sábado, 10 de setembro de 2022

Viagens

    Ambicionas viajar, mudar de ares, viver novas experiências, conhecer outras pessoas...

    Sentes-te saturado por fazer as mesmas coisas, repetir os trabalhos habituais, conviver com as criaturas de todos os dias.

    A imaginação te desenha cenas empolgantes, enriquecidas de ilusões, convidando-te a conhecer outras terras, passear pelas regiões paradisíacas.

    Os lugares onde ainda não estiveste se te apresentam encantadores, ricos de promessas e de realizações, ensejando-te a felicidade que se te faz escassa, muito distante daquilo que anelas.

    Os promotores de turismo apresentam recepcionistas risonhos, vivendo um clima de festa permanente, de verdadeiro encantamento.

    Fascinado, acreditas que lá, no lugar onde não está, tudo são alegrias e brilho, jogos de prazeres e constante renovação de festa.

    Se não consegues, de imediato, realizar os projetos que traças, na esperança de fruir essas satisfações, deixas-te dominar pela amargura, pela frustração, tomando em estados depressivos ou de revolta contra tudo e todos.

    Retifica, porém, a maneira de encarar a vida.

    A dor, a dificuldade e o problema, a alegria e a tristeza, a saúde, a enfermidade e a morte visitam a todos e se apresentam em todos os lugares.

    Quem vive lá, no lugar que desejas ardentemente visitar, atormenta-se pelo desejo irreprimível de vir cá, onde te encontras, com idênticas impressões.

    Ali se padece de situações iguais às tuas.

    Há um fluxo contínuo e crescente destes que vão e daqueles que vêm.

    Sorridentes e joviais aqui, comunicativos e ligeiros, lá, são taciturnos e tristes, vivem cansados e deprimidos, qual ocorre contigo e com os indivíduos daqui.

    Há festa em toda parte e programações especiais para vender sensações, que deixam ressaibos de insatisfação e dor.

    Provocam paixões que se desvanecem, tornando-se cinzas e rescaldo dos incêndios que proporcionam.

    Enquanto na Terra, ninguém passa isento de provações.

    Cada criatura experimenta e vive sua quota, conforme as suas necessidades evolutivas.

    Não te iludas, portanto.

    Aqueles que se te fazem modelos de felicidade e beleza, também sofrem muito. Estão, apenas, disfarçados, guindados ao profissionalismo do qual retiram o pão diário, e, às vezes, o veneno com que se matam lentamente.

    Não imaginas o que lhes sucede...

    Há um lugar ao teu alcance, onde a felicidade te aguarda e nada a perturbará.

    Não te exige muito, nem te atormenta.

    Esse reduto maravilhoso é o coração. Põe nele o teu tesouro, conforme propôs Jesus, e aí o desfrutarás.

    Se viajares e te alegrares, levarás contigo a verdadeira alegria, e se não puderes sair de onde vives, manterás a mesma bênção sem qualquer conflito.

    Já que desejas, porém, viajar, faze-o como uma experiência para dentro, descobrindo o mundo íntimo profundo, e aí fruirás da plenitude que nunca se acabará.


Retirado do livro Momentos de Coragem; Divaldo Franco pelo Espírito Joanna de Ângelis; Livraria Espírita Alvorada Editora, Salvador, 8ª Edição, 2014.

quinta-feira, 8 de setembro de 2022

Medo

    Não há nada de que a criatura humana tenha mais pavor do que de morto. Deve haver realmente e de forma obscura uma força tremenda, invisível e imensurável da parte de quem morreu sobre aquele que anda firme na vida, anulando neste a capacidade de resistir à presença, ao contato ou à simples suspeita da aproximação daquele. Daí as inibições físicas e psíquicas, incontroladas, mesmo quando se trata de pessoas queridas que já se foram.

    O pavor domina o vivo obliterando todo o mecanismo do raciocínio e da capacidade de indagação e pesquisa esclarecedora do sobrenatural quando este se apresenta espontaneamente. Falta aos mais destemidos e temerários a coragem de perguntar.

    Nem os descrentes e corajosos e afoitos se sentem com a coragem de fazer perguntas ou indagar qualquer coisa quando o caso apresenta.

    Desse modo, medo obscuro, profundo e selvagem que a criatura não conseguiu disciplinar, surgem os casos trágicos, cômicos e humorísticos acontecidos com alguns mortos aparentes que tornaram à vida e até, mesmo, a simples aparência, suposição e engano, ligados à ideia da morte.

    Viajava uma jardineira, expresso ou perua, como se diz, de Goiânia para Goianápolis. Levava na coberta, entre malas e trouxas, um caixão vazio de defunto, destinado para uma pessoa falecida naquele distrito.

    Logo adiante na estrada, um homem parado, dá sinal e a perua para.

