quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Cora Coralina

                        Marcelo Barra/Rinaldo Barra

Mulher da terra
 Ao pé da serra
Velha menina
Voa e me ensina a ser passarinho
Que bebe da fonte e volta pro ninho

Cora, da casa da ponte
Dos versos, do tempo
Do rio que leva
Segredos de Ana
Pra algum lugar

Coralina coragem
Coralina coração
Flor do tempo
Força e vontade
Pedra por pedra
Ana por Ana

Cora senhora
No espelho de agora
A ponte, o rio
Os sonhos de outrora
Mulher passarinho
Que bebe da água
E volta pro ninho

Coralina coragem
Coralina coração
Flor do tempo
Força e coragem
Pedra por pedra
Ana por Ana

Crítica Positiva

                           Caco de Paula
                                      Amigo é quem, com compaixão e sabedoria,
                                      ajuda o outro a enxergar melhor a si mesmo.

                                  Amor, meus amigos têm razão. Aqui, por escrito, pareço muito mais amoroso do que quando estou aí ao seu lado, desferindo aqueles golpes verbais, que às vezes machucam. Aqui, pareço mais sensato, espiritual, tranquilo. De corpo presente, às vezes sou hormonal, impulsivo - e quase sempre falo mais do que precisava falar. Aqui, vou me tornando refém deste personagem que se deslumbra com sabedorias. Com você, tropeço na incoerência, torno-me imprevisível, causo desapontamentos. Aqui, por escrito, escolho as palavras, edito meus pensamentos. Aí, sou mais real, às vezes cruel. E nem sempre percebo isso. Que bom é ter amigos que nos mostram como somos humanos, imperfeitos humanos, demasiadamente humanos.
                                  Deveríamos agradecer todos os dias por ter quem discorde de nós e nos critique. Verdadeiros amigos fazem isso. São espelhos reais. Quem não se vê como realmente é flutua por aí, fora de órbita. É muito fácil inflar como um balão e perder o contato com o chão. Conta-se que um grande imperador, quando chegava vitorioso de suas batalhas e era carregado em triunfo pelo povo, fazia-se acompanhar de um escravo, encarregado de dizer-lhe no ouvido algo que o impedisse de ser hipnotizado por toda aquela louvação: " Você é calvo, barrigudo, está envelhecendo e um dia irá morrer ". Esse incisivo choque de realidade funcionava como um eficiente antídoto contra o ego inflado.
                                   Talvez estivesse faltando um pouco desse antídoto para mim. Assim, você haveria de compreender que eu não digo certas coisas por mal. Talvez, como acontece na maioria das vezes, tenha dito apenas para não perder a piada. Insensatez. Quando o que nos domina é a mente afiada, a agilidade verbal, a vaidade de nos sentirmos inteligentes e implacáveis, podemos ser muito cínicos e cruéis. Em alguns ambientes pretensiosamente intelectualizados, esse cinismo chega a ser estimulado e confundido com bom humor - quando na verdade é uma arma afiada pronta pra ferir, demonstrar desprezo, destilar mágoa, explodir em raiva.
                                  Que bom seria se pudéssemos agir mais com o coração. Há um desafio aí, um equilíbrio que nem sempre se consegue manter. E uma oportunidade para entender melhor o que é compaixão. Compaixão não é ter piedade, misericórdia, dar tapinhas nas costas do outro, indulgentemente. Compaixão é sentir o que o outro sente e, às vezes, quando preciso, é dizer ao amigo umas verdades. Como meus amigos já me disseram. Eles também agiram com sabedoria. Apenas a sabedoria, sem compaixão, também seria insuficiente. Ainda que fosse a mesma verdade, ela viria de uma forma cortante, dura e fria. Assim, ouvi o que tinha de ouvir, mas o que me foi dito chegou de maneira amorosa, com coração tocando coração. Espero também poder ser um bom amigo para os amigos. Espero agir com compaixão e sabedoria. Não só aqui, enquanto escrevo estas palavras, mas também aí, quando estiver com você. Talvez eu seja capaz de resistir à piada fácil e à esgrima verbal.

Este texto é Dedicado a Você! Eu sei que você não vai lê-lo pois desconhece este espaço. De qualquer maneira, teria sido o que eu gostaria de dizer, mas que você não quis escutar...

