segunda-feira, 6 de novembro de 2023

Identidade Gay e os preconceitos que cerceiam a tolerância

 Para Foucault e Deleuze, a subserviência aos modelos preestabelecidos pelos próprios homossexuais são obstáculos para a pluralidade


Nesta época de luta pelos direitos dos homossexuais, em que tantas conquistas fazem-se notar, a ponto dos preconceitos serem considerados antiquados e muitos atestarem que tem ocorrido uma evolução no que tange ao olhar da sociedade em relação aos gays, cabe uma pergunta delicada: vencidos os embates externos (contra preconceituosos, homofóbicos e dogmáticos), o que dizer então dos inimigos internos? A luta dos homossexuais seria apenas contra entidades "lá fora"? Conquistaram os militantes uma assim dita "identidade gay"? Muitas opiniões sobre este assunto são possíveis. E o que nos diriam estes que são dois dos mais importantes filósofos franceses da pós-modernidade: Michel Foucault e Gilles Deleuze?

A partir das perspectivas assimiladas ao longo da obra foucaultiano-deleuziana, podemos dizer que ninguém "nasce" homem, mas sim que todos nos tornamos homens, numa busca constante. A dita virilidade masculina representa o investimento numa rede relacional: busca-se o reconhecimento da masculinidade. Esta virilidade é uma ética, uma constante inquietude de si. Ao contrário do que pregam alguns militantes gays, o sexo não nasce feito. Nem mesmo "nasce-se gay", na medida em que a singularidade homossexual, como toda e qualquer singularidade humana, demanda contínua construção, desconstrução, reconstrução. Não se trata, portanto, de lutar por uma identidade no sentido de "ser idêntico a", ou seja, "seguir um modelo pré-estabelecido". O pensamento de Foucault e Deleuze opõe-se à ideia de seguir modelos, sejam eles quais forem, o que termina conduzindo a uma dolorosa liberdade: a liberdade de um contínuo criar, de responsabilizar-se por si mesmo, fazendo de si uma obra de arte singular e única. Um total contraponto à ideia de seguir um modelo dito "idêntico".

É importante salientar que, se o sexo é definido como uma divisão entre gêneros, todo sexo e toda sexualidade é heterossexual, no sentido de que "hetero" significa "diferente", ou seja, todo relacionamento sexual entabulado com um ser diferente de mim, seja ele um homem ou uma mulher, será hetero, pois o sujeito faz-se homem na medida em que faz do outro um outro. Essa divisão, existente no imaginário masculino, está longe de ser igualitária, ao contrário, é hierarquizada. Através do ato sexual, os sujeitos são inscritos numa hierarquia, territórios são demarcados, corpos e sujeitos são heterossexualizados: eu sou o homem, você é a mulher.

A partir das descrições históricas do pensador Paul Veyne, ao relatar os hábitos sexuais dos antigos gregos, podemos afirmar que até mesmo as ditas relações "homo" da antiguidade estavam longe de serem "relações entre iguais". Elas eram heterossexuais, na medida em que o homem mais velho, o erastes, exercia sobre o efebo impúbere, ou eromenos, um poder, e uma hierarquia era estabelecida. Uma relação "homo", na antiguidade ou na modernidade, num sentido semântico do termo, envolveria dois sujeitos que fossem considerados iguais (sejam eles machos ou fêmeas), sem hierarquia de subjugador e subjugado. Seria isso possível, ou mesmo real, no chamado "mundo gay"?