    Dentro, tudo cheio. O homem que precisava de seguir sua viagem aceitou de viajar na coberta com os volumes e o caixão vazio. Subiu. O tempo tinha se fechado para chuva e logo começou a pingar grosso. O sujeito em cima achou que não seria nada demais ele entrar dentro do caixão e ali se defender da chuva. Pensou e melhor fez. Entrou, espichou bem as pernas, ajeitou a cabeça na almofadinha que ia dentro, puxou a tampa e, bem confortado, ouvia a chuva cair.

    Mais adiante, dois outros esperavam condução. Deram sinal e a perua parou de novo; os homens subiram a escadinha e se acocoraram no alto. Iam conversando e molhados com a chuva fina e insistente.

    Passado algum tempo o que ia resguardado escutando a conversa ali em cima levantou devagarinho a tampa do caixão e perguntou de dentro, só isto: "Companheiro, será que a chuva já passou?". Foi um salto só, que os dois embobados fizeram do coletivo, correndo.

    Um quebrou a perna, o outro partiu braços e costelas e ficaram ambos estatelados do suto e sem fala, na estrada.


Crônica de Cora Coralina retirada do livro Deixa que eu Conto, série Literatura em minha casa, Global Editora, São Paulo, 2003.

Conto Familiar

    Era um velho que estava na família há noventa e nove anos, há mais tempo que os velhos móveis, há mais tempo até que o velho relógio de pêndulo. Por isso estava ele farto dela, e não o contrário, como poderiam supor. A família o apresentava aos forasteiros, com insopitado orgulho: "Olhem! Vocês estão vendo como 'nós' duramos?!"

    Caduco? Qual nada! Tinha lá suas ideias. Tanto que, numa dessas grandes comemorações domésticas, o pobre velho envenenou o barril de chope.

    No entanto, como era obviamente impraticável - a não ser em novelas policiais - deitar veneno nas bebidas engarrafadas, apenas sobreviveram os inveterados bebedores de coca-cola.

    - Mas como é possível - lamentava-se agora tardiamente o pobre velho - como é possível passar o resto da vida com esses? Com gente assim? Porque a coca-cola não é verdadeiramente uma bebida - concluiu ele, - a coca-cola é um estado de espírito...

    E, assim pensando, o sábio ancião se envenenou também.


Crônica de Mário Quintana retirada do livro Deixa que eu Conto, série Literatura em minha casa, Global Editora, São Paulo, 2003.

sábado, 3 de setembro de 2022

Uso da Palavra

    A palavra é emissão do pensamento que se verbaliza, portadora do conteúdo mental, que busca  alcançar um fim. 

    Mesmo quando procura dissimular os sentimentos íntimos, é veículo de alta carga vibratória que a desvela.

    O seu uso correto faz que se torne instrumento de grande poder, favorecendo quem a explicita.

    Quando carregada de sinceridade e fé, age como onda vibratória que estiola as forças negativas que envolvem o indivíduo, promovendo as aspirações de que se reveste.

    Se portadora de pessimismo, dúvida e acusações, atrai por sintonia mental enfermidades, sombras e malquerenças, que terminam por vencer aquele que a exterioriza.

    A educação da vontade contribui de maneira especial para o exercício feliz da palavra.

    Falar, sem pensar, é ato comum, automático.

    Pensar, antes de falar, resulta da conquista dos valores morais e espirituais que dignificam o homem.

    A palavra é semente que se deposita no solo das vidas.

    Conforme a sua qualidade, ressurge em colheita de frutos que serão portadores de paz ou desgraça.

    A sementeira, portanto, deve ser realizada de forma consciente, com os olhos postos no futuro.

    Quando se silencia uma palavra infeliz, ela permanece subjugada; porém, se expressa, faz-se verdugo implacável.

    Falar é uma ciência e uma arte.

    Ciência, porque deve ser sempre mensageira de sabedoria de amor, portadora de fé. E arte, porque se deve revestir da correspondente modulação ao que informa.

    Estabeleceu-se como correto, na arte da palavra, "que nem sempre é o que se diz, mas como se diz", que provoca a reação do ouvinte.

    Assim, coloca a dose de emoção correta no teu verbo, de modo a torná-lo objetivo, claro e saudável.

    Fala, emitindo ondas positivas, afirmações sinceras, com correspondente carga de amizade.

    Diante de uma situação negativa, não faças coro geral, com palavras rudes, pejorativas, portadoras de azedume e ira.

    Além de não resolverem a ocorrência e desequilíbrio.

    A palavra apaixonada pelo mal tem sido responsável por guerras lamentáveis, assim como aquela, que se faz mensageira de compreensão e lucidez, tem podido intermediar e conseguir a paz.

    A palavra propele ao trabalho, à ação do bem, ou à revolta, à indolência, à injustiça.

    A palavra é uma flecha que, disparada, não mais pode ser detida, alcançando o alvo.

    Tem cuidado com ela.