O Samurai

Perto de Tóquio vivia um grande samurai, já idoso, que agora se
dedicava a ensinar o zen aos jovens.
Apesar de sua idade, corria a lenda de que ainda era capaz de derrotar
qualquer adversário.
Certa tarde, um guerreiro conhecido por sua total falta de escrúpulos
apareceu por ali. Era famoso por utilizar a técnica da provocação:
esperava que seu adversário fizesse o primeiro movimento e, dotado de
uma inteligência privilegiada para reparar os erros cometidos, contra-atacava
com velocidade fulminante.
O jovem e impaciente guerreiro jamais havia perdido uma luta.
Conhecendo a reputação do samurai, estava ali para derrotá-lo e
aumentar sua fama.
Todos os estudantes se manifestaram contra a ideia, mas o velho
aceitou o desafio. Foram todos para a praça da cidade e o jovem
começou a insultar o velho mestre.
Chutou algumas pedras em sua direção, cuspiu em seu rosto, gritou
todos os insultos conhecidos, ofendendo inclusive seus ancestrais.
Durante horas fez tudo para provocá-lo, mas o velho permaneceu
impassível.
No final da tarde, sentindo-se já exausto e humilhado, o impetuoso
guerreiro retirou-se.
Desapontados pelo fato de que o mestre aceitou tantos insultos e
provocações, os alunos perguntaram:
- Como o senhor pôde suportar tanta indgnidade? Por que não usou sua
espada, mesmo sabendo que podia perder a luta, ao invés de
mostrar-se covarde diante de todos nós?
- Se alguém chega até você com um presente, e você não o aceita, a quem
pertence o presente? - perguntou o Samurai.
- A quem tentou entregá-lo - respondeu um dos discípulos.
- O mesmo vale para a inveja, a raiva e os insultos - disse o mestre.
- Quando não são aceitos, continuam pertencendo a quem os carregava
consigo. A sua paz interior, depende exclusivamente de você. As
pessoas não podem lhe tirar a calma. Só se você permitir...

O gato é uma lição

                         Artur da Távola


Já viu gato amestrado, de chapeuzinho ridículo, obedecendo às ordens de um pilantra que vive às custas dele? Não! Até o bondoso elefante veste saiote e dança a valsa no circo. O leal cachorro no fundo compreende as agruras do dono e faz a gentileza de ganhar a vida por ele. O leão e o tigre se amesquinham na jaula. Gato não. Ele só aceita uma relação de independência e afeto. E como não cede ao homem, mesmo quando dele dependente, é chamado de arrogante, egoísta, safado, espertalhão ou falso. " Falso ", poruqe não aceita a nossa falsidade com ele e só admite afeto com troca e respeito pela sua individualidade. O gato não gosta de alguém porque precisa gostar para se sentir melhor. Ele gosta pelo amor que lhe é próprio, que é dele e ele o dá se quiser.

Quem não se relaciona bem com o próprio inconsciente não entende o gato. Ele aparece, então, como ameaça, porque representa essa relação precária do homem com o (próprio) mistério. O gato não se relaciona com a aparência do homem. Ele vê além, por dentro e pelo avesso. Relaciona-se com a essência. Se o gesto de carinho é medroso ou substitui inaceitáveis (mas existentes) impulsos secretos de agressão, o gato sabe. E se defende do afago. A relação dele é com o que está oculto, guardado e nem nós queremos, sabemos ou podemos ver. Por isso, quando surge nele um ato de  entrega, de subida no colo ou manifestação de afeto, é algo muito verdadeiro, que não pode ser desdenhado. É um gesto de confiança que honra quem o recebe, pois significa um julgamento.

O homem não sabe ver o gato, mas o gato sabe ver o homem. Se há desarmonia real ou latente, o gato sente. Se há solidão, ele sabe e atenua como pode ( ele que enfrenta a própria solidão de maneira muito mais valente que nós). Se há pessoas agressivas em torno ou carregadas de maus fluidos, ele se afasta.

Lição de saúde sexual e sensualidade. Lição de envolvimento amoroso com dedicação integral de vários dias. Lição de organização familiar e de definição de espaço próprio e território pessoal. Lição de anatomia, equilíbrio, desempenho muscular. Lição de salto. Lição de silêncio. Lição de descanso. Lição de introversão. Lição de contato com o mistério, com o escuro, com a sombra. Lição de religiosidade sem ícones. Lição de alimentação e requinte. Lição de bom gosto e senso de oportunidade. Lição de vida, enfim, a mais completa, diária, silenciosa, educada, sem cobranças, sem veemências, sem exigências.

O gato é uma chance de interiorização e sabedoria posta pelo mistério à disposição do homem.

