domingo, 12 de fevereiro de 2012

Tolerância

                       Antônio Villeroy/Ana Carolina

Como água no deserto
Procurei seu passo incerto
Pra me aproximar
A tempo.
O seu código de guerra
E a certeza que te cerca
Me fazem ficar atento
Não me importa a sua crença
Eu quero a diferença
Que me faz te olhar
De frente.
Pra falar de tolerância
E acabar com essa distância
Entre nós dois.
Deixa eu te levar
Não há razão e nem motivo
Pra explicar
Que eu te completo
E que você vai me bastar
Tô bem certo de que você vai gostar
Você vai gostar.
Como lava no oceano
Um esforço sobre-humano
Pra recomeçar
Do zero
É que o amor é soberano
E supera todo engano
Sem jamais perder
O elo.
E é por isso que te espero
E já sinto a mesma coisa em seu olhar.
Deixa eu te levar
Não há razão e nem motivo
Pra explicar
Que eu te completo
E que você vai me bastar, eu sei
Tô bem certo de que você vai gostar
Você vai gostar

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Só Por Hoje

                        Dado Villa-Lobos/Renato Russo 

Só por hoje eu não quero mais chorar
Só por hoje eu espero conseguir
Aceitar o que passou e o que virá
Só por hoje vou me lembrar que sou feliz.

Hoje eu já sei que sou tudo que preciso ser
Não preciso me desculpar e nem te convencer
O mundo é radical
Não sei onde estou indo
Só sei que não estou perdido
Aprendi a viver um dia de cada vez.

Só por hoje eu não vou me machucar
Só por hoje eu não quero me esquecer
Que há algumas pouco vinte e quatro horas
Quase joguei minha vida inteira fora

Não não não não
Viver é uma dádiva fatal,
No fim das contas ninguém sai vivo daqui mas -
Vamos com calma!

Só por hoje eu não quero mais chorar
Só por hoje eu não vou me destruir
Posso até ficar triste se eu quiser
É só por hoje, ao menos isso eu aprendi.

música que fecha o álbum " O Descobrimento do Brasil ", de 1993 da Legião Urbana.

Dez Preceitos da Serenidade

                                              Papa João XIII


1- Só por hoje tratarei de viver exclusivamente este dia, sem querer resolver o problema de minha vida, todo de uma vez.

2- Só por hoje terei o máximo cuidado com o meu modo de tratar os outros: delicado nas minhas maneiras, não criticarei ninguém, não pretenderei melhorar nem disciplinar ninguém, a não ser a mim.

3- Só por hoje sentir-me-ei feliz com a certeza de ter sido criado para ser feliz, não só no outro mundo, mas também neste.

4- Só por hoje adaptar-me-ei às circunstâncias sem pretender que as circunstâncias se adaptem a todos os meus desejos.

5- Só por hoje dedicarei dez minutos do meu tempo a uma boa leitura, lembrando-me de que assim como é preciso comer para sustentar o meu corpo, assim também a leitura é necessária para alimentar a vida de minha alma.

6- Só por hoje praticarei uma boa ação sem contá-la a ninguém.

7- Só por hoje farei uma coisa de que não gosto, e se for ofendido em meus sentimentos, procurarei que ninguém o saiba.

8- Só por hoje farei uma programação bem completa do meu dia. Talvez não a execute perfeitamente, mas em todo caso vou fazê-la. E guardar-me-ei de duas calamidades: a pressa e a indecisão.

9- Só por hoje ficarei bem firme na fé de que a Divina providência se ocupa de mim como se existisse somente eu no mundo, ainda que as circunstâncias manifestem o contrário.

10- Só por hoje não terei medo de nada. Em particular, não terei medo de crer na bondade.

O que são valores humanos?

Os valores humanos são fundamentos morais e espirituais da consciência humana. Todos os seres humanos podem e devem tomar conhecimento dos valores a eles inerentes. A causa dos conflitos que afligem a humanidade está na negação dos valores como suporte e inspiração para o desenvolvimento integral do potencial individual e consequentemente do potencial social. Não é possível encontrar o propósito da vida sem esses valores que estão registrados em nosso ser profundo, ainda que adormecidos na mente e latentes na consciência. Os valores são a reserva moral e espiritual reconhecidas da condição humana.