    Falando, Jesus alterou completamente a filosofia existencial, então vigente na Sua pátria, e abriu as fronteiras da esperança de felicidade para as criaturas de todos os tempos futuros.


Retirado do livro Momentos de Alegria; Divaldo Franco pelo Espírito Joanna de Ângelis, Livraria Espírita Alvorada Editora, Salvador, 2014, 4ª Edição.

quinta-feira, 1 de setembro de 2022

Baião de Dois

    Naquele dia acordou, se olhou no espelho e viu uma mulher que não era ela, mas era ela mesma.

    O calendário marcava setenta anos de idade, mas aquela figura que a observava do outo lado do vidro não tinha mais que trinta. Rugas, manchas senis, o "código de barras" ao redor da boca, a pele flácida das bochechas, toda a decadência física que vem com a idade havia desaparecido dando lugar a um rosto jovem e tonificado. O que uma série de poderosas plásticas não foi capaz de resolver, não é mesmo?

    Ficou lá se deliciando com sua nova aparência facial que mal notava o resto do corpo ainda padecendo de envelhecimento normal que acometia toda septuagenária. Foi constatando essa dicotomia física que teve a ideia de se matricular numa academia de ginástica. "Se a idade está na cabeça, então o resto do corpo será comandado por ela. Vou malhar até ficar enxuta." Além do que, uma plástica geral no corpo inteiro já lhe adiantaria uns bons vinte anos a menos. Quando punha uma ideia na cabeça não desistia tão cedo, e o melhor de tudo é que tinha dinheiro de sobra para realizar suas excentricidades, além de também comprar a falsa adulação do bando de puxa-sacos que a rodeava.

    Já recuperada das trocentas cirurgias que fizera, seu personal achou que a missão de fazer o corpo de uma ex-setentona/neocinquentona parecer com o de uma trintona seria quase missão impossível. Para se fazer de imprescindível e, claro, receber uma boa grana, a treinaria pesado sete dias por semana, duas vezes ao dia e "dessa maneira a velha vai logo pedir arrego, desistindo de querer o que jamais voltará a ser". Só que não. A solteirona tinha uma força de vontade descomunal e, como não fazia mais nada na vida além de cuidar da própria aparência, a cada dia sua vitalidade aumentava e aos poucos seu corpo realmente foi ganhando massa muscular e ficando cada vez mais torneado. Tanto o personal quanto a entourage calaram a boca diante da sua transformação, tomando-a como um exemplo vivo a ser seguido. Para comemorar suas recentes estéticas de neotrintona, resolveu dar uma festa em sua mansão contratando a melhor promoter para selecionar uma lista só de convidados ricos e famosos, chamando também profissionais para organizar os serviços de decoração de uma renomada loja e o serviço do mais caro e prestigiado restaurante da cidade. Tudo tinha de estar nos trinques para que a sociedade reconhecesse seu rejuvenescimento.

    Nessa festa foi apresentada a um jovem ator de TV, apaixonando-se imediatamente e ficando e ficando disposta a conquistá-lo a qualquer custo. Para tanto, se esforçaria ainda mais para aprimorar o processo de sua transformação física. Quando conseguiu a aparência exterior que desejava e realmente poderia se passar por uma mulher bem mais jovem, tratou de bolar uma maneira de se aproximar do ator. Imaginando que o já conhecido "detalhe" de sua verdadeira idade não atrapalharia sua intenção de jogar as tranças para o jovem ator, marcou um jantar íntimo que imediatamente foi aceito. E que melhor motivo teria ela para passar os próximos dias se produzindo para fisgar o galã, não é mesmo?

    Eis que chega a grande noite. Tão desacostumada estava em cortejar um homem que esqueceu de comprar preservativos, acreditando que talvez devesse rolar um namoro antes de consumar o ato. Sim, ela ainda era old school em matéria de sexo. Estava esplendorosa num vestido ousado que mostrava um par de seios firmes e pernas vigorosas para galã nenhum botar defeito. E ele não botou nenhum defeito mesmo, pois depois do jantar à luz de velas e Barry Manilow como trilha sonora, avançou o sinal, a carregou para o sofá e lá mesmo transaram cegos de desejo. A notícia do caso entre a "milionária sem idade" e o jovem ator ambicioso causou comoção nas redes sociais. "Ele está com ela pelo dinheiro", diziam uns. "Ela está com ele para aparecer na mídia", diziam outros. A verdade é que realmente ambos estavam apaixonados e não demorou a exibirem alianças de noivado, para sofrimento dos invejosos. A última notícia era que o casal radiante anunciava aos quatro ventos a festa nababesca de casamento já marcada para dali a uma semana, quando então todos os movimentos seriam transmitidos ao vivo pelas redes sociais, além de uma entrevista exclusiva que seria concedida a um famoso programa de TV.