Portas

                   Içami Tiba

                                Se você abre uma porta: você pode ou não entrar em uma nova sala. Você pode entrar e ficar observando a vida. Mas, se você vence a dúvida, o medo e entra, dá um grande passo.
                                Nesta sala, vive-se... Mas, também, tem um preço...
                                São inúmeras outras portas que você descobre. Às vezes, quebra-se a cara; às vezes curte-se mil e uma... O grande segredo é saber quando e qual porta deve ser aberta. A vida não é rigorosa, ela propicia erros e acertos.
                               Os erros podem ser transformados em acertos, quando com eles se aprende.
                                Não existe a segurança do acerto eterno.
                                A vida é generosa, a cada sala que se vive, descobrem-se tantas outras portas!
                                E a vida enriquece quem se arrisca a abrir novas portas. Ela privilegia quem descobre seus segredos e generosamente oferece afortunadas portas.
                                Mas a vida também pode ser dura e severa. Se você não ultrapassar a porta, terá sempre a mesma porta pela frente.
                                É a repetição perante a criação; é a monotonia de uma só cor perante a multiplicidade das cores; é a estagnação da vida...
                                Para a vida, as portas não são obstáculos, mas...
                                Diferentes paisagens...

Para Repartir Com Todos

                                         Thiago de Mello

Com este canto te chamo
Porque dependo de ti.
Quero encontrar um diamante,
Sei que ele existe e aonde está.
Não me acanho de pedir ajuda
Sei que sozinho nunca vou achar.
Mas desde logo advirto:
Para repartir com todos.
Traz ternura que escondes
Machucada no peito.
Eu levo um resto de infância
Que meu coração guardou.
Vamos precisar de fachos
Para as veredas da noite que oculta,
E, às vezes, defende
O diamante.

Vamos juntos
Traz toda luz que tiveres,
Não te esqueças do arco-íris
Que escondes no porão.
Eu ponho a minha coronga,
De uso na selva, é uma luz
Que se aconchega na sombra.

Não vale desanimar
Nem preferir atalhos
Sedutores que nos perdem,
Pra chegar mais depressa.

Para repartir com todos,
Mesmo com quem não quer vir
Ajudar, falto de sonho.
Com quem preferir ficar
Sozinho bordando de ouro
O seu umbigo engelhado.
Mesmo com quem se fez cego
Ou se encolheu na vergonha
De aparecer procurando
Com quem foi indiferente
E zombou das nossas mãos
Infatigadas na busca,
Mas também com quem tem medo
Do diamante e seu poder,
E até com quem desconfia
Que ele exista mesmo.
E existe:
O diamante se constrói
Quando o procuramos juntos
No meio da nossa vida
E cresce, límpido, cresce,
Na intenção de repartir
O que chamamos de amor.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Prometa a si mesmo

Ser tão forte que nada perturbe a paz de sua mente.
Falar de felicidade, saúde e prosperidade a cada pessoa que conhecer.
Fazer sentir aos seus amigos que há algo de valor neles.
Ver o lado brilhante de cada coisa e conseguir otimismo por meio dele.
Pensar novamente o melhor, trabalhar somente pelo melhor e esperar somente o melhor.
Ser tão entusiasta pelo êxito dos demais como por seu próprio.
Esquecer os erros do passado e insistir para conseguir grandes realizações no futuro.
Dar tanto tempo a seu melhoramento pessoal que não sobre tempo para criticar os outros.
Ser demasiado grande para preocupar-se, demasiado nobre para irar-se
E demasiado feliz para permitir a presença de problemas que perturbem a sua fé.

autoria desconhecida

Faça O Que Puder

Era uma vez um fazendeiro que tinha uma plantação de milho bem grande. Ele tratava dela com cuidado porque precisava vender o milho pra comprar as coisas para a família.

Ele trabalhou duro muitas semanas, mas não choveu e aí o milho secou e murchou. Todo dia de manhã o fazendeiro desanimado vinha e olhava os pezinhos de milho com sede e pedia que chovesse.

Um dia, quando ele estava olhando para o céu, dois pingos de chuva viram o fazendeiro. Um deles disse:
- Este fazendeiro trabalhou duro na sua plantação de milho e agora está tudo ficando seco. Eu acho que posso ajudar.

O outro disse: - É mesmo. Mas nós somos pingos de chuva muito pequeninos. O que é que a gente pode fazer?

O primeiro pingo disse: - Olhe, eu não posso fazer muito, mas vou fazer o que puder. Lá vou eu!

O primeiro pingo foi logo para a plantação. Então o segundo pingo falou: - Bem, se você acha que deve ir, eu vou também. Lá vou eu! - E foi mesmo.

Um pinguinho de chuva caiu - Pim! - no nariz do fazendeiro.

Outro pinguinho de chuva caiu - Pim! - num galhinho do milho.

O fazendeiro falou: - Ho! Ho! Um pinguinho de chuva! Acho que vem um temporal!

