segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

Procuremos Com Zelo (54)

 "Procurai com zelo os melhores dons e eu vos mostrarei um caminho ainda mais excelente." - Paulo. (I CORÍNTIOS, 12:31)


A ideia de que ninguém deve procurar aprender e melhorar-se para ser mais útil à Revelação Divina é muito mais uma tentativa de consagração à ociosidade que um ensaio de humildade incipiente.

A vida é curso avançado de aprimoramento, através do esforço e da luta, e se a própria pedra deve sofrer o burilamento para refletir a luz, que dizer de nós mesmos, chamados, desde agora, a exteriorizar os recursos divinos?

Ninguém interrompa o serviço abençoado da sua educação, a pretexto de cooperar com o Céu, porque o progresso é um comboio de rodas infatigáveis que relega para trás os que se rebelam contra os imperativos da frente.

É indispensável avançar com a melhoria  consequente de tudo o que nos rodeia.

E o Evangelho não endossa qualquer atitude de expectativa displicente.

A palavra de Paulo é demasiado significativa.

Dirigindo-se aos coríntios, o apóstolo da gentilidade exorta-os a procurarem com fervor os melhores dons.

É imprescindível nos disponhamos a adquirir as qualidades mais nobres de inteligência e coração, sublimando a individualidade imperecível.

Cultura e santificação, através do trabalho e da fraternidade, constituem dever para todas as criaturas.

Autoaperfeiçoamento é obrigação comum.

Busquemos, zelosos, a elevação de nós mesmos, assinalando a nossa presença, seja onde for, com as bênçãos do serviço a todos, e tão logo estejamos integrados no esforço digno, dentro da ação pessoal e incessante no bem, o Alto nos descortinará mais iluminados caminhos para a ascensão.


Texto retirado do livro Fonte VivaFrancisco Cândido Xavier pelo Espírito Emmanuel, FEB, Brasília, 1987.

sábado, 11 de janeiro de 2025

25. Não se "corre atrás do prejuízo", só do lucro

Ao pé da letra, "correr atrás" = querer, perseguir, ir à procura. Mas a expressão "correr atrás do prejuízo" fez o termo "atrás" pular da dimensão concreta para simbólica, em paulatina abstração. Desativou-se a referência a um espaço posterior para ativar-se a menção a um tempo posterior. A expressão passou a ser o "esforçar-se até alcançar", o que suar para conseguir algo. Não é preciso mais movimento físico para "correr atrás", mas desgaste, um envolvimento também mental e economicamente penoso.


Texto de Sírio Possenti, professor titular do Departamento de Linguística da Unicamp e autor de Humor, Língua e Discurso.

Mitos Ideológicos, 100 Mitos retirado da revista Língua Portuguesa, Ano 9, número 100, Fevereiro de 2014, Editora Segmento, São Paulo.

Mitos Gramaticais - 24. O estrangeirismo é ruim

Não se pode falar sobre a incorporação de palavras estrangeiras sem mencionar duas posições ideológicas opostas:

a) a invasão do léxico segue uma grande invasão econômico-cultural;

b) é inútil proibir a invasão das palavras sem condições de reagir ao resto.

Dito isso, vamos às questões linguísticas, para discutir teses, a meu ver, equivocadas.


1. PALAVRA ESTRANGEIRA SÓ QUANDO NÃO HÁ EQUIVALENTE?

Uma tese que se apresenta como inteligente reza que palavras estrangeiras podem ser aceitas quando não há equivalente em nossa Língua. Ora, nenhuma palavra equivale a outra - a sinonímia é sempre uma aproximação. Seria fácil mostrar que "lindo!, "belo" e "bonito" não se equivalem, que não são usáveis pelos mesmos enunciadores nos mesmos gêneros ou circunstâncias. Do mesmo modo, "salvar" não é "gravar" (ninguém salva um disco nem um diretor de cinema grita "salvando"), nem delivery é mera "entrega em domicílio" (a conotação de modernidade é óbvia em um caso e não existe no outro).


2. É PRECISO APORTUGUESAR?

