segunda-feira, 22 de novembro de 2021

Hermes

Era filho de Zeus e de Maia, a mais jovem das plêiades, e nasceu numa caverna no Monte Cileno, ao sul da Arcádia. Revelou-se de uma precocidade extraordinária. Logo no dia em que nasceu, roubou uma parte dos bois de Apolo, doze vacas, cem novilhas e um touro. Atravessou com eles toda a Grécia, tendo amarrado ramos folhudos na cauda dos animais, para que à medida que andassem fossem apagando os próprios rastros. Sacrificou dois deles aos doze deuses olímpicos e o restante escondeu numa caverna em Pilos. Foi visto apenas por uma testemunha, um velho chamado Batos e tentou comprar-lhe o silêncio. Feito isso, correu para a sua caverna em Cileno: na entrada estava uma tartaruga. Ele lhe tirou o enchimento, conservando somente o casco, fez cordas de tripas dos bois sacrificados e assim fabricou a primeira lira. Entrementes, Apolo procurava por toda a parte os bois roubados e, seja por seus dons divinatórios, seja por traição de Batos, acertou com os bois escondidos na gruta do Monte Cileno. Depois foi se queixar a Maia do seu filho. Mas Maia lhe mostrou a criança, firmemente enrolada nas suas faixas de linho e lhe perguntou como tinha ele coragem de proferir contra ela semelhantes acusações. Apolo se queixou, então, a Zeus, que ordenou ao menino que devolvesse os animais roubados. Mas Apolo tinha visto a lira, tinha ouvido Hermes tocar e trocou, de boa vontade, os animais faltantes do seu rebanho pela posse do instrumento. Mais tarde, Hermes, guardando o seu rebanho, inventou a flauta. Apolo desejou também o novo instrumento e ofereceu em troca o cajado de ouro de que se servia, guardando o gado de Admeto. Hermes lhe pediu, em acréscimo, lições de adivinhação. Apolo aceitou o negócio e é assim que o caduceu de ouro figura entre os atributos de Hermes. Hermes aperfeiçoou a arte da adivinhação, auxiliando a leitura do futuro por intermédio de pequenos seixos. Zeus, satisfeito com as habilidades do filho, fê-lo seu arauto e mensageiro, consagrado particularmente ao seu serviço pessoal e ao dos deuses infernais, Hades e Perséfone. Na Gigantomaquia, usando o capacete de Hades, que torna o portador invisível, foi que ele lutou ao lado dos deuses. Matou o gigante Hipólito. Durante a luta dos deuses contra os Alóadas, salvou Ares, libertando-o do pote de bronze, onde os gigantes o haviam encerrado. Também foi ele quem salvou Zeus, na luta contra Tífon. Hermes é principalmente o intérprete da vontade divina. Depois do dilúvio foi o portador da palavra dos deuses a Deucalião; por meio dele,  Néfele mandou o carneiro de tostão de ouro que salvaria Frixo; foi dele que Anfião recebeu a lira, Héracles a espada, Perseu o capacete de Hades; salvou Ulisses, velou por Héracles nos Infernos, encontrou comprador para o herói, quando devia servir como escravo e se purificar da morte de Ífito. E foi quem matou Argos, o Gigante de cem olhos, colocado pela deusa Hera como guardião de Io. Daí o nome de Hermes Argeifontes, isto é, matador de Argos. Conduziu o pequeno Dionísio de asilo em asilo, pelo Monte Nisa e depois o deixou em casa de Atamas. Conduziu Páris ao Monte Ida, na Frígia, para ser o árbitro na disputa entre as deusas Hera, Atena e Afrodite, em que cada uma queria para si o prêmio de beleza. Hermes era o deus dos comerciantes e dos ladrões. Guiava os viajantes nas estradas. Sua imagem era colocada nas encruzilhadas, em forma de pilares, cuja parte superior era conformada como um busto humano. Também protegia os pastores e frequentemente o representavam levando um cordeiro aos ombros. Outra de suas funções era conduzir as almas dos defuntos aos Infernos, quando então se chamava Psicopompe, o Acompanhante das Almas. Atribui-se a Hermes a paternidade de Autólico, avô de Ulisses, que teria herdado do pai a arte de roubar com sutileza; de Êurito, um dos Argonautas; de Abdero, epônimo da cidade de Abdera; e do amante de Héracles que foi devorado pelas éguas de Diomedes. As imagens de Hermes o mostravam calçado de sandálias com asas, com um chapéu de formato especial, o pétaso e levando na mão o caduceu, símbolo de suas funções de arauto. Diz-se que era o mais ocupado de todos os deuses.


Retirado do livro Dicionário da Mitologia Grega, de Ruth Guimarães, Editora Cultrix, São Paulo, 2004.

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