quarta-feira, 22 de novembro de 2023

Psicologia Humanista

Para grande parte dos psicólogos, "a Psicologia Humanista resgata a individualidade, a subjetividade, as emoções próprias e particularidades de cada ser humano". Ideias defendidas por vários profissionais e, com maior veemência, por Carl Rogers.


"O Humanismo não é uma Escola de Pensamento, mas sim um aglomerado de diversas correntes teóricas", destaca uma das maiores comunidades de psicólogos do Brasil, reunida no site www.psicoloucos.com . Ao explicarem a origem desta corrente da psicologia, os profissionais declaram que foi fundada por Abraham Maslow, mas foi o psicanalista americano Carl Rogers, o maior expoente da obra humanista. "Depois de anos a finco praticando psicanálise, ele notou que seu estilo de terapia se diferenciara muito da psicanalítica formal. Ele utilizava outros métodos, como a fala livre, com poucas intervenções, e o aspecto do sentimento, tanto do paciente, como do terapeuta. Deu-se conta de que o paciente era detentor de seu tratamento", esclarecem. Eles acrescentam que Rogers apresentou três conceitos, que seriam agregados posteriormente para toda a Psicologia: "a congruência (ser o que se sente, sem mentir para si e para os outros), a empatia (capacidade de sentir o que o outro quer dizer, e de entender o seu sentimento), e a aceitação incondicional (aceitar o outro como este é, seus defeitos, angústias, etc.)."

Os acadêmicos e autores Adriana Furtado Holanda, William Barbosa Gomes e Gustavo Gauer, em Psicologia Humanista no Brasil (www.ufrgs.br), confirmam o sentido amplo do humanismo que transcende a psicologia. Segundo eles, este termo não sintetiza apenas a teoria, ou método, filosofia, e nem mesmo só uma vertente da psicologia. "É um movimento implícito na historicidade das ideias que aflora com maior ou menor intensidade de tempos em tempos. Enquanto mensagem, alcança uma variedade de grupos, dos mais diferentes modos, em função de um estado de opressão individual e social. Enquanto força de mobilização, pode estar na base da busca individual por mudança de sentido de vida, ou na mobilização de grandes massas por justiça e reformas sociais", destacam. 

Os autores acrescentam que "os humanismos têm em comum a ênfase no valor da individualidade. O humanismo individual, mais claramente identificado com o que se reconhece como psicologia humanista, tem como meta a promoção de revoluções individuais, isto é, o rompimento com um estilo de vida e com uma maneira de pensar. Em, contraste, o humanismo social, mais claramente identificado com uma psicologia sócio-histórica, é anti-individualista e enfatiza a união de forças em grandes movimentos solidários na promoção de mudanças sociais. Ambos os humanistas estão comprometidos com a melhoria da qualidade de vida".

Segundo os professores, "o aparecimento dos estudos da personalidade, como um esforço integrativo diante da dispersão e fragmentação das pesquisas em processos básicos, recuperou a centralidade da experiência  consciente para a Psicologia. A tendência foi representada pelos trabalhos de Eduard Spranger (1882-1963) e William Stern (1871-1938), na Alemanha; e de Gordon Allport (1897-1967), Abraham Maslow (1908-1970), Rollo May (1909-1994), Charlotte Bühler (1893-1974), e Carl Rogers (1902-1987), nos EUA". Eles esclarecem que esses autores, de várias formas, mas com muitos pontos em comum, sugeriram uma psicologia compreensiva capaz de "enxergar" o ser humano em sua particularidade e totalidade. "A repercussão destas ideias nos EUA deu origem a uma nova orientação no campo psicológico, que se tornou conhecida como a Terceira Força ou Psicologia Humanista. Em suma, os esforços dos experimentalistas na retomada das questões cognitivas, e dos compreensivistas na retomada das questões fenomenais e vivenciais trouxeram de volta o lugar da consciência na pesquisa e na prática psicológica", enfatizam.

Já Eugene T. Gendlin, Ph.D. da University of Chicago em "Celebrações e Problemas da Psicologia Humanista" (www.gruposerbh.com.br), conta que foi treinado por Carl Rogers e seu grupo (John Shlien, Jack Butler, Don Grummond entre outros) com quem trabalhou por onze anos. De acordo com ele, "Rogers pensava que a saúde ideia consistia na ausência de bloqueios, o funcionamento desimpedido de cada aspecto da experiência em relação com todos os demais". Ele lembra que, nos anos 50, Rogers escreveu um artigo sobre "A Pessoa em Funcionamento Pleno". O texto foi aceito, mas o editor insistiu na inserção de um parágrafo seu no início, explicando a sua discordância. Rogers retirou o artigo. Esta e outras experiências levaram Gendlin a iniciar uma nova revista, Psicoterapia: Teoria, Pesquisa e Prática. Ele diz que em 1963 publicou o texto de Rogers em seu primeiro volume.

O companheiro do revolucionário psicólogo norte-americano destaca que Rogers foi contrário a praticamente tudo o que parecia conhecido no campo da psicoterapia. "Ele modificou o papel do terapeuta, que não deveria impor as suas interpretações. (Qualquer pessoa pode pensar em duas ou mais interpretações das coisas humanas). Já não se pensava mais em 'bons' terapeutas que olhavam para os seus pacientes 'doentes' de cima para baixo. O paciente deixava de ser um objeto passivo de 'tratamento'. Rogers mudou o próprio termo 'paciente' para 'cliente'. Eliminou o modelo médico e tirou o novo termo do campo do Direito. 'O advogado é um especialista e um ponto de apoio, mas não quem toma as decisões que concernem à vida do cliente".

Além disso, conta Gendlin, os clientes foram convidados a irem fundo em suas próprias experiências. "O terapeuta estava à disposição para ouvir e partilhar cada nuance da experiência dos clientes. Rogers eliminou o divã. Isso era tão incomum, que um manual daquela época dedicou uma de suas poucas figuras a uma foto de duas pessoas sentadas, separadas por uma mesa. Tratava-se de uma figura da Terapia Centrada no Cliente! Ele eliminou o diagnóstico, a história do paciente, a tomada de notas durante a sessão, o distanciamento clínico, e todas as frias atitudes clássicas. Alguém que se graduava por intermédio de seus programas, tornava-se um novo tipo de psicólogo. Rogers criou um ponto de partida completamente renovado. Isso requereu uma imensa coragem", conclui.


Texto de Denise Berto retirado da Revista/Encarte Grande Ícones do Conhecimento, número 07, Mythos Editora, São Paulo.

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