sábado, 8 de janeiro de 2022

Oxóssi

 Oxóssi é um orixá muito popular no Brasil e em Cuba, embora seu culto esteja praticamente extinto na África. É o deus responsável pela caça e pela manutenção da tribo.


Muitos africanos do Ketu que cultuavam Oxóssi chegaram ao Novo Mundo como escravos, após a região ter sido invadida pela tropas do rei Daomé. No Candomblé, ele se tornou o rei da nação Ketu e é muito popular na Bahia. Na Umbanda ele é o patrono da linha dos caboclos.

Oxóssi é o orixá responsável pela caça e protetor dos caçadores. Em muitas expedições, ele  descobria regiões que eram favoráveis à plantação. Nesses locais ele fundava vilarejos onde mantinha uma grande autoridade sobre as pessoas que se estabeleciam no local.

Conta-se que nas antigas tribos da África cabia ao caçador, além de penetrar o mundo além da aldeia e descobrir locais novos para o grupo, trazer tanto a caça como também folhas medicinais. Dessa forma, Oxóssi também passou a simbolizar a transmissão de conhecimento devido às suas descobertas.

O combate cotidiano de Oxóssi está nas matas, onde caça animais com o intuito de abastecer as tribos. Embora seja um caçador, ele não aprova a matança pura e simples, a caça predatória, pois considera que a morte de animais deve ter como objetivo a alimentação dos humanos ou os rituais aos orixás. Dessa forma, uma de suas responsabilidades é garantir a vida dos animais para que eles possam ser caçados no momento oportuno.

Oxóssi é conhecido como o "caçador de uma flecha só", pois consegue atingir o seu alvo com grande precisão. Conta a lenda que, certa vez, um pássaro maligno ameaçava a tribo e Oxóssi era o único caçador que ainda tinha uma flecha para abatê-lo. Todos os outros caçadores haviam errado o alvo e perdido todas as suas flechas. Conta-se que Oxóssi atirou contra o pássaro e salvou toda a aldeia.

Oxóssi é calmo, tranquilo e paciente, enquanto seus irmãos Exú e Ogum têm temperamentos opostos. Ele representa a firmeza de propósito, a determinação, a objetividade e a concentração. Em seus devotos, ele age espiritualmente, eliminando seus defeitos e despertando suas qualidades.

Na Bahia ele é sincretizado com São Jorge e no Rio de Janeiro com São Sebastião. Quinta-feira é o dia da semana que lhe é consagrado. Seus iniciados usam colares de contas azul-esverdeadas. Suas danças imitam os gestos da caça, da perseguição do animal e do atirar da flecha. Seu símbolo é, como na África, um arco e flecha em ferro forjado.


Arquétipo


O arquétipo de Oxóssi é o de pessoas observadoras, ágeis, espertas, rápidas, alertas e em movimento. O forte sentido de responsabilidade faz com que se preocupem com o bem-estar da família e com o sustento da tribo. Inovadoras, não temem mudanças de qualquer tipo, mesmo aquelas que envolvem a casa ou o trabalho. Gostam de realizar trabalhos que possam ser feitos de forma independente, sem a participação de muitas pessoas. Em suas atividades profissionais necessitam de silêncio e concentração. Além de respeitarem o espaço de cada um, não têm o hábito de prejulgar qualquer situação ou pessoa.


Retirado da revista Sexto Sentido Especial - Orixás, Mythos Editora, São Paulo, 2010.

Arte e ciência de ajudar

 A indiferença ante a dor do próximo é congelamento da emoção, que merece combate.

À medida que que o homem cresce espiritualmente, mais se lhe desenvolvem no íntimo os sentimentos nobres.

Certamente não se deve confundi-los com os desregramentos da emotividade; igualmente não se pode controlá-los a ponto de tornar-se insensível.

No bruto, a indiferença é o primeiro passo para a crueldade, porta que se abre na emoção para inúmeros outros estados de primitivismo.

A indiferença coagula as expressões da fraternidade e da solidariedade, ensejando a morte do serviço beneficente.