    Nessas alturas dos acontecimentos já moravam juntos, mas pensando bem, um casamento nos moldes hollywoodianos seria sempre um acontecimento para "normaloides" e suas miseráveis vidinhas, não é mesmo? Se consideravam até generosos em dividir com pobres infelizes suas ricas aventuras amorosas. A festa foi sucesso de público em todos os veículos de comunicação, comentários sobre o milionário vestido branco da noiva, o bolo de cinco andares, a festa com a presença de políticos de altos cargos administrativos e celebridades do mundo artístico fizeram a alegria dos fofoqueiros de plantão, que se referiam a eles como "o mais bizarro casal feliz do mundo".

    Um dia lá, ambos conversando sobre o futuro dos dois, o jovem ator confessa seu maior desejo: queria envelhecer precocemente para provar que a amava a despeito da diferença de idade. A emocionada socialite tão impressionada ficou com aquele declaração que entendeu perfeitamente a vontade de ser quem não era e se comprometeu a realizar quantas cirurgias o maridinho quisesse para atingir seu objetivo de se transformar num vigoroso septuagenário. Imaginaram que o fato não iria atrapalhar a carreira de ator, mesmo porque, haveriam de contratá-lo para papéis mais relevantes por conta de sua transformação física. AS cirurgias de implantes de pelancas e rugas no rosto foram um sucesso, a mídia aguardava ansiosamente a primeira foto do novo velho homem. Fofoqueiros comentavam que os papéis deles foram trocados externamente, mas que na realidade seriam sempre uma idosa papa-anjo e seu garotão golpe do baú. Mas a torcida dos do contra não vingou. Lá estavam eles na capa de uma famosa revista de fofocas posando felizes dentro de seus novos corpos, onde ela também exibia orgulhosa uma recente e vitoriosa plástica nas mãos.

    Programas diários de TV tratavam a saga dos dois como "a esposa anciã jovem e seu jovem marido velho". Médicos e psiquiatras discutiam e duvidavam da possibilidade daquele quadro clínico continuar dando certo. Parecia que todos aguardavam a tragédia anunciada de que futuramente a milionária poderia virar uma múmia viva e seu marido aventureiro um Liberace às avessas. Diante de tantas conquistas estéticas ninguém mais se atrevia a fazer previsões, mesmo porque entre eles a vida parecia o conto de fadas mais incomum que se poderia imaginar.

    Numa viagem de férias ao exterior, onde ninguém os conhecia, surgiu a ideia de renovarem radicalmente os votos mútuos de amor eterno. Dessa vez iriam trocar de sexo. Ela queria experimentar viver sendo um homem jovem e ele se transformaria no que ela fora no começo de tudo: uma mulher vetusta. As cirurgias do transplante de pênis nela e a castração do órgão genital dele foram um sucesso, agora cada um seguiria com suas doses de testosterona e estrogênio. Passariam um tempo se convalescendo até voltarem ao país como se nada houvesse e os fofoqueiros que se virassem para explicar o inexplicável. Haja dinheiro para custear os milagrosos poderes das plásticas com os melhores cirurgiões do planeta. No caso deles valeu cada milhão de dólar pago. O que aqueles dois não faziam para conseguir realizar seus sonhos mais exóticos, não é mesmo? Ambos se amariam não importasse quem era quem dentro daqueles corpos. Nas festas, eram observados com espanto e todos comentavam a impressionante mudança física, tão bem-feita que até os amigos mais chegados surpreendiam-se, ali estava o exemplo de que quando dois querem um não briga.

    Mas a definitiva prova de amor ainda não se completara. Eles queriam um filho, e como já era quase impossível dizer quem era o macho e quem era a fêmea do casal, optaram por contratar uma barriga de aluguel e cobriram todas as despesas da moça recrutada para realizar o grande sonho. E o que não faltou foram pretendentes ao cargo. Escolheram uma jovem de vinte anos, bonita e simples, acanhada e insegura, limpa e educada, perfeita para o que pretendiam. Para ela, que não conhecia a história do casal, não entendia o que pretendia aquele jovem marido casado com uma velha que não lhe podia dar filhos. Ouvia comentários sobre a possível troca de sexo que teria acontecido entre eles, mas as plásticas eram tão bem-feitas que a moça duvidava do boato e seguia com a gravidez, agora já bem avançada. A ex-septuagenária-atual-marido se percebia mais carinhosa com a dona da barriga e não sabia se fora acometida/o do espírito maternal ou da proteção normal que um macho dedica à sua prole. Por outro lado, o neosseptuagenário-atual-esposa também tratou de oferecer apoio, os resquícios de um ex-macho também se faziam presentes. Resumindo: para o bem da criança que iria nascer, formou-se um triângulo amoroso platônico e a convivência gerou uma aura mágica entre eles, sendo que brevemente a moça daria à luz e era preciso planejar como seria o futuro da família. Sem perder tempo e para a felicidade geral, o casal achou por bem convidar a moça para morar definitivamente com eles, o que ela, agradecida, aceitou no ato. Os laços afetivos haviam se tornado tão fortes que o esperado seria continuarem convivendo na paz e no amor de um ménage à trois.

