segunda-feira, 29 de novembro de 2021

Marina Lima

Quando a belafera Marina Lima lançou no Teatro Ipanema o seu primeiro LP, Simples Como Fogo, em 1979, tudo ficou quente e claro como o verão: o Rio apresentava ao país a sedução de uma de suas melhores garotas de Ipanema. Esta garota é uma cantora de estilo, além de compositora, arranjadora, guitarrista e filósofa de expressões poéticas.

O compositor Caetano Veloso foi o primeiro a anunciá-la como "a cantora mais interessante de uma geração". Vieram depois outros poetas, como Haroldo de Campos, a exaltar em versos a feminilidade felina de Marina: "Deixe cantaras meninas dos olhos, olhos de fera felina, Marina."

Qual seria, então, este estilo de Marina? Os críticos tentaram em vão enquadrá-la nas categorias de rock, funk, blues, MPB. Nada disso. Marina é todas. De uma elaboração tão pessoal que consegue, por exemplo, marcar com a diferença de uma irreverência cool a canção mais tocada de Tom Jobim e Vinícius de Moraes. Depois de Astrud Gilberto, Ella Fitzgerald e Sara Vaughan, veio a Garota de Ipanema bluesy de Marina lançada nos Estados Unidos em clipe da MTV.

O público demorou alguns LPs para descobrir que tinha um ídolo simplesmente fogo. Todas, aliás, é o título do LP, o sexto, que jogou Marina no mercado das 100.000 cópias vendidas. O estouro da cantora de massa já se desenhava no LP anterior, Fullgás, sucesso que fecha o primeiro lado deste LP*. Esta Personalidade* concentra uma única matéria-prima em 14 canções: a paixão. 

Da garganta de Marina, vozes quentes, sussurradas, saltam da romântica Nosso Estranho Amor, de Caetano Veloso, ao funk de bandleader Difícil, de Marina e Antônio Cícero, o irmão mais velho e parceiro principal da artista. Não satisfeito em colocar as  próprias palavras nas cordas de aço de seu violão, Marina assina sozinha e com o irmão, versões singulares, como Pé na Tábua para Ordinary Pain, de Steve Wonder e Doida de Rachar para Maxine, de Donald Fagen, de originais em inglês, a língua que a dupla aprendeu a dominar durante a infância nos Estados Unidos.

Esta garota ousada de Ipanema se determinou ainda a criar novos valores de vida, compatíveis com a multiplicidade de seus desejos, todos expostos em público, até os mais ocultos, descobertos no divã do analista. Derrama inconfundível sensualidade também por canções de amigos, como a delicada Nada Por Mim, de Herbert Vianna e Paula Toller ou Eu Te Amo Você, de Kiko Zambianchi e consagra de uma vez o sucesso de Lobão, Me Chama, com a inquietação rouca de quem se movimenta por libido. Marina é movida a lib, amor em alemão, calor que provoca arrepio.


Texto escrito por Márcia Cezimbra para a contracapa da coletânea em LP intitulada *Personalidade, lançada pela PolyGram em 1991.

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