O antídoto para esse mal, que reflete o egoísmo exacerbado, é o amor.

Se não pretendes partilhar do sofrimento alheio, ao menos minora-o com migalhas do que te excede.

Se não queres conviver com a dor do teu irmão, ajuda-o a tê-la diminuída com aquilo que te esteja ao alcance.

Se defrontas multidões de necessitados e não sabes como resolver o problema, auxilia o primeiro que te apareça, fazendo a tua parte.

Se te irrita a lamentação dos que choram, silencia-a com o teu contributo de amizade.

Imagina-te no lugar de algum deles e saberás o que fazer, como efeito natural do que gostarias que alguém fizesse por ti.

Ninguém está seguro de nada, enquanto se encontra na Terra.

A roda das ocorrências não para.

Quem hoje está no alto, amanhã terá mudado de lugar e vice-versa.

E não só por isso.

Quem aprende a abrir a mão em solidariedade, termina por abrir o coração em amor.

Dá o primeiro passo, o mais difícil. Repete-o, treina os sentimentos e te adaptarás à arte e ciência de ajudar.

Há quem diga que os infelizes de hoje estão expiando os erros de ontem, na injunção de carmas dolorosos. Ajudá-los, seria impedir que os resgatassem.

É correto que a dor de agora procede de equívocos anteriores, porém, a indiferença dos enregelados, por sua vez, lhes está criando situações penosas para mais tarde.

Quem deve, paga, é da Lei. Mas quem ama dispõe dos tesouros que, quanto mais se repartem, mais se multiplicam. É semelhante à chama que acende outros pavios e sempre faz arder, repartindo-se, sem nunca diminuir de intensidade.

Faze, pois, a tua opção de ajudar, e o mais a Deus pertence.


Texto retirado do livro Momentos de Meditação; Divaldo Franco pelo espírito Joanna de Ângelis; Livraria Espírita Alvorada Editora, Salvador,  3ª Edição, 2014.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

Ogum

 Ogum é um orixá muito popular no Brasil. É considerado o deus dos guerreiros e de todos aqueles que trabalham com instrumentos de metal, pois ele é também o orixá do ferro.


No Brasil, Ogum é conhecido como o deus dos guerreiros, perdendo a posição de protetor dos agricultores que tinha na África. Segundo a tradição, Ogum era caçador e costumava descer de orum por meio de uma teia de aranha para caçar. Dizem também que, quando as divindades chegaram ao mundo, competiu a ele abrir clareiras na selva com o seu facão considerado mágico. Devido a isso ele foi aclamado como chefe entre as divindades, Osin Imale.

Filho de Iemanjá e Odudua, o fundador do Ifé, foi regente do reino de Ifé quando seu pai ficou temporariamente cedo. No entanto, não se preocupava muito com a administração do reino, pois não gostava de ficar quieto e trancado dentro do palácio. Com uma vida amorosa agitada, foi o primeiro marido de Oiá-Iansã, que se tornaria mais tarde mulher de Xangô, e teve também relações com Oxum e Obá.

Ogum é muito mais emoção do que razão, perdoando facilmente seus amigos e destruindo seus inimigos. Ataca pela frente, de peito aberto, como o clássico guerreiro. Ele simboliza o trabalho, a atividade criadora do homem sobre a natureza, a produção e a expansão, a busca de novas fronteiras, aquele que desbrava as matas e derrota os inimigos. Qualquer contrato ou juramento feito em seu nome deves er cumprido. Conta-se que se por um acaso o compromisso não for honrado, o faltoso sofrerá sérias consequências.

Considerado o deus de ferro, é o padroeiro daqueles que manejam ferramentas: ferreiros, barbeiros, açougueiros, marceneiros, caçadores, mecânicos, maquinistas de trem. O seu culto é bastante difundido nos territórios de língua iorubá e em certos países vizinhos, sendo provavelmente um dos deuses mais respeitados e temidos.

Ele tem como símbolos mais importantes o ferro, a rocha e fragmentos de metal. O seu nome é sempre mencionado por ocasião de sacrifícios dedicados aos deuses, no momento em que a cabeça do animal é cortada com uma faca da qual ele é o senhor absoluto.