A que parece, o discurso heteronormativo, também chamado de "matriz hegemônica de inteligibilidade", tem o poder de penetrar até mesmo o universo gay, atravessando todas as relações e adequando tudo o que encontra a uma lógica hegemônica. A mesma misoginia, que cria o discurso homofóbico, sobrevive nessa divisão tão solidamente estruturada por discursos culturais dentro dos guetos gays, criando até nos relacionamentos mais íntimos barreiras identitárias poderosíssimas. A intolerância, pretensamente apontada pelos militantes gays no que eles chamam de "totalitarismo heternormativo", parece ser uma pálida sombra se comparada à intolerância que subjaz ao próprio gueto homossexual sob os mais diversos aspectos que serão expostos ao longo deste artigo: o ódio aos travestis, o desprezo aos sexualmente passivos, o horror aos afeminados, como se "ser gay" significasse necessariamente seguir um modelo identitário pré-formado: ser homossexual é possível, contanto que o sujeito siga a cartilha. A cartilha dita que todos sejam másculos e comportem-se bem. Não se trata, obviamente, de uma cartilha escrita, mas fica patente no discurso presente tanto entre heterossexuais quanto homossexuais, em que se vaticina que "ser gay é possível, contanto que o cara seja macho e se dê ao respeito".

Vale questionar: existe, de fato, um exemplo de tolerância? Houve tal exemplo em algum momento da história humana que poderia ser seguido como um modelo?

É assaz comum, no que concerne aos argumentos de alguns militantes gays acerca da homossexualidade, referir-se ingenuamente, à antiga Grécia como um exemplo espectacular de civilização tolerante para com a prática homoerótica, considerando a civilização judaico-cristã como "atrasada" em relação à realidade homossexual. A partir desta comparação histórica, evoca-se a ideia de um relativismo moral e questionam-se as bases do preconceito moderno. Todavia, os militantes parecem ignorar que, no que tange à antiga Grécia, termos interdições tão claras quanto as interdições atuais. muito embora sejam interdições diferentes. Conforme discorre Foucault ao longo da sua obra, não é interessante tomarmos outra época como um modelo, pois não há um valor exemplar em um período que não seja o nosso próprio. Deleuze valida esta afirmação, ao sustentar em sua obra Conversações que Foucault detestava retornos: falamos do que vivemos. A história não diz o que somos, não estabelece a nossa identidade, diz apenas aquilo que estamos em vias de diferir. Paul Veyne emite um pensamento similar em O Último Foucault e sua Moral, ao dizer que o que se opõe ao tempo, assim como à eternidade, é a nossa atualidade.

Para fazer uma "arqueologia gay", portanto, não é necessariamente voltar-se para o passado. Deleuze aponta em Conversações para uma arqueologia do presente, em que tomamos as coisas para extrair delas as suas visibilidades. Não se trata, em absoluto, de procurar um modelo dito ideal que sirva como norma moral para os gays, mas - retomando Nietzsche - descobrir como a operação artística da vontade de potência permite a invenção de novas possibilidades de vida: um "ser gay" que se constrói, inventa-se, um "ser" enquanto verbo atuante um nosso tempo, jamais como substantivo-modelo de uma época passada.

Deste modo, respondemos desde já a pergunta explicitada nos parágrafos anteriores: segundo Foucault, Deleuze e Veyne, não se trata de seguir um modelo, muito menos um modelo grego antigo, mas de criar um modo de vida gay que admita a pluralidade, um modo que se recrie continuamente, de forma íntegra e autocrítica, buscando maneiras de sabotar qualquer espécie de normatividade. Esta é uma proposta mais revolucionária do que talvez imaginemos, quando falamos em "respeito as diferenças".

Vale ressaltar que Foucault jamais apresenta uma resposta, uma solução, nem aponta um caminho que possa ser considerado como "certo" para as problemáticas gays. Esta resposta cada um deve encontrar por si mesmo, num ativismo pessoal, numa militância do sujeito. Até mesmo porque, de acordo com o olhar foucaultiano, não existe escolha certa, e sim uma escolha entre perigos, onde devemos buscar dos males o menor. Sim, Foucault é pessimista em sua visão, mas jamais apático. Seu pessimismo deriva da consciência de que toda escolha é perigosa, e acarreta em efeitos colaterais inevitáveis. Não existe "caminho melhor" e "caminho pior", para Foucault, e sim caminhos com problemas diferentes, com perigos diferentes, em que o perigo principal deve ser identificado.

