com o olhar cada dia mais longe
Esperando, parada, pregada
Na pedra do porto
Com seu único velho vestido
Cada dia mais curto
Quando, enfim, eu nasci
Minha mãe embrulhou-me num manto
Me vestiu como se eu fosse assim
Uma espécie de santo
Mas por não se lembrar de acalantos
 A pobre mulher
Me ninava cantando cantigas de cabaré
Minha mãe não tardou alertar toda a vizinhança
A mostrar que ali estava bem mais
Que uma simples criança
E não sei bem se por ironia
Ou se por amor
Resolveu me chamar com o nome do Nosso Senhor
Minha história, esse nome
Que ainda hoje carrego comigo
Quando vou bar em bar
Viro a mesa, berro, bebo e brigo
Os ladrões e as amantes
Meus colegas de copo e de cruz
Me conhecem só pelo meu nome
De Menino Jesus



A versão desta música é de 1971, portanto, no auge da ditadura militar no Brasil. A composição original é italiana e chama-se Gesubambino. Na tradução literal seria Menino Jesus, vetada obviamente pelo conservadorismo da época.
Se analisarmos cuidadosamente a letra, veremos que existe toda uma alegoria entre Maria e Jesus; a diferença é que a mulher da música é uma prostituta e o Jesus nada tem de salvador.
Tenho verdadeiro fascínio por essa canção e pela possibilidade de interpretação que ela propicia. Todos nós sabemos a conduta irrepreensível que Maria teve e não acho ofensivo a comparação feita entre as duas mulheres... E além do mais, chamar o homem de Menino Jesus parece que o torna mais humano, como o verdadeiro Jesus sempre quis ser...

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