No sincretismo é associado a Santo Antônio de Pádua, na Bahia, e a São Jorge, no Rio de Janeiro. Os lugares consagrados a Ogum ficam ao ar livre, na entrada dos palácios dos reis, nos mercados e nos templos de outros orixás.

O dia da semana que lhe é consagrado é a terça-feira, e os seus adeptos usam colares de contas de vidro azul-escuro e, algumas vezes, verde. Seus domínios são os caminhos, os combates e as demandas de toda ordem.


Arquétipo


Ogum representa as pessoas impulsivas, explosivas, obstinadas, teimosas e que sentem prazer em estar com os amigos e com o sexo oposto. Muitas vezes têm dificuldade em perdoar as ofensas que lhe são feitas. Perseguem seus objetivos de forma enérgica e não se desencorajam facilmente. Dificilmente perdem a esperança, mesmo nos momentos difíceis. Seu humor geralmente é instável, alternando a agitação e a tranquilidade. Muitas vezes o ser representado por Ogum é julgado como um ser arrogante, impetuoso e até mesmo indiscreto. Por outro lado, sua franqueza e sinceridade fazem com que seja admirado pelas pessoas. A rotina para ele é um castigo, pois gosta de agitação, novidades e de tudo o que é moderno.


Retirado da revista Sexto Sentido Especial - Orixás; Mythos Editora, São Paulo, 2010.

terça-feira, 4 de janeiro de 2022

Exú

 Exú é provavelmente um dos orixás mais polêmicos do panteão africano, pois apresenta características múltiplas e muitas vezes contraditórias.


Exú é a divindade da fertilidade, o regulador do cosmos, e esteve presente em nosso planeta desde o princípio. Ele é o  elemento dinâmico de tudo o que existe, o princípio da expansão e da comunicação. No mito cosmogônico, é o responsável pela conservação do axé, o poder com o qual as divindades conseguem realizar suas atividades sobrenaturais.

Com características múltiplas e muitas vezes contraditórias, é Exú quem coloca barreiras e traça os caminhos que devem ser seguidos pelo homem. Entretanto, não cabe a ele decidir o que é certo ou errado do que lhe é pedido, já que o homem tem em seu poder o livre arbítrio.

Exú faz a ligação entre o mundo material e espiritual. Sua principal atividade mítica é a de mensageiro, aquele que leva  pedidos e oferendas do homem aos orixás e que traduz a linguagem humana para as divindades. Por essa razão é que nada se faz sem ele e sem que oferendas lhe sejam feitas, antes de qualquer outro orixá.

Cabe a Exú, por exemplo, transmitir a resposta dos orixás ao babalorixá na leitura de Búzios, assim como iniciar qualquer cerimônia, trabalho ou festa nos cultos afro-brasileiros. Sua função de figura-limite entre o astral e a matéria se revela em suas cores, o negro (ausência de cor) e o vermelho (forte iluminação).

Exú se revela o mais "humano" dos orixás: nem completamente bom, nem completamente maus. Representa a bipolaridade e os opostos, como o certo e o errado, o dia e a noite, o homem e a mulher, o bem e o mal. Brinca e se diverte, possibilitando prazeres ao homem, mas também provoca o mal e acontecimento dramáticos. Por ter o conhecimento das energias mais densas e ser o orixá da abertura dos caminhos, a ele se pede a interferência nas situações do mundo físico.

No Brasil, o Exú foi sincretizado com o diabo. Acredita-se que os antigos missionários cristãos o identificaram como a representação do diabo, por apresentar-se nu exibindo um falo ereto. Na tradição iorubá é fundamental a descendência, e o falo simboliza a procriação, assim como o fogo das paixões.

O lugar consagrado a Exú é,  geralmente ao ar livre ou no interior de uma pequena choupana isolada ou, ainda, atrás da porte da casa. A segunda-feira é o dia da semana consagrado a ele. As pessoas que procuram a sua proteção usam colares de contas pretas e vermelhas.