A vivência dos valores alicerça o caráter e reflete-se na conduta como uma conquista espiritual da personalidade. Nesse grandioso drama humano, criado por nossos erros e acertos, os valores abrem espaço e trazem inovações essenciais para a sobrevivência da espécie e o cumprimento do papel do ser humano na criação. Vivemos tempos críticos, violentos e desesperados: isso acontece devido ao fato de grande parte da humanidade ter esquecidos seus valores e tê-los considerados até ultrapassados e desinteressantes.

O medo, o desamor e o engano têm qualificado nossos relacionamentos emocionais e operativos com nossos semelhantes e com o mundo. Verificamos que, sem o exercício dos valores intrínsecos ao ser humano, andamos por caminhos de dor, deteriorando a qualidade de vida no planeta. Neste século, fomos mobilizados por ideologias que inverteram a escala dos valores e assim estabeleceram tensões sócioeconômicas, gerando perplexidades, individualismo e desalento. Por outro lado, não podemos deixar de enfocar que, apesar do descompassado desenvolvimento que tivemos, negligenciamos o humano em prol da economia e da tecnologia, desse caldo borbulhante de inquietações e discrepâncias surgiu a mudança dos conceitos de poder e felicidade.

A constatação da ineficácia das coisas materiais, da fama e do poder econômico como portadores de felicidade, trouxe à tona a autoindagação e a necessidade de mudanças. Pouco a pouco percebemos que a felicidade é uma conquista da alma e portanto independente de circunstâncias e satisfação de desejos.

O resgate dos valores humanos é o nosso grande desafio, mas o ser humano tem reservas inesgotáveis de transformação. Temos nos valores morais e espirituais o grande instrumento de aprimoramento e o traço de união dos povos, sem distinção. Os valores promovem a verdadeira prosperidade do homem, da nação e do mundo.

autoria desconhecida

Por Onde Passes

Quando cada dia se te apresenta, em torno de atividades a que o dever te vincula, aparecem as tarefas com as quais não contavas. Geralmente, são pequenos encargos que a vida te propõe em nome de Deus.

É o amigo desesperado, a mulher vergastada pelo sofrimento, o desconhecido em dificuldade, o doente esquecido ou a criança sem rumo, a te pedirem apoio e consolação. Não passes indiferente, diante da dor. Cede um minuto do tempo de que dispões ou algo do que possuis para diminuir o frio da penúria e a febre da aflição.

Uma frase iluminada de amor e qualquer migalha de socorro na benção da compreensão operam prodígios.

Pronuncie as palavras que libertam os corações encarcerados na angústia, tece um véu de esperança sobre as feridas ocultas, improvise algum reconforto para que os que carregam conflitos e lágrimas, alivie os que choram e faze sorrir de algum modo aqueles que transitam pelos caminhos empedrados da solidão. O tempo é uma estrada que todos somos compelidos a percorrer.

Segue plantando paz e semeando alegria. Deus não nos pede o impossível. Tanto quanto nos sucede, onde estamos, a vida na Terra te solicita, onde passes, esse ou aquele toque de amor, a lembrar-te que o reino da felicidade começa em ti.

autoria desconhecida

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Crítica

Tradicionalmente, tem-se afirmado que o homem é um animal racional. Com essa afirmação, pretende-se dizer que ele não é apenas inteligente, mas possui alguma capacidade que o torna diferente dos outros animais, revelada em atos inteligentes, mas com uma dimensão muito peculiar.

Ser racional significa, em princípio, ser dotado de razão ou ter possibilidade de raciocinar: inferindo, concluindo, analisando, sintetizando, demonstrando e projetando o pensamento. Acima de tudo, raciocinar é ser capaz de criticar.