    Como esperado e desejado, o bebê nasceu lindo e forte trazendo o que se poderia traduzir como a mais completa felicidade que um "casal de três" poderia imaginar. A mãe biológica tinha leite em abundância e cada amamentação era sempre registrada com centenas de fotos, filmes e mil sorrisos. Aconteceu que quando o bebê saiu da barriga, o pediatra ficou surpreso mas, vindo de quem vinha, achou "normal" tais características, e na hora de preencher o primeiro documento da criança escreveu no quesito sexo: hermafrodita.

    A festa do batizado foi noticiada com toda a pompa e circunstância. Lá estavam felizes: o papai que era a mamãe, a mamãe que era o papai e a mamãe dois, que pariu o baby.

    - Como é o nome do neném? - perguntou um jornalista.

    E os três juntos responderam:

    - Maria José. Ou José Maria. Tanto faz.


Conto escrito pela cantora, compositora e escritora Rita Lee e retirado do livro Dropz, Globo Livros, 1ª Edição, 2017.

sábado, 27 de agosto de 2022

Questão de Consciência

    A consciência da culpa torna-se azorrague de lamentável aflição para quem delinque, constituindo presença indesejável na vida irregular.

    Todos os homens com mediana capacidade de discernimento sabem como se devem conduzir e quais os mecanismos corretos de que se podem utilizar, a fim de lobrigarem êxito nos tentames de uma existência sadia.

    O erro, que é fator para a aprendizagem, ensinando a melhor metodologia para a fixação do acerto, na área do comportamento moral, assume papel preponderante, gerando consequências de breve ou longo curso, conforme a ação negativa desencadeada.

    Na Terra, em face dos compromissos ético-sociais que impõem a aparência, não raro em detrimento da realidade, aquela exige que os indivíduos se permitam duas condutas: a que se aceita e aquela que se vive na intimidade do ser.

    Tal atitude desencadeia distúrbios emocionais que se transformam em processos de alienação mental e comportamental infelizes.

    Não suportando a carga da dicotomia emocional que se impõe, o indivíduo foge pelos episódios neuróticos, jugulando-se a patologias que o tempo agrava, caso não se permita a necessária terapia e a mudança de ação moral.

    Fora do corpo, a questão da consciência da culpa assume proporções mais graves, tomando aspectos mais infelizes.

    A impossibilidade que experimenta o culpado de dissimular o delito, e a presença da sua vítima inocente, que o não acusa em momento nenhum, quando é nobre e elevada, tornam-se-lhe um tormento inominável.

    Se, todavia, estagia no mesmo padrão de conduta e é incapaz de compreender e perdoar, ei-la transformada em cobrador implacável, iniciando-se o processo de obsessão cruel, que se alongará na carne futura que o calceta busca a fim de esquecer e reabilitar-se...

    Age corretamente sempre.

    Não te anestesies com os vapores do erro moral ou de qualquer outra procedência.

    Sofre hoje a falta, de modo a não padeceres longamente, mais tarde, o que usaste de forma indevida.

    O júbilo de poucos momentos não vale o remorso de muito tempo.

    Felicidade sem renúncia é capricho dourado que se converte em pesadelo.

    Tudo passa!

    Eis que o tempo, na sucessão das horas, conceder-te-á em paz o que agora te falta, durante o conflito.

    Tem a paciência e persevera no Bem, na retidão.

    As Leis de Deus encontram-se registradas na consciência humana, para que saibamos como agir, para que agir e por que agir sempre de maneira melhor para todos.

    Assim, não te comprometas com o mal, o crime, o vício, liberando-te da culpa por antecipação.

    Tal atitude será, na tua felicidade, uma questão de consciência.


Retirado do livro Momentos de Meditação; Divaldo Franco pelo Espírito Joanna de Ângelis; Livraria Espírita Alvorada Editora, Salvador, 2014, 3ª Edição.

segunda-feira, 22 de agosto de 2022

Dia de Passeata

    - Eu vou, a menos que você me impeça à força - decidiu a menina.

    O pai, desolado, não sabia o que fazer para convencê-la:

    - Minha filha, você está sendo levada pelo entusiasmo. Ouça a voz da experiência. Minha geração começou em passeatas e acabou na tortura. Amanhã, quando um soldado perder a cabeça e atirar contra um estudante, vocês trocarão Alegria, Alegria por hinos fúnebres. Não é com manifestações de rua que o governo será derrubado. Fique em casa.

    - Não, pai, toda a escola combinou de participar. Não vou ficar de fora, como se eu apoiasse o governo.

    - Quem semeia vento colhe tempestade - advertiu o pai. - Hoje, nas ruas, tudo parece festa, mas amanhã haverá choro e ranger de dentes. Pode ter certeza: se for, sua ficha na polícia ficará suja.