Arquétipo

O arquétipo de Exú pode ser encontrado facilmente na nossa sociedade. Ele se apresenta nas pessoas que são boas e más ao mesmo tempo. Ardilosos e sedutores, geralmente inspiram grande confiança nas pessoas. Essas características muitas vezes são usadas em benefício próprio. Possuem facilidade e inteligência para compreender os problemas dos outros, dando conselhos ponderados. As artimanhas intelectuais enganadoras e as intrigas políticas são armas que usam para alcançar o sucesso desejado. Maleáveis e pragmáticos, enfrentam cada situação de forma independente, pois acreditam que cada problema ou situação deve ser tratado de forma exclusiva.


Retirado da revista Sexto Sentido Especial - Orixás, nº 46; Mythos Editora, São Paulo, 2010.

domingo, 2 de janeiro de 2022

Reconstrução Nacional

 Num ato de reconstrução nacional

Doutores, mendigos, tupis, guaranis

Vieram até o planalto central

Trabalhadores, pivetes, senis

E falaram de coisas sublimes, gentis

das coisas que fazem tão grande este país


Alguém fez menção a Dom Pedro I

O ilustre imperador

Que "Estrada" e Francisco inspirados

fizeram este hino de amor

Falaram também da princesa heroína

que a sina do negro mudou

Do "Xavier" que foi traído, do "Zumbi" lutador

Nossa história tem imagens, personagens imortais


E hoje não tão diferente traz exemplos geniais

Um certo "Betinho" convoca a nação

E diz que o que ainda mata não é só inflação

E se não dá o pão...

O amor... a mão a um irmão

Um povo com fome não é soberano

E nem patriota será

Não dá pra curvar-se ao pendão

Sem poder levantar


Música de Flávio Oliveira, Marcelo do Rosário e Miro Barbosa gravada por Renata Jambeiro em 2009 no CD intitulado Jambeiro em uma Produção Independente.

História Sem Fim

 Misteriosa vida

Quem sou eu, pra onde vou

A velha pergunta de qualquer mortal

Talvez seja verdade

Uma bela mentira

A resposta que sempre nunca vou saber

Milagres acontecem

Teatro de dor e prazer

Um eterno duelo entre o bem e o mal

O destino de Deus

Está escrito na palma da minha mão

Destruo e salvo o mundo

Todo milênio, cada segundo

Tal qual criador, tal qual criação

Uma história sem fim...


Música de Rita Lee & Roberto de Carvalho que fecha o CD 3001, gravado e lançado em 2000 pela gravadora Universal Music.

sábado, 1 de janeiro de 2022

Rumo ao Porto Seguro

 O homem necessita emergir dos condicionamentos negativos a que se entrega, buscando a realização pessoal e o desenvolvimento da sociedade da qual é membro relevante.

Para esse fim, torna-se-lhe indispensável o conhecimento da própria personalidade, o controle dos impulsos e resíduos dos hábitos antigos, a busca do Eu eterno e uma programação saudável para a reconstrução da sua identidade.

O conhecimento da própria personalidade é um desafio admirável e estimulante, que não deve ser adiado.

Não basta um exame complacente das debilidades, tampouco uma análise severa dos deveres, transferindo-se para estados patológicos de fuga pela depressão ou mediante a rebeldia.

Faz-se necessária uma busca das causas do comportamento consciente e dos fatores que o induzem aos estados infelizes.

Isso será feito através de uma penetração no inconsciente, para ali encontrar os fantasmas persistentes das frustrações e medos, dos problemas infantis não solucionados, e até mesmo de algumas matrizes de outras reencarnações que interferem no comportamento atual. Todos esses mecanismos retidos no inconsciente são responsáveis pelo exaurimento das suas forças, pela paralisação dos esforços em favor do equilíbrio e por ideias obsessivas, perturbadoras.

Serão identificadas, ao mesmo tempo, as imensas possibilidades adormecidas, os tesouros da criatividade e da coragem, as vocações e capacidades que permanecem esmagadas por medos injustificáveis e conflitos facilmente superáveis.