Criticar não é só sinônimo de " pixar ", " difamar " ou " denegrir "; criticar é, antes de tudo, a mais nobre prova da racionalidade e implica analisar aspectos positivos e negativos de uma coisa, ideia ou situação, avaliar esses aspectos e sobre eles emitir um julgamento. Em síntese, criticar é julgar e o próprio ato de julgar induz a uma tomada de decisão ou a assumir uma posição diante de uma situação, ideia ou coisa.

Assim, a crítica desponta como uma atividade intelectual indispensável à vida humana, porque a cada hora todo homem é chamado a decidir e tomar posição.

Evidentemente, quando se fala de crítica como atividade racional, não é possivel entendê-la como " destrutiva " ou " construtiva ", pois toda ela se constitui como a desnudação de algo para, deixando de lado a simples aparência, penetrar nos aspectos essenciais de uma situação, ideia ou coisa.

De fato, o ser humano normal, sobretudo adulto, deve aprender a criticar e receber crítica, as duas coisas são como faces de uma mesma moeda: uma não existe sem a outra. Receber e oferecer crítica se constituem, pois, como o mais pleno exercício da racionalidade e o não realizar esse exercício já implica " abrir mão ", mesmo que temporariamente, da capacidade de ser racional.

Algumas pessoas, por falta de aprendizagem, omitem-se em relação à crítica e admitem que ela representa um prejuízo ou um desvalor. É claro: essas pessoas ainda não atingiram a maturidade e, por isso, não são capazes de realizar o mais fácil, que é a autocrítica.

A autocrítica é o primeiro estágio da atividade intelectual de criticar e aqueles que não ultrapassaram esse primeiro estágio necessitam ser apoiados, para aprender a exercer a plena racionalidade.

autoria desconhecida

Mensagem

Entre! - disse Deus pra mim - Então você gostaria de Me entrevistar?
- Se o Senhor tiver um tempinho...
Ele sorriu de forma tranquilo dizendo:
- Meu tempo chama-se eternidade. O que você gostaria de Me perguntar?
- Nada de novo para o Senhor. O que o surpreende mais nos seres humanos?
Nem parou para pensar. Parece que as respostas sempre estiveram lá, esperando por alguém que as quisesse ouvir:
- Que eles se cansam de serem crianças, têm pressa em crescer, mas depois lamentam não serem mais pequenos. Que eles perdem sua saúde para ganhar dinheiro e então perdem seu dinheiro para recuperar a saúde... Que, por tanto pensar em seu futuro, acabam se esquecendo do presente, de tal forma, que não vivem nem no presente ou no futuro. Que eles vivem como se nunca fossem morrer e morrem como se nunca tivessem vivido...
Suas mãos agarraram as minhas e houve silêncio. Ainda pensando em Suas palavras, tomei fôlego e disse:
- Posso perguntar mais uma coisa?
Ele apenas sorriu. Notei, entretanto, que, por trás daquele gesto, havia um quê de desapontamento e tristeza. A imagem era emocionante. Lágrimas podiam ser vistas forçando a saída de Seus profundos olhos. Eu sabia que era responsável por essa situação. Era momento de deixar de ser repórter e virar filho:
- Pai - aos prantos, perguntei: - o que o Senhor pediria que nós, Seus filhos, fizéssemos neste novo ano?
- Que aprendam que não podem fazer com que todos os amem, mas que deixem ser amados. Que aprendam que leva anos para construir a confiança e apenas alguns segundos para destruí-la. Que aprendam que o mais valioso não é o que têm em suas vidas, mas quem têm em suas vidas. Que aprendam que não é bom comparar-se aos outros, pois sempre haverá melhores e piores. Que aprendam que uma pessoa rica não é aquela que tem mais, mas aquela que precisa menos. Que aprendam que devem controlar seus ímpetos, para não serem controlados por eles. Que aprendam que bastam apenas alguns instantes para abrir profundas feridas em quem amamos, mas anos para curá-las. Que aprendam que existem pessoas que os amam, mas simplesmente não sabem como demonstrar seus sentimentos. Que aprendam que dinheiro compra tudo, menos a felicidade. Que aprendam que, embora tenham o direito de entristecer-se, não têm o direito de entristecer os outros. Que aprendam que grandes sonhos não precisam de asas para serem alcançados, mas de uma pista de pouso para se tornarem realidades. Que aprendam que nem sempre é suficiente ser perdoado pelos outros: vocês precisam perdoar a si mesmos. Que aprendam que são mestres do que possuem e escravos do que dizem. Que aprendam que a verdadeira felicidade não é conquistar seus objetivos, mas estar satisfeito com o que já conquistou. Que aprendam que duas pessoas podem olhar para a mesma coisa e ver algo totalmente diferente. Que aprendam que mesmo que pensem não possuir nada para dar, têm dentro de si o maior dos presentes. Que aprendam que amar é o melhor meio de aproximar as pessoas. Que aprendam que até mesmo a palavra " amar " tem vários significados. Que aprendam que não precisam fazer algo extraordinário para que Eu os ame: Eu simplesmente o faço. Que aprendam que a menor distância que vocês, meus filhos possam estar de mim é... uma prece.

