sábado, 30 de julho de 2022

Um comediógrafo sintonizado com o seu tempo

Do carnaval de rua a crises econômicas. Vários temas da vida da capital do Império foram levados aos palcos por Vasques. A vida teatral do Rio de Janeiro do século XIX era, sem dúvida, um de seus preferidos. Inspirado nela, escreveu Um bilhete! Um bilhete! Para o benefício do Graça (1862) e Por causa da Emília das Neves (1863), nas quais dava conta da realidade vivenciada por dois atores famosos - Eduardo José da Graça e Emília das Neves - cujos espetáculos provocavam um verdadeiro frisson na cidade.

Os tipos do Rio também eram assunto frequentes. Em Aí! Cara Dura! (1883), Vasques tratava de um personagem popular da cidade, versão do atual "cara-de-pau", ou seja, o esperto que tirava vantagem de tudo. Em Os Capoeiras (1886), entrava em cena uma questão que deixava os cariocas em sobressalto: a atuação das maltas de capoeiras. A volta ao mundo em 80 dias a pé (1886), baseada no romance de Júlio Verne, serviu como crítica bem humorada ao "mundinho" do Rio de Janeiro, suas ruas, problemas, situações sérias e hilariantes. Nessa peça, inclusive, a sonoplastia contou com a ajuda de Emiliano, um habitante das ruas da cidade que tinha especial habilidade para imitar o som de locomotivas que, por isso, recebeu o apelido "Estrada-de-Ferro". A política também era - desde aquele tempo - matéria para o riso. Em A questão anglo-brasileira (1863) e O Brasil e o Paraguai (1865) foram as relações brasileiras na região do Prata o tema privilegiado. Já  em Legalidade e ditadura (1892), Vasques elaborou uma crítica à política econômica do encilhamento e aos problemas que vinha trazendo à população do Rio.


Retirado do Revista de História da Biblioteca Nacional, Ano 1, nº 6, Dezembro de 2005.

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