    - Suja? Por quê? O que faço de errado?

    O pai, sentando-se bem junto à menina, como se as paredes tivessem ouvidos, explicou:

    - Disfarçada de fotógrafos de jornais, a polícia registra todas as passeatas, sem que um só manifestante deixe de ser retratado. Depois, as fotos são ampliadas e cada rosto identificado. Daqui a alguns anos, quando estiver formada na faculdade, pode ser que você seja preterida num emprego sem que lhe deem um motivo convincente. Vai ver, a empresa consultou a polícia e foi informada de que a pretendente tem um passado subversivo.

    - Ora, pai, isso já era. Agora estamos em plena democracia. Como vão saber que aquele rosto pintado de verde-amarelo nas faces e risco preto na testa é o meu?

    - O coronel Pafúncio identifica - argumenta o pai numa cartada final.

    - Esse nosso vizinho? Ele nem é mais da ativa, pai. O senhor acha que ele ainda está preocupado em caçar comunistas?

    - Nunca se sabe, filha. Essa gente é treinada para se fazer de boba. Você vê o coronel aí do lado cuidando de passarinhos e limpando gaiolas, como se não tivesse outra preocupação na vida. Não duvido nada que ele ganhe um dinheirinho extra informando tudo o que se passa aqui no prédio. Pode ficar certa, se amanhã você for à passeata, ele vai anotar seu nome.

    - Pois que anote, mas não ficarei de braços cruzados enquanto o governo afunda o país nesse mar de lama.

    Na manhã seguinte, toda equipada para a passeata, a menina deu de cara com o coronel no elevador. Olhou-o espantadíssima. De tênis, o home vestia camisa preta e trazia a bandeira do Brasil nas mãos.

    - Aonde é que o senhor vai assim, coronel?

    - À passeata, minha filha. Se a gente balançar, o governo cai.


Crônica de Frei Betto retirada do livro Cotidiano & Mistério, Editora Olho Dágua, São Paulo, Agosto de 2003, 2ª Edição.


Em 2003 quando o livro foi lançado, o contexto verde e amarelo com bandeira do Brasil significava outra coisa. Hoje, nesses confusos dias de 2022, essas cores foram, inicialmente, "sequestradas" pela direita conservadora e seus apoiadores boçais. Felizmente, a esquerda também começou a utilizar a bandeira fazendo um contraponto a essa utilização inadequada...

sábado, 20 de agosto de 2022

Hermes, o deus condutor dos caminhos e meios para se viver na Terra. O condutor das almas para a ressurreição!

    Hermes é um deus singular na mitologia grega. Não tem lugar fixo na hierarquia olímpica. É o único que pode deslocar-se do Olimpo para a Terra e para o mundo subterrâneo dos mestres. Por isso tem asas na cabeça - para ensinar os homens a se elevar - e nos pés - para ensinar os homens a descer, pois "quem não souber descer jamais servirá para subir" (Tábua das Esmeraldas, conjunto de ensinamentos sagrados, atribuída ao próprio Hermes). Queria isso dizer que quem não aprender a ser simples e humilde jamais poderá se aproximar dos deuses.

    É filho de Zeus e Maia (a aparência, a ilusão), significando que a criação, ao unir-se à aparência e à ilusão, deu origem a uma divindade que ensinou aos mortais as muitas possibilidades e meios para viver na Terra e que, se muitas podem ser verdadeiras, outras podem ser falsas. Seu culto remonta a épocas muito arcaicas e as evidências apontam sua origem no deus egípcio Toth.

    Nasceu em uma gruta e seu nome deriva do sânscrito "Hemú", que significa a pedra guardiã sagrada da ressurreição. 

    Homero dá na Ilíada uma versão muito divertida de seu nascimento e das primeiras peripécias com seu irmão, o deus Apolo. Conta que nasceu no Monte Cileno e que "naquela aurora tocou a lira pela noite e praticou o célebre roubo dos bois de Apolo". Ao sair de sua gruta, Hermes encontrou uma tartaruga, matou-a e limpou seu casco, e das tripas de uma ovelha esticou sete cordas que prendeu no casco... Assim nasceu a primeira lira, que se pôs a tocar.

    Ao pôr-do-sol, dirigiu-se à Pieria, onde se encontravam os bois sagrados de Apolo. Apoderou-se de cinquenta reses e, para dissimular sua fuga, retirou-se andando de frente para trás, apagando com arbustos seus rastros e os dos animais. Chegou com o rebanho em Pilos, escondeu os bois e imolou dois, dividindo a carne em doze partes, uma para cada deus, e assou-a como oferenda. Ele próprio nada comeu e retornou para casa contando a sua mãe o episódio. Esta, admoestou-o, e seu irmão Apolo, como tinha o dom da profecia, logo descobriu tudo. Dirigiu-se ao monte Cileno e exigiu a devolução dos bois, mas o pequeno Hermes recusou-se a fazê-lo.

