domingo, 1 de novembro de 2020

A Raposa e o Gato

 Um dia, o gato encontrou a raposa no bosque e disse para si mesmo: vou cumprimentá-la. Ela é tão inteligente, tão experiente, tão respeitada por todo mundo...

E fez uma saudação amigável:

- Bom dia, querida Dona Raposa! Como tem passado? Como tem levado a vida, agora que as coisas andam tão caras?

A raposa ficou inchada de orgulho. Olhou o gato de alto a baixo e levou algum tempo para resolver se respondia ou não. Finalmente disse:

- Dobre a língua, seu patife lambedor de bigodes, seu palhaço de meia-tigela, seu pilantra caçador de ratos, você não se enxerga? Quem você pensa que é? Como ousa me perguntar como eu tenho passado? Quem é você? Que é que você sabe? O que aprendeu? Que artes domina?

- Só uma - respondeu o gato modestamente.

- E qual é, se mal pergunto?

- Quando os cachorros correm atrás de mim, consigo escapar, subindo numa árvore.

- Só isso? - disse a raposa. - Pois eu sou senhora de mil artes e além disso tenho um monte de truques que dariam para encher um baú... Fico de coração apertado só de pensar como você é indefeso. Venha comigo, vou lhe ensinar a escapar dos cachorros.

Justamente nesse momento, apareceu um caçador com quatro cachorros. O gato deu um pulo rápido para o tronco de uma árvore e foi lá para cima, para o meio da copa, onde as folhas e os galhos o esconderam por completo.

- Abra o baú, Dona Raposa, abra o baú! - gritava o gato.

Mas não adiantou nada. Os cachorros já tinham agarrado a raposa, que estava bem presa e imóvel nas patas deles.

- Que pena, Dona Raposa! - disse o gato. - Veja a encrenca em que a senhora está, com todas as suas mil artes. Se pelo menos soubesse subir em árvores, como eu, salvava sua vida...


Texto dos Irmãos Grimm (Jakob& Wilhelm) retirado do livro Contos de Grimm: animais encantados - Clássico Universal; Editora Nova Fronteira, Volume 4, Coleção Literatura em Minha Casa, Rio de Janeiro, 2ª Edição, 2002.

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