terça-feira, 30 de novembro de 2021

Ana Belen e o Brasil

 Ana Belen apaixonou-se pela música e pelas aspirações dos brasileiros. Ela que é uma intérprete constantemente preocupada (na música e na vida particular) com os problemas sociais de seu país. O encontro de Ana com a música brasileira começou há alguns anos atrás, quando ela tomou conhecimento da MPB através de discos enviados por amigos e por sua gravadora no Brasil. "Tive na Espanha, há alguns anos atrás, um grande sucesso com a canção "Quiero ver Brasil", escrita por meu marido, Victor Manuel, onde fazia menção a todos os meus ídolos, Chico, Gil, Caetano, Milton, etc. Daí em diante aumentou ainda mais a minha vontade de conhecer esse país único no mundo". De imediato Ana amou nossa música e nossa peculiar maneira de ser. Gravou O Que Será, de Chico Buarque e o Brasil ficou mais conhecido em sua terra, como nunca antes fora. Um merecido Disco de Ouro para o sucesso de Chico na voz da Ana. Ela quis conhecer mais e mais e resolveu vir ao Brasil para gravar um LP só com músicas de nossos autores. Nos estúdios Sigla (Rio) ficou inteiramente à vontade, sob a produção de Sérgio Carvalho, supervisão de Marcos Maynard e direção musical de Lincoln Olivetti, e gravou vinte músicas, metade em português e metade em espanhol. Neste álbum duplo - apenas promocional e com edição limitada - estão todas essas canções.

Algumas dessas músicas estarão no álbum que Ana lançará brevemente na Europa. Para o disco que será lançado no Brasil em maio, foi escolhido o seguinte repertório: Volto (Ivan Lins), Noche de Máscaras "Noite dos Mascarados" (Chico Buarque, adapt. Victor Manuel San José, participação vocal: Chico Buarque), Paisagem da Janela (Lô Borges & Fernando Brant), Planeta Água (Guilherme Arantes, adapt. Victor Manuel San José), Voar, Voar (Zé Geraldo), Impossível (Fagner, em poema de Florbela Espanca, participação vocal: Fagner), Caminando "Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores" (Geraldo Vandré, adapt. Victor Manuel San José), Expresso 2222 (Gilberto Gil), Teresiña "Terezinha" (Chico Buarque, adapt. Victor Manuel San José), Canção Menina (Ruy Mauriti & José Jorge). O disco foi todo gravado somente com músicos brasileiros, para manter o nosso espírito e o nosso balanço.

ANA BELEN é a nossa embaixatriz musical na Espanha, com toda a força de seu prestígio e de sua popularidade, formando nossa arte ainda mais conhecida do outro lado do Atlântico. "Trabalhar no Brasil foi uma experiência absolutamente fascinante e emocionante, única em toda minha carreira", explica Ana, "Conheci de perto os músicos brasileiros - quentes, sensíveis, profissionalíssimos, amigos. E aumentou minha admiração por Chico Buarque quando nos encontramos e ele gravou "Noche de Máscaras" comigo. Quando Raimundo Fagner compôs especialmente "Impossível" e ele passou toda a emoção que já sentira em suas canções. Sensibilizei-me tremendamente com a música que Ivan Lins fez pra mim - "Volto" -, que tão fortemente retrata minha terra e tantas outras terras. As canções de Zé Geraldo (Voar, Voar) e da dupla Ruy Mauriti & José Jorge (Canção Menina) foram trabalhos novos que passei a conhecer e amar.

Gilberto Gil eu já conhecia, amava e respeitava muito; dele gravei duas músicas muito fortes e rítmicas: "De Onde Vem o Baião" e "Expresso 2222". E os compositores mais jovens do Brasil também estão presentes. Lô Borges (em parceria com Fernando Brant e Guilherme Arantes, um som novo que me fascinou.

E não poderia deixar de gravar o "pai" da música nova do Brasil - Luiz Gonzaga -, um grande inovador da música brasileira regional. Foi excitante ter gravado - dele e de Hervê Cordovil - "A Vida do Viajante", que fala da vida de todos nós, artistas de palco e da estrada.

Queria também mostrar a belíssima diversificação rítmica da música brasileira, especialmente para o público espanhol que a conhece penas através de antigos sambas bossa-nova e dos LPs de Roberto Carlos. Por isso inclui também "Balancê" (João de Barro & Alberto Ribeiro), uma marchinha carnavalesca, o samba-canção "Teresinha", de Chico Buarque, que tem uma linguagem tão própria do sentimentalismo brasileiro, e até mesmo a voz ousada do povo, suas aspirações e esperanças, através da belíssima canção de Geraldo Vandré, "Caminhando", acompanhada de grande coro, provavelmente a mais emocionante do meu disco."


Texto escrito por Francisco Rodrigues na parte interna do álbum lançado no Brasil por Ana Belen em 1982 pela então Gravadora CBS. Foi um disco duplo promocional...

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