O controle dos impulsos e resíduos dos hábitos antigos é de grande importância, porquanto estabelece novas metas a serem conquistadas e conduz à superação de todo o lixo acumulado na personalidade, a exsudar miasmas.

O que o indivíduo desconhece, funciona como força dominadora, embora se possa controlar tudo quanto consegue levar à desidentificação.

O conhecimento de uma fraqueza moral, às vezes, leva-o a admitir que está  vencido, o que é um erro básico, ou que não dispõe de forças para a batalha. Há sempre energias desconhecidas, em potencial, que podem e devem ser movimentadas.

Todo impulso pode ser canalizado de forma positiva, e os resíduos ancestrais devem ser diluídos mediante as novas ações estabelecidas.

Indispensável, pois, desintegrar as imagens residuais perniciosas e conduzir bem as energias liberadas.

O verdadeiro Eu é imortal e evolve através das reencarnações, atuando pelo amor e pelo conhecimento para o desabrochar do Deus interno, que nele jaz aguardando oportunidade.

Para esse cometimento, os valores espirituais e religiosos desempenham papel importante, por facultarem métodos de introspecção e ação capazes de vencer o ego e abrir espaços para as identificações ideais.

Esse esforço, ao invés de isolar os indivíduos, aproxima-os uns dos outros, desenvolvendo a solidariedade e o interesse de iluminação que devem a todos atingir.

Aquele que empreende esse desiderato, a ele se afeiçoa de tal forma, que passa a viver em sua função, sem abandonar, naturalmente, os demais deveres que executa com alegria, maneira feliz de exteriorizar a sua identidade superior, iluminada.

Por fim, elabora um programa de comportamento para a sua plena identificação, sua realização psicológica, sua libertação.

As dores não mais o mortificam nem desanimam. Antes, motivam-no a crescer conforme afirmou Heine: "O meu grande sofrimento eu converto em pequenas canções"; ou Milton, cego, escrevendo com júbilo o seu incomparável Paraíso Perdido; ou Mesmer, expulso de Viena, prosseguindo com as suas experiências em torno do fluidismo e do magnetismo.

Certamente, não atingirás de uma vez esta meta.

O esforço desenvolvido e o exercício continuado te auxiliarão a prosseguir, graças às pequenas vitórias que irás registrando e ao bem-estar de que te sentirás inundado.

Urge que rompas as amarras com a comodidade ou a depressão, com a revolta ou a má vontade; que te resolvas crescer e ser feliz.

Jesus viveu em toda plenitude o amor e ensinou como se poderá segui-lO através das lições que nos legou.

Assim, não te detenhas no passado, porquanto hoje é dia novo e amanhã é o porto feliz que deves conquistar a partir de agora.


Retirado do livro Momentos de Iluminação; Divaldo Franco pelo espírito Joanna de Ângelis; Livraria Espírita Alvorada Editora, Salvador, 4ª Edição, 2015.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

Hélio

 Hélio, o Sol, pertencia à geração dos Titãs, anterior aos Olímpicos. Passa por ser filho do Titã Hiperião e da titânida Teia. Era irmão de Éos, a Aurora e de Selene, a Lua. Hélio tinha por mulher Perseida, uma das filhas de Oceano e de Tétis, que lhe deu como filha Circe, a feiticeira. Estes, o rei da Cólquida, Pasífae, mulher de Minos e um filho, Perseu, que destronou o irmão Eetes. Consta que Hélio se uniu a diversas outras mulheres: à ninfa Rodes, mãe dos Helíades, a Clímene, mãe das Helíades, a Leucótoe, filha de Órcamo e de Eurínome. Hélio era representado como um jovem de grande beleza, com a cabeça cercada de raios, à maneira de uma cabeleira de ouro. Percorria o céu, num carro de fogo arrastado por quatro cavalos, Pírois, Eoo, Éton e Flégon, dotados de grande rapidez. Os quatro nomes originam-se de chama, fogo ou luz. Cada manhã, precedido pelo carro da Aurora, Hélio se atirava por um caminho que passava pelo meio do céu. À tarde chegava ao mar, onde banhava os cavalos fatigados. Hélio repousava num palácio de ouro, de onde partia no outro dia pela manhã. Quando os companheiros de Ulisses lhe comeram os bois, animais de brancura imaculada e de chifres dourados, ameaçou retirar-se para o seu palácio embaixo da Terra, se os culpados não fossem castigados. Hélio é considerado como o olho do mundo, aquele que tudo vê.