    Decidiu então levar o pleito ao próprio Zeus, que muito se divertiu ao saber do ocorrido, ordenando, no entanto, a restituição do rebanho sagrado a seu dono.

    Hermes não se deu por vencido e, para aplacar a ira do irmão, pôs-se a tocar a lira. Apolo ficou imediatamente fascinado e aceitou o instrumento em troca dos bois.

    Tão logo as mãos de Apolo tocaram o instrumento, ela se transformou na famosa lira de ouro que sempre o acompanhará como um de seus mais importantes símbolos.

    Hermes recebeu, além dos bois, um cajado de ouro de Apolo, no qual imediatamente entrelaçaram-se duas serpentes, formando seu símbolo, o caduceu, que será erroneamente associado à medicina.

    Finalmente, Hermes recebeu de Apolo o dom da adivinhação, mas não o da profecia, sendo considerado o deus protetor dos jogos de azar.

    Em Hesíodo, na Teogonia, esse deus é descrito como o "Psicopompo", o condutor das almas após a morte no caminho da ressurreição e do voltar a viver. Com efeito, os antigos gregos e egípcios acreditavam que após a morte voltavam a viver em um novo corpo e que encontrariam esse caminho por meio de Hermes.

    A palavra "hermético" tinha esse significado original, ou seja, cada um deve descobrir seu caminho - com a ajuda de Hermes - para conquistar a vida após a morte. Essa busca só poderia ser feita pelo diálogo interior com Hermes, não sendo possível com mais ninguém. Esse diálogo adquiriu então uma conotação de secreto ou incompreensível, o que na modernidade redefiniu como sendo "hermético", quer dizer, "indecifrável". Isso apenas revela como nos tornamos superficiais e incapazes de ouvir nossa voz interior (que não deve ser confundida com consciência moral!)

    O culto de Hermes tinha enorme importância na antiguidade. Ele é retratado como de extraordinária inteligência, tolerância, benevolência e indulgência, o que o fazia muito amado pelos deuses e pelos homens. É acima de tudo o arauto do Olimpo e indica os caminhos do destino aos homens. Seus símbolos são as asas nos pés e na cabeça, e o cajado de ouro (o caduceu) que...

* É de ouro e retilíneo, porque indica o caminho para a imortalidade.

* Tem no topo um oito aberto. O círculo significa o divino (pois este não tem começo, meio ou fim), e o semicírculo é a dualidade dos princípios divinos, o masculino e o feminino.

* As duas serpentes entrelaçadas no cajado significam a ambiguidade fundamental da condição humana, a morte e a vida, a essência e a aparência e a dualidade do amor, que é sacrifício e desejo, alma e matéria, alegria e tristeza, busca e perda, e assim por diante.

    É, mais do que tudo, a maravilhosa esperança, sempre renovada, de viver e amar. Para Hermes, tudo é alegria e graça, e condena severamente aqueles que levam a vida muito a sério. Tudo nele encontra uma solução, sendo considerado o deus mais amigo dos homens e em especial dos adolescentes, que o adoravam por seu humor e "brejeirice".

    Tão popular era, que todas as casas tinham na frente uma estátua ou estrela de Hermes como falo ereto, símbolo de que a casa era fecunda e plena de paixão. (O falo ereto não tinha nem de longe o significado que o falso moralismo judaico-cristão lhe conferiu.)

    Era ainda considerado o deus da comunicação - interior e exterior. Em cada esquina das cidades helênicas, uma estrela de Hermes funcionava como indicador de direção, nomeando os logradouros e tinha inscrições para ajudar os transeuntes a encontrar seu caminho interior. Algumas dessas inscrições ficaram famosas e citamos algumas, tão úteis ontem como hoje e sempre:

* "O microcosmos é idêntico ao macrocosmo; lá encontrarás o conhecimento dos deuses e do universo." Ou seja, é no seu interior, que é idêntico à imensidão cósmica, que você encontrará deus e o entendimento dos mistérios do incomensurável.

* "A riqueza é destinada ao uso; seu acúmulo é tolo e vão; tudo deixarás aqui."

* "Você deve partir daqui com o corpo completamente gasto. Gaste-o, mas gaste-o bem; transforme tua matéria em nobreza, beleza e bondade e partirás daqui leve como uma pluma, pronto para renascer."

    Iniciação e hermetismo para os antigos gregos não eram senão a arte de aplicar esses ensinamentos de Hermes, não tendo nada de esotérico ou misterioso. Ao contrário, eram fórmulas muito práticas para atingir a verdadeira espiritualidade.


Trecho retirado do livro Mitologia Viva - Aprendendo com os deuses a arte de viver e amar; Viktor D. Salis, Editora Nova Alexandria, São Paulo, 2003.