autoria desconhecida

O Escritor e o Suicídio

                                 Luís Fernando Veríssimo

Depois de fazer o laço da forca e colocar uma cadeira embaixo, o escritor sentou-se atrás de sua mesa de trabalho, ligou o computador e digitou: " No fundo, no fundo, os escritores passam o tempo todo redigindo a sua nota suicida. Os que se suicidam mesmo são os que a terminam mais cedo. "

Levantou-se, subiu na cadeira sob a forca e colocou a forca no pescoço. Depois retirou a forca do pescoço, desceu da cadeira, voltou ao computador e apagou o segundo " no fundo " . Ficava mais enxuto. Mais categórico. Releu a nota e achou que estava curta. Pensou um pouco, depois acrescentou:

" Há os que se suicidam antes para escapar da terrível agonia de encontrar um final para a nota. O suicídio substitui o final. O suicídio é o final. "

Levantou-se, subiu na cadeira, colocou a forca no pescoço e ficou pensando. Lembrou-se de uma frase de Borges. Encaixa, pensou, retirando a corda do pescoço descendo da cadeira e voltando ao computador. Digitou: " Borges disse que o escritor publica seus livros para livrar-se deles, senão passaria o resto da vida escrevendo-os. O suicídio substitui a publicação. O suicídio é a publicação. No caso, o livro livra-se do escritor. "

Levantou-se, subiu na cadeira, mas desceu da cadeira antes de colocar a forca no pescoço. Lembrara-se de outra coisa. Voltou ao computador e, entre o penúltimo e o último parágrafo, inseriu: " Há escritores que escrevem um grande livro, ou uma grande nota suicida, e depois nunca mais conseguem escrever outro. Atribuem a um bloqueio, ao medo do fracasso. Não é nada disso. É que escrevem a nota, mas esqueceram-se de suicidar. Passam o resto da vida sabendo que faltou alguma coisa na sua obra e não sabendo o que é. Faltou o suicídio. "

Levantou-se, ficou olhando a tela do computador, depois sentou-se de novo. Digitou: " No fundo, no fundo, a agonia é saber quando se terminou.  Há os que não sabem quando chegaram ao final da sua nota suicida. Geralmente são escritores de uma obra extensa. A crítica elogia a sua prolixidade, a sua experimentação com formas diversas. Não sabe que ele não consegue é terminar a nota. "

Desta vez não se levantou. Ficou olhando a tela, pensando. Depois acrescentou: " É claro que o computador agravou a agonia. Talvez uma nota suicida definitiva só possa ser manuscrita ou datilografada à moda antiga, quando o medo de borrar o papel com correções e deixar uma impressão de desleixo para a posteridade, leva o autor a ser preciso e sucinto. "

Tese: é impossível escrever uma nota de suicídio no computador.

Era isso? Ele releu o que tinha escrito. Apagou o segundo " no fundo ",

Era isso. Por via das dúvidas, guardou o texto na memória do computador. No dia seguinte o revisaria. E foi dormir.