Retirado do livro Dicionário da Mitologia Grega; Ruth Guimarães, Editora Cultrix, São Paulo, 2004.

terça-feira, 28 de dezembro de 2021

Orunmilá

 Orunmilá, conhecido também como Ifá, é o orixá e a divindade da profecia dos iorubás, e é muito respeitado por seu conhecimento e sabedoria.


O termo Orunmilá é formado pela contração de orun-l'o-mo-a-ti-la, que significa "Somente o Céu conhece os meios de libertação", e é também o resultado da contração de orun-mo-ola, "Somente o céu pode libertar". A palavra Ifá tem como raiz fa, e significa acumular, abraçar, conter. O termo indica que todo o conhecimento e as tradições iorubás se encontram no corpus literário de Ifá.

Orunmilá designa a divindade e palavra Ifá significa ao mesmo tempo a divindade e o sistema divinatório a ela associado. Para orientar os que o procuram, o sacerdote de Ifá dirige-se ao Odu Corpus. O corpus narrativo de Ifá contém a história da maioria dos orixás, ensinamentos sobre curas por meio de plantas. Dessa forma, os sacerdotes de Orunmilá também conhecem o preparo de medicamentos necessários para a cura de doenças.

Sobre Orunmilá existem muitos mitos que esclarecem a sua essência como orixá. Um deles narra que teria tido oito filhos aos quais ensinou todos os mistérios da profecia e adivinhação. Outro conta que ele teria nascido em Ifé, onde era um grande curador e adivinho. Após ter adquirido fama, fundou uma cidade chamada Ipetu, onde se tornou rei conhecido como Alaketu. Conta-se que era muito popular e considerado um grande profeta. Ele teria selecionado dezesseis homens desejosos de aprender a arte divinatória.

Conta-se também que Orunmilá participou do processo de criação e veio para a Terra em companhia de outros deuses primordiais. Teria então nascido em Ifé, local considerado o ponto de origem da espécie humana. Ele teria recebido de Olodumaré o privilégio de conhecer a origem de todos os orixás, de todos os seres humanos e de todas as coisas que existem no mundo. Daí a sua responsabilidade em guiar o destino de todos.

Segundo as tradições iorubás, somente Orunmilá pode sondar o futuro, pois é o único conhecedor do ipin ori, o destino do ori. Ori em iorubá significa cabeça e se refere a uma intuição espiritual e destino. É o orixá pessoal em toda sua força e grandeza.

Os sacerdotes de Orunmilá geralmente são procurados por um grande número de pessoas, grande parte em situação de crise, e que não sabe exatamente como agir devido ao seu estado de fragilidade. O sacerdote é proibido de tirar vantagens da situação e não pode recusar atender mesmo aqueles que não têm  condições de pagar por seus préstimos. Cabe ao sacerdote orientá-las e lhes dar o aconselhamento necessário para que solucionem seus problemas. 

A iniciação de um sacerdote de Ifá não inclui a perda da consciência, pois se trata de uma iniciação intelectual. Ele passa por um longo período de aprendizagem de conhecimentos precisos, em que a memória é fundamental. Ele deve aprender uma grande quantidade de lendas e histórias contidas nos 256 Odus ou signos de Ifá. No conjunto todo, o aprendizado forma uma espécie de enciclopédia oral dos tradicionais conhecimentos do povo iorubá.


Retirado da revista Sexto Sentido Especial - Orixás, nº 46; Mythos Editora, São Paulo, 2010.

sábado, 25 de dezembro de 2021

Advertência e Encorajamento

Após as bênçãos da semeação, a terra aparece reverdecida, e surgem as searas luminosas com as bênçãos da flor e do fruto.