Outra tese diz que, para serem aceitas, as palavras estrangeiras devem ser aportuguesadas. Com isso, quer-se dizer grafar à moda da nossa legislação ortográfica (teríamos de encontrar formas de escrever marketing, shopping, show, cooper etc.). Ora, qualquer um percebe que as palavras estrangeiras são aportuguesadas sempre. Nenhum de nós diz "e-mail" com pronúncia de americano (mais ou menos [í:mel]) - dizemos "desavergonhadamente" [iméil]. (Eu acho até que a pronúncia seria [imeiu]... Opinião do Blog)


PALAVRA ESTRANGEIRA É UMA BÊNÇÃO

O resultado é que, considerados só do ponto de vista linguístico, os estrangeirismos são uma bênção.

Com eles, uma Língua passa a fazer novas distinções, que são - ou se tornam - socialmente relevantes - gravar passa a ser um campo dividido entre "gravar" com gravador ou filmadora e "salvar" com computador.

Acrescente-se que esse não é o único significado dessas palavras, que nem sempre são novas na Língua, como "salvar", assim como já era o de gravar, que pode referir-se a escrever numa pedra ou casca de árvore.

Além de permitirem novos significados, assumem valores. Assim, termos ingleses conotam modernidade nos campos do comércio ou da tecnologia; o Francês continua a conotar elegância. Prédios parecerão mais modernos se se chamarem Tower, restaurantes, mais elegantes se se forem Le Troquet e autênticos se se chamarem La pasta de la mamma.

O interessante, porém, é que eles mostram aspectos da gramática da nossa Língua. Assim, nenhum verbo importado é defectivo ou simplesmente irregular; e todos são da 1ª conjugação como os verbos regulares da classe. Outro aspecto: todas as palavras se encaixam em um padrão silábico dominante: "shopping" é simplesmente [xópin], "marketing" é [márketin].


Texto de Sírio Possenti, professor titular do Departamento de Linguística da Unicamp e autor de Humor, Língua e Discurso.

Mitos Ideológicos, 100 Mitos retirado da revista Língua Portuguesa, Ano 9, número 100, Fevereiro de 2014, Editora Segmento, São Paulo.

23. O tambor dita frase

O uso da linguagem por tambores já foi corrente na África Ocidental, região de muitas Línguas tonais (a cada sílaba é dado um tom). Lá, percussionistas reproduzem nos tambores o ritmo e os sons das palavras. Seria impossível tocar uma mensagem numa linguagem não tonal, como o Português: só se ouviria o número de sílabas e o seu ritmo.


Texto de Roberto Leiser Baronas. Ele é doutor em Linguística e Língua Portuguesa. Professor-adjunto do Departamento de Letras e do Programa de Pós-Graduação em Linguística da UFSCar.

Mitos Ideológicos, 100 Mitos retirado da revista Língua Portuguesa, Ano 9, número 100, Fevereiro de 2014, Editora Segmento, São Paulo.

22. Sinais de fumaça transmitem raciocínios

Os filmes de faroeste difundiram a ideia de que os índios americanos travavam conversas inteiras por sinais de fumaça, como quem usa celular. Sinais do gênero eram usados por tribos seminômades das planícies, mas só para mensagens simples, com sentido anteriormente combinado.


Texto de Roberto Leiser Baronas. Ele é doutor em Linguística e Língua Portuguesa. Professor-adjunto do Departamento de Letras e do Programa de Pós-Graduação em Linguística da UFSCar.

Mitos Ideológicos, 100 Mitos retirado da revista Língua Portuguesa, Ano 9, número 100, Fevereiro de 2014, Editora Segmento, São Paulo.

sábado, 4 de janeiro de 2025

Na Pregação (53)

 "Eu de muito boa-vontade gastarei e me deixarei gastar pelas vossas almas, ainda que, amando-vos cada vez mais, seja menos amado." - Paulo. (II CORÍNTIOS, 12:15.)


Há numerosos companheiros da pregação salvacionista que, de bom grado, se elevam a tribunas douradas, discorrendo preciosamente sobre os méritos da bondade e da fé, mas, se convidados a contribuir nas boas obras, sentem-se feridos na bolsa e recuam apressados, sob disparatadas alegações.

Impedimentos mil lhes proíbem o exercício da caridade e afastam-se para diferentes setores, onde a boa doutrina lhes não constitua incômodo à vida calma.

Efetivamente, no entanto, na prática legítima do Evangelho não nos cabe apenas gastar o que temos, mas também dar do que somos.

Não basta derramar o cofre e solucionar questões ligadas à experiência do corpo.

É imprescindível darmo-nos, através do suor da colaboração e do esforço espontâneo na solidariedade, para atender, substancialmente, as nossas obrigações primárias, à frente do Cristo.