A lenda das três árvores

                             Havia no alto da montanha três árvores que sonhavam o que seria depois de grandes.
                             A primeira, olhando as estrelas, disse: " Eu quero ser o baú mais precioso do mundo, cheio de tesouros ".
                             A segunda, olhando o riacho, suspirou: " Eu quero ser um navio grande para transportar reis e rainhas ".
                              A terceira olhou para o vale e disse: " Quero ficar aqui no alto da montanha e crescer tanto que as pessoas, ao olharem para mim, levantem os olhos e pensem em Deus ". 
                             Muitos anos se passaram e certo dia três lenhadores cortaram as árvores que estavam ansiosas em serem transformadas naquilo que sonhavam. Mas os lenhadores não costumavam ouvir ou entender de sonhos... Que pena!
                              A primeira árvore acabou sendo transformada em um cocho de animais coberto de feno.
                              A segunda virou um simples barco de pesca, carregando pessoas e peixes todos os dias.
                              A terceira foi cortada em grossas vigas e colocadas de lado num depósito.
                              Então, desiludidas e tristes, as três perguntaram: " Por que isso? "
                              Entretanto, uma bela noite, cheia de luz e estrelas, uma jovem mulher colocou seu bebê
recém-nascido naquele cocho de animais. E de repente, a primeira árvore percebeu que continha o maior tesouro do mundo.
                              A segunda árvore estava transportando um homem que acabou por dormir no barco em que se transformara. E quando uma tempestade quase afundou o barco, o homem levantou-se e disse: " Paz ".
                              E, num relance, a segunda árvore entendeu que estava transportando o Rei do céu e da Terra!
                              Tempos mais tarde, numa sexta-feira, a terceira árvore espantou-se quando suas vigas foram unidas em forma de cruz e um homem foi pregado nela.
                               Logo sentiu horrível e cruel. Mas, no domingo seguinte, o mundo vibrou de alegria.
                               E a terceira árvore percebeu que nela havia sido pregado um homem para a salvação da humanidade e que as pessoas sempre se lembrariam de Deus e de seu Filho ao olharem para ela.
                               As árvores haviam tido sonhos e desejos. Mas sua realização foi mil vezes maior do que haviam imaginado.
                               Portanto, não se esqueça: não importa o tamanho do seu sonho! Acreditando nele, sua vida ficará mais bonita e muito melhor de ser vivida!
                             

autoria desconhecida
                              

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Espelho, Espelho Meu

Um historiador de 2092 que se debruçar sobre os jornais, revistas e vídeos de cem anos antes sofrerá a tentação de definir a época atual como a Era de Narciso. Strip-teases de homens musculosos, fotos eróticas como as da cantora Madonna, a proliferação das academias de ginástica - todas essas informações contribuirão para que o estudioso do futuro chegue à conclusão de que os seus antepassados não saíam da frente do espelho e tinham como principal ocupação exibir-se uns para os outros. " Se o final do século XIX foi marcado pelo niilismo ou descrença, os últimos anos do século XX tiveram como característica o narcisismo ", poderia escrever o hipotético pesquisador.

A novidade, porém, é que o narcisismo nem sempre é ruim. " O narcisismo faz parte da personalidade humana e pode existir em vários graus, desde o patológico e negativo até o saudável e positivo ". É o que afirma a psicoterapeuta Raíssa Cavalcanti, chamando a atenção para o fato de que, ao contrário do que se supõe, o narcisista negativo não gosta de si próprio e sofre por causa disso. " Atrás da máscara mostrada socialmente, existe uma pessoa com profundos sentimentos de inferioridade, dependência e fragilidade. Por maior que seja o seu sucesso, alguém assim experimenta a vida como algo vazio, triste e sem significado ", esclarece Raíssa. Entretanto, acrescenta que o narcisismo de um indivíduo pode estar relacionado a condições culturais, pois existem também sociedades narcisistas. " Uma sociedade é narcisista quando é mais valorizado o ter que o ser. Quando a busca da notoriedade substitui a da dignidade ", afirma ela.

adaptado da revista IstoÉ, 23.12.1992.