domingo, 10 de dezembro de 2023

Como atingir a plenitude em nossa existência?

A "vida plena" é um processo, não um estado de ser. É uma direção, não um destino. (Carl Rogers, Tornar-se Pessoa, 1961)


Plenitude na vida é sinônimo de felicidade e realização? Afinal, como atingi-los? Tem o mesmo significado para todos? É um estado de espírito ou é "vencer", ser bem-sucedido na vida? Acumular bens materiais suficientes e mais do que o necessário para uma vida digna? Será que é tudo ou nada disso?

Carl Rogers acredita que só uma pessoa segura de si ou confiante, que conhece as suas qualidades e defeitos profundamente é capaz de atingir essa vida plena, essa tal felicidade e realização plenas. Em seu livro Tornar-se Pessoa, ele descreve as etapas necessárias para atingir esse, digamos, "êxtase existencial". O primeiro passo, segundo ele, é "A Abertura crescente à experiência". Uma atitude oposta à defensiva, pois de forma progressiva a pessoa consegue perceber o que se passa em si, ou seja, se torna capaz de ouvir a si mesma. Neste contexto, ela está mais aberta aos seus sentimentos considerados negativos - receio, desânimo e desgosto - assim como aos seus sentimentos positivos - coragem, ternura e fervor. "É livre para viver os seus sentimentos subjetivamente, como eles em si existem, e é igualmente livre para tomar consciência deles. Torna-se mais capaz de viver completamente a experiência do seu organismo, em vez de impedi-lo de atingir a consciência".

O segundo passo é o "Aumento da Vivência Existencial", que para o psicólogo significa que a essência e a personalidade de cada um afloram das experiências vividas. Muito diferente do ajustamento de si mesmo a um sistema preconcebido e determinado pelo sistema vigente. Ou seja, a pessoa passa a ser um participante ativo e observador, interagindo com o mundo, respeitando a sua própria natureza em vez de tentar controlá-la. No livro, Rogers esclarece que esse momento implica numa flexibilidade, liberdade de ação que possibilite o total aproveitamento da experiência. "O máximo de adaptabilidade, uma descoberta de estrutura na experiência, uma organização fluente, mutável, do eu e da personalidade. (...) Abrir o espírito àquilo que se está passando agora, e descobrir no processo presente a estrutura específica que se apresenta, tal como ela é, uma das principais características da 'Vida Plena'."

A terceira fase é "Uma Confiança Crescente no Seu Organismo", isto é, a pessoa torna-se mais capaz de confiar na sua adaptabilidade natural diante de novidades, porque descobriu sem medo que era capaz e está satisfeita e confiante com o seu comportamento.

O último passo é "O Processo de um Funcionamento mais Pleno". Ele explica que, chegando a este estágio, "a pessoa mostra-se mais aberta aos testemunhos que provém de outras fontes; mergulha completamente no processo de ser e de se tornar o que é".

Assim procedendo, Rogers conclui que, apenas os adjetivos "feliz", "satisfeito", "contente", "agradável", não definem a plenitude da vida, mesmo que a pessoa venha a senti-los em sua conquista. No seu entender, é muito mais propício conceituá-la com outros termos como "enriquecedor", "apaixonante", "valioso", "estimulante" e "significativo". "O processo da 'Vida Plena' não é um gênero de vida que convenha aos que desanimam facilmente. Este processo implica a expansão e a maturação de todas as potencialidades de uma pessoa. Implica a coragem de ser. (...) Significa que se mergulha em cheio na corrente da vida. E, no entanto, o que há de mais profundamente apaixonante em relação aos seres humanos é que, quando a pessoa se torna livre interiormente, escolhe esta 'Vida Plena'."


Êxtase Humano


"Se tomarmos a vida plena como sinônimo de 'vida boa' na definição do psicólogo Carl Rogers, criador da Abordagem Centrada na Pessoa, compreenderemos, por este conceito, um processo de liberdade psicológica dirigida em quaisquer das direções, implicando em uma abertura crescente à experiência e uma redução contínua das atitudes defensivas, para que possamos viver plenamente cada momento de nossas vidas, como sendo um novo a cada instante", explica o psicólogo Silva Cavalcante Júnior, mestre em Educação Especial e Ph.D. em Leitura e Escrita pela University of New Hampshire (EUA), em Como viver uma vida plena na Universidade? (www.espacoacademico.com.br).

Cavalcante, que também é professor titular dos cursos de graduação e mestrado em Psicologia da Universidade de Fortaleza, Ceará (UNIFOR), acrescenta que, se agirmos dessa maneira, sendo um membro atuante na vida, nossa experiência nos levará à plenitude. Ele explica que Rogers define essa estado de êxtase humano como "a pessoa que funciona em seu modo mais pleno, experimentando todos os seus sentimentos, e sem medo de nenhum deles, mergulhando completamente no processo de tornar-se quem ele ou ela, realmente é, e constituindo-se uma pessoa total - corpo, mente, sentimentos, espírito e poderes psíquicos integrados. Alguém, enfim, que consegue mergulhar em cheio na corrente da vida".

De acordo com o professor, Rogers descreve em seu livro Um Jeito de Ser (1983), que "esta nova pessoa tem sido encontrada entre os executivos que desistiram da competição em terno e gravata, da sedução dos altos salários e das opções da Bolsa para viver uma vida mais simples; homens e mulheres jovens de jeans que estão desafiando a maior parte dos valores da cultura atual e vivendo de novas maneiras; padres, freiras e pastores que deixaram de lado os dogmas de suas instituições para viver de uma maneira que faça mais sentido; mulheres que estão lutando contra as limitações que a sociedade impõe à sua individualidade e superando-as; os negros, as minorias latinas e os membros de outras minorias que estão se libertando de séculos de passividade e caminhando em direção a uma vida assertiva, positiva; aqueles que passaram por grupos de encontro e que estão encontrando lugar para o sentimento e para o pensamento em suas vidas; e os evasores escolares criativos, que estão tentando objetivos mais elaborados que a sua escolaridade estéril permite".


Texto de Denise Berto retirado da Revista/Encarte Grande Ícones do Conhecimento, número 07, Mythos Editora, São Paulo.

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