Superados os graves períodos de amanhar a terra, retirando-lhe calhaus, abrolhos e pedrouços, surge o momento feliz em que as sementes se multiplicam a cem por um, a mil por um, prenunciando abundância de grãos sobre a mesa da esperança.

Parece que, no verdor rico de projetos felizes, paira a grande paz.

Todavia, a necessidade de defender a gleba, torna-se-nos muito maior, agora, do que antes.

O solo adusto e ingrato, deixado ao abandono, inspira repulsa e desprezo; mas o pomar, o jardim e a lavoura - nos quais predomina abundância de bênçãos - a cupidez, o interesse malsão e a exploração da avidez vigiam; e, como ladrões impiedosos sentindo-se impossibilitados de furtar os grãos e apropriar-se da terra, ateiam-se incêndios criminosos com os quais se comprazem, acreditando-se vencedores.

As lutas recrudescem.

As facilidades são apenas aparentes.

O crescimento na horizontal da vida não significa implantação na vertical dos sentimentos.

Imperioso redobrar a vigilância.

Os bastiões da fé estremecem; abrem-se brechas que dão acessos a incursões malevolentes e perigosas.

A segurança de uma parede é a harmonia dos blocos que se justapõem. Retirado o primeiro, os próximos são inevitáveis.

As defecções de muitos companheiros comprometem o trabalho do Senhor.

A instabilidade de corações afervorados faculta o desequilíbrio e as incursões negativas.

Hoje, como ontem, o cristão decidido não dispõe de tempo para o repouso inútil ou para a colheita de glórias frívolas.

As forças em litígio predominam no país emocional de cada indivíduo.

Enquanto não prevaleçam a paz, o equilíbrio, a ordem e o amor, no comando das ações, estaremos em conflitos e caminharemos em crise.

O trabalho, disso decorrente, será frágil, susceptível de desmoronamento.

À medida que a seara cresce, aumenta o número daqueles que a detestam, de um como do outro plano da vida.

Não facilitemos! Mantenhamo-nos em serenidade vigilante, conclamando-nos, uns aos outros, à observância dos compromissos firmados e à vigilância da oração.

Não há castelo inexpugnável, quando aqueles que ali residem torpedeiam-lhe as bases.

Não há defesas que se sobreponham-se a um cerco demorado, se faltam, no reduto sitiado, o equilíbrio e a ajuda recíproca.

O trabalho de Jesus progride em nossas mãos, mas cuidemos para que, fracas, não venham a comprometer a realização interior.

Estes são dias muito graves.

Acompanhamos a insensatez abraçada ao entusiasmo de fogo-fátuo, sem dimensão do futuro nem estruturas no presente.

Nós outros, que já nos comprometemos ao largo dos séculos, e falhamos quase sem cessar, cuidemos para que o novo insucesso não nos assinale a marcha, quando estamos próximos do porto final.

Renovemos propósitos saudáveis, retiremos a borra do pessimismo e do desencanto, compreendendo que é nos dejetos que a vegetação se faz mais luxuriante e no charco o lótus esplende com mais alvura, como ocorre com o lírio que explode em perfume.

Façamos do cansaço, do desencanto e da rotina, o adubo forte da sementeira da esperança.

Iluminemo-nos de dentro para fora, a fim de que a nossa luz não projete sombras.

Prossigamos, com o ardor de ontem e a confiança no amanhã, vencendo, cada hora e todo o dia, com o mesmo idealismo de fé, sem deixar que as altercações do mal e as forças negativas tomem das nossas paisagens interiores, manchando-as de sombras.

Jesus confia em nós, e, Seus Amigos espirituais, contam com o esforço de cada um e a decisão de todos.

A nossa, será uma vitória coletiva.

A deserção de alguém será atraso na marcha de outros e a queda de alguns será insucesso em muitos.

Mãos dadas e corações unidos, olhos postos na Grande Luz, avancemos, joviais, estóicos e felizes.


Retirado do livro Momentos de Harmonia; Divaldo Franco pelo espírito Joanna de Ângelis;  Livraria Espírita Alvorada Editora, Salvador, 3ª Edição, 2014.