É curioso observar que as críticas de muitos homossexuais, alguns deles inclusive militantes da causa gay, acerca da afeminação de gays mostrados na TV, não é muito diferente das críticas que um homem afeminado sofreria na antiga Grécia. É extremamente comum, nos tempos modernos a afirmação "eu sou gay, mas não sou afemindado e detesto afeminados". Além disso, salienta-se o fato de que o termo pejorativo "bicha passiva" é amplamente utilizado pelos próprios homossexuais para se referir a outros com sinal de evidente desprezo. Nada disso é muito novo e quem enxerga a antiga Grécia como um paraíso da diversidade gay, equivoca-se profundamente. De acordo com Paul Veyne, em sua obra A Homossexualidade em Roma, um homófilo passivo (diatithemenos) era alvo de desprezo e rejeição, sobretudo por parte do exército. Veyne conta que, certa feita, um homossexual passivo foi poupado de ser decapitado, porque o imperador não queria que a lâmina do gládio do carrasco fosse conspurcada por tão "aviltante criatura". A afeminação masculina era vista pelos antigos greco-romanos como algo desprezível. De modo análogo, muito embora por razões diferentes, os homossexuais modernos parecem sofrer da mesma aversão à passividade sexual masculina.

Fica evidente que existe um modelo normativo entre os próprios homossexuais, modelo que se pauta em regras e em "modos de ser" que, longe de criar sujeitos criativos, cria aquilo que Foucault chama de "clones", ao referir-se aos homens de aparência similar nas paradas gays (na época de Foucault, homens com fartos bigodes e óculos Ray-ban; modernamente, homens anabolizados e preferencialmente depilados). Na entrevista "A amizade como modo de vida", concedida ao jornal Gai Pied em abril de 1981, Foucault usa o termo "clones bigodudos" para referir-se a estes homens "todos iguais". Estes "clones", ao contrário de criarem a obra de arte de suas próprias existências, compraram o modelo pré-existente, pré-fabricado, com uma identidade de plástico, uma identidade que busca o idêntico: o modelo, o molde, o "deve ser".

Os movimentos de militância gay demonstraram, por vezes diversas, uma inclinação totalitária. Ao invés de proteger os homossexuais, lutando pelos justos direitos civis, tais movimentos, algumas vezes pareceram mais empenhados e ocupados em destruir radicalmente tudo o que, na sociedade, na cultura ou em sujeitos particulares, explicite discordância. A ideologia torna-se uma arma policial delirante que tenta proibir toda divergência de opinião, toda repulsa espontânea, todo pensamento que a desagrade e até mesmo as piadas, que fazem sentido dentro do contexto de uma comédia, peça ou novela. O que não faltam são ameaças de processo contra autores que, desejando fazer comédia, criaram um personagem caricato, cômico e gay.

Ao eliminar toda diferença, o que sobra? Uma montanha intransponível de concordância e subserviência à cartilha politicamente correta (e politicamente tirânica). As próprias atitudes públicas de alguns dos ditos "representantes dos gays" evidenciam isso. Tais representantes, munidos da mais intensa disposição de perseguir qualquer opinião que contrarie a deles, dizem falar em nome dos gays, mas o que isso significa? Não podemos nos furtar a citar o que Deleuze, em Conversações (p.110) chama de "indignidade de falar pelos outros". Transportando esta fala para o presente assunto, ousamos perguntar: como é possível que uma militância que critica a existência de personagens gays afeminados em novelas e espetáculos se diga porta-voz de todos os gays? Definitivamente, isso não é possível. Estes, no máximo, falam em nome de um tipo específico de gay - especificamente o gay que não fere as suscetibilidades dos heterossexuais, comportando-se de um modo domesticado, padronizado, que permita que os homossexuais sejam vistos "como pessoas de respeito" - uma priorização à moral, mas não uma ética.

A dignidade de não falar pelos outros deveria ser parte do intelectual, para Deleuze, que denuncia em Conversações (p.110): sempre que alguém diz "ninguém pode negar", "todo mundo há de reconhecer que", eis uma mentira ou um slogan. A proposta deleuziana-foucaultiana é a de que cada um fale em seu próprio nome. Não devemos falar em termos de valores universais, mas em nome de nossa própria competência e situação. Se o grupo não é multivocal, onde está a ética? Guatarri, com quem Deleuze trabalhou por diversas vezes, enfatizaria a ideia de "transversalidade", por oposição aos grupos hierarquizados, onde temos um que fala em nome de todos os outros.