Quem, de algum modo, não se empenha a benefício dos companheiros, apenas conhece as lições do Alto nos círculos da palavra.

Muita gente espera o amor alheio, a fim de amar, quando tal atitude somente significa dilação nos empreendimentos santificadores que nos competem.

Quem ajuda e sofre por devoção à Boa Nova, recolhe suprimentos celestes de força para agir no progresso geral.

Lembremo-nos de que Jesus não só cedeu, em favor de todos, quanto poderia reter em seu próprio benefício, mas igualmente fez a doação de si mesmo pela elevação comum.

Pregadores que não gastam e nem se gastam pelo engrandecimento das ideias redentoras do Cristianismo são orquídeas do Evangelho sobre o apoio problemático das possibilidades alheias; mas aquele que ensina e exemplifica, aprendendo a sacrificar-se pelo erguimento de todos, é a árvore robusta do Eterno Bem, manifestando o Senhor no solo rico da verdadeira fraternidade.


Texto retirado do livro Fonte VivaFrancisco Cândido Xavier pelo Espírito Emmanuel, FEB, Brasília, 1987.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

Entusiasmo

O que é entusiasmo? É algo misterioso que transforma uma pessoa comum em indivíduo excepcional. Sendo simples assim, é entretanto uma das palavras menos compreendida de uma Língua.

Entusiasmo - a palavra vem de duas palavras gregas "en" e "theos". Literalmente traduzida significa, "em Deus". Falamos de tais pessoas como inspiradas. O entusiasmo torna uma pessoa velha, jovem; e sem ele, o jovem se torna velho. É a primavera oculta de energia inesgotável. É aquela força bonita que nos conduz da mediocridade à excelência. Ilumina com aspecto brilhante um rosto triste, até que os olhos cintilem e a personalidade se ilumine com alegria. É o carisma que atrai pessoas prestativas e alegres para se tornarem nossos amigos produtivos. É a fonte emocional prazerosa que borbulha, atraindo pessoas para nosso lado e absorvendo a alegria que brota do nosso coração. É a canção alegre de uma pessoa positiva que canta uma mensagem inspirada ao mundo:

"Eu posso! É possível! Nós o faremos!"

Entusiasmo é a fonte da eterna juventude, procurada há tanto tempo. Anciões pararam para beber seu elixir e repentinamente tiveram sonhos novos. Forças novas, misteriosas, miraculosas e maravilhosas surgiram de ossos desgastados. O desencorajamento desapareceu como a neblina da manhã, com o brilho do sol. De repente, você se vê assobiando, notando os pássaros voando, observando a forma gloriosa das nuvens brancas em contraste com o céu azul. Do fundo de você mesmo uma canção nova brota. Assobia. Canta. Agora está vivo novamente.

O entusiasmo não admite senão o sucesso. É surdo à voz do desânimo. O entusiasmo, com um grau moderado de sabedoria levará um homem muito mais longe do que o levaria qualquer dose de inteligência sem ele. Os homens que exercem a mais poderosa influência no mundo não foram tanto homens de gênio, quanto homens de fortes convicções e inesgotável capacidade de trabalho, impelidos por irresistível entusiasmo e invencível determinação.

O entusiasmo abrirá uma porta quando as outras chaves falharem.

Como anda seu entusiasmo?! Como anda seu entusiasmo pelo Brasil, pela sua empresa, pelo seu emprego, pela sua família, pelos seus filhos, pelo sucesso de seus amigos?

Se você é daqueles que acham impossível entusiasmar-se com as condições atuais, acredite - jamais sairá dessa situação. É preciso acreditar em você. Acreditar na sua capacidade de vencer, de construir sucesso, de transformar realidade. Deixe de lado o negativismo. Deixe de lado o ceticismo. Abandone a descrença e seja entusiasmado com sua vida e, principalmente, entusiasmado com você. Você verá a diferença.


Texto retirado do livro Insight, de Daniel Carvalho Luz, DVS Editora, São Paulo, 2001.

segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

21. A Língua Portuguesa é machista

Sobre as relações entre Língua e sociedade, especialistas asseveram que as Línguas são o espelho, o reflexo, espécie de extensão, das estruturas sociais e culturais. Assim, se a sociedade é marcadamente machista também a Língua o seria. Isso explicaria o fato de a maioria dos palavrões da nossa Língua ter nomes femininos: filho de uma égua; filho da puta; vaca; galinha, etc. Defender a existência de uma linguagem sexista nas regras de concordância, em textos ou dicionários, revela o equívoco de confundir gênero gramatical com aspectos ou opções sexuais dos indivíduos. Todos os nomes da Língua (substantivos, adjetivos) possuem gênero gramatical, mas só alguns significam seres que têm gênero sexual.