Homens Vazios

    Em uma sociedade injusta, que é o fruto amargo da cultura materialista, o homem vê-se massificado, desconhecido, com a sua identidade desnaturada, sem objetivo.

    Os esforços que empreende são dirigidos para metas que se caracterizam pelo imediatismo responsável pelas necessidades comuns, sem o apoio dos ideais compensadores, que iluminam a vida e dão-lhe significado.

    Acomodando-se aos padrões absorventes do cotidiano, ele sente-se comprimido pela ansiedade que o aturde, sem encontrar solução para os estados conflitivos da personalidade que o assaltam.

    Torna-se, em consequência, homem vazio, verdadeiro espectro que se movimenta no grupo social, que participa das atividades corriqueiras, sem que viva as emoções que dão beleza e significado à dignidade de ser senciente.

    Em torno dele agrupam-se outros que sofrem a mesma enfermidade, que mal disfarçam as suas aflições, mediante conversas que primam pela banalidade dos temas ou derrapam nas conceituações da promiscuidade moral em voga.

    Quando a conversação perde o tom do agradável e útil, o comentário proveitoso e sadio, o grupo social apresenta-se enfermo, em decomposição de sentido e de propostas.

    A vida inteligente emerge dos objetivos que constituem a manutenção do corpo e a continuidade das suas sensações.

    Pairam, em nível mais alto e mais ambicioso, os ideais de construção do bem, de criatividade nobre, de rendimento emocional dignificante, que se tornam essenciais na vida dos indivíduos. A ausência desses elementos responde pela impermanência da identidade psicológica de cada um, arrojando-o ao despenhadeiro do vazio íntimo.

    O homem vazio não consegue amar, porque não aprendeu a viver essa faculdade, base do comportamento de ser livre. Adaptou-se a ser amado ou disputado, sem preocupação de retribuir.

    Imaturo, antes reagia às expressões da emotividade nobre, preferindo o jogo arbitrário das sensações. Nele havia a preocupação de ser conhecido, de receber convites, de encontrar-se presente nas reuniões sociais, não porque estas lhe fizessem bem, porém, por medo da solidão, de ser esquecido... Em tais reuniões, a convivência emprestava brilho ao seu ego, em face da tagarelice, do consumo de alcoólicos, do tabagismo, que significavam status elevados.

    Assim, sem identidade, o homem vazio é uma pessoa morta.

    Há muita gente sem previdência, que inveja as pessoas colunáveis, vazias.

    Não que seja um mal participar da sociedade e preocupar-se com a projeção da personalidade no grupamento social. Só que, a maioria desses indivíduos-mitos é formada por solitários que se buscam, sem que se tornem solidários que se ajudam,

    Disputam homenagens e guerreiam-se entre sorrisos, no desfile do luxo e do exibicionismo, nos quais escondem os conflitos, quando assim o fazem, e as profundas necessidades afetivas.

    Tal conduta leva-os à melancolia e à depressão, ou a lamentáveis estados de irritabilidade, de mau humor que os tornam rudes, insuportáveis na intimidade, embora considerados sociáveis e educados.

    Essa ambiguidade no comportamento culmina com a instalação de neuroses que se agravam, desestruturando-os a médio prazo.

    O homem acumula vácuo, porque se sente impotente para alcançar plenitude.

    Acostumando-se à competição nos negócios, nos relacionamentos, espera ser o primeiro, o mais considerado. Se o logra, esvazia-se, de imediato. Quando não o consegue, frustra-se, perdendo-se da mesma forma.

    Os conflitos se instalam e ele se desama, deixa de sentir, de viver. Transfere-se, emocionalmente, para a ribalta do desespero e da futilidade.

    Este mecanismo de evasão mais o aturde, porque o desnatura.

    Pode-se, de certo modo, afirmar que estes são dias de homens vazios, homens-sombra.

    Se já travaste contato com as lições de Jesus, poderás insculpi-las no comportamento, transferindo-te do estado de vácuo para o de realizações.

    Compreenderás o significado da tua existência e saltarás o abismo que te ameaça, preenchendo as tuas lacunas emocionais com o idealismo que deflui do amor, base da plenificação humana.

    Viverás em sociedade sem conflitos íntimos e a elegerás por afinidade de propósitos e fins, começando a instalar aí e no coração o Reino de Deus, iluminado e pleno. E o farás porque terás por modelo e guia Jesus, o Homem-Luz de todos os tempos.


Retirado do livro Momentos de Iluminação; Divaldo Franco pelo Espírito Joanna de Ângelis; Livraria Espírita Alvorada Editora, Salvador, 2015, 4ª Edição.

quinta-feira, 18 de agosto de 2022

Sendo chegada a hora de descansar

    Num fundo buraco do chão, quase poço. Ali vivia sem nunca ter saído, desde o nascimento. Alimentava-se de ervas, raízes,