Vale salientar também a apropriação, por parte de algumas militâncias gays, de termos que são usados com o evidente intuito de exercer poder, de subjugar. "Homofobia" é um bom exemplo moderno. Este termo foi introduzido pelo psiquiatra George Weinberg, no livro Society and the Healthy Homosexual (New York, St, Martin's Press, 1972) para designar o complexo emocional que, no seu entender, seria a causa da violência criminosa contra homossexuais. Observamos, contudo, uma apropriação deste termo pelas militâncias gays, que passaram a acusar de "homofobia" uma série de fatos, atos e discursos de uma maneira exagerada que nos faz pensar: não seria, na verdade, uma forma de demonstrar poder? Uma forma clara de tentar intimidar todos aqueles que pensam diferente destes militantes? À luz do que estudamos sobre relações de poder em Foucault e Deleuze, ousamos dizer que sim.

No livro A History of Homophobia, o ensaísta Rictor Norton, um apologista da homossexualidade, é bem franco sob esse aspecto: "Com muita frequência, a palavra "homofobia" é apenas uma metáfora política usada para punir". Sob este ponto de vista, o exagero é evidenciado quando os militantes acusam de "homofobia" toda e qualquer pessoa que não pregue a cartilha da militância e repita, tal qual foi determinado pelo alto comando de algumas ONGs e instituições, o que pode e o que não pode ser expresso como opinião a respeito da vida homossexual.

Usar o mesmo termo ("homofobia") para definir um skinhead, espancador de homossexuais e uma pessoa que diz ser contra o casamento gay por motivos religiosos parece ser uma forma injusta e cruel de nivelamento, e mais que isso: uma tentativa explícita de censurar a opinião das pessoas. De onde nos permitimos pensar: a militância gay luta efetivamente pelos direitos dos homossexuais, ou não passa de uma forma de exercer poder e ditar regras? Não seria a militância gay apenas mais uma fórmula ideológica e projeto de poder? Para Veyne, por exemplo, segundo Yolanda Glória Gamboa Muñoz em Escolher a Montanha (p.41), a ideologia é um estilo nobre, porém vago, que idealiza as práticas, dissimulando os contornos das práticas reais: o que se faz e o que se diz. Conforme cita Muñoz a respeito de Veyne: "Por isso, em certo momento, ele poderá afirmar que 'a ideologia não existe'" (Escolher a Montanha, p.41, 2005).

Não obstante às declaradas intenções libertadoras da militância gay, um olhar mais apurado não deixa escapar uma ideologia normatizadora, que norteia tal militância. Um militante da causa gay certa feita comentou, em entrevista o seguinte:

"(...) que morreu de vergonha quando a família de seu namorado assistia à novela e "apareceram as bichas velhas, desmunhecando, fazendo tiranias e baixarias". "Essa é a imagem que o povo tem da gente, e lutamos para que nos vejam como somos, homens que gostam de homens e não malucas desvairadas caricatas". Acusado de 'fundamentalista', por querer processar o autor de televisão, X responde perguntando: 'Defender nossa dignidade é fundamentalismo GLBT?'"