O que falar então de um enunciado como "O batente e a porta são produzidos com a mesma madeira de reflorestamento'? O fato de o particípio ser grafado "produzidos", e não "produzidas", indicaria machismo? A resposta positiva implicaria que estamos considerando que o batente, além de ser do gênero gramatical masculino, é tomado como se fosse o macho da porta. O que é um absurdo.


Texto de Roberto Leiser Baronas. Ele é doutor em Linguística e Língua Portuguesa. Professor-adjunto do Departamento de Letras e do Programa de Pós-Graduação em Linguística da UFSCar.

Mitos Ideológicos, 100 Mitos retirado da revista Língua Portuguesa, Ano 9, número 100, Fevereiro de 2014, Editora Segmento, São Paulo.

20. Se mudarmos as palavras, muda a sociedade.

Esse mito sustenta as iniciativas politicamente corretas de limpeza da linguagem de toda ordem de preconceitos sociais. A substituição de palavras marcadas por não marcadas ideologicamente acabaria com os preconceitos.

A correção política depende do tipo de conversação que uma sociedade acredita caber em seu meio. Na vida urbana impessoal, as relações tendem, a ser pautadas não tanto pelos contatos familiares e estreitos, em que a rede de recriminações é tão densa quanto mediada pelos afetos das relações diretas.

Os contatos são marcados por graus de separação, em que o sujeito ao lado é um desconhecido a que somos indiferentes, ante o qual nos sentimos constrangidos, quando não ameaçados, e contra o qual devemos reagir de forma cirúrgica e preventiva. Ante o outro, o rigor da lei, não o desafio do contato. Sendo obrigação ditada de fora, há quem duvide que a correção política vire uma conduta ética sincera. Formas sutis ou rasteiras de discriminação, no entanto, independem da assepsia das palavras. O máximo que farão é colocar em dúvida a nossa capacidade social para o debate.


Mitos Ideológicos, 100 Mitos, texto de Luiz Costa Pereira Júnior retirado da revista Língua Portuguesa, Ano 9, número 100, Fevereiro de 2014, Editora Segmento, São Paulo.

sábado, 28 de dezembro de 2024

Servir e Marchar (52)

 "Portanto, tornai a levantar as mãos cansadas e os joelhos desconjuntados." - Paulo. (HEBREUS, 12:12.)


Se é difícil a produção de fruto sadio na lavoura comum, para que não falte o pão do corpo aos celeiros do mundo, é quase sacrificial o serviço de aquisição dos valores espirituais que significam o alimento vivo e imperecível da alma.

Planta-se a semente da boa-vontade, mas obstáculos mil lhe prejudicam a germinação e o crescimento.

É a aluvião de futilidades da vida inferior.

A invasão de vermes simbolizados nos aborrecimentos de toda sorte.

A lama da inveja e do despeito.

As trovoadas da incompreensão.

Os granizos da maldade.

Os detritos da calúnia.

A canícula da responsabilidade.

O frio da indiferença.

A secura do desentendimento.

O escalracho da ignorância.

As nuvens de preocupações.

A poeira do desencanto.

Todas as forças imponderáveis da experiência humana como que se conjugam contra aquele que deseja avançar no roteiro do bem.

Enquanto não alcançarmos a herança divina a que somos destinados, qualquer descida é sempre fácil...

A elevação, porém, é obra de suor, persistência e sacrifício.

Não recues diante da luta, se realmente já podes interessar o coração nos climas superiores da vida.

Não obstante defrontado por toda a espécie de dificuldades, segue para a frente, oferecendo ao serviço da perfeição quanto possuas de nobre, belo e útil.

Recorda o conselho de Paulo e não te  imobilizes.

Movimenta as mãos cansadas para o trabalho e ergue os joelhos desconjuntados, na certeza de que para a obtenção da melhor parte da vida é preciso servir e marchar, incessantemente.


Texto retirado do livro Fonte VivaFrancisco Cândido Xavier pelo Espírito Emmanuel, FEB, Brasília, 1987.