Bem nessa hora muitos pingos de chuva vieram juntos pra ver o que estava acontecendo. Quando eles viram os dois pinguinhos de chuva caindo pra molhar a plantação do fazendeiro, um deles disse: - Se esses dois estão tentando fazer alguma coisa, eu vou fazer também. -E lá foi ele!

- Eu também vou! - disse outro pingo de chuva e mais outro.

Todos disseram a mesma coisa e uma boa tempestade caiu e o milho ficou molhado. Então as espigas cresceram e amadureceram... Tudo porque um pinguinho de chuva fez o que podia...

Poema Com Putas

                        Marçal Aquino


Ontem
morreu a puta mais velha
da vila.
Tinha cabelos brancos,
um dente de ouro
e uma foto adolescente.
Nunca reclamou do tempo,
do governo
e do preço das coisas.
Mas, desconfio, tinha desertos dentro de si.

Foi vista um dia
Olhando uma nuvem.

Gostava de um vestido vermelho
que nem lhe servia mais.

Quando ela morreu
dois negrinhos barrigudos
olhavam o incêndio
num monte de lixo.

Dizem que foi a paixão
de um importante político
nos anos 40.
Teve jóias,
roupa nova,
convite pra festas
e pneumonia.
Sobraram-lhe as rugas:
michê de fim de expediente.
Votou em Getúlio
e sempre respeitou a sexta-feira santa.

Paixão, ela teve duas:
Um manco de bigodinho
e um outro que voltou pro Norte.
O esmalte no dedão descascava
Como descascam certos dias
e a gente não vê.

Morreu só
a puta mais velha da vila. E uma doença
que quase a matou. Um cara perguntou
se ela era feliz. Outro, por que não se casou.
E ela sabia
que um Domingo
rodeada de netos no subúrbio
é também uma prisão.

Preferiu a cerveja morna
e o São Jorge sobre a cômoda.

Morreu velha essa puta na vila.
Sem saber a idade ao certo
mas dos setenta chegou perto.

Morreu numa tarde anônima
com criança olhando incêndio
e cachorro magro
passeando na vila. Tarde comum
com tédio de vestido vermelho
e de varal de vila.
O mesmo tédio
de que é feita a fúria da primavera
e a esperança das putas.

Volver a los diecisiete

                                 Violeta Parra

Volver a los diecisiete
Después de vivir un siglo
Es como descifrar signos
Sin ser sabio competente
Volver a ser de repente
Tan frágil como un segundo
Volver a sentir profundo
Como un niño frente a Dios
Eso es lo que siento yo
En este instante fecundo

Se va enredando, enredando
Como en el muro la hiedra
Y va brotando, brotando
Como el musguito en la piedra
Como el musguito en la piedra
Ai, sí, sí, sí

Mi paso retrocedido
Cuando el de ustedes avanza
El arco de las alianzas
Ha penetrado en mi nido
Con todo su colorido
Se ha paseado por mis venas
Y hasta la dura cadena
Con que nos ata el destino
Es como un diamante fino
Que alumbra mi alma serena

Se va enredando, enredando
Como en el muto la hiedra
Y va brotando, brotando
Como el musguito en la piedra
Como el musguito en la piedra
Ai, sí, sí, sí

Lo que puede el sentimiento
No lo ha podido el saber
Ni el más claro proceder
Ni el más ancho pensamiento
Todo lo cambia el momento
Cual mago condescendiente
Nos aleja dulcemente
De rancores y violencias
Solo el amor con su ciencia
Nos vuelve tan inocentes

Se va enredando, enredando
Como en el muro la hiedra
Y va brotando, brotando
Como el musguito en la piedra
Como el  musguito en la piedra
Ai, sí, sí, sí

El amor es por divino
De pureza original
Hasta el feroz animal
Susurra su dulce trino
Detiene los peregrinos
Libera los prisioneros
El amor con sus esmeros
Al viejo lo vuelve niño
Y al malo solo el cariño
Lo vuelve puro y sincero

Se va enredando, enredando
Como en el muro la hiedra
Y va brotando, brotando
Como el musguito en la piedra
Como el musguito en la piedra
Ai, sí, sí, sí

De par en par la ventana
Se abrió como por encanto
Entró el amor con su manto
Como una tíbia mañana
Y al son de su bella Diana
Hizo brotar el jazmín
Volando cual serafin
Al cielo me puso aretes
Y mis años en diecisiete
Los convirtió el querubin

Se va enredando, enredando
Como en el muro la hiedra
Y va brotando, brotando
Com el musguito en la piedra
Com el musguito en la piedra
Ai, sí, sí, sí

Música do repertório da cantora argentina Mercedes Sosa. A canção foi regravada em 1999 por Zizi Possi em seu CD Puro Prazer. É de arrepiar...