Este discurso deixa claro, de forma deveras impressionante, que a fala militante neste caso prevê regras de conduta, modelos de comportamento e normatizações para o "ser homossexual" ("ser" enquanto verbo e não substantivo, vale salientar). Fica evidente, na fala deste dito representante da causa gay, que um sujeito pode ser homossexual, contanto que não seja uma "maluca desvairada e caricata" (leia-se: afeminado) e, ao que parece, ser "velho" é também um demérito, e não uma condição natural e inevitável da biologia. Tal discurso não dá espaço para a invenção da homossexualidade a partir de um ativismo constante e autoquestionador, conforme nos propõe Foucault. Existe, para este tipo de militante, uma forma ideal de ser homossexual, uma forma que, justamente por ser idealizada, exclui terminantemente uma realidade: efetivamente, existem homens homossexuais afeminados, quer gostem disso ou não os gays descolados, modernos e másculos. É importante salientar que a vergonha que o sujeito disse sentir está atrelada ao olhar dos heterossexuais sobre a cena: ele não sente vergonha por ver a cena, ele sente vergonha quando a família (heterossexual) a assiste, ou seja, ainda necessita da aprovação do status quo heterossexual do qual ele diz ser liberto. "Lutar para que nos vejam como somos" só faz sentido se esta luta incluir, conforme salienta Foucault, a diversidade e também a liberdade criativa para que nos inventemos continuamente, criando novas formas de relações e de "ser". Qualquer tentativa de uniformização não passa de trocar um modelo de regras por outro: no caso, troca-se o modelo normativo heterossexual por um modelo normativo homossexual completamente infectado pela misoginia e pelo machismo. E o que  significaria "nos ver como somos?", afinal de contas a pluralidade prevê incontáveis "jeitos de ser", alguns inclusive que nem foram inventados ainda. O discurso militante subentende que existe um "como somos" universalmente válido para os gays do norte, do sul, do leste e do oeste.

Em sua entrevista intitulada "De l'amitié comme mode de vie", concedida a R.de Ceccaty, J. Danet e J. le Bitoux para o jornal Gai Pied, em abril de 1981, Foucault chama a atenção para o problema da construção da identidade homossexual. O problema, segundo Foucault, não reside no questionamento "quem sou eu?" (autoconhecimento), e sim na seguinte questão: quais relações podem ser estabelecidas, inventadas, multiplicadas e moduladas através da homossexualidade? Foucault, aqui, enfatiza a importância do "cuidar de si" e sobre o mero "autoconhecimento". Que se destaque aqui a importância do termo "invenção", ponto chave para o entendimento do pensamento foucaultiano. A prioridade não está numa descoberta de "quem sou", e sim uma responsabilidade ética de inventar-se, reinventar-se, como num devir-gay. A vida como uma obra de arte.

Deleuze, no que diz respeito à concepção da vida como uma obra de arte, salienta que a constituição dos estilos de vida (podemos aqui nos referir aos estilos de vida gay) não é somente estética, é também uma ética, por oposição à moral. Deleuze detalha esta diferença em sua entrevista a Didier Eribon:

"(...) A diferença é esta: a moral se apresenta como um conjunto de regras coercitivas de um tipo especial, que consiste em julgar ações e intenções referindo-as a valores  transcendentes (é certo, é errado...); a ética é um conjunto de regras facultativas que avaliam o que fazemos, o que dizemos, em função dos modos de existência que isso implica." (Deleuze, "A vida como obra de arte", entrevista concedida ao jornal Le Nouvel Observateur, em agosto de 1986.

A partir desta diferenciação entre ética e moral, não nos passa despercebido, diante da ação e ideias dos gays, que eles - tanto quanto qualquer heterossexual - parecem estabelecer uma moral, um manual de regras de como os gays devem se e se portar, de que é certo ser um gay deste modo, mas é errado ser de outro modo (ser afeminado; ser espalhafatoso). Isso fica evidente nos preconceitos existentes dentro dos próprios guetos, e na repulsa a manifestações estéticas femininas dento dos meios e paradas gays hipermasculinizadas. O discurso militante enfatiza continuamente "que os gays devem ser vistos como pessoas de respeito". Mas o que isso significa? Qual é a "vontade" de verdade suposta por um discurso que se impõe como "verdadeiro" e que esse discurso só pode ocultar?

Podemos ir além: não seriam os guetos gays verdadeiros internatos, meios de confinamento? Os próprios homossexuais parecem "se internar", na medida em que consideram, para usar um termo coloquial, "uma queimação de filme" a demonstração de afeto homoerótico fora dos lugares que não sejam considerados "apropriados".


Texto de Alexey Dodsworth Magnavita retirado da Revista Ciência & Vida FILOSOFIA, nº 22, Ano 2008, Editora Nova Escala